León Narrando

Irónico seria dizer que tudo o que anda acontecendo na minha vida é algo planejado. Que nessa altura do campeonato, todas essas loucuras que andam me rondando, é por minhas escolhas.

O meu único desejo desde quando era um garoto ainda, era ser diferente. Eu via o meu pai ser tão cruel com a minha mãe e com as outras pessoas, e eu queria ser diferente. Mas estou percebendo que não aconteceu como eu queria, já que me tornei um mostro que nem ele.

Onde eu estava com a cabeça quando decidi entrar para essa vida e ainda trazer a Violetta comigo?

Suspirei, com os pensamentos. Segurei a mão dela com mais força, enquanto meu subconsciente pensava em uma maneira – falha – de nos tirar de tudo isso. E de ter uma vida um pouco mais normal.

— Le-León?! — ao ouvir sua voz fraca ser processada naquele ambiente de paredes brancas, apenas dei-me ao trabalho de fitar o seu rosto rapidamente. Que agora estava pálido.

— Como está se sentindo, amor? — perguntei, buscando não soar dolorosamente ou preocupado.

Ignorando minha pergunta, ela apenas se remexeu na cama, meio incomodada. Olhou atentamente cada canto daquele lugar, e seu olhar se parou e em mim. Vi sua feição se tornar apavorada e tenho certeza que a mesma se lembrou do que ocorreu hoje mais cedo.

— O meu fi-filho, León... Como está o meu filho? — sem esperar minha resposta, seus olhos já deixavam lagrimas escapar. E, infelizmente, eu não podia fazer mais nada.

Virei meu rosto na tentativa de buscar em meu interior alguma palavra que pudesse esclarecer tudo isso, e que pudesse reconforta-la.

— Responde — ordenou, elevando a voz oitavas. — Por favor, me responde.

— Eu sinto muito — murmurei, com o tom embriagado. — Sinto muito mesmo — entrelacei nossos dedos, e com a outra mão, segurei seu rosto gélido.

A face da minha namorada empalideceu ainda mais, ao passo que mais lagrimas caiam de seus olhos.

Eu não me permiti fazer o mesmo. Talvez por um orgulho idiota, ou por não querer que ela sofra ainda mais. Afinal, perdemos o nosso filho.

— Não.. Não.. Isso não está acontecendo — entre pausas e soluços, pronunciou. E eu já sentia um nós se formar em minha garganta.

— O medico disse que o seu corpo não estava pronto para ter receber esse filho, agora. — expliquei a ela, calmamente. Contudo, isso não foi o suficiente.

Violetta não disse mais nada, apenas deixou sua tristeza em lagrimas. E me doía vê-la assim. Em meu coração parecia que havia se criado uma enorme volta repleta de escuridão. Por mais que eu tentasse negar, não tinha como. Eu perdi o meu filho.

E estava doendo isso em mim.

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Alguns dias depois...

Por Narrador

Um sorriso um tanto quanto esplendoroso havia se formado nos lábios do homem de estrutura media e cabelos escuros.

Com uma certa paciência, abriu seu computador, chamando o "amigo" para uma conversa em vídeo.

— Tudo certo por aí? — perguntou, mostrando seus olhos escuros, repletos por maldade. Eles eram sempre assim.

— Até agora, maravilhoso — respondeu, ainda com o sorriso esplendoroso. — Já descobri algumas localizações do Vargas, e em breve ele terá uma surpresinha — gargalhou.

— Vê se não perde o foco. — resmungou, do outro lado, mostrando seu lado rigoroso. — Já estou cansado de corremos sempre atrás do mesmo alvo.

— Fique tranquilo, Matt! — sorriu minimamente. — Matarei o Vargas, e tomarei tudo aquilo que ele ama. Essas são as consequências...

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Violetta Narrando

É incrível como minha vida mudou assim tão de repente. Até algumas semanas atrás eu era apenas uma menina mimada, indo atrás do garoto – sim, garoto. Porque León é uma verdadeira criança - que por um acaso, é também um delinquente. E agora estou aqui, deitada em minha cama, de onde não saio desde que saí do hospital, sofrendo por alguém que eu nem conheci, mas que eu já amava de uma forma incondicional.

Mas ele foi embora.

Simplesmente, se foi. E eu nem ao menos tive a chance de reconhecê-lo.

— Hey... — a voz de León preencheu o comodo que antes, estava silencioso. Olhei para a porta e vi o mesmo se aproximando, com um sorriso forçado nos lábios. — Está melhor? — perguntou, enquanto sentava-se ao meu lado.

— Para ser sincera, não — suspirei, e o mesmo me fez deitar a cabeça em seu ombro, enquanto acariciava minhas madeixas molhas, de um recém banho. — Essa dor parece que nunca vai ter fim — murmurei, já deixando as lagrimas rolarem de meus olhos.

— Eu não sei o que te dizer para que se sinta melhor — apertei sua mão, enquanto cerrava os olhos, buscando tranquilizar minhas emoções. — Na verdade, eu também estou sentindo um enorme vazio dentro de mim — confessou.

— Esse é o preço de quando se perde alguém tão importante... — soltei nossas mãos e me deitei na cama. Meus olhos estavam formigando devido as tantas lagrimas que caíram por ele. — Sabe, quando eu tinha por volta de uns seis anos de idade, minha mãe ficou gravida — contei, e León me fitou curioso, e confuso. Respirei fundo, continuando a conta-lo. — Ela ficou gravida por quatro meses, mas perdeu o bebê quando foi assaltada, perto da sua academia de dança. Eles a machucaram sem ao menos ligar pelo fato de ter uma criança dentro dela — minha voz saiu falha na última fala. — Maria ficou desolada por meses, e me lembro perfeitamente de todas as noites que ela passou chorando. E eu chorava também.

— Eu sinto muito — tocou em minha mão, levando-a até seus lábios e despejando um leve e delicado beijo.

— Tudo bem — balancei a cabeça, sorrindo fraco. — Quando eu completei oito anos, perguntei a ela como se sentia em relação a tudo aquilo e ela me respondeu que ainda doía muito; que mesmo não o conhecendo o amava muito e seria sempre assim. — sussurrei cada palavra como se estivesse levando uma pontada no peito, era horrível lembrar de tudo aquilo. — E eu sei que isso que estamos sentindo não vai passar, nunca. Nunca!

León não disse nada, apenas manteve o olhar baixo, mostrando o quanto estava pensativo. Também me mantive quieta, pois não havia mais o que dizer.

Ouvimos a campainha tocar e me assustei um pouco por estar distraída com meus pensamentos. León se levantou, dizendo que deveria ser a pizza que ele havia pedido.

Segundos depois ouvi vozes; vozes alegres para ser exata. Em um ato de curiosidade, me sentei na cama rapidamente, a fim de ir descobrir quem tinha chegado. Contudo, antes que eu pudesse fazer qualquer outro movimento a porta do quarto é aberta revelando a figura da cabeleira loira que, para mim, é mais do que reconhecível.

— Ludmila?! — minha voz soou dez oitavos mais alta do que deveria, enquanto me levantava em um pulo.

— Ahh, minha amiga linda! — gritou, muito alto. Alto de mais!

Em um piscar de olhos senti seus braços em meu ambro, me puxando para um abraço longo e apertado.

— Não acredito que esta aqui — murmurei, entre algumas lagrimas.

— León não avisou que viríamos? — perguntou, enquanto nos desfazia do abraço.

— Sim — sorri. — Ainda bem que está, não imagina o quanto estou precisando de você agora.

— Estamos aqui porque o Federico não confia em mim, nem um pouco — revirou os olhos, desconcerta. — Mas, diga-me como anda a minha afilhadinha linda? Porque, claro, eu sei que será uma menina. — passou a mão sobre meu ventre, toda sorridente.

Minha respiração falhou, ao passo que uma única lagrima desceu de meus olhos.

Ludmila ficará muito chateada.

— Eu o perdi — contei, entre um meio soluço.

A face de minha amiga ficou branca como um papel. Vi seus olhos e lacrimejaram antes da mesma me puxar para um abraço.