Minha Gotinha de Amor escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 5
O bom irmão do quarto ao lado


Notas iniciais do capítulo

Perdoem-me pela demora, povo lindo do meu s2
Eu gostaria muito de ter dia fixo pra postar só que na grande maioria das vezes a falta de criatividade não deixa.
Enfim, eu ia postar ontem só que fiquei sem luz uma boa parte do dia.
Não me culpem.
Culpem os temporais que estão rolando aqui no Sul :P



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Quando acordou novamente, pela quarta ou quinta vez naquela madrugada, Aria ainda estava agitada. Seu coração batia num modo constantemente acelerado. Soltou o ar pela boca devagar só para constar se sua respiração ainda trepidava. Sim. Estava quente, mas ela não se atrevia a largar as cobertas. Era como se quisesse se proteger de algo que pudesse estar do lado de fora, ou como se quisesse não deixar que seus mais profundos pensamentos escapassem daquele pequeno refúgio.

Com os olhos arregalados e perdidos na escuridão, sentiu como se tivesse tido vários sonhos em meio às vezes que despertara. E quase todos com Spencer. Puxou o edredom por cima da cabeça e, agora sim na mais total privacidade, permitiu-se perguntar a si mesma se aquilo havia mesmo acontecido. Sua melhor amiga havia mesmo tentado beijá-la?

Por algum motivo, a palavra “beijar” soava pelo menos dez vezes mais intensa e surreal quando se aplicava a Spencer. Seja prática, Aria pensou consigo, se ela tentou me beijar, é porque tem sentido algo por mim há algum tempo. Tal conclusão soou engraçada em sua mente. Não pode ser isso, ela voltou a dizer a si mesma, ela provavelmente apenas sentiu vontade de me confortar, por pena.

Então Aria lembrou-se do olhar carinhoso que Spencer a lançara pouco antes de fechar parcialmente os olhos. Ela parecera estar tão segura quanto àquilo, tão entregue ao momento. Em suma, para Aria, ela estivera apaixonante.

A última palavra soou como uma pontada no coração de Aria. Ela expirou um gemido mudo ainda sob o edredom e cerrou os olhos. Isso não pode estar acontecendo, pensou. Nem de longe fazia o menor dos sentidos. Por que ela? Por que Spencer? Sua melhor amiga há meia década! Da onde havia surgido isso? Com certeza nunca estivera ali antes.

Pressionando os olhos com os dedos, Aria fazia de tudo para não deixar as lágrimas escaparem. Um soluço infantil ecoou de sua garganta e ela finalmente desistiu de lutar. Descobriu a cabeça e chorou em silêncio, sentindo o peito queimar devido a força que fazia para não fazer barulho. Pensava que talvez chorasse por saber que a vontade de estar com Spencer agora não poderia ser controlada, ao menos não em sua mente. Ali, num cantinho escuro de seus pensamentos, ela conseguia admitir que queria não ter impedido Spencer de beijá-la. Se pudesse, refaria aquele momento. Não queria tê-la magoado. Queria pedir desculpas. Queria que tudo fosse mais fácil. Fácil como simplesmente dizer “Oi, Spence. Então, finja que estamos no seu carro novamente e me beije”.

Aria virou-se para a parede e voltou a dormir após tal conflito interno provavelmente por falta de forças de tanto chorar. Teve outro sonho no qual Spencer era a estrela. Nesse, Aria correspondia ao beijo avidamente. A primeira coisa que fez quando abriu os olhos novamente, já vendo o sol dourado da manhã refletir sobre a parede branca, foi exalar um suspiro de tremenda frustração. Por mais que puxasse pela memória, não conseguia lembrar se, em tal sonho, os lábios da garota tinham ou não gosto de sorvete. Tudo que se lembrava era da sensação de imensa familiaridade que aquele “beijo falso” lhe proporcionara. Parecera que justamente por Spencer ser sua melhor amiga há meia década, Aria sentiu-se à vontade fazendo aquilo, mesmo que em sonho. Era como se não houvessem julgamentos ou maiores expectativas. Apenas um beijo. O mais casto e ainda assim intenso que ela já havia experimentado. Simplesmente tão bom, tão carinhoso. E ela estava tendo trabalho para admitir para si que aquilo havia apenas sido imagens em sua mente. Mas havia sido incrivelmente vívido! Desde a nitidez de tais imagens até o leve formigamento que ainda se manifestava em sua língua, como se ela realmente tivesse tocado a de Spencer. Era loucura, simplesmente.

Aria levantou-se ainda sentindo o efeito daquele sonho sobre seu corpo e desceu as escadas devagar. Ella já tirava a mesa do café da manhã. Aquela cena por si só dizia que Aria estava atrasada para a escola, mas por alguma razão ela apenas esfregou os olhos.

– Ah, oi, querida. – Ella virou-se para a filha após ouvi-la bocejar – Achei que você não ia acordar hoje.

– Que horas são? – perguntou Aria, ainda sem realmente se preocupar.

– Quase oito e meia – Ella checou seu relógio de pulso enquanto recolhia os pratos com a outra mão.

Aria sabia que aquela resposta deveria fazê-la dizer vários palavrões mentalmente, mas naquele momento ela simplesmente não se importava. Apenas suspirou.

– Eu posso te dar uma carona até a escola antes de ir para Rosewood Day – sugeriu Ella.

A mãe de Aria lecionava na escola de ensino fundamental da cidade e as aulas dos pequenos sempre começavam meia hora mais tarde que as dos alunos do ensino médio.

– Vá se vestir – Ella prosseguiu – Se você se apressar consegue pegar da segunda aula em diante.

– Mãe? – Aria cortou-a gentilmente – Lembra quando você disse que estava tudo bem eu faltar aula ontem por causa do... bem, você sabe – Ella assentiu – Estaria tudo bem se eu usasse esse vale hoje, sendo que ontem eu não usei?

A mulher sorriu ternamente e deu dois passos na direção de Aria.

– Certo, mas por quê? Aconteceu alguma coisa?

– Não – Aria apressou-se em responder. O que diabos estivesse acontecendo dentro dela não era motivo para preocupar ninguém. – Eu estou meio indisposta, só isso – e não era exatamente uma mentira.

Ella aproximou-se ainda mais e tocou o rosto da filha com as costas de uma mão.

– Você não parece estar quente.

– Não é febre, mamãe. É só... preguiça, eu acho.

– Percebe-se – Ella se afastou novamente, não aparentando mais estar preocupada – Seu pai tentou te acordar antes de sair. Ele disse que funcionou por meio segundo mas você agarrou um travesseiro e voltou a dormir. Devia estar tendo um sonho e tanto.

Aria sorriu. Lembrava-se vagamente da sensação de Byron tentando puxá-la carinhosamente para fora da cama por um tornozelo.

– Acho que sim – disse sem nem perceber. Um sorriso bobo já cruzava seu rosto.

– É? – Ella voltou a ter aquele mesmo sorriso esperançosamente malicioso nos lábios – E com o que você sonhou?

– Coisas boas – Aria limitou-se a responder, embora fosse a verdade mais verdadeira que ela contava em muito tempo. Ia recomeçando a subir as escadas.

– Ligue se precisar de algo, está bem?

Aria concordou, atirando um beijinho para a mãe em seguida. Voltou ao quarto sentindo-se esgotada de repente. Não tinha condições de encarar Spencer. Mas talvez fosse ter se não tivesse sonhado com ela. Aquele maldito sonho, que provavelmente durara poucos segundos em sua mente, afetara sua vida de vez. Fizera com que ela pensasse em Spencer e faria com que viesse a olhar para ela no futuro de uma forma completamente diferente. De uma forma que talvez não tivesse chance de reversão.

Aria passou uns bons minutos xingando-se de estúpida outra vez antes de cair num sono pesado. Tinha medo de sonhar com ela de novo. Muito medo. Mas felizmente não aconteceu. Aria simplesmente apagou, tendo a impressão de que não sonhara com absolutamente nada.

Acordou por volta das duas da tarde – Santo Deus! Quando havia sido a última vez que dormira tanto? – para a casa totalmente vazia, apenas para variar, já que ter a casa só para ela quase nunca era possível. Ella geralmente chegava em casa antes das cinco e Mike era liberado das aulas ao mesmo horário que ela, três horas. Byron era o único que chagava um tanto tarde pois dava aula para universitários.

Assistindo à Roda da Fortuna no sofá da sala, Aria comeu dois pacotinhos de macarrão instantâneo dizendo a si mesma para não pensar em muita coisa. Havia esquecido momentaneamente de Spencer e dos sonhos. Momentaneamente.

Assim que não tinha mais o que mastigar, Aria acomodou-se no sofá e perguntou-se se Spencer teria dado por sua falta. Teria ela achado que Aria havia bancado a covarde não indo à escola naquela manhã? Bem, tecnicamente Aria bancara a covarde, mas ela já pensava isso de si mesma. Não precisava que Spencer pensasse também. Especialmente não Spencer.

Aria precisava se distrair senão morreria de sofrimento por antecipação. Foi até o quarto do irmão, que era surpreendentemente arrumado se comparado aos de outros garotos da idade dele. Mike tinha uma coleção invejável de jogos para PlayStation, que mantinha sempre organizada. Infelizmente, Aria era ignorante na grande maioria daqueles jogos. Quando era pequena, a única coisa que costumava jogar num console era Super Mario Bros.

Sentada na beirada da cama de Mike, passou os olhos pela prateleira de jogos dele, logo abaixo da fina televisão de tela plana grudada à parede. Ele tinha toda a coleção de Grand Theft Auto. Pode ser divertido, pensou Aria, esticando um braço para analisar as capas de perto.

– Posso saber que merda você está fazendo no meu quarto? – Mike escancarou a porta entreaberta e largou sua mochila no chão.

Aria levou uma mão ao peito, quase pulando com o susto.

– Jesus! Você quer me matar?

Mike ignorou a pergunta e deu dois passos largos até ela.

– O que está fazendo? – repetiu, arrancando três jogos das mãos de Aria – Não tire da ordem.

Aria riu levemente. Para irritar o irmão, bastava que alguém entrasse em seu santuário particular sem ser convidado e tirasse alguma coisa do lugar.

– O que quer? – ele voltou a indagar, ainda agachado à prateleira, virando o rosto para a irmã.

– Me distrair – respondeu simplesmente.

– Bem distraia-se com suas próprias coisas.

Aria suspirou, deitando as costas na cama bem feita do irmão. À julgar pela classe de amigos que Mike tinha e sobre o que o bando falava quando estava reunido, ninguém imaginaria que arrumar a cama era meio que uma fixação para ele.

– Será que de vez em quando dá pra fingir que somos irmãos e que você gosta pelo menos um pouco de mim?

– Pra quê? – Mike apoiou um cotovelo no joelho, ainda agachado – Já temos o Natal onde eu preciso fingir que você é a melhor irmã do mundo.

Havia um sorrisinho no rosto dele. Aria sabia que ele não queria dizer isso realmente, mas por algum motivo ouvir aquilo doeu.

– Alguma vez te ocorreu que eu posso não estar brincando quando digo que gostaria que você não atirasse pedras em mim toda vez que tento começar uma conversa civilizada com você? – ela rebateu, firme.

Certo, deveria haver algum remédio para tratar excesso de sensibilidade, porque sinceramente! Aquilo não devia surpreender Aria. Desde que se entendiam por gente, ela e Mike brigavam por coisas bobas. Mas ela nunca havia colocado a relação deles à comparação como agora. Pensou em Ali e Jason e em como Jason parecia ter um grande instinto protetor em relação à irmã caçula. Aria sabia que Jason daria socos em quem precisasse para afastar Ali dos imbecis que davam em cima dela diariamente. Coitado. Mal sabia ele que Ali muitas vezes era quem os incitava.

Até Spencer e Melissa pareciam ter uma relação fraternal melhor, embora Spencer costumasse dizer, quando mais nova, que não via a hora de Melissa ir para a faculdade. Bem, agora Melissa estudava na Universidade da Pensilvânia e a distância parecia ter feito bem às duas. Muitas vezes Aria flagrara-as juntas fazendo compras nos fins de semana de folga de Melissa. Spencer dizia agora que o período de competitividade entre as duas para ver quem era a melhor filha havia acabado.

Talvez as coisas entre ela e Mike só fossem mesmo melhorar dali a quatro anos quando ele precisasse servir ao exército.

– Ah, não – grunhiu ele, sentando na cama também e arrancando Aria de seus pensamentos – Você não vai chorar por causa disso, vai?

Aria franziu as sobrancelhas, confusa.

– Eu não estou chorando.

– Mas toda a vez que você fica parada olhando para o teto quer dizer que está pensando. E quando as mulheres pensam demais, elas choram.

Aria riu outra vez. Era uma observação bastante precisa.

– Ei – ele deu um soquinho carinhoso em seu ombro – Desculpe, tá legal? Mas você tem que concordar que ficou muito estranha desde que largou o professor.

O sorriso evaporou dos lábios de Aria e ela sentiu como se um buraco tivesse sido aberto em seu estômago.

– O que... o que foi que você disse? – gaguejou, sentando também. Sua mãe era uma das pessoas mais sensatas do universo. Nunca poderia ter contado alguma coisa.

– Aria, qual é! – Mike levantou-se, falando como se fosse óbvio – O cara dava aula na mesma faculdade que o papai, vindo de Rosewood High. Rumores correm rápido numa cidade de sete mil habitantes.

Aria ainda estava sem palavras. Com a garganta seca, pensou nas mais diversas vezes que segurara a mão de Ezra em cafeterias que ele dizia serem confortavelmente isoladas. Mas ainda assim eram apenas sete mil habitantes. Qualquer lugar era arriscado.

– Você... você não disse nada ao papai, disse?

– Aria – Mike interrompeu calmamente –, se eu tivesse interesse em acabar com a sua vida, eu já teria feito isso há bastante tempo.

Aria conseguiu rir outra vez, aliviada.

– Aliás, você conhece o papai – Mike prosseguiu – É provável que ele já tenha alguma ideia. E se ele ainda não disse nada a você, é porque ele sabe que o cara é gente boa e não ganha dinheiro vendendo drogas ou algo do tipo. Ele deve achar que não é preciso confrontar você com isso e que mais cedo ou mais tarde você vai acabar confessando, quando não tiver mais importância.

Aria conhecia muito bem a metodologia de Byron. Era a famosa estratégia do “mate-os com gentileza”. Ela lembrava-se de uma vez quando tinha quatro anos e entrara no escritório do pai para mexer no computador dele. Um dos primeiros modelos de computadores pessoais, daqueles brancos e do tamanho de máquinas de lavar louça. Ela não se lembrava de muito, só da hora em que apertara qualquer tecla e a tela do aparelho ficara preta. Lembrava também de sua voz infantil dizendo “o-oh” baixinho. Por uma semana inteira ela passara com medo de Byron, tremendo toda vez que a chave dele girava na fechadura, mas ele continuava a agir carinhosamente, como se nada tivesse acontecido. Então viera o dia em que a culpa de Aria falara mais alto. E, depois de ela ter começado a confissão com um “não vai brigar comigo, papai?”, ele não fizera absolutamente nada a não ser dizer “esperava que viesse me contar”.

Era uma estratégia brilhante, na verdade, pois Aria não lembrava de algo assim ter acontecido com ela de novo. Talvez tenha sido uma das únicas travessuras de sua vida. Mas, é claro, namorar Ezra sendo a maior delas até agora.

– Acho que essa foi a coisa mais legal que você já me disse – Aria sorriu para Mike, ainda meio que sem acreditar.

– É claro que essa é uma informação muito valiosa. Vão haver tempos em que precisaremos negociar – brincou ele, lançando-a um olhar de canto.

– Tenho certeza que sim – ela riu novamente, fazendo menção de levantar dali, mas de repente parou – Posso te fazer mais uma pergunta?

Mike pendurou a jaqueta em um cabide no canto do quarto.

– O quê?

– A respeito do meu namoro com o Ezra... você... acha que eu sou uma vadia?

Os comentários de Kristen Cullen ainda faziam o coração de Aria latejar, mas não doeriam nada se comparados à dor de possíveis ofensas vindas de seu único irmão.

Mike olhou para os próprios tênis por um momento que pareceu longo demais. Arqueou as duas sobrancelhas e comprimiu os lábios exatamente como um provável futuro chefe de alguém faz antes de dizer a esse alguém que ele não passou na entrevista para o emprego. Tal expressão geralmente era seguida de um “você é bom, mas...”. Entretanto, Mike caminhou até ela novamente e sentou-se ao seu lado na beirada da cama. Olhou por alguns segundos para os próprios dedos, indicando que conversas sérias não eram seu forte.

– Às vezes você pode ser a criatura mais irritante da face da Terra – ele começou –, mas você nunca me deu motivos para acreditar que é uma vadia.

– Sério? – Aria murmurou, ainda impressionada com o jeito como ele olhava em seus olhos fazendo com que tudo soasse extremamente verdadeiro.

– Quer dizer, você é minha irmã mais velha. Embora eu não seja gay nem nada, você ainda é um tipo de modelo pra mim. E se algum dia alguém quiser tentar me convencer de que você não é o que eu acho que você é ou vice-versa, eu prometo que não vou deixar.

Ao concluir, Mike segurava levemente a mão esquerda de Aria, cujos olhos já estavam marejados. Ela queria que houvesse um jeito de se desculpar por todas as vezes que pensara que a inteligência do irmão era inferior, por todas as vezes que pensara que ele não era capaz de ser um bom irmão e... droga de sensibilidade exagerada! Uma lágrima já escorria pelo rosto de Aria pelos mais variados motivos. Mike enxugou-a com um polegar e puxou a irmã para um abraço.

Durante o tempo que Aria permaneceu nos braços dele esforçando-se para não soluçar, Mike permaneceu quieto. Tudo indicava que o vocabulário de “consolação” dele não era muito extenso, já que ele aparentava quase nunca se envolver em momentos como aquele. Mas pela primeira vez Aria sentiu que havia um amigo ali além de um irmão. Um amigo de verdade que não faria piadas sobre lesbianismo se ela contasse a ele a verdade sobre Spencer Hastings.


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Notas finais do capítulo

Minha inspiração pra esse capítulo foi uma cena da segunda temporada (não lembro o número muito menos o nome do episódio) onde o Mike é extremamente fofo com a Aria *---*