Kaltblütig escrita por Shan Hanfei


Capítulo 6
Última refeição




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Miguel já chegara em casa. Sozinho em seu quarto, ele vasculhava as gavetas a procura de alguma coisa que pudesse confirmar o comportamento doentio e suspeito de sua esposa. A conversa que tivera com os detetives mais cedo o deixara um tanto intrigado. Agora precisava descobrir tudo.

Abriu uma das gavetas do criado mudo ao lado da cama e encontrou um fichário. Ao abri-lo, estremeceu. Havia recortes de jornais anunciando assassinatos.

Uma das manchetes dizia: “Encontrados 300 mortos na Guiana Francesa”.

Aturdido, Miguel resolveu olhar embaixo da cama. Vasculhou e reparou que, embaixo do colchão, havia mais alguns papeis e um grande envelope amarelo. Abriu e retirou de dentro dele a foto de um homem vestido somente de cueca, muito musculoso. Ao canto da foto, estava escrito em uma delicada caligrafia: “Para Marinês. Com amor, Ricardo”.

Seus olhos se arregalaram. Quem era aquele homem? Por que Marinês guardava uma foto dele embaixo da cama? Então encontrou um pequeno gravador. Sua curiosidade foi às alturas. Muito apressado e ansioso, Miguel sentou-se e levantou-se da cama inúmeras vezes, até que finalmente encostou-se contra a parede. Pressinou play.

Começou a ouvir a voz de um homem:

“Marinês, sou eu, Gabriel Melo. É tarde da noite, faltam exatamente seis dias para a minha execução. Sinto-me só no corredor da morte...”

Miguel rapidamente desligou o aparelho, chocado. Não podia ser verdade. Por qual motivo Marinês guardaria essas coisas tão estranhas em sua casa? Acidentalmente, apertou um botão diretamente para o rádio, que justamente naquele momento, anunciava uma notícia urgente:

“Por dentro das notícias: Um jovem foi brutalmente assassinado agora há pouco no banheiro de uma escola, onde estava acontecendo um Bazar de Antiguidades. Foi identificado com Fernando Cruz, de 22 anos da cidade de São Paulo.”

Miguel sentou-se na cama, sem acreditar no que ouvia.

O trailer de um filme de terror estava sendo exibido no telão do hall do cinema. Via-se uma mulher, entrando lentamente em um quarto com um machado na mão. Fitou o casal que dormia na cama imensa. Alguns segundos se passaram, e foi possível vê-la atingindo-os com toda a violência usando seu machado. A tela ficou preta e o título “Vingança” apareceu em um tom vermelho sangue. “Breve nos cinemas”.

Luís assistia ao trailer ao lado de Clarice. Pedro também estava lá, ao lado de um rapaz de cabelos pretos. Tinha sido escalado pelo gerente para atender os clientes que desejavam doces. Podia ver todos os trailers do balcão onde se encontrava. O cinema não estava muito cheio.

– Não, não, não! – gritou Pedro, colocando a mão nos olhos para não ver o restante do trailer.

– Deixa de ser covarde, Pedro! – disse Clarice, sorrindo.

De repente, ouviram um grande barulho. Olharam para a escada rolante e rolaram de vir ao ver que Bianca levara um grande tombo. Ela estava vermelha, tinha chorado, mas recusou ajuda dos seguranças e correu para onde o irmão e os amigos estavam parados.

– Luís! – disse ela, em pânico. – A nossa mãe é Marta Stewart!

Algumas poucas pessoas que estavam na fila da pipoca soltaram risinhos.

– Eu não estou brincando! – gritou Bianca – Venha cá!

– Por favor, Carlos, assume o lugar um instante? – pediu Luís a outro atendente, que assentiu com a cabeça, enquanto seguia Bianca a uma das mesas. Clarice, Pedro e o rapaz moreno os seguiram.

– Você sabe quem é Marta Stewart? – perguntou Luís, intrigado.

– Ela não é uma assassina? Eu vi no filme “A Noiva de Chucky” – respondeu Bianca, ingênua.

– Claro que não é uma assassina! Que absurdo. Por isso o pessoal riu da sua cara! – disse Luís.

– Não importa! O Fernando me deixou plantada hoje de manhã, eu comentei com a mamãe, e agora ele foi assassinado no bazar da minha escola! – disse Bianca, tremendo.

– Assassinado? – surpreendeu-se Luís.

– Sim, assassinado! – respondeu Bianca, agora apavorada. – Você disse que odiava seu professor ontem e ele foi morto também. Eu sei lá! Talvez a mamãe seja louca! Eu acho que foi ela! De verdade!

Luís sorriu.

– É uma bela ideia, Bianca! – ele então virou-se para Clarice e os amigos. – Ei, vamos fazer um filme sobre minha mãe? Melhor ainda, um seriado de TV! Vou ser criador e produtor executivo!

Todos riram.

– Ei, me empresta a sua mãe! – disse Clarice, dando altas risadas. – A minha tia vem jantar comigo lá em casa hoje e ela é um saco! Odeio!

Luís riu enquanto se levantava para voltar ao balcão.

– É! – disse o garoto moreno e alto que estava com Pedro. – Meu padrasto é um babaca! Ela podia matar ele pra mim! Eu iria ficar eternamente agradecido! Pode falar com ela?

– Ah claro! A gente a odeia mesmo... – disse Luís, dando risada. – Quem será que vai dançar agora? – seu tom de voz agora era sério.

– PAREM COM ISSO! – gritou Bianca, lágrimas escorrendo por seu rosto. – Não tem graça! Ela pode fazer isso, tenho certeza! Alguém mais pode morrer! Estou falando sério! Não me olhem assim!

Luís, Clarice, Pedro e o garoto alto estavam sorrindo para Bianca. Um sorriso que foi sumindo conforme viam o desespero dela.

19h34 da noite

Marinês trazia uma bandeja à mesa, onde toda a sua família já estava sentada. Cantarolava muito contente.

– O jantar está servido! – anunciou ela, colocando a bandeja à mesa e sentando-se em sua habitual cadeira.

– Vamos agradecer a Deus... – disse Miguel. – E rezar para conseguirmos entender as terríveis tragédias dos últimos dias... – ele agora olhava fixamente para Marinês, esperando identificar em sua expressão algum remorso ou surpresa por suas palavras.

Marinês concordou com a cabeça.

– Amém a isso! – disse ela.

Todos na mesa a olharam.

– Hoje o dia foi uma loucura, não é? – perguntou ela.

– Eeer... Certo... – disse Miguel, cruzando os dedos para orar. – Agradecemos a graça de ter comida em nossa casa e em nossa mesa. Amém. – ele continuava a observar Marinês.

– Amém! – disse Marinês, sorrindo.

– Amém! – disseram Luís e Bianca juntos.

– Com fome? – perguntou Marines, cortando um grande do que quer estava dentro da bandeja.

– Lourdes Conde tinha razão! – disse Fátima aos detetives, sentada no sofá de sua casa. – É a Marinês Freitas! Estou dizendo que vi sangue na sola do tênis dela. Não exatamente sangue... Mas coágulos de sangue escorrendo pela sola...

Fátima fez cara de nojo e Alcibides olhou-a, ainda anotando o que ela relatara.

– Eu conheço Marinês há anos! Mas nunca imaginei que ela fosse capaz de matar! Aposto que eu mesma estou correndo um risco enorme. Bem que outro dia eu escutei alguém tentando invadir a minha casa! – disse ela.

– E quando foi que a senhora viu coágulos de sangue na sola do tênis de Marinês Freitas? – perguntou Clóvis.

– Assim que ela voltou do banheiro. Até reclamou dizendo que eram sujos e odiava usá-los. Em seguida, ouve muita gritaria e eu peguei na lança que tinha acabado de comprar. Estava suja de sangue!

Alcibides e Clóvis olharam um para o outro.

– Ela estava sendo gentil... – disse Lourdes, sentada no sofá de sua casa com Mariane ao seu lado. – E então de repente, ela disse...

– Disse o que, senhora? – perguntou Clóvis.

– Disse... Eu... Eu não consigo repetir a palavra...

– E para uma policial, conseguiria repetir? – perguntou Clóvis.

– Talvez... – respondeu Lourdes.

Então Clóvis fez um sinal com as mãos para um grupo de policiais que estavam parados a porta. Entre eles, encontrava-se uma mulher. Ela era alta e musculosa. Sentou-se ao lado de Lourdes no sofá e a encarou.

– Tudo bem! – disse ela, fazendo Lourdes se sobressaltar com seu tom de voz grave. – Ninguém vai lhe fazer mal... – ela então colocou o gravador diante de Lourdes e continuou: – Agora vamos lá, desembucha!

– Tarada! Foi o que ela disse para mim! Foi Tarada! – berrou Lourdes, rapidamente.

Clóvis olhou para Lourdes e voltou sua atenção para as anotações.

Todos comiam no mais absoluto silêncio na casa de Marinês. Miguel olhava para os filhos, mas fixava o olhar em Marinês, irredutível. Luís decidiu quebrar a tensão:

– Sabe Mãe...

– Hmm? – perguntou Marinês.

– Pedro acha que você é uma assassina!

Marinês o encarou por um segundo, abriu um enorme sorriso e soltou uma alta gargalhada.

– Ele acha, é?

Todos arregalaram os olhos.

– Sabe, para alguém que não usa cinto de segurança... Ele é bem metido! – disse Marinês.

Era visível o olhar de pânico no rosto de todos os membros da família.

– Ah! – disse ela, de repente. E se levantou indo em direção à cozinha. – Com licença...

Ninguém falou nada. Acompanharam a mãe com o olhar até ela sumir de vista. Ouviram a porta da cozinha bater com um estrondo. Em seguida, o motor do carro foi ligado e deixou a garagem. Todos estavam perplexos.

Do lado de fora da casa, um policial olhava a distância de dentro de uma viatura. Marinês deu a ré na rua e não reparou no veículo. O homem se assustou ao vê-la sair sozinha. Ligou a viatura sorrateiramente e arrancou para segui-la.

Todos na sala de jantar ouviram atentamente até o som do motor do carro desaparecer por completo. Bianca então levantou correndo e foi em direção à cozinha. Um bilhete havia sido deixado por Marinês em um papel grande colado no imã da geladeira: “Fui ao mercado. Esqueci uma coisa. Volto logo, Mamãe”.

– ELA SAIU! – gritou Bianca, em pânico.

Miguel e Luís levantaram-se, quase derrubaram um ao outro e entraram na cozinha.

– Ela vai matar o Pedro! Tenho certeza! – disse Bianca, lágrimas já caindo de seus olhos.

– Entrem no carro, os dois! – disse Miguel, indo em direção à sala de estar para pegar as chaves.

– Pai, não acha que foi ela... Acha? – perguntou Luís, assustado.

– Pois eu acho que sim! – disse Bianca. – Mamãe enlouqueceu!

– Sua mãe pode estar com problemas! É só! Vamos logo! – disse Miguel, correndo para fora da casa.

Marinês acelerava o carro ao máximo que podia. O policial então resolveu ligar a sirene e acelerar também.

Pelo retrovisor, ela viu que estava sendo seguida, e deu um sorriso maléfico.

– Não vai ser dessa vez, bando de antas nojentas! – disse para si mesma, dando uma alta risada.

O detetive Alcibides estava seguindo o carro da família Freitas.

– Detetive Clóvis! – disse ele, no rádio. – E todas as unidades disponíveis! A família suspeita pegou a Rua Carlos Alberto! Repetindo, pegou a Rua Carlos Alberto!

No carro da família, Bianca estava tensa.

– Vire a direita na próxima rua, Pai! – disse ela.

– Certo, está bem... – disse Miguel, tentando manter a calma.

– Depressa! – gritou Bianca, chorando.

Marinês sentia como se estivesse em um filme de ação, e a cena era uma perseguição policial. Ela percebeu que a viatura se aproximava cada vez mais de seu carro, sorriu novamente e colocou um CD. Aumentou o volume no máximo, cantando com prazer:

“As he came into the window, it was the sound of a crescendo, he came into her apartment, and he left the bloodstains on the carpet, she ran underneath the table, he could see she was unable, so she ran into the bedroom, she was struck down, it was her doom…”

Marinês agora gritava a letra da canção e soltava várias risadas agudas e aterrorizantes. Estava se divertindo, mas ver o policial se aproximar com a sirene ligada estava começando a irritá-la.

Tentando se livrar dele, Marinês acelerou o carro ao máximo e, ao invés de dar a volta, entrou com o carro a toda velocidade dentro de uma praça, cortando caminho e saindo na rua da frente, sem ao menos pensar em apertarno freio.

O policial ainda com a sirene ligada, a perdeu de vista.

O carro da família Freitas entrou em mais uma rua.

– Mesmo que ela esteja louca, não acho que vá fazer nada contra o Pedro, não é? – disse Luís, do banco traseiro.

– Espero que não, filho! – disse Miguel, nervoso. – Mesmo que ela tenha enlouquecido, ainda a amaremos! Muito. E daremos todo o apoio que precisar.

Bianca e Luís olharam para o pai, apavorados.

20h01 da noite

Marinês estacionou o carro. O som já estava desligado. Tirou o cinto de segurança e saiu elegantemente do veículo, como se estivesse sendo fotografada por paparazzi.

Pedro estava sozinho em casa. Seu quarto era composto por fotos de mulher seminuas. Pegou um de seus DVDs e colocou-o em seu player. Um filme pornô.

Marinês olhou para dentro da casa pela janela, abaixando-se para não ser vista. Ali estavam Ana e Paulo Serrat, jantando. Marinês prestou atenção no que eles estavam comendo e sua boca se abriu de choque. Frango.

Ela então imaginou galinhas e galos correndo, felizes, em uma grande fazenda. E sua atenção voltou para o frango que estava sendo devorado naquela mesa. Olhou para o casal com um ódio mortal e saiu delicadamente de perto da janela, sem ser vista. Sentia seu rosto arder. Seu sangue ferver.

Miguel parou o carro na frente à casa de Pedro, atrás de um carro vermelho.

– Este é o carro do Pedro! Os pais dele não estão! – disse Luís, saindo do carro correndo.

Alcibides parou o carro a uma curta distância, sem ser percebido.

– Vamos! – disse Luís, indo em direção à porta.

– Pedro! – gritou Bianca, batendo com força.

Miguel chegou à porta e forçou para abri-la, mas estava trancada. Dentro da casa havia uma música extremamente alta da banda “ACDC”.

Pedro já estava deitado em sua cama. Havia colocado um lençol por cima de seu corpo. A roupa que estava usando minutos atrás estava no chão. O filme começara.

Marinês abriu a porta dos fundos da casa dos Serrat com o maior cuidado. Não esperava que a porta fosse ranger. Estremeceu. Não se mexeu e parou para ouvir.

– O que foi isso? – perguntou Ana, da sala de jantar.

– Não ouvi nada! – disse Paulo, comendo uma asa. – Tem sobremesa?

– O doutor Freitas disse que os doces estavam te deixando louco! Quer arriscar?

Marinês ouviu e abriu um leve sorriso, contente por ver que eles levavam as recomendações de seu marido a sério.

– Ah, e o que ele sabe? – perguntou Paulo, irritado.

– O que ele sabe? Vejamos... Mandar a conta?! – exclamou Ana.

Então os dois riram da própria piada. O sorriso já não se encontrava no rosto de Marinês. Agora, estava vermelha como um tomate. Não por vergonha, mas por ódio. Como eles ousavam falar assim de Miguel?

Luís abriu a janela da sala de Pedro e entrou.

– Vou abrir a porta... – disse ele.

Alcibides viu a cena e rapidamente pegou o rádio:

– Família suspeita entrando na casa! Enviem reforços na Rua Almeida, número 12. A mãe deve estar lá dentro!

No andar de cima, as cenas do filme pornô já estavam bem intensas. Pedro quase não olhava para a tela. O lençol subia e descia em um movimento que parecia ser de seu braço. Seus olhos se reviravam. Estava se masturbando.

“Hora da Roda da Fortuna!” – anunciou uma voz que vinha da televisão, no quarto de Ana e Paulo.

– Paulo! – gritou Ana, indo até a porta. – Já começou! A Roda da Fortuna!

– Estou comendo! – gritou Paulo, colocando um grande pedaço de bolo de chocolate de uma vez em sua boca.

Ana voltou para dentro do quarto e foi até o espelho, onde penteou parte de seus cabelos. Estranhou a janela de seu quarto estar aberta, pois seu costume é fechá-la às 18h30 da tarde para evitar pernilongos. Fechou a janela e sentou-se em sua cama. Tirou os sapatos e colocou pantufas em formas de ratinhos fofos. Dirigiu-se à gaveta, onde pegou uma caixa de comprimidos e colocou-os em cima do criado.

– Paulo! Venha! As crianças vão chegar! – gritou Ana mais uma vez.

Começou então a desabotoar o vestido. Quando o tirou, apenas de calcinha e sutiã, foi até o guarda-roupa e o abriu. A primeira coisa que percebeu foi uma caixa de sapatos no chão, se mexendo.

– Paulo? – berrou ela.

– O que foi, meu bem?!

– Deve ter algum bicho dentro do armário!

– Claro que não! – berrou Paulo. – Nós dedetizamos!

Ana abriu mais a porta do guarda roupa e passou a procurar, entre os cabides, uma de suas camisolas para se deitar. Foi então, quando mexeu em um elegante vestido azul, que ela viu Marinês, dentro do guarda-roupa, escondida por trás de todas as suas roupas. Não podia ser!

Marinês segurava uma tesoura na altura dos seios e sorriu alegremente ao ver Ana, que escancarou a boca. Quando ia gritar, Marinês enfiou a tesoura com toda a violência em sua barriga.

No andar de baixo, Paulo arrotou.

Olhando para os pés, Ana viu que havia um rato mordendo parte de sua canela. O sangue já escorria por seu corpo e inundava o chão do quarto.

– Ah não! – disse ela, quase sem voz.

– Aaaaaaah! – gritou de vez, já em profunda agonia.

– Ana? – gritou Paulo do andar de baixo, mas ele não teve resposta.

Ana caiu no chão, morta.

Luís abriu a porta da casa para Miguel e Bianca. Eles entraram e ele fez sinal de silêncio com o dedo:

– Lá em cima!

Era possível ouvir gemidos vindos do quarto, mas ainda assim, Miguel subiu à frente, seguido de Luís e Bianca.

– Eu vou entrar! – disse Alcibides, dentro do carro, no rádio. – A mãe pode assassinar quem quer que esteja lá dentro agora. Posso detê-la! Câmbio!

O carro de Clóvis parou em frente ao seu logo em seguida, e Alcibides apontou para a casa. Eles seguiram juntos para a entrada.

– Está trancada! – exclamou Miguel, ao tentar abrir a porta do quarto de Pedro.

Os gemidos dentro do quarto haviam ficado ainda mais fortes.

– Arromba! – implorou Bianca.

– Arromba pai! Arromba! – disse Luís, e Miguel o fez.

Pedro tinha os olhos fechados e sua cama tremia muito de modo bizarro. Estava quase chegando à erupção de seu momento.

– AH! AH! AH! AH! AH! – era o único som que saía da boca de Pedro.

Os movimentos ficaram ainda mais intensos, até que:

– AAHHHHH! DELÍCIA! – berrou ele.

Então abriu os olhos. Bianca, Miguel e Luís o encaravam, perplexos.

– AHHHHHHHHHHHH! – gritou ele, assustado.

Miguel desviou o olhar e Bianca fez cara de nojo.

– Nossa, que é isso Pedro! – disse Luís, também virando o rosto para o outro lado. – Que mal, cara!

E então se ouviram gritos:

– POLÍCIA! PARADOS!

Clóvis e Alcibides invadiram o quarto apontando suas armas para Pedro, que cobriu o rosto com o lençol, envergonhado como nunca.

Paulo subiu as escadas, assustado.

– Ana! Ana, responda!

Ele correu pelo corredor e entrou no quarto. Ana estava no chão e Marinês acabara de tirar a tesoura de sua barriga.

– AH MEU DEUS! – exclamou ele, em choque.

Marinês sorriu:

– Paulo! Como vai?

Ela então atirou a tesoura com força para o local onde ele estava parado.

Paulo foi mais rápido e correu para fora do quarto. A tesoura prendeu na parede e rapidamente Marinês levantou, arrancou-a com facilidade e saiu pelo corredor atrás de Paulo.

Encontrou-o quase virando outro corredor. Jogou a tesoura novamente e quase acertou seu alvo. Desta vez, a tesoura ficou presa em um quadro com a caricatura de Paulo, e este continuou a correr escada abaixo.

“Ele vai fugir. Ele não pode!”, pensava Marinês. Ela voltou correndo a um dos quartos da casa, e foi até a janela. Era impossível abri-la, pois o grande ar condicionado, dos bens antigos, fora colocado ali. Começou a empurrá-lo com todas as suas forças. A janela dava exatamente em cima da porta de entrada da casa.

– Socorro! – ela ouviu Paulo gritar, no andar de baixo, abrindo a porta.

Marinês conseguiu fazer com que o ar condicionado se desprendesse, e Paulo correu porta a fora.

– Polícia! Socorro! Me ajudem! Pelo amor de...

Mas ele não conseguiu terminar sua frase. Foi atingido na cabeça com um forte estrondo e violência pelo pesado ar condicionado que se encontrava preso à janela. Sangue começou a jorrar pelo buraco onde havia sido atingido.

Pela janela, Marinês olhou e sorriu ao ver o corpo de Paulo caído na frente da casa. Reparou que sua mão estava suja de sangue e foi ao banheiro para lavá-la.

Miguel abriu a porta da cozinha de sua casa, sorridente.

– Ah! Lar doce lar! Está tudo bem, crianças! – disse Miguel. – Sua mãe está bem!

– Como pude pensar que mamãe era uma assassina? – perguntou-se Bianca, surpresa e aliviada.

– Que pena que ela não seja assassina! Parecia que estávamos em um filme! – disse Luís.

Marinês apareceu de repente no cômodo com uma tigela de morangos nas mãos.

– Quem quer sobremesa? – perguntou ela, sorridente. – Comprei morangos!


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Notas finais do capítulo

O cerco está se fechando para Marinês Freitas. Vocês acham que ela vai conseguir se livrar de mais um – no caso, dois – assassinato?

Já estou conduzindo a história rumo ao final. O próximo já é o penúltimo capítulo e espero que vocês comentem sobre o que estão achando da história e o que esperavam para o desfecho da nossa protagonista, que é vilã.

Não percam a reta final!