Os Sete Heróis escrita por Biz Andrade


Capítulo 3
Codinomes.


Notas iniciais do capítulo

E aqui estou eu de novo!
Na verdade, esse capítulo foi agendado :B então não tenho nada de importante para falar, se tivesse, teria avisado no outro.
E como eu disse, esse é maior, os capítulos curtos acabaram huehuehue.
Bom, chega de enrolar, aproveitem ^^



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Já no hospital, fui proibida de receber visitas, até mesmo dos meus pais. Falaria com dois policiais especiais primeiro. E quando eles passaram pela porta, fiquei na dúvida se eram mesmo policiais ou assassinos sinistros de aluguel. Ambos estavam vestidos de preto, roupas exatamente iguais, até mesmo os sobretudos que batiam no joelho. Um deles era alto e careca, se tivesse um pouco mais de músculos pareceria um armário, o outro, era extremamente pálido e tinha uma cicatriz que vinha da metade da bochecha direita até a boca, e usava óculos escuros mesmo com o tempo nublado e estando dentro de um hospital.

– Arabella, imagino – o pálido se aproximava enquanto falava. – Pode nos explicar o que aconteceu com sua blusa? – ele estendeu o tecido, o que era a minha blusa escolar agora tinha dois rasgos que começavam nos ombros e iam até a região lombar.

– Se soubesse, explicaria. – engoli em seco, as lágrimas insistiam em voltar novamente.

– Pode nos dizer o que aconteceu? Detalhe por detalhe?

– Eu... eu comecei a passar mal e tudo explodiu, não sei como aconteceu, foi tão rápido...

– Então desacelere – o grandalhão deixou sua voz grave ecoar. – Não temos tempo para dramas.

– Steve, não quer esperar no lado de fora?

– Não – respondeu, ajeitando ainda mais sua postura perfeita.

– Então não atrapalhe – ele voltou à atenção para mim – Meu nome é Connor, e essas são apenas algumas das perguntas que faremos para você, acho melhor se acostumar com isso. Agora me conte o que aconteceu, com calma.

– Eu, eu comecei a sentir uma forte dor na cabeça e... – respirei fundo e continuei. – E explodi minha escola. Não queria fazer isso, eu não sabia que era assim, uma deles.

– Bom, não estaríamos aqui se – ele tirou lentamente o óculos, dando suspense para o momento – se não tivéssemos certeza que você é uma de nós.

Ele me mostrou o que escondia por trás das lentes. Revelou um par de olhos violetas vibrantes, que pareciam lentes de vidro brilhantes, mas meu palpite era que eles eram totalmente reais. Não pude evitar de inspirar profundamente e segurar o meu ar.

Tantos anos ignorando uma pergunta em específica, deixando o passado de lado, e agora ela é a única coisa que ronda meus pensamentos.

– O que nós somos?

– Bom, é meio difícil decidir – ele alargou um sorriso torto, que fazia sua cicatriz parecer muito maior. – Nos chamam de anomalias, mutantes, seres geneticamente modificados, revolucionários, e outras coisas bem baixas. Quase nenhum nome é positivo mas... – ele ponderou por alguns segundos, tempo o suficiente para que eu pudesse pensar em como eu não me sentia uma revolucionária. – Podemos te tornar um herói.

Levei alguns segundos para absorver, e mesmo quando o fiz, não tinha resposta, então ele continuou.

– Bom, agora que a proposta está feita, não tem como recusar. É secreto, aceita ou morre. Muito simples.

– Muito simples?! Eu tenho uma vida, família e... – mesmo exaltada, não consegui continuar.

– Você explodiu uma escola. Quer mesmo falar sobre as consequências disso?

Não, não queria. Até porque sabia a resposta. Matar tantas pessoas, mesmo que acidentalmente, traria um resultado, e ele não seria nada bom. Conseguia ouvir o som da multidão gritando e querendo me matar, como já havia acontecido com vários... de nós. Provavelmente não teria mais uma vida, e minha família seria atormentada para sempre. Estava sem saída.

– Heróis salvam vidas – engoli em seco e sequei uma lágrima que escorria. – Não as tira como eu fiz.

– Heróis só são heróis quando algo trágico lhes acontece. Quer algo mais trágico que a morte? Do que matar alguém sem querer?

– Preciso falar com os meus pais...

– Não – fui interrompida. – É uma decisão sua. Se aceitar, te levaremos conosco e manteremos seus pais em segurança, poderá falar com eles depois de algum tempo. Se recusar...

– Se eu recusar... – o incentivei a continuar.

– Bom, de qualquer maneira a notícia de que você está morta se espalhará nos noticiários.

Senti meu coração palpitar. Para todos os lados que olhava via a morte, literal ou psicológica. Só me restava uma saída, mesmo insegura.

– Eu aceito.

– Como sempre digo, minhas propostas são irresistíveis. Assim como eu. – Ele sorriu novamente, e decidi que não gostava nem um pouco disso. – Steve, faça ela dormir.

O homem careca chegou com uma seringa perto dos meus braços, e eu instintivamente recuei.

– Não se preocupe, é só um calmante, não podemos revelar nossa localidade – Connor tentou me tranquilizar.

– Não é esse o problema – pela milésima vez no meu dia, engoli em seco. Ele pareceu confuso de início, mas logo entendeu.

– Todos nós temos pelo menos um medo. Só não garanto que isso será agradável ou que não sentirá a agulha, Steve é meio bruto.

*

Quando recordei a consciência, podia ver o verde pela fresta da porta da van em que eu me encontrava, mas ele logo foi substituído por um chão de concreto, e toda a luz natural fora substituída por artificiais um pouco avermelhadas.

– Bem vinda a sua nova casa – Connor disse enquanto escorria a porta. – Vamos fazer nosso primeiro tour?

Ainda um pouco tonta, saí do carro. Me encontrava em uma garagem típica, porém as paredes pareciam ser de um metal muito forte. Percebi que minhas roupas de hospital foram substituídas por um uniforme preto largo, e minha nuca queimava intensamente, e quando tentei toca-la, fui impedida.

– Não faria isso por um tempo, querida, pode arder mais.

Queria perguntar o que havia acontecido, mas me parecia inútil tentar arrancar algo de um Connor entretido com uma trava de segurança manual, seguida por outra que pedia o reconhecimento de olhos e voz, e por fim, uma porta de metal simples com uma chave minúscula. Algo me dizia que eu teria muita coisa para absorver.

Entramos em um elevador de vidro, de início víamos apenas cimento, mas depois de alguns segundos se subida, minha curiosidade foi atiçada, e para piorar, a velocidade que subíamos foi reduzida.

– Preciso que grave tudo o que eu disser, certo?

Parecia impossível prestar atenção em uma só palavra diante da vista que a transparência me proporcionava. Pessoas com uniformes brancos praticavam artes marciais, junto com três professores que faziam demonstrações no começo, meio, e um pouco antes do fim do imenso grupo quadrado. E à medida que subíamos mais olhares focavam em mim. Pelo menos pareciam amigáveis.

– Certo.

– Aqui vocês são separados por classes, por níveis de poder, esta – ele apontou para o grupo abaixo – é a classe Cinco. Não apresentam nenhum poder especial, mas são dotados com um QI consideravelmente alto e agilidade. Como pode ver, o uniforme é o branco.

O elevador continuou a subir, quando passávamos pela parede de cimento, a velocidade aumentava, e logo voltava a diminuir quando outro grupo de pessoas aparecia. Desta vez eles treinavam entre si, em pequenos grupos, mas com certa violência. Em alguns cantos coisas realmente bizarras aconteciam, como um garoto que socou um saco de boxe e o estourou, junto com os outros dois que estavam logo em seguida. Me perguntei como isso era fisicamente possível, mas lembrei que tinha explodi uma escola.

– Esta é a classe Quatro – Connor continuou. – Como pode ver o uniforme é exatamente igual ao do grupo anterior, mudando a cor que é amarela. As pessoas que treinam aqui tem um QI elevado, apresentam alguns poderes, mas são fracos e não levam muito jeito com o controle de suas habilidades. Eles são bem centrados, como pode ver só a minoria nos encarou. Parece que estamos evoluindo nesse quesito – ele pegou um bloco e uma caneta de seu sobretudo e começou a fazer anotações.

O elevador subiu mais, e antes mesmo de poder ver, já escutava os sons das pessoas batalhando. Todos com uniforme de cor roxa um pouco clara brigavam entre si, e ao contrário do cinco e quatro, que tinham três supervisores, aqui havia apenas um, que os olhava de cima de um pequeno palco. Existiam todos os tipos de arma, desde espadas á pistolas, e os que não as usavam mostravam alguns tipos de poderes. Um garoto de pele morena movimentava o concreto em volta de si, e atirava fogo com as mãos. Não pude deixar de me sentir desconfortável com isso. Pude observar algo, ou melhor alguém, se movendo com extrema rapidez, corria por todos os cantos, e derrubava qualquer um que tentava o parar.

– Está ficando mais interessante não é? – Connor sorriu novamente. – Aqui temos a classe Três, com grandes demonstrações de poderes, já são essenciais e tem presença no campo de batalha, mas nada tão extraordinário.

– Só se for ao seu ponto de vista.

– Calma mocinha, o melhor está por vir e... agora. Bem vinda à classe Dois, aqui eles apresentam uma presença extraordinária em tudo, poderes, campos de batalha, eficácia, inteligência, são os melhores. Eu cuido desta ala, embora não precise passar muito tempo aqui.

Certo, aquilo realmente me deixava intrigada. Pessoas com uniforme azul escuro batalhavam entre si, assim como no três. Mas com muito mais violência, e na classe anterior, os que caiam logo se levantavam, aqui, ficavam desmaiados no chão. Uma garota de cabelos marrons e rosto fino me chamou a atenção, ela batalhava com muitos de uma vez, tinha muita agilidade, mas não tirava os olhos de mim, até os que a atacavam por trás levavam a pior. Ela correu até um garoto, e de alguma forma consegui pular em seus ombros, e torceu o seu pescoço, o fazendo cair na hora no chão. Tudo sem parar de me olhar e sorrir.

– Aquela garota... - murmurei.

– Ah, sim. Se chama Kristy, é um dos meus maiores prodígios. Consegue acreditar que ela quase não tem poder algum? Só a grande habilidade marcial, mas mesmo assim é uma das melhores. Simplesmente incrível.

Concordei com a cabeça e esperei a próxima ala, que estava incrivelmente silenciosa. E tinha um motivo. Apenas um. Loiro, alto e misterioso, o garoto estava vestindo preto em um palco semelhante aos de luta UFC, parado e olhando para baixo. Na parede, vários agentes estavam o observando, sem se mexer ou perder a postura. Ele me olhou, daqui não podia ver a cor de seus olhos, mas a expressão do rosto me deixava relutante em pensar em chegar perto dele.

Ele desviou os olhos, e começou a batalhar sozinho. Era tão rápido que mal conseguia acompanhar seus movimentos, quando seus pés tocavam o chão, em menos de um segundo ele pulava novamente e continuava sua sequencia de golpes. Suas mãos começaram a brilhar, e ele atirou uma bola de luz rosa-amarelada contra os agentes, que desviaram e o atacaram. Todos de uma vez.

Não pude ver o desfecho da briga, pois a parede de concreto tampou minha visão, mas jurava que tinha visto algo no último segundo. Algo que era impossível de se existir, até para nós.

– Ele tinha... Asas? – apertei com força meus dedos. – Isso é possível?

– Bom, você acaba de ver uma raridade. Só se torna da classe Um aqueles extremamente poderosos, eles são uma ameaça para os nossos inimigos, e também para nós do sistema. Por enquanto só temos um integrante, aquele garoto se chama Akira.

A porta de vidro se abriu, eu tentava digerir tudo enquanto passava pelo corredor branco que aparentava ser de mármore, especialmente a ultima cena, pela primeira vez na minha vida monótona e relativamente segura, eu estava assustada.

– Eu pertenço a qual classe?

– Bom, iremos descobrir isso logo, espero. Por enquanto você é uma semi-classificada. Não tem lugar certo ainda. – Ele olhou no relógio e coçou em baixo do pescoço. – São seis e meia da tarde e o jantar começa as sete. Você irá descer pelas escadas ao lado do elevador um pouco antes, elas te levaram ao refeitório. – Paramos em frente a uma porta preta com maçaneta redonda e prateada. – Bom, agora é com você. Há um armário com roupas, escolha as que melhor se encaixem em você.

Sem me deixar perguntar nada, Connor me deu as costas e voltou pelo corredor, abrindo a porta que daria as escadas. O silencio era tão grande que eu conseguia escutar minha própria respiração descompassada. Abri a porta, e me encontrei em um quarto com paredes brancas como as colchas e o travesseiro que estavam na cama de solteiro cor marrom clara. Fora isso, havia uma escrivaninha preta com um pequeno abajur, papel e lápis. Na parede um relógio digital mostrava as horas e o dia. Dois de Novembro. Dois dias haviam se passado, e eu nem me dera conta, Nova Iorque já deveria ter recebido a notícia da minha morte, e meus pais estavam em algum canto próximo á esse lugar desconhecido, preocupados comigo.

Parabéns, Arabella. Porque não tatua 'fracassada' na testa?

Avistei o armário da mesma cor da cama, o abri, encontrando trajes de diferentes tamanhos, mas exatamente iguais, as blusas eram brancas e de mangas longas, as calças pretas e os calçados de cano alto eram roxos, o que na minha opinião era desproporcional. Peguei os meus números e me vesti, o tecido parecia de couro e se ajustava perfeitamente ao corpo. Procurei um espelho com os olhos, tinha o deixado passar despercebido, pois se encontrava atrás da porta que havia sido fechada pelo meu pé.

Parei para me analisar. De alguma maneira eu não reconhecia mais a garota que estava por baixo da pele morena clara, olhos castanhos escuros e cabelos pretos que eram pranchados. Ao lembrar deles, percebi que estavam amarrados, e os soltei, deixando os cachos desproporcionais e volumosos – por conta da química e do calor que usava para escondê-los – caírem até a metade das minhas costas. Desmanchei o repartimento que tinham feito para o meio da cabeça, e joguei minha franja que ia um pouco abaixo do queixo para a direita. Mesmo assim, eu não parecia eu. Continuava me sentindo a assassina que matou seus próprios amigos.

Olhei novamente para o relógio, estava na hora de descer.


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Notas finais do capítulo

Booooom, espero que tenha agradado, e se a resposta for positiva - ou negativa mesmo -, não deixe de me contar.
Obrigada :)



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