Have a break, have a... Davekat? escrita por SweetFantine


Capítulo 3
Cuidado com o que você aposta nos Domingos


Notas iniciais do capítulo

Tudo bem meus amoreeeees???
Adivinhem quem trouxe um capítulo novinho prucêis???
º3º
Agradeçam por eu estar passando por um (muito bem vindo) surto de inspiração.
Eu gostaria de dedicar este capítulo a todos aqueles que deixaram um review, favoritaram ou acompanham essa bagaça
Sério, vocês são show, e moram aqui no meu coraçaum



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Aconteceu há três anos.

A tarde se arrastava preguiçosamente, trazendo consigo o tédio de Domingo.

Estavam ambos Striders esparramados pelo sofá, juntamente com uma pilha de smuppets e pacotes de salgadinho. Repousavam em suas mãos os controles do x-box , enquanto na tela da TV, gráficos toscos poluíam os pixels do game promocional do Doritos.

Quantas vezes já haviam sido...?

Dave havia decidido contar quantas vezes o carinha skatista iria travar em alguma parede, mas já havia perdido as contas de tão bugado que aquele desperdício de tempo era.

Porém, pelo menos algumas vezes tinha de testá-lo; pelo bem da ironia. O seu blog de reviews irônicos da gamebro pedia por atualizações, afinal de contas. E Dave não podia deixar seus inúmeros fãs na espera.

Um suspiro prolongado cortou o silêncio que tinha se instalado naquele apartamento. Dave guiou a cabeça para a direita, de onde o suspiro havia vindo. Da boca de seu bro.

Bem a tempo de observá-lo se erguendo do sofá e se espreguiçando como nunca antes havia testemunhado.

– Eu duvido... – o rapaz de altura considerável e óculos extravagantes iniciou, se dirigindo ao irmão mais novo. – Eu duvido você tomar mais suco de maçã que eu.

– Isso é um desafio? – Dave pausou o jogo, erguendo uma sobrancelha ao seu bro.

– Só se você aceitar. – o Strider mais velho cruzou os braços. – Vamos às apostas.

– Se eu ganhar – o mais novo também se ergueu do sofá – Você vai ter que vestir aquela fantasia por uma semana.

Dirk Strider sabia muito bem que fantasia era aquela. Não deixaria fácil para o irmão. Não mesmo.

– Quando eu vencer. – o bro se inclinou para que ficasse par a par (óculos a óculos) com seu maninho – Você vai ter que comprar um KitKat todo dia, durante um mês, para mim.

Aquela proposta fez com que o cérebro de Dave desse um estalo, bugando mais que o próprio skatista do jogo do Doritos. A sua expressão, por outro lado, refletia total incredulidade.

No final das contas, chegou à conclusão de que o seu nível de ironia não havia alcançado as maestrias de seu bro ainda. Teria que aprimorar mais, caso quisesse um dia estar no mesmo patamar do mais velho.

(Um dia, quem sabe, pequeno gafanhoto)



Um garoto loiro de óculos aviador descia a rua, de mãos nos bolsos da calça e cabeça erguida. Porém desta vez, não tropeçava nos fãs de seus blogs enquanto andava. Era Domingo, afinal.

Permitiu que um suspiro quase imperceptível lhe escapasse por entre os lábios, indicando que repassava os eventos de alguns minutos atrás.

Estava empatado com o seu bro. Haviam ambos esvaziado cerca de cerca de três garrafas de 300ml cada um, e se arriscaria em dizer que os dois possuíam chances quase idênticas de vencer aquela aposta.

Contudo, justamente na quarta garrafa, talvez a decisiva – pois, enquanto Dirk estava na metade ainda, Dave praticamente virava a sua – engasgou-se feio, recordando-se de uma imagem um tanto inconveniente:




“Porra, John” – Dave repreendia o seu amigo mentalmente. – “Você tinha que ter me mandado essa merda de imagem do filme ‘Monstrinhos’. Podia ter sido qualquer outro filme, mas foi justamente aquele em que o cara mija no suco da infeliz da criança.”

E foi assim, ironicamente considerando em cortar relações com o seu amigo e criando teorias de conspiração quanto ao seu bro suspeitar dos seus traumas com suco de maçã; que Dave acabou por se encontrar em uma rua cuja calçada nunca havia percorrido antes, mas que sua intuição lhe dizia pertencer ao mesmo bairro que o seu.

Percorreu os olhos pelas inúmeras fachadas, que pareciam repousar naquela tarde de Domingo, se perguntando onde iria encontrar um estabelecimento aberto justamente naquele dia da semana, até que...

Deparou-se com uma loja de conveniências aberta!

Em sua fachada lia-se: Alternia.

Talvez não fosse a loja mais moderna e completa que já havia encontrado... Ok, tinha que admitir, aquilo era quase um muquifo nos cafundós do boréu, mas, hey, estava aberta de Domingo!

Considerando que talvez não fosse mais se deparar com oportunidades como aquela, Dave transpôs a entrada de Alternia, remexendo nos bolsos os trocados que havia recolhido do seu pote.

Aqueles potes que meninos radicais (como ele), juntam moedas e notas de um dólar para fazerem alguma viagem (não para a Disney) ou comprar uma moto maneira. No caso de Dave, provavelmente seria uma turntable nova ou uma hoverboard irada.

Seria, pois agora teria de torrar as suas economias com um chocolate nojento que seu irmão comia durante as partidas de vídeo-game.

Um tanto impaciente, Dave foi direto ao ponto. Nada de análises detalhadas sobre a harmonia da ambientação que a decoração daquele local proporcionava ou de críticas quanto a variedade de produtos nas prateleiras. Ok, talvez um dia fizesse isso, pelo bem de ser irônico, mas não seria dessa vez.

Para a sua sorte, a repartição de doces estava localizada próxima ao caixa.

O loiro, sem mais delongas, retirou um dos vários pacotes de KitKat da caixa localizada na segunda prateleira, de baixo para cima, e se encaminhou para o balcão.

Enquanto mantinha suas mãos ocupadas em procurar as moedas perdidas pelo seu bolso, levava aquela embalagem vermelha entre seus dentes. Mal se apercebeu quando uma figura baixinha se aproximou dele e o encarou com hostilidade.

– CAHEM - a figurinha pigarreou – precisa de alguma coisa?

Apenas quando escutou aquela voz rancorosa e inesperadamente arranhada (como um de seus discos da turntable) vinda de baixo, percebeu que havia mais alguém ali além de si.

Aquela havia sido a primeira vez em que havia deitado seus olhos sobre a figura impagável de Karkat, para nunca mais esquecê-la.

Dave lembra-se muito bem de como a intensidade daquela cabeleira ruiva havia feito seus olhos lacrimejarem, como se estivesse há horas assistindo às chamas de uma lareira. Apenas não era comparável à intensidade do rancor que aqueles olhos castanho-avermelhados lhe lançavam, como as faíscas que os Power-rangers soltam quando são atingidos.

Reparou bem em como franzia o seu nariz salpicado de sardas, e quanto isto o assemelhava a uma criança.

Aliás, na cabeça do Strider, aquele baixinho era tudo, menos alguém com 13 anos.

– Mals aí, baixinho, mas me diz, onde está o atendente dessa budega. – o sulista tentou ser o mais delicado possível ao se dirigir a uma criança. Pelo jeito, havia aprendido com o irmão mais velho.

– QUEM VOCÊ CHAMOU DE BAIXINHO?! – tal foi o tom utilizado pela exclamação que Dave quase foi para trás. – E por acaso você é cego?! Não ta vendo que eu estou aqui, me matando de trabalhar, enquanto eu poderia estar descansando na minha casa neste exato momento?! Por que outro motivo eu estaria aqui, ein, me diz!


– Na verdade eu sou cego. – o texano mentiu apenas para ver a reação do tampinha.

Quase que imediatamente, o ruivo trocou de expressões, e o seu antes rosto contorcido de estresse cedeu lugar a uma expressão apreensiva e quase santa de tão honesta:

– Quê...? Sério? Nossa eu --- Peraí, se você é cego, como é que sabe que eu sou baix---

Dave tentou conter a risada, porém um tênue sorriso lhe pintou os lábios no lugar, daqueles que tentam controlar uma situação muito cômica. O detalhe não passou despercebido pelos olhos do ruivo, que logo se deu conta da brincadeira.

Logo, estava explodindo novamente, praguejando a cada palavra de repreensão ao texano. Este que, apesar de tentar não rir descontroladamente (porque garotos radicais como ele não se entregavam a tais ímpetos), não se agüentava e permitia que um sorriso lhe aflorasse na face vermelha (vermelha como se estivesse prendendo a respiração).

Com um estardalhaço que quase se sobrepôs aos gritos do caixa, um aglomerado modesto de jovens invadiu aquele recinto. E obviamente, o que primeiro atraiu a atenção deste grupo foi aquela discussão nem um pouco discreta que ocorria no balcão.


– Karkat! – uma voz conhecida do ruivo fê-lo desviar a atenção à origem daquela.

– T-Terezi... – balbuciava, com o rosto fervendo do estresse ainda acumulado em seu corpo.

– Não vai nos apresentar o seu amigo aqui...? – a jovem de cabelos chamativos passou o braço pelos ombros de Dave. Este a encarou de volta, um tanto quanto surpreso, tinha de admitir. Em resposta, aquela moça, de óculos extravagantes e sorriso maroto, fungou o pescoço do loiro, que estremeceu com o gesto.

“Oxe, é doida é?!”

– Amigo?! – o garoto nomeado Karkat torceu o nariz tanto para a alegação quanto para as atitudes impróprias de sua amiga. – Eu nem conheço esse cara. Ele que veio com gracinha pra cima de mim.

Terezi destinou um sorriso duvidoso ao texano.

– Eu sei que o Karkat pode parecer uma gracinha, ainda mais quando está vermelho de raiva, assim. – a jovem falava no pescoço do rapaz, como que confidenciando. – Mas não adianta flertar com esse cabeça-de-vento, ele é muito imbecil pra isso. Palavra de honra!

– QUEM AQUI VOCÊ ESTÁ CHAMANDO DE CABEÇA-DE-VENTO, SUA JURUNA?!

– O que diabos é uma juruna?

E assim, aquela discussão se prolongou até a noite, quando uma mulher, provavelmente a gerente daquela loja, chegou com a sua filha, esta que foi lá e deu um fim ao bate-boca com um tapa bem dado na cara do irmão.

Não bastasse isso, Dave foi apresentado a um número considerável de adolescentes da sua idade, aproximadamente, que o convidaram para jogar uma partida de SGRUB com eles.

SGRUB, aparentemente, era um jogo de RPG com regras nonsense criadas por aqueles jovens, em dias como aquele, de tédio.

Mais tarde, ao contar de suas aventuras dominguescas para a sua confidente, Rose, descobriu que tanto ela quanto os seus outros dois melhores amigos já conheciam aquela loja, bem como aquela galera toda.

E a partir de então, o que era inicialmente para ser considerada uma punição, tornaram-se os melhores momentos da vida do loiro.



No trigésimo dia, o último daquele mês, Dave se encontrou arrastado à força por Rose Lalonde à casa da gerente de Alternia.

Como aquilo havia acontecido...? Nem o próprio Strider tinha certeza.

Apenas tinha vagas memórias daquele dia, mais cedo, quando ele e a aspirante à escritora/maga passaram horas discutindo sobre a ironia em livros de detetives eqüinos, através da rede social mais progressista de então: o Pesterchum.

Após tantas horas debatendo sobre um assunto de tal gravidade, Rose repentinamente se desviou, alegando estar atrasada para um compromisso, que de acordo com ela: “O senhor Strider júnior deverá comparecer, em prol da etiqueta e da ironia”. Quando contrariada, ela simplesmente retrucou: “No caso de eu não ter me feito entender, creio ser conveniente prevenir ao conviva dos meus métodos de ameaça, que posso assegurar serem infalíveis; e cuja execução possivelmente fere aos direitos humanos.”

Quando se deu conta, faltavam menos de trinta minutos, e o máximo que pode fazer até que dessem as horas do compromisso foi vestir um casaco sobre a sua icônica blusa de pixels e trocar de sapato. Rose talvez fosse a pessoa mais pontual que já acontecera. E não seria hoje que ela se permitiria ao luxo de chegar atrasada.


E agora estavam lá, ambos loiros, plantados do lado de fora do sobrado de fachada colonial. (um tanto chamativa considerando o bairro em que moravam)

Após alguns minutos constrangedores de espera naquele frio cortante, a porta de entrada finalmente rangeu convidativa, derramando sobre o casal de amigos a iluminação nada modesta do interior daquela casa. Kanaya surgiu na porta, simplesmente deslumbrante.

Apesar daquele ser considerado o jantar, ainda assim, seria dado na sua própria casa, e Dave não conseguia se convencer de que aquelas roupas eram roupas de se vestir em casa... Se fossem mesmo, não conseguiria sequer imaginar como aquela mulher se produzia para sair.

Assim que o convite definitivo para o interior daquele lar foi dado, Kanaya conduziu os dois jovens diretamente à sala de jantar. Ao se sentarem à mesa, Rose não pôde deixar de notar que ainda haviam resquícios de comida em um dos pratos, denunciando que alguém já havia se servido antes das visitas chegarem. Obviamente, seguindo a etiqueta, Rose apenas perguntou polidamente à proprietária da casa se não faltava ninguém à mesa.

– O combinado inicial foi que a família inteira se reunisse e aguardasse pelos convidados... – a dama de cabelos curtos e negros suspirava enquanto distribuía os talheres pela mesa. – Porém, ao chegar em casa, eu não encontrei Karkat em lugar nenhum. Nepeta disse que ele tinha outro compromisso. Após me ajudar na cozinha, ela também me apareceu impaciente... Aquela pestinha mal-educada nem esperou para comer, acreditam...? Bem, ao menos ela me ajudou a preparar este risotto delicioso... Servidos?

Dave achava charmosa a maneira como Kanaya parecia destacar a letra inicial de cada palavra ao falar.

Além disso, era uma ótima cozinheira. Aquele risotto estava nada menos que divino.

A conversa durante o jantar até fora agradável, porém, assim que descansaram os talheres na mesa, satisfeitos, o sulista teve a sensação de estar sendo gradativamente excluído do que veio se tornar um diálogo.

O loiro simplesmente não achava uma brecha para comentar nada naquela batalha de vocabulários rebuscados. Por Jegus, ele era apenas um texano de classe média vivendo no subúrbio de São Francisco e que aspirava a ser um dos maiores rappers da história (o que, na sua cabeça, já estava garantido).

E como ele, Dave Strider, era um cara maneiro demais para fazer papel de vela, ele simplesmente se retirou da mesa com a desculpa de que precisava fazer uma visita ao banheiro.

– No final do corredor. – ditou Kanaya.

Claro, todos os banheiros se localizam no final do corredor.

No final, ele acabou mesmo visitando o banheiro, que por sinal era decorado finamente com o que tinha de mais moderno nos catálogos que o seu bro assinava (tudo em prol da ironia).

Ainda do corredor, conseguia escutar aquelas duas palrando como se fossem companheiras de longa data. Dave então decidiu explorar alguns cômodos. Sem consentimento prévio. O que tornava tudo aquilo mais radical ainda.

Para sua sorte, nenhuma das portas daquele corredor estavam trancadas. A sua curiosidade seria saciada, enfim.

O primeiro quarto a ser visitado era uma suíte que julgou pertencer à dona. As suítes sempre pertencem à patroa.

Logo de primeiro plano, foi confrontado pela cama king size, na qual o loiro duvidava que alguém jamais tivesse sentado a bunda, pois de tão simétrica e limpa assemelhava-se a um exemplar de mostruário.

A decoração revelava o requinte de sua decoradora, com destaque aos espelhos distribuídos pela parede, que davam a sensação de profundidade ao cômodo.

Impressionava a quantidade de livros e sapatos, dispostos com zelo pelas estantes e gabinetes. O cômodo era estranhamente bem arejado, e a luz que provinha do exterior derramava-se sobre cada móvel, e chegava a ser refletida pelos espelhos. Imaginou que no período matutino, aquele quarto devia receber quantidades demasiadas de insolação.

O que era mais estranho ainda, pois Kanaya era dotada de uma tez de porcelana, de tão branquela.

Em cima da cômoda, jazia um único objeto: um batom de pigmentação escura. Talvez demasiada escura até para a própria mãe de família.

Após alguns segundos desta imersão com fins totalmente voltados à ironia, Dave se deu conta do quanto aquilo que estava fazendo era constrangedor e contrariava por completo as regras da etiqueta que um convidado deveria seguir quando em casas alheias.

Deslocou-se de cômodo apenas para descobrir outro quarto. Desta vez, chegou à conclusão de que pertencia aos dois irmãos, pois encontrou exatamente duas camas, uma em cada canto do recinto.

De tamanho evidentemente inferior, se comparado à suíte, o sulista achou graça ao imaginar o pé de guerra que aquele local deveria ser com os dois baixinhos mais temperamentais que já conheceu.

Imaginou a disputa por espaço e privacidade. Ou, ao menos, tentou imaginar, considerando que o seu bro dormia em um quarto separado ao dele. Por Jegus, ainda bem que era assim! Tinha um acesso de calafrios só de supor uma situação dessas.

Esquadrinhou através dos seus óculos de Sol (ironicamente usados dentro de casa, à noite) os aposentos alheios. “As camas são baixas”; constatou ao sentar na da direita; “o que é de se esperar, já que nenhum deles cresceu o suficiente”.

Na cama onde repousava seu traseiro, os lençóis tinham um padrão de gatinhos se espreguiçando. Adorável.

Talvez aquele rubor nas faces de Dave indicasse o quanto gostava de gatos. Ou talvez fosse, bem, só ironia, sabem como é, né?

O espaço entre a cama e a prateleira suspensa era oculto por um travesseiro de encosto, que por sua vez retratava cavalos cavalgando por campos verdejantes.

“Um presente de Equius”, supôs o texano, com um breve tremor ao pensar no crush de Nepeta.

Guiando seus olhos mais para o topo, se deparou com um conjunto completo de chá, feito da porcelana mais fina e provavelmente pintada à mão no século X e bolinhas. Pegou se perguntando por que uma jovem de 13 anos teria um kit de chá no seu quarto.

Ignorando os motivos - que incluíam a maestria da ironia dentre eles - desviou sua atenção para uma jarra de vidro preenchida por folhas de uma erva verde.

A primeira coisa que veio à mente de nosso ilustre convidado foi:

– Maconha...?

É claro, você invade o quarto de um adolescente e encontra um pote preenchido até o topo de ervas verdes, esse sem dúvida será o seu primeiro pensamento. Invariavelmente.

Mesmo que você só conheça o adolescente em questão por um mês. Mesmo assim... Dave achou melhor se certificar das suas suspeitas antes de assumir qualquer coisa.

Desrosqueando a jarra, um aroma conhecido lhe invadiu as narinas. E não era maconha.

Era erva-de-gato.

Ignorando novamente os motivos por saber diferenciar os cheiros destas duas ervas, o loiro recolocou o pote em seu devido lugar, pretendendo que a menina-gato jamais desconfiasse de sua intromissão, e decidiu que era a vez de mexericar nos pertences de certo birrento.


A cama oposta a da irmã tinha como roupa um lençol com padrões náuticos, salientando coloridos crustáceos, ou mais popularmente conhecidos como caranguejos. Por algum motivo obscuro, Dave tinha a sensação de que aquele padrão não poderia ser mais preciso, e até confessaria que condizia com o ruivo.

Notava-se a evidente disparidade entre a cama de Karkat e a king size de Kanaya. Enquanto a Srta. Maryam era zelosa ao ponto de não deixar escapar um pormenor; o ruivo nem sequer dobrava suas cobertas.

Não que Dave estivesse na posição de criticar o ruivo, até porque ele mesmo não se deixava convencer pelos motivos de dobrá-las se, ao cair da noite, teria de voltar a se cobrir.

A diferença é que nunca tivera uma mãe para ralhar consigo, apenas um irmão que apoiasse as suas atitudes desleixadas.

Quando se deu por si, o texano já estava folheando um dos romances românticos clichês de Karkat.

“Como ele consegue ler... Isso?”, perguntava-se constantemente ao passar os olhos por um parágrafo aleatório.

E a breguice não parava por aí.

Ao recolocar um dos livros na prateleira, alguns pôsteres capturaram sua atenção. Inicialmente, nem havia visto, pois estavam muito acima da prateleira.

“Consegue ter gostos tão ou mais constrangedores que os de John.”

Ah, Karkat nem fazia idéia de quanto ele e o seu amigo dentuço eram semelhantes. E ainda declarou ódio eterno ao Egbert.

Aquilo tudo era muito... Irônico.

Satisfeito pela sua conclusão, Dave permitiu que suas costas repousassem naquela cama bagunçada, porém aconchegante.

Já prestes a se afundar num sono profundo, seus olhos titubeantes passeando a esmo pela parede ao lado esquerdo da cama, reparou num detalhe oculto.

Ou que pelo menos, pretendeu ser oculto, pois não escapou ao olhar perspicaz de um Strider.

Deslocou a almofada de estampa de naipes que estava bloqueando sua visão.


(Mais tarde, não quis admitir, mas) O momento que pôs os olhos sobre aquele ínfimo detalhe na parede esquerda do quarto daqueles dois irmãos, gradativamente causou tal impacto na sua vida... Como se terremotos abalassem o equilíbrio do universo (como coaxares de sapos cósmicos).

Era uma ilustração bem tosca, mas que transmitia de maneira objetiva a mensagem que queria passar: Karkat estava apaixonado por si.


– Dave...?


Imediatamente o loiro pregou os olhos (arregalados) na porta. Seu coração havia acelerado 100 X em menos de um segundo. Sentia-se como pego em flagrante, pela própria (hipotética) mãe, praticando uma ação ilícita.

Contudo, era apenas Rose. E ela aparentava completo domínio sobre si, deitando sobre o amigo um olhar sereno.

– ... Importa-se de eu questionar o motivo de estar sentado em uma cama alheia...? – a loira caminhava a passos lentos em direção à cama na qual Dave estava.

– Se eu me importo? – o sulista ergueu-se antes que a amiga se aproximasse mais. – E se eu disser que sim?

Dave conseguiu o que queria. Rose estagnou no meio do cômodo, sem pretensões de prosseguir.

– Então eu me verei obrigada a voltar a abordá-lo com a mesma questão ao mais tardar... Você de certo haverá de convir comigo que a pergunta está isenta por completo de segundas intenções... Ao menos que você por conta própria queira criá-las.

– E como tem tanta certeza de que irei respondê-la? – aproximou-se mais um passo da loira de cabelos um pouco acima dos ombros.

– Ora, porque Dave Strider jamais guardaria rancor, concorda? – Rose fixou as suas íris de um púrpura penetrante nas lentes escuras do texano.

– Ok, você venceu. – o loiro tombou a cabeça de leve, erguendo as mãos, como que se entregando à amiga.

– Ora, ora, um Strider admitindo derrota. Devo admitir que estou pasma!

– Claro, claro... Desta vez eu apenas facilitei as coisas pra você...

Enquanto Dave transpunha o limiar da porta e ganhava os corredores, Rose, cuja intuição e astúcia não falhavam nunca, como se fosse uma verdadeira vidente, lançou um último olhar para aquele lado esquerdo.

– ... Ao que tudo indica, não foi exatamente você quem facilitou para mim, Dave, e sim as circunstâncias quem influenciaram acima de tudo...

Seus olhos alcançaram exatamente aquilo que lhe esclareceria tanto dúvidas atuais como futuras. Conseguia pressentir isto.

Especialmente ao analisar aquele desenho bizarro, para não dizer infantil (embora Rose o tenha achado particularmente adorável) feito com um material semelhante a giz de cera, que, a grosso modo, retratava caricaturas do que pareciam se Dave e Karkat de “mãos” dadas, com as seguintes inscrições sobre: “have a break, have a Davekat”. Circundando esta curiosa ilustração, tentativas falhas de retratar o pacotinho vermelho do chocolate cujo nome deu base à paródia feita.

Podia até não parecer, mas Rose tinha conhecimento deste lado “obscuro” do universo da ficção, o qual inclui fandoms e ships. E, de acordo com as evidências, um certo ruivo “shippava” ele mesmo com certo texano de óculos escuros, até que se provasse o contrário. Enquanto isto não acontecia, Rose não parava de pensar no quanto aquilo era ridiculamente cômico, para não utilizar o termo “constrangedor”.


Deus, ela precisava parar de ler fanfictions sobre magos.


Com isso, atendeu à última convocação de Dave, que a aguardava do lado de fora da casa para que enfim dessem aquela noite por finalizada.


Mal sabiam eles que aquela noite seria a memória mais revisitada de suas vidas, e portanto, estava longe de ter um fim.






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Notas finais do capítulo

Ufa!

Juro que tentei colocar o máximo de piadas internas e referências nesse capítulo. Com certeza deixei de mencionar um ou outro, mas eu acho que nem o próprio Andrew conhece todas as piadas internas daquela budega ¬ ¬

Próximo capítulo será dedicado a vários personagens... Sinto cheiro de novos ships no próximo, então não percam!!! ;)

(~*---*)~ um cheiro no cangote de vcs



PS: fujoshis estão em todo lugar. Vejam só o q eu encontrei no google:

http://img02.deviantart.net/7669/i/2012/193/f/0/little_monsters_by_peppernote-d570ago.jpg


lol ~John curtiu essa imagem



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