Tal dia era deveras especial, afinal, era época das cerejeiras.

Poucas as vezes que elas ficavam de forma tão lindas, até mesmo as brancas, causando uma sensação como se caísse neve em flor sobre o solo em sua grama verdejante, tocando a pele alheia que ousava traçar caminho entre as árvores, assim como pequenas barracas com a culinária maravilhosa que os locais de festivais proporcionavam.

Era um dia feliz e significativo para qualquer um que mantinha tradições, até mesmo curiosos pela cultura, a fim de aprofundar sobre a mesma e aproveitar uma de suas maiores simbologias e belezas que aquelas estações ofereciam.

Caminhavam de maneira descontraída – ao menos uma das presenças –, olhando para as enfeitadas barracas com acessórios, em sua grande maioria máscaras de raposa, entre outros detalhes relacionados às sakuras, em sua coloração típica ao tom rosado.

— Está com fome, Akashi? — Os olhos verdes por de trás da armação fitaram a figura alva que tinha um sorriso carregado em sua face, parecendo até mesmo às pétalas das árvores que os cercavam por todos os cantos. Ele não costumava sorrir com tanta frequência, via graça em algo?

— Podemos ir àquela barraca? — Sugeriu com o olhar rubro para uma vendedora animada com seus clientes, oferecendo as comidas. De fato, Seijuurou estava mais alegre que o de costume. Na verdade, ele estava bem mais... Expressivo.

Shintarou assentiu brevemente, notando por sua altura a vir de um pouco longe do que se tratavam. Havia várias especialidades daquela barraca, tinha suas dúvidas do que o menor ia pedir, já que seus gostos eram poucos, e não costumavam muito ser o típico que via em qualquer pessoa.

Caminharam até a mesma citada pelos olhos do mais novo, esperando apenas por um ligeiro minuto para que as pessoas que estavam sendo atendidas de momento ceder um espaço, e logo ser a vez de ambos.

Akashi encarava todas as especiarias que ali estava a distribuir diante de sua visão, sendo observado por Midorima de canto, recebendo um sorriso da mulher que apreciava a cena de ambos. Não era berrantemente notável, obviamente pela forma que se portavam um do lado do outro, porém, tinha um olhar em carmesim que não se deixava enganar.

— Um sakura mochi¹ e ichigo daifuku². — O ruivo escolheu finalmente após um tempo a encarar, fitando a mulher em seguida, que logo passou o olhar castanho para a figura alta de cabelos esverdeados.

— E você?

— Mitarashi dango³. — Verbalizou a arrumar a armação ao nariz, fitando o menor receber seu pedido após uma ajudante da baixa mulher aparecer por de trás de um dos panos da barraca, vendo-o esperá-lo.

Aquele dia fora regado de poucas palavras desde seu início, e este já estava perto do fim se tratando que a noite começou tinha certo tempo. O convite de Seijuurou não fora uma surpresa para Shintarou, que apesar de achar que ele trataria de fazer algo, preferiu que ambos tomassem partido em se mover para alguma atividade.

Ambos mantinham bem os costumes de sua cultura, assim, os festivais costumavam estarem sempre em planos. Vestir as yukatas, usar suas faixas, calçar os getas. Tudo era uma tradição muito apetecida por ambos. Era em si, talvez algo que os deixasse à vontade fora o resto de afazeres comuns.

Crianças transitavam entre os adultos e adolescentes como eles. E logo ambos caminhavam lado a lado, com Midorima tendo um espetinho com dangos em sua mão direita, notando o menor tendo recebido um pequeno pratinho preto de plástico para levar seus pedidos, tendo um deles já em seus lábios, dando a primeira mordida.

Palavras provavelmente quebrariam qualquer linha de pensamento, mesmo que essas não existissem de momento. A calmaria de um sopro de vento leve naquela noite era a sutileza entre as vozes alheias do festival. Todos estavam ali para apreciarem a época de cerejeiras, comemorarem, comerem, e por fim, ver a atração final.

Akashi sabia o quão não era de um gosto de Shintarou ganhar algo extravagante, bastando até mesmo às vezes não haver de fato um presente. Eram similares, e por mais que soubesse disso, tinha conhecimento de seus gostos em pequenos. O festival cultural fora uma boa escolha, para ambos.

— Midorima. — Seijuurou chamou baixinho, sendo abafado por todas as outras vozes do local pelo qual se locomoviam, todavia, fora uma altura suficiente para receber a atenção dos olhos verdes aos seus, notando que ele havia terminado seus dangos e jogado o palitinho a um lixo próximo. — Separe os lábios. — Pediu com um sorrisinho, mas este apenas havia uma diversão inocente junto de seu fitar.

Midorima o olhava com certa descrença natural, notando que ele havia terminado seu sakura mochi e parte do ichigo daifuku que fora cortado ao meio pela jovem mulher da barranca, sendo possível ver seu meio onde havia o morango com clareza, tendo jogado o pratinho escuro juntamente a si do palitinho ao lixo.

Ponderou tal ideia durante um bom tempo a fitar o olhar rubro, um tanto quanto esperançoso demais para um ato tão... Romântico talvez fosse a qualificação para aquilo? A ver de outras pessoas, sim. Para Shintarou tal ação chegava a ser um pouco... Fofa, ainda mais vindo daquele garoto. Ele realmente...

Abaixou-se com o tronco a lhe ceder o pedido singelo, separando os lábios ao notar ele levar a mão direita com o doce com o morango até sua boca, tendo a outra embaixo a formar uma pequena concha, impedindo que algo fosse cair ao chão. Logo obteve o contato do pequeno doce, mordendo-o em sua metade, a mastigar e não mudar as expressões. Entretanto, podia admitir internamente ao menos, era bom.

Seijuurou prestava atenção, captando suas feições com calma, tendo tombado a cabeça enquanto continuava com as mãos ao ar próximo ao rosto dele, colocando o último pedaço em sua boca após esse ceder espaço com os lábios, tocando em seu inferior com a ponta de um dos dígitos. Voltou à posição inicial – que não notara ficar a ponta dos pés minimamente –, observando-o com um sorriso ao vê-lo terminar de comer.

— Já está na hora, vamos, Jin-nii! — Uma criança de cabelos castanhos em yukata azul escuro corria a segurar a mão do que aparentava ser seu irmão – gêmeo inclusive.

— Os fogos vão aparecer no céu, não precisa quase arrancar meu braço para vê-los, Aiko! — A outra riu, mas logo apertou a palma e dedos do garoto mais animado, trajando um sorriso ao correr junto dele.

Naquele momento, a maioria das pessoas – se não, todas elas – trataram de comerem mais rápido, ou se ajeitarem a se botarem para um mesmo caminho dos meninos, a saída de tantas barracas e passar por um caminho entre as cerejeiras para verem melhor os fogos. Sempre no final de cada festival, os fogos tinham minutos de durações, formando figuras ao céu, a celebrar de forma magnífica tudo.

Akashi seguiria o mesmo rumo, se não tivesse sua mão segurada por outra que lhe manteve ao lugar, acabando por lhe tomar a atenção.

— Eu conheço um lugar melhor para se observá-los. — O maior tinha o olhar levemente desviado, acabando por quase tirar outro sorriso do ruivo, porém, que se deteve, apenas confirmando para ambos andarem para o suposto local.

O silêncio tornava-se aconchegante, apesar de trazer certa vergonha para uma das presenças por não estar tão acostumado àquilo. Ainda mais pelo fato de suas mãos ainda estarem se tocando, embalando os passos que ainda eram audíveis junto do bater crescente em seus peitos.

Passaram entre as árvores, a notar que de fato não era um caminho muito conhecido, já que ao se aproximar, podia notar poucas pessoas junto deles. E em todos os casos, eram casais abraçados, esperando a queima se dar início para desfrutarem do momento mais esperado da noite.

Seijuurou pôde notar após pararem o local que estava com mais atenção aos detalhes. Havia poucas árvores de cerejeiras ali, e o espaço era bem mais aberto, sendo possível o vislumbre do céu ter sua capacidade expandida de forma única.

Suas mãos se separaram por um momento, sendo motivo de confusão interna ao ruivo, acompanhando para onde Shintarou se encaminhou, observando este sentar-se a grama, com as costas encostadas ao tronco de uma das árvores. Sua yukata em um marrom esverdeado ao seu corpo se arrastava um pouco agora a grama local, e seu corpo estava um pouco separado. Como se...

Akashi sorriu, rindo de forma baixa, que sabia que somente piorava um pouco do caso entre ambos. Não era como se ele não tivesse tentado evitar. O ruivo trajava uma yukata cinza com detalhes em formato de rosas, vermelha ao lado superior, e abaixo da cintura – onde usava uma faixa azul escuro e também cinza – rosas brancas. Destacava-se, e não era possível negar.

Andou até onde ele estava sentado, tomando espaço entre suas pernas ao se acomodar com cuidado e sentando-se à sua frente, deixando o corpo ir para trás de forma natural, até suas próprias costas encostarem ao peito do maior, relaxando naquela posição com ele.

Sabiam que algum olhar já devia ter sido direcionado a ambos naquele momento, porém, não era como se fosse ligar para um detalhe tão trivial de segundos. Não havia cochichos, não havia sequer barulho de algum animal ao longe, apenas gritos animados do outro lado onde devia estar mais lotado de pessoas, querendo presenciar logo a bela queima na extensão azul escuro daquela noite.

Uma calma incrível reinava entre os dois rapazes, e em mente, nada passava. Se de outrora tinham pensamentos por demasiado por situações talvez levemente constrangedoras ao público, no exato segundo, isso deixava e muito de importar em suas mentes livres.

O menor pôde sentir – apesar da enorme discrição que teve –, a mão esquerda de Midorima sair do solo verde e passar para sua lateral, pousando ali no momento. Mesmo após um tempo, Akashi notava como ele limitava-se bastante em ações, e não era para menos. Jamais tiraria sua razão, contudo, naquele dia, poderiam, não?

Sua mão saiu da grama que tocavam de forma superficial, colocando-a sobre a palma do mais velho, sentindo-o fechar os dedos com as faixas de forma rápida como se não esperasse o toque, porém, logo a ambos relaxarem daquela forma.

Em poucos segundos após isso, a terem escutado mais gritos em alegria, fora possível notar o primeiro fogo cruzar do solo até o céu escuro, preenchendo parte desse em uma cor branca, espalhando-se, trazendo uma felicidade estranha ao coração de todos que passavam a observar todos os outros preparados para aquele momento começarem de um em um, estourarem a extensão vazia, que tomava mais formas e cor a cada segundo, enchendo-a.

O olhar de ambos os rapazes passaram para a queima realizada. Realmente, era uma das coisas mais belas a se presenciar, ainda mais em boa companhia. E pensando em tais detalhes, Seijuurou tomou posição em deixar sua cabeça cair para trás, ficando perto do pescoço de Shintarou, fitando-o de baixo durante um bom tempo.

Podia ver através do reflexo da armação os fogos estourando em conjunto, alguns solitários e logo a serem acompanhados, desfazendo qualquer harmonia que não era necessária naquele momento. Não naquela noite, não naquele dia.

Sorrira, apertando sua mão de forma fraca, vendo a forma que os olhos por de trás do objeto em seu rosto ganhava brilho, alguma expressão que não possuía aquele rosto sempre tão sério. E logo também notou este ceder o olhar para lhe fitar, abaixando a cabeça, tendo o maior a subir a mão por sua veste a quase seu peito.

De forma lenta, os sons dos fogos começavam a abafar, mas não porque estavam cessando, todavia, para os ouvidos e conscientes dos dois garotos aquilo tomava outra forma, outro foco, outra importância. Mais belo que o festival; o que mantinham; o apreço e sentimento recíproco.

A mão direita de Seijuurou subiu até a cabeça de Shintarou, tocando seus fios verdes, passando os dedos finos entre os mesmos a sentir estes escaparem entre os dígitos por serem lisos. Sentiu o pano de sua yukata ceder ao braço erguido, deslizando pela tez alva de forma mínima, expondo sua pele. Mas o que era mais exposto ali, mesmo que de forma sublime pelo olhar, era sua felicidade, assim como a qual que observava no outro olhar.

Fitava e recebia de volta tal contato visual, ambas as linhas retas em suas bocas.

Outro fogo a queimar. Um novo compasso a se misturar entre ambos.

Akashi cedeu a visão ao deixar as pálpebras fecharem, lhe trazendo o mesmo escuro que o céu tinha de outrora antes da chuva alegre ao que podia ver.

Ambas as bocas tiveram um contato lento e simples. Doce e sutil. Assemelhava-se ao que aquela data representava além de um festival. Como uma pétala de sakura branca a cair gentilmente sobre seus dedos, gélida como a neve a arrepiá-los; o barulho abafado da queima. Nada mais que o jeito sublime da vida a levar todos, junto do sopro delicado do vento.

E talvez Midorima tenha percebido ali, que em momentos de sua vida, os quais pedia para que o tempo passasse depressa, assim como tal dia não esperava que fosse ter muito que aproveitar, aguardando somente os quais pudesse tirar proveito, ele não estivesse totalmente errado.

Porque talvez, mesmo que reduzir a velocidade do tempo para alguns momentos como o qual estava a viver fosse a coisa mais linda do mundo, e o que mais poderia pedir; apreciar tais momentos fugazes mostra-se o lado mais belo a sagaz de tudo.