Melisandre

Ela estava com sua filha no colo pensando em tudo que havia visto no dia anterior e de como sua presença na Muralha seria útil, mas mesmo sabendo disso ela não conseguia sair de Winterfell enquanto não tivesse certeza que sua filha estaria segura. Principalmente porque somente iria voltar a vê-la quando a Grande Batalha terminasse. E ela não sabia quanto tempo duraria tudo.

Melisandre pensou em levar a pequena filha com ela, mas isso não seria tão seguro. O caminho era muito frio e perigoso para uma criança tão pequena. Ela estava pensando nisso quando o meistre entrou no quarto para ver como ela estava.

–A senhora precisa repousar. Ontem nos deu um grande susto. – falou o homem

–Já estou melhor. Apenas preciso me encontrar com o rei.

O meistre a olhou de uma forma esquisita. Como se perguntasse se ela estava ficando doida por fazer esse pedido. Principalmente depois de tudo que ocorreu.

–Nunca lhe entendi, minha rainha. – disse o meistre se sentando e olhando para ela novamente de uma forma estranha. Como se a visse pela primeira vez na vida. – Nunca entendi o que realmente está por trás das suas ações.

Melisandre não soube o que dizer, por isso ignorou esse desabafo do meistre e disse:

–O Jon precisa de mim.

–Ele precisa da senhora aqui. Cuidando da filha dele.

–O senhor não entende...

–Não entendo mesmo.

–O grande inimigo do Senhor da Luz e da vida está se aproximando. E o Jon ainda não está pronto para o derrotar. Ele precisa acender a espada lendária dos heróis. - ao falar isso Lyanna começou a chorar e um vento forte atingiu as janelas do quarto – Se eu não me encontrar com o Jon todos morreremos por causa da longa noite. As chamas podem comprovar isso.

–Não acredito nessas coisas, senhora.

–O fato do senhor não acreditar não muda o fato delas serem verdadeiras. Vi nas chamas essa manhã que visitantes se aproximam. Um homem que carrega uma grande dor no coração por causa de perdas ocorridas em um casamento e a esposa dele que o acompanha. Eles vem com um bebê e com uma escolta de soldados de um inimigo antigo. Também vi o simbolo de uma truta quando olhei novamente nas chamas para ver mais detalhes. Quando esses visitantes chegarem o senhor saberá que há verdades nas minha chamas.

–Se esses visitantes chegarem prometo lhe ajudar a se encontrar com o rei ou a fazer seja lá o que a senhora pretende fazer. Afinal, não quero que o mundo acabe. – o meistre falou em um tom seguro e com um sorriso meio brincalhão. Como se tivesse certeza que nada daquilo iria ocorrer. – Agora me entregue a Lyanna e descanse um pouco.

Jaime

Jaime ao chegar em Rochedo Casterly teve a sensação que logo seus irmãos chegariam. Mesmo sabendo que isso era impossível. Mesmo sabendo que era mais provável que Tyrion e Cersei já estivessem mortos a um bom tempo teve a sensação estranha de que eles voltariam.

Logo na entrada ele foi recebido por sua tia Dorna, viúva de seu tio Kevan Lannister e por seus primos Jaine e Martyn, filhos dos mesmos. Todos pareciam muito abatidos e tristes, mas tentaram forçar um sorriso quando viram Jaime e os outros que chegaram com ele.

Eles ainda estavam na entrada quando sua prima Joy veio os receber de forma tímida. A menina, filha de seu desaparecido tio Gerion, sempre foi triste, mesmo antes de todo esse mal que se abateu contra os Lannisters. Agora depois dos fatos estava ainda mais triste.

Não eram somente as pessoas que pareciam tristes, o local parecia triste. Era como se uma parte do lugar tivesse morrido junto com o poderoso Tywin. Tudo parecia sem brilho e apagado. O dourado do brasão Lannister parecia aos olhos de Jaime apenas um amarelo desbotado.

Os dias de glória dos Lannisters pareciam ter acabado. Seu forte pai estava morto, assassinado por seu irmão Tyrion. Jaime ainda se sentia culpado por isso. Seu tio Kevan estava morto, outro Lannister forte que se foi. Seus irmãos com toda certeza também haviam morrido. Jaime ao pensar nisso se sentiu fraco e solitário.

Ele tentou afastar esses pensamentos ao entrar junto com os outros. Tentou pensar que se sentiria melhor depois de um banho e de uma refeição quente, porém isso não se mostrou verdade. O banho o fez se lembrar de Cersei. Sem saber o porque se lembrou de todas as vezes em que os dois dormiram juntos e dos filhos que tiveram. Uma saudade de Myrcella e de Tommen o atingiu.

Cersei nunca permitiu que ele fosse um pai para os filhos deles, por motivos óbvios, mas mesmo assim durante aquele banho Jaime chorou pelos filhos como se tivesse os criado por toda vida.

Tommen era um menino adorável que amava gatinhos. Segundo as histórias que contavam Margaery estava por trás da morte dele e o corpo de seu filho havia sido exposto na sala do trono. Outros já diziam que ele havia sido morto pelo próprio usurpador que ocupava o trono. Jaime não sabia se essas histórias eram verdadeiras, apenas sabia que seu filho estava morto. Ele não sabe como Myrcella morreu, mas tinha certeza que ela havia morrido. Jaime mal lembrava o rosto da filha, pois ela havia ficado tanto tempo em Dorne e quando voltou ele estava em Correrrio resolvendo problemas.

Quando ele pensou em Correrrio se lembrou de Edmure e de sua esposa Frey, Roslin. Foram tantas coisas ocorrendo que ele nem havia pensado neles. Nem havia procurado eles quando entrou em Rochedo Casterly. Era para os dois estarem lá.

Depois do banho. Durante a refeição. Jaime lembrou de perguntar para a sua tia sobre o paradeiro de Edmure e de Roslin. Sua tia disse:

– Quando chegaram as notícias das vitórias do rei do Norte e de como as Gêmeas haviam se rendido a ele, resolvi enviar Edmure e sua esposa Roslin para o rei. Para o Norte. Pelo tempo eles já devem está chegando em Winterfell. Apesar deles terem ido mais devagar por causa do bebê de Roslin. Fiz isso para que esse rei não nos ataque.

Jaime não soube o que dizer. Aquilo apenas comprovou como o poder dos Lannisters havia acabado.

–Também mandei um corvo lhe avisando que eles estavam a caminho, mas ainda não tive respostas.- completou sua tia diante de seu silêncio

–Talvez o corvo tenha sido morto ou morrido no caminho. – disse seu primo Martyn que havia ficado calado o tempo todo. Na voz do garoto havia um pouco de esperança.

–Ou talvez o novo rei não tenha se agradado com o fato da gente enviar mais bocas para ele alimentar com o inverno nas portas. - falou Jaime de forma mais grosseira do que gostaria.

–Mas porque ele não gostaria de receber os tios?

–Porque o rei do norte não tem laços de sangue com Edmure. Ele era bastardo de Eddard Stark, até a carta de do rei Robb o legitimando e o tornando herdeiro. Pelo que dizem não tinha uma boa relação com a madrasta. Talvez por causa disso ele não fique feliz de receber o irmão dela. – falou Jaime sem acreditar que sua tia não sabia que era Jon que estava reinando no Norte. Cersei costumava falar que a mulher do tio deles era meio boba e não sabia das coisas. Pelo jeito ela tinha razão. Ao se lembrar de sua irmã uma sensação estranha tomou conta dele.

–Mas tem os meio- irmãos dele, eles ficariam felizes de receber os tios. Isso se eles chegarem em segurança ao Norte... De qualquer forma temos problemas maiores.

A tia continuou falando, depois dela outros começaram a falar, todos falando de problemas, mas Jaime mal ouvia nenhuma daquelas palavras. Em sua mente ele somente conseguia pensar em como ele era inútil. Em como não poderia fazer praticamente nada pelo bem de sua família, tanto pela mão que faltava como pelo fato dele se sentir derrotado com tudo que ocorreu. Chegou a pensar que naquela situação Tyrion e até Cersei seriam mais capazes do que ele.

Quando pensou em Cersei a estranha sensação voltou. Era como se seu coração estivesse lhe dizendo que sua irmã estava perto.

Arya

–Então, posso trocar meu rosto com apenas um passar de mão, só que isso apenas ocorre porque eu já havia usado esses rostos antes, se for um rosto novo é preciso mais que um passar de mão.- falava Arya para Gendry, porém ele parecia não prestar muita atenção. Com todo o clima de tensão em Winterfell ele havia ficado muito tenso, principalmente porque alguns olhavam torto para ele.

–Seu irmão nunca vai deixar a gente se casar. Ele falou que deixava somente para lhe agradar.- falou Gendry pegando a menina se surpresa.

–Ele deixa sim. Afinal você não é mais bastardo. Ele lhe legitimou e lhe deixou ficar aqui. - falou Arya

–Mas isso não quer dizer que ele vá autorizar esse casamento. Se ele planejasse realmente autorizar teria dito isso para os outros. Teria feito um anuncio para todos de Winterfell ouvirem, não teria mantido essa informação somente para ele. Ninguém além de nós e dele sabem disso.

–A Melisandre também sabe.

–Ela é mulher dele. Não conta. Além disso, ela parece não está dando muita importância para esse assunto. Faz um tempo que ela não fala com você.

Melisandre andava muito estranha mesmo. Havia algo de errado com ela, isso era claro. Ela havia desmaiado no dia anterior e ainda estava acamada.

–Ela está apenas doente. Mas tenho certeza que ela deve celebrar o casamento quando melhorar.

–Não tenho tanta certeza assim e ...

Arya olhou dentro dos olhos de Gendry e o rapaz calou a boca e não foi capaz de concluir a frase. A garota ficou olhando por um longo tempo. Tentando descobrir o que ele escondia por trás de toda aquela irritação freqüente. Ela havia aprendido em seu treinamento a olhar além das expressões das pessoas, a ver além das máscaras e de fingimentos. E o que Arya viu nos olhos de Gendry foi medo. Um grande medo de a perder.