Kaltblütig escrita por Shan Hanfei


Capítulo 4
A descoberta da verdade




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10h06 da manhã

O caminhão de lixo passava pela rua de Marinês, e os dois catadores olharam com nojo a atitude de Fátima, pois ela juntava todo o tipo de lixo em um único saco.

Marinês jogava vidros, papelão e alumínio, cada um em sua lata de lixo correta, pois ela reciclava. Ouvia bem alto uma música e a acompanhava cantando:

So, annie are you ok? Are you ok Annie?You’ve been hit by, you’ve been hit by a smooth criminal!

Pela janela, Marinês viu a nojeira que Fátima estava fazendo juntando todo o lixo em um único saco. Desligou a música para ver se o que estava vendo era mesmo real. Não podia acreditar. Ela então andou até a pia da cozinha, abriu a cesta de piquenique que a própria Fátima lhe trouxera e de lá tirou uma tesoura, segurando-a como se fosse ferir alguém, uma expressão maligna no rosto.

Foi quando ela viu os lixeiros recolhendo o seu lixo, sorriu e pegou duas garrafinhas de bebida com álcool. Colocou-as no bolso e pegou uma sacola de lixo, saindo de sua cozinha em direção aos homens.

– Esperem por mim rapazes! – disse ela, correndo com a sacola de lixo. Eles sorriam ao vê-la.

– Pronto – disse ela, entregando a sacola. – Aqui está tudo pronto para ser reciclado!

– Bom dia, senhora Freitas – disse o homem negro, baixo e careca.

– Bom dia Ronaldo – respondeu Marinês, olhando para o homem negro, e depois olhando para o homem alto, branco e que tinha cabelos loiros. – Bom dia, Alyson.

Alyson fez uma reverência.

– Sabe... Vocês trabalham tanto, que eu trouxe uma bebidinha para vocês – disse ela, tirando os pequenos vidros do bolso. – Não vai fazer mal!

– Obrigado, senhora Freitas! – disse Alyson, enquanto os dois abriam suas bebidas e davam o primeiro gole.

– Puxa! – disse Ronaldo.

– Essa é da boa! – disse Alyson.

Todos riram. Então Alyson voltou a olhar para Fátima.

– Estou vendo aquela velha porca! – comentou.

– Ah! – disse Marinês, virando-se para ver Fátima também. – Eu já falei muito com ela. Uma lata leva de 90 a 100 anos para se decompuser. E mesmo assim ela não recicla!

– Os milhões saem do bolso do contribuinte, mas ela nem liga – disse Ronaldo.

– Eu odeio a Fátima! – disse Marinês.

– Também odeio! – disseram Alyson e Ronaldo ao mesmo tempo.

– Sabe... – começou Alyson. – Alguém deveria matá-la!

– Devia deixá-la com um sorriso mortal! Tipo aquele do Coringa! – completou Ronaldo. – E depois reciclá-la.

Marinês iluminou os olhos e olhou para os dois homens.

– Pelo bem da humanidade, alguém tem que fazer!

E os homens brindaram.

Neste momento, Marinês viu novamente uma garota morena, alta, indo em direção à casa de Lourdes e mudou de expressão. Fúria, curiosidade. Maligna.

– Mas o seu namorado foi condenado por matar 12 pessoas! – disse uma voz que vinha da televisão.

– Não o julgo! – respondeu uma mulher gorda, e a plateia do programa a vaiou.

Fátima estava assistindo ao programa, e Lourdes estava sentada no outro sofá, a garota morena do seu lado.

– Como pode amar um assassino? – perguntou alguém, provavelmente, a apresentadora do programa.

– É fácil! – disse a gorda. – Ele é lindo! Ele é famoso e eu o visito conjugalmente!

Mais vaias para a mulher gorda.

Marinês olhou pela janela para a sala de Fátima, onde elas estavam de costas e não puderam vê-la. Marinês viu claramente a mão de Lourdes na bunda da garota de cabelos pretos e isso a incomodou. Será que ela não teria vergonha?

– Isso é assustador! – disse a mulher da entrevista. – Mulheres que amam homens degenerados!

Marinês então, abaixada e observando a sala pelo canto do olho, surgiu lentamente pela janela, sem ninguém vê-la, com uma expressão indecifrável no rosto. Assustadora. Seus olhos fitavam a mão de Lourdes que acariciava a bunda da adolescente.

– Tem violência em toda a parte! – disse Fátima, desligando a televisão.

Foi quando Lourdes, de relance, olhou para a janela e viu Marinês, que rapidamente sorriu e assumiu outra posição. A mão de Lourdes desapareceu da bunda da garota.

– AAH! – exclamou Lourdes com o susto.

Fátima se assustou e olhou para a janela.

– Ah! É a Marinês! Entre Marinês! – convidou Fátima.

Todas se levantaram.

– Ai! Ela me assustou! – disse Fátima, colocando-se de pé, e a adolescente a seu lado fez o mesmo.

– Oi Fátima! – disse Marinês, entrando na sala.

– Toma uma cerveja? – perguntou Fátima.

– Não, não. Muito obrigada! Tomo um café, se você tiver!

– Ah sim, vou buscar! – disse Fátima, saindo da sala.

Marinês olhou Lourdes e a garota, então disse:

– Ah Lourdes! Eu soube do seu problema... Eu lamento muito! – e então ela a abraçou e olhou fixamente nos olhos da adolescente, que evitou encará-la.

– Não é justo! – disse Lourdes. – Nunca fiz mal a ninguém, não cometi nenhum pecado pra merecer isso.

– Bom, gente... – disse a garota, pela primeira vez. – Acho que já vou...

– Tão cedo? – perguntou Lourdes rapidamente.

– É, minha Mãe e minha irmã estão me esperando... É bom eu ir.

– Tudo bem, Mariane – disse Lourdes. – Te vejo mais tarde?

– Claro que sim! – respondeu a jovem, convincente.

– Ok! Te espero!

Então Mariane saiu da sala, e Marinês e Lourdes voltaram a se sentar. Fátima voltou com uma xícara e a colocou em uma pequena mesa, cheia de objetos frágeis e pequenos.

– Obrigada! – disse Marinês, e no momento seguinte olhou fixamente para uma foto, ao longe, em uma mesa. Mudou o tom de voz. – Essa não é a tarada?

Lourdes arregalou os olhos. Era a mesma voz que a agredia verbalmente pelo telefone. Não podia ser. Tinha que estar louca.

– Como disse? – perguntou Fátima, inocente.

– Se essa não é a Tamara, sua sobrinha? – perguntou Marinês.

– Ah sim! Ela não é linda? – perguntou Fátima, dando as costas às visitas para ver a foto.

Lourdes ficou boquiaberta. Não conseguia tirar os olhos de Marinês.

– O que foi que você disse? – perguntou.

Marinês se aproximou de Lourdes e com um sorriso malicioso, respondeu:

– Eu disse tarada, Lourdes – e rapidamente, Marinês pegou um ovo de vidro em cima da mesinha e o jogou com toda a força no chão, espatifando-o.

– Ai meu Deus! – berrou Marinês. – O que você fez? – e sorriu para Lourdes em um flash de segundo.

Fátima virou-se instantaneamente, encarou o objeto quebrado e ficou boquiaberta.

– Não fui eu! – berrou Lourdes.

– O meu ovo Franklin Mint! – lamentou Fátima.

– A Lourdes lamenta muito ter sido desastrada – disse Marinês. – Não é, Lourdes?

– Mas Fátima, não fui eu que quebrei! Foi ela! – exclamou Lourdes, desesperada.

Marinês riu da acusação.

– Podia pelo menos se desculpar, Lourdes! – disse Fátima, com raiva. – Eu coleciono Franklin Mint! Não está vendo as outras peças?

– Bem... Hoje tem uma feira de antiguidades da escola de Bianca. Podemos ir até lá e ver se encontramos um novo... – disse Marinês. – Acho que Bianca chegou a me dizer que há uma barraca somente de Franklin Mint!

Marinês puxou Fátima em direção à porta.

– Lourdes, tranque a casa, sim? Vou cuidar da pobre Fátima! – disse ela, sorrindo maliciosamente para a vizinha.

E então elas saíram da casa, deixando Lourdes sozinha.

– Mas eu ouvi a voz dela... – disse Lourdes, já sozinha. – É ela!

Miguel ouvia atentamente tudo o que Paulo Serrat estava lhe dizendo. Depois de uma longa conversa, finalmente comentou:

– Senhor Serrat, como se sente em relação a isso?

– Me sinto muito mal, oras! – disse Paulo. – Minha cabeça fica girando! Dói muito!

– Quer me contar mais? – perguntou Miguel.

– Sim! – disse Paulo, e então ele começou a chorar absurdamente alto.

Ana Serrat estava sentada na sala de espera e ouviu o choro do marido. A secretária sorriu para a mulher, que jogou a revista de lado e entrou no corredor para a sala de Miguel sem receber autorização, embora a jovem tentasse impedi-la.

– Espere, não pode entrar aí! – disse a secretária, sem sucesso.

Ana entrou na sala de Miguel assustada.

– Você está bem, Paulo?

– Senhora Serrat – disse Miguel, tranquilo. – Fique na sala de espera, sim?

– Ah Ana! Ajude-me! – disse Paulo. – Ele me obriga a falar!

Miguel suspirou.

– Desculpe interromper... – disse a secretária, entrando na sala de Miguel. – Mas Doutor, há dois detetives esperando pelo senhor.

– Certo. Por favor, Senhores Serrat. Se retirem... Sua sessão terminou.

10h35 da manhã

– Bom dia! – disse Miguel, voltando à sala onde agora estavam os detetives Clóvis e Alcibides. – O que houve? Há um paciente me esperando!

– Doutor Freitas – disse Alcibides. – A sua esposa lê muito?

– Livros sobre cachorros – respondeu Miguel.

– Como os que achamos na lata de lixo? – perguntou Clóvis. – De títulos como “Ímpeto de Matar”, “Homicídio em Massa”...

– Tenho certeza de que pertence ao meu filho Luís – respondeu Miguel.

– Não! – disse Alcibides. – São de sua esposa! Nós checamos. Ela os comprou na livraria Saraiva do Shopping Anália Franco, junto com outros livros...

– “Como Matar”, “Caçando Humanos”. Os comprou no dia 5 de Fevereiro, com o cartão Mastecard, número final 1213.

– Isso é ridículo! – exclamou Miguel, chocado.

– Senhor Freitas – continuou Clóvis. – A sua esposa tem problemas mentais?

Miguel olhou fixamente para os detetives, incrédulo.


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Notas finais do capítulo

A letra que aparece no início do capítulo, caso alguém não conheça, é de “Smooth Criminal”, do Michael Jackson.

Mas me contem... o que acharam do capítulo? E mais importante: o que estão achando do andamento da trama até agora?

No primeiro capítulo, vimos Marinês mostrar sua outra face com as ligações ofensivas para Lourdes Conde.
No segundo, ela assassinou a sangue frio o pobre do professor Gilberto.
No terceiro, foi interrogada por ser a única mãe do colégio que possuía um gol cinza, o mesmo usado no atropelamento do professor.
Já neste capítulo, revelou sua frieza e maldade para Lourdes, e agora os detetives chegam mais perto de descobrir o hobby da adorável mãe.

No próximo capítulo, Marinês vai fazer mais uma vítima. E tecnicamente será descoberta por um dos personagens. Quem vai morrer? Vocês já conhecem!

Não percam!