U: good girls... are bad girls that haven't been caught.

Todos em Hogwarts conheciam Lily Evans muito bem. Ruiva, olhos verdes como esmeraldas, nascida trouxa, gênio forte, monitora-chefe, melhor aluna de seu ano. Sempre era uma das primeiras alunas a levantar a mão quando o professor fazia perguntas. Era a filha favorita de seu pai. Todas as noites ficava trancada em seu dormitório estudando, e provavelmente se tornaria uma auror ou uma curandeira. Sabia falar, além do inglês, francês (fluentemente) e era uma das melhores tradutoras de runas antigas que a professora Bathsheda Babbling já tivera em sua sala de aula. Tinha conseguido O em todos os seus NOMS no quinto ano, e alguns alunos mais novos podiam jurar que ela morava na biblioteca. A Santa Evans, como alguns gostavam de chamá-la.

Ela apenas ria inocentemente quando ouvia o apelido, porque Lily Evans estava longe de ser santa.

Começou com James Potter. Ele fora o gatilho, com certeza. Era claro que tinha que ser o Potter. Quem mais? Ele era perfeito para fazer ela sair da linha, todos viam e sabiam disso. Maroto, com aquele sorrisinho de lado que levava a maioria das meninas a loucura, sempre se metendo em confusões e com um histórico maravilhoso de detenções. Tudo bem que nos últimos anos ele amadureceu e acabou se tornando monitor-chefe, mas de qualquer jeito... Ele ainda era James Potter.

Lily ficava em uma pequena roda no Pátio Pavimentado com suas cinco melhores amigas — Marlene McKinnon, Dorcas Meadowes, Alice Fortescue, Emmeline Vance e Mary Macdonald — dando risadinhas enquanto observavam os quatro meninos de seu ano, sentados em um dos bancos, rindo destraidamente enquanto propositalmente passavam as mãos pelos cabelos, sabendo que as garotas os observavam. Não funcionava muito bem para Peter, o coitado. Ele apenas parecia estar desconfortável e suando muito — o que de fato acontecia. E Remus era um tanto tímido, então apenas ria e ficava vermelho com os olhares das meninas, e James e Sirius simplesmente se exibiam maravilhosamente para as meninas. Sirius piscava para todas elas. James, em particular, olhava para uma garota. Lily. Gostava dela desde o quinto ano — ou seria quarto? Ele tinha amadurecido bastante desde o ano anterior. Ele não azarava mais as pessoas só para se divertir. Ainda tentava sair com Lily, e ela não podia negar, estava até querendo dar uma chance a ele. Suas amigas suspiravam, e alertavam Lily sobre como James era problemático, mas no fundo, ela até que gostava disso.

E ela deu uma chance para o Potter. Saiu com ele. Percebeu que ele a fazia rir, e que ele era carinhoso, e que seus lábios eram lindos, e que seus cabelos estavam mais para plumas do que para o ninho de ratos que ela imaginava, e que seus óculos eram até charmosos e combinavam muito com seu rosto, e como a cor de seus olhos eram intrigantes, e como era fofo como ele mordia a ponta da língua quando ria, e como suas mãos eram macias. E Lily Evans começou a namorar com James Potter. E enquanto todos ainda a viam como a Santa Evans, ela estava longe disso.

Enquanto todos achavam que ela se trancava no quarto para estudar, ela na verdade saía pela janela da torre, onde James a esperava com uma vassoura, e os dois podiam ir até o dormitório dos garotos e entrar despercebidos para poderem se beijar em paz sem que todos fizessem brincadeiras. Ainda passava muito tempo na biblioteca, mas agora não achavam ela na primeira mesa lendo “Sereianos: Um guia completo para sua língua e costumes” ou até mesmo “Um Estudo da Possibilidade de Reverter os Efeitos Metafísicos e Reais da Morte Natural, com Especial Atenção à Reintegração da Essência com a Matéria”, mas sim no fundo da biblioteca, atrás da última prateleira com James, onde ninguém podia vê-los ou incomodá-los ou interrompê-los. E eles certamente não ficavam lendo livros nesses momentos.

Agora ela demorava mais alguns segundos para levantar a mão, ou então nem o fazia, porque estava muito destraída com os sorrisos e com os casuais bilhetes que James mandava para ela — ela rezava para que McGonagall nunca pegasse aquelas mensagens de suas mãos, ou ela estaria muito encrencada. Depois de alguns meses, ela mandou que James parasse com isso, e ele a obedeceu, mas vez ou outra um papel chegava nas mãos de Lily e ela corava inexplicavelmente ao ler o que estava escrito nele. Muitas vezes alguns alunos que gostavam de passear de noite pelo castelo relatavam ter visto os monitores chefes da Grifinória se beijando animadamente contra uma parede ou dentro de um armário de vassouras ou até mesmo dentro do estoque de poções, mas é claro que os dois negavam isso veementemente.

Mas no fim, ela nunca fora a Santa Evans. Ela era e sempre fora apenas uma garota má que nunca havia sido apanhada por ninguém.