Depois da parada cardíaca houveram mais algumas complicações com papai. Como por exemplo, líquido nos pulmões que estavam impedindo-o de respirar. Chegamos no hospital às 18h00min, Jennett foi para casa junto de Violet às 20h30min. Eu pretendia passar a noite junto a meu pai, mas isso não foi possível. A hora da morte: 23h45min.

Não acreditei quando o médico me deu a notícia. Ele disse que iria ligar para Violet para dar a notícia e eu apenas permaneci em choque na sala de espera. Eu chorei tanto nesses últimos dias que nem sequer tinha mais lágrimas. Meu pai agora estava junto de Luke. Mais uma pessoa que eu amava havia me abandonado. Apenas mais um para a lista.

O hospital já estava começando a me dar náuseas por isso sai quase que correndo dali. Eu tinha de ir para casa, mas não queria. O que eu podia fazer para chegar o mais tarde possível em casa? Caminhar. Fui andando até em casa, iria demorar no mínimo umas duas horas, o que era ótimo. Era tarde da noite e chovia. Assim como ontem.

Caminhei durante um longo tempo, até que avistei o velho barzinho que ficava próximo ao antigo ponto de encontro meu e de Ethan. Segui em frente. Eu iria atravessar a Amistad e chegar em casa, como se nada ruim tivesse acontecido. Pronto, só de olhar para aquele lugar uma tristeza me invadiu.

Eu não chorei quando o médico deu a notícia de que meu pai havia morrido, mas estou chorando agora pois estou me lembrando de Ethan. Ah, Ethan. Ele foi o único que estava comigo quando meu pai levou aquele tiro, foi o único que me acompanhou nas visitas. Foi o único que estava ali comigo quando eu mais precisei.

E mais uma vez eu estava lá. Embaixo de chuva, meu rosto banhado em lágrimas e me sentindo mais uma vez abandonada por alguém que eu amava. Cruzei a esquina da primeira com a Amistad e lá estava ele, escorado no muro com um cigarro na boca.

— Onde você esteve? – Questiono.

— Pergunte o que quiser. – Ele responde me encarando.

— Onde você esteve quando eu mais precisei? Eu perdi dias no telefone depois que você se foi. Tudo que eu precisava era de uma ligação. – Eu gritava para ele – Eu estava perdida e insegura quando você me encontrou. Onde você esteve? Afinal, você me encontrou. Um pouco atrasado, mas me encontrou.

Eu nunca fui do tipo de pessoa religiosa, mas era quase impossível o que eu estava vendo. Ethan não podia estar ali, ele deveria estar na Austrália com a sua nova família. Ver Ethan ali era quase tão possível quanto ver Deus ali. Parecia uma miragem.

— Me desculpe – Ele simplesmente diz, jogando o seu cigarro em um canto qualquer e se aproximando de mim.

Eu estava molhada, chorando e com minhas roupas nojentamente grudadas em meu corpo e ele simplesmente saiu de seu “cantinho seguro” e ficou embaixo de chuva comigo. Um pedido de desculpas não era o suficiente.

— Quando você me encontrou Ethan, sabia ao menos o que eu queria?

— Não.

— Eu queria voltar a ser feliz. Pensei que depois da ida de Luke eu nunca mais seria feliz, mas aí você apareceu e mudou esse meu pensamento. Ao mesmo tempo que você me magoou você também me fez perceber que eu poderia sim ser feliz sem Luke.

— E?

—E eu tentei ligar para você e você nunca me deixou mensagens, você nunca me enviou cartas. Nunca deu um sinal de vida.

— Como assim?

— Você teve a ousadia de tirar tudo que eu queria.

— Tirar a sua felicidade? Me desculpe Hannah, nunca foi minha intenção te machucar. Você estava certa, foi estupidez eu ter acreditado em Joanne e Heath, eu nunca deveria ter abandonado Thomas e Richard. Eles são minha verdadeira família.

— O que? – Eu sussurro meio que para mim mesma, sem entender o porquê de Ethan ir para este assunto.

— Eu nunca deveria ter voltado para a Austrália com eles, foi horrível. Eu nunca deveria ter te deixado Hannah. Eu prometi, não é mesmo?

— É – Respondo, não tem muita coisa que eu possa falar.

— Agora será que nós podemos sair da chuva? Vamos acabar pegando um resfriado – Ele diz, com um sorriso de canto.

— Claro – Respondo e nós caminhamos em direção a minha casa.

— Hannah? – Ele me chama parando de caminhar ao meu lado.

— O que? – Pergunto parando de caminhar também e encarando ele.

Ethan sorri de leve, sem mostrar os dentes e se abaixa um pouco, se aproximando de mim, não sei muito bem o que fazer nessa hora. Só percebo o que realmente está acontecendo quando ele leva suas mãos até a parte de trás de minha cabeça e me puxa para mais perto, encostando nossos lábios.

Não sei explicar direito o que eu fiz no momento. Me lembro apenas de ter pousado uma de minhas mãos sobre uma de suas mãos que acariciavam meu cabelo, e é claro, de fechar os olhos também. Não foi exatamente um beijo, foi mais como um selinho demorado. Depois de nos separarmos, continuamos naquela posição de meio abraçados. Levantei meu olhar, procurando por seus olhos escuros, mas eles ainda estavam fechados.

— Eu senti sua falta, Hannah.

— Eu também senti sua falta. E obrigada por voltar, sério.