Não escrita por Blood Mary


Capítulo 1
Capítulo único




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This is fact not fiction

For the first time in years

All the girls in every girlie magazine

Can't make me feel any less alone

Ninguém nunca falou que seria fácil.

Ela estava no chão, encarando o teto do quarto. O sol já começava a entrar pelas frestas da janela, e o rádio irritante da vizinha estava tocando há um bom tempo. Mas não importava, porque ela não dormira a noite toda.

Não queria deitar na cama. Aquele era o fundo do poço, e era onde ela merecia estar. Pelo menos, era o que ela achava.

Nos filmes e livros parecia tão fácil. Mesmo que tudo terminasse mal, havia algo a se aprender. O que havia a se aprender ali? A vida real doía demais.

Suas costas e seus pulsos ardiam. Ela nunca havia se cortado, ou tentado se matar, mas achava que merecia sentir a dor. Então usou suas unhas e se arranhou até perder as forças e ficar prostrada no chão.

O que mais ela poderia fazer? Ninguém podia ajudar. A única pessoa que ela pensava que a ajudaria a sair dali era quem tinha feito ela terminar de cair.

E, no entanto, ela só conseguia culpar a si mesma. Mesmo tentando buscar alento e só conseguindo receber rejeição.

Monstro, vadia, mentirosa, sem coração. Culpada, culpada, culpada. Era sempre sua culpa, ele fazia questão de deixar isso claro para ela.

O celular começou a tocar. Ela conhecia aquele toque e sabia que era ele. Parecia até irônico ter colocado um toque tão alegre.

Ela sabia o que iria ouvir se atendesse. Pedidos de perdão, fala comigo, não me negue isso, volta pra mim? E depois que ela negasse essas primeiras tentativas, a chuva de ofensas, como você pode fazer isso comigo? Você não pensa em mim? Mas eu te amo, e os meus sentimentos? E tudo o que eu passei?

Chega. Ela não aguentava mais ouvir a voz dele na cabeça, usando tudo o que ela falava contra ela, julgando-a como se fosse juiz do mundo, culpando-a por tudo, fazendo-a passar por tudo aquilo que ela passou – e que eles passaram juntos, mas a única coisa que ele sabia dizer era eu, eu, eu.

Não.

Essa única palavra ecoou na sua cabeça. Não, não, NÃO!

Ela se levantou. Pegou o celular que ainda tocava e olhou com desprezo para o nome que aparecia na tela. Apertou o botão “recusar com mensagem”, e quando o campo para escrever apareceu, escreveu apenas três letras:

“Não.”

O celular parou de tocar. Ela sentia como se tivesse acordado de uma longa reabilitação. E ela estava sozinha. Mas ela havia se levantado sozinha.


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