Ovelhas Negras escrita por Bianca Vivas


Capítulo 25
Lola faz isso o tempo todo




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Felipe

— Caixa postal — disse Juno, bloqueando a tela do celular. — De novo.

A menina revirou os olhos azuis e bufou, batendo na porta do reservado.

— Bem, agora podemos sair daqui? — Luan perguntou, tentando se mexer. Juno assentiu.

Felipe, Luan e Juno haviam passado os últimos dez minutos trancados dentro de um dos reservados do banheiro feminino. A ideia fora de Juno. Ela queria ligar para Eric, para saber se Lola estava com ele. Na cabeça dela, se ficassem em qualquer outro lugar da escola, seriam pegos facilmente matando aula. E, segundo ela, para ficarem realmente escondidos, tinham que entrar num dos reservados.

Os dois meninos haviam concordado com ela, porque queriam que Juno ligasse logo para Eric, mas já estavam arrependidos. O reservado era minúsculo e eles mal tinham espaço para mexer os braços. Felipe sempre acabava roçando alguma parte de seu corpo em Luan ou em Juno. Toda vez que isso acontecia, ele ficava vermelho e abaixava a cabeça, para os colegas não perceberem sua reação.

Quando Juno finalmente abriu a porta do reservado, Felipe pôde respirar aliviado. Não tinha mais a preocupação de não tocar em ninguém e não precisaria mais fazer um esforço desnecessário para não agarrar Luan na frente de Juno — aquela proximidade estava acabando com seus nervos e ele deu graças a Deus quando ficou longe de Luan.

— Vamos fazer o quê agora? — Luan chutou a parede. — Nossa única pista se foi.

Felipe ficou em silêncio. Pensava a mesma coisa. E a cada minuto que passavam sem notícias de Lola, mais preocupado ele ficava. Coisas horríveis podiam estar acontecendo a ela, naquele exato momento.

— Por que está tão preocupado? — Juno franziu o cenho para Luan de repente. — É só a Lola, ela vive sumindo e aparecendo de novo. Ela é assim.

Luan, que chutava a parede várias vezes, parou. Ele se virou para Juno com um olhar sanguinário. Felipe ficou imaginando se teria forças para separar uma possível briga entre os dois.

— Porque ela é minha amiga! — Luan gritou para Juno. — E ela não está num bom momento agora — acrescentou, à meia voz.

— Ela não é amiga de ninguém. — Juno riu ironicamente, como se Luan fosse muito burro por não perceber isso.

Ele sempre tivera certa simpatia por Juno. Ela era uma moça inteligente, bem resolvida, sabia o que queria e sempre alcançava todos os seus objetivos. Era alguém a ser admirada. Porém, o jeito como ela estava se referindo a menina pela qual ele achava que era completamente apaixonado... alguma coisa começou a queimar dentro de Felipe e ele se viu contando números em ordem crescente para se acalmar.

— Sim, ela é — ele finalmente disse. — Se você realmente amiga dela, iria perceber isso.

Juno deu de ombros, sem se importar.

— Se vocês dois querem continuar se enganando, o problema é de vocês — ela disse, como se estivesse abrindo mão de salvar a alma dos garotos. — Já fiz o que pude tentando afastar aquela garota de Felipe...

Dessa vez não foi apenas Luan que explodiu, chutando a parede com raiva. Felipe também não aguentou mais ouvir as declarações de Juno e começou a gritar:

— Mas que porra, Juno! — Ele xingou, em seguida, acrescentou: — O que aconteceu entre vocês, hein? Tu e Lola viviam grudadas e do nada começaram a quase se odiar!

Juno soltou uma risada seca e irônica diante da pergunta de Felipe.

— Ah, quer dizer que ela nunca contou pra vocês? — A menina loira parecia se divertir com aquilo, como se aquele fato fosse prova de que Lola não era amiga de deles. — Bem, não tem problema, eu conto: quando eu comecei a namorar, ela surtou. Via Ian como um inimigo, que queria separar a gente, apenas porque ele achava errado o estilo de vida que nós duas levávamos.

— Nem imagino porque Lola não gosta de seu namorado — Luan comentou por entre dentes, mas Juno não ouviu.

— Então, ela decidiu que eu tinha que escolher entre eles dois, e eu escolhi meu futuro — a garota finalizou, toda orgulhosa de si.

— Me impressiona como você acha isso maravilhoso. — Luan estava enojado com a história quase tanto quanto Felipe, mas Juno não se importava com isso. Lola não era mais importante em sua vida.

— Tá, vamos voltar ao que interessa? — Felipe chamou, tentando esquecer a história de Juno e focar em Maria de Lourdes.

Ele não se conformava com aquilo. Lola não podia ter desaparecido sem que ninguém a visse. Pegou-se desejando que o professor Álvarez estivesse ali. Marcos sempre foi um bom conselheiro e um bom amigo. Conhecia o homem desde que nascera e confiava nele. Certamente, teria algo a dizer, saberia onde ainda não haviam procurado.

— Bem, se não se importam, vou voltar para a aula — a menina disse, por fim, abrindo a porta do banheiro. — Aposto que Lola está se divertindo em algum lugar ou apenas em casa dormindo, enquanto vocês se preocupam com ela.

Felipe arregalou os olhos. Juno acabara de despertar uma ideia. Puxou a garota e fechou a porta. Ela olhou para ele ofendida, pronta para desafiá-lo. Sua boca já estava aberta e sua testa enrugada quando Felipe a cortou.

— É isso, Juno! — Ele disse animado. — O único lugar que ainda não pensamos foi a casa dela!

— Acha que Lola está em casa? — Luan perguntou incrédulo.

— Não — Felipe respondeu, deixando o outro menino ainda mais confuso. — Acho que a mãe dela pode saber de alguma coisa!

Juno já ia dar outra de suas risadas irônicas, mas Felipe olhou feio para ela e a garota ficou quieta. Ele também achava que era improvável a mãe de Lola saber de algo. Ela sempre enganava Catarina e as duas brigavam muito. Entretanto, era a última esperança. Felipe quase podia ouvir seu cérebro trabalhando em como chegariam à casa de Lola.

— Ok — Luan disse lentamente — Só tem um problema. Como vamos sair da escola?

Era estranho ver Luan preocupado em como fazer alguma transgressão. Felipe sempre achou que ele era o tipo que vivia se metendo em problemas. Pelo visto, ou estava enganado, ou Luan estava tão preocupado com Lola que não estava nem pensando direito.

— Deixem comigo. — Juno sorriu para eles, discando alguns números em seu celular.

Felipe não entendia o motivo dela estar ajudando os dois ainda, provavelmente só queria provar como estava certa, mas ele não iria reclamar. Precisavam de toda ajuda possível.

Desta vez, eles se esconderam embaixo da bancada da pia do banheiro. Mais uma vez, a ideia fora de Juno. Ela havia ligado para a recepção da escola e pedido à moça da portaria para dar um recado a uma aluna que ela havia inventado. Agora, estavam esperando a mulher subir as escadas que levava ao andar das salas de aula. Juno estava encostada na porta, olhando pela pequena fresta que abrira.

A posição de Felipe era desconfortável. Ele estava perto demais de Luan, seus joelhos se tocavam. Todas as sensações que ele tivera ao beijar o menino no banheiro estavam voltando. A grande diferença é que agora, sempre que pensava nisso, se lembrava das acusações de Lara. A imagem da menina gritando com um ódio mortal nos olhos e apontando para ele estaria gravada para sempre em sua mente.

— Ela saiu — Juno sussurrou e os chamou com a mão.

Felipe balançou a cabeça. Precisava se concentrar em achar Lola. Saiu de baixo da pia e correu atrás de Juno, até a recepção do colégio. Precisavam ser rápidos, se não quisessem ser pegos.

A recepção, como eles haviam previsto, estava vazia. Luan e Felipe correram para o portão azul da escola. Juno, por sua vez, foi para trás da mesa da recepcionista. Ela se abaixou e apertou alguma coisa porque o portão, que antes estava trancado, abriu. Os meninos saíram e seguraram a grade para que Juno pudesse passar. A garota, entretanto, não estava indo. Pelo contrário, voltava para dentro da escola.

— Ei! — Luan gritou. — Volta aqui!

— Eu não vou com vocês — Juno gritou de volta. — Não vou arriscar meu pescoço por ela. — E deu as costas para eles.

Luan bateu a cabeça na grade e fechou o portão.

— Pelo menos ela ajudou — Felipe tentou sorrir, segurando o ombro de Luan.

— Grande coisa. — Luan chutou o portão. — Fez isso por algum motivo egoísta. Não foi para ajudar.

— Deixa ela pra lá — disse Felipe, puxando Luan. — Vamos!

Os meninos dispararam pelas ruas da cidade rumo à casa de Lola. Não ficava longe dali. Porém, queriam chegar o mais rápido possível. Felipe não achava que encontraria a amiga ali. O que ele queria mesmo era conversar com Catarina. Ela saberia o que poderia ter acontecido no dia anterior.

À medida que se aproximavam da casa de Lola, Felipe ficava mais nervoso. Lembrava-se da primeira vez que vira Catarina. No dia que pediu à Lola para continuar o namoro de mentira. Parecia que fazia mil anos, contudo, eram alguns poucos meses.

Hoje, ele estava voltando. Novamente porque queria ver e conversar com Lola. Só que desta vez não estava sozinho. Luan caminhava a seu lado. Estava tão preocupado quanto ele, e estava mais absorto ainda nos próprios pensamentos que ele. Com os olhos irônicos desfocados, ele continuava andando. As mãos no bolso e o falso ar despreocupado — era só ver nos vincos que sua testa formava que algo não estava certo — fizeram Felipe suspirar um pouco. Ele era realmente bonito. Não tinha o jeito encantador de Lola, que o fazia se sentir diferentes emoções de uma só vez, porém tinha algo que o atraía — mais forte que a gravidade e mais perigoso que um buraco negro.

— Está aberto — Luan murmurou segurando o portão da casa de Lola e fazendo Felipe notar que finalmente haviam chegado ao seu destino.

Felipe também segurou o portão de Lola. Não conseguia imaginar porque ele estaria assim. Felipe sempre o vira trancado. A porta da casa também estava aberta. Escancarada. Outra coisa anormal na casa de Lola. Algo estava errado.

— Vamos subir — disse Felipe com a boca seca.

Ia subindo as escadas com o coração na mão. Imaginava encontrar o pior. Sequestro, assalto. As possibilidades passavam pela sua mente e sempre eram descartadas por algo mais trágico.

Ao chegar ao topo da escada ele viu o que havia acontecido. O que estava acontecendo. Pela porta, ele conseguia ver a cozinha de Lola perfeitamente. Lá, um homem e uma mulher se confrontavam em silêncio. Parecia aquele jogo infantil onde o primeiro a piscar perdia. Porém, as feições sérias deles diziam que aquilo não era uma brincadeira.

A mulher, Felipe reconheceu imediatamente. Os cabelos curtos e lisos, que mostravam um rosto estressado o tempo todo, pertenciam à mãe de Lola, Catarina. O homem à frente dela era um desconhecido. A jaqueta de couro e a barba por fazer o faziam parecer um adulto que ainda não havia largado os dias de juventude. A única coisa familiar no rosto dele eram os olhos. Os mesmos olhos desafiadores e decididos de Maria de Lourdes. 

 


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