POV Nico

Quando cheguei ao meu apartamento, era quase meia noite. Fui até o meu quarto trocar de roupa, mas quando liguei a luz, percebi uma figura se remexendo sobre minha cama.

“Apaga essa luz, Nico!” Bianca resmungou, cobrindo o rosto com o cobertor.

“Desculpa, Bibi, tinha esquecido que você tava aqui.” sussurrei, apagando a luz, mas ela já tinha caído no sono novamente.

No escuro, peguei uma calça de moletom qualquer, arranquei minha bermuda, e vesti. Alcancei um cobertor na parte de cima do meu armário e um travesseiro, e me retirei do meu próprio quarto.

Larguei o cobertor e o travesseiro sobre o sofá, e fui até a cozinha, em busca de comida. Achei uma caixa de pizza com alguns pedaços frios dentro, e peguei uma lata de refrigerante na geladeira.

Sentei-me na poltrona ao lado do sofá da sala, com a caixa de pizza fria no meu colo, e liguei a TV. Fiquei passeando pelos canais durante algum tempo, até achar um que estava passando Supernatural. Era um episódio que eu já tinha visto, meus pensamentos estavam longe dali.

Lolie tinha ido embora. Eu tinha deixado ela ir. Eu estava perdido, confuso. Não sabia o que eu mesmo queria. Lolie tinha me dito algo que me deixou em dúvida. Ela afirmou que eu não a amava realmente. E agora, pensando melhor, será que eu a amava mesmo?

Olhei para a TV novamente. Dean estava na casa de Lisa. Queria eu, que minha vida fosse fácil assim. Ei, Lolie, meu irmão morreu, posso entrar e morar aqui e virar seu namorado de novo?, eu diria, e ela me ofereceria uma cerveja. Seria tão simples. Menos a parte de caçar demônios e etc. Ou morrer o tempo todo. Ou ter anjos tentando te possuir. Essa parte não era muito legal.

Quando voltei a atenção para minha pizza, percebi que já tinha devorado os dois pedaços e metade da latinha. Suspirei e tentei varrer para longe os pensamentos sobre Lolie.

As luzes do corredor se acenderam, e Percy saiu de seu quarto.

“Tudo bem aí, mano?”

“Tudo. Só to assistindo um pouco de TV. Quer me fazer companhia?”

Ele jogou os cobertores para o lado e se sentou no sofá.

“Cara, o que aconteceu hoje na casa da Annie?” ele perguntou.

“Sei lá. Eu e a Thalia estávamos lá, sentados no porão. Aí ela colocou essa música pra tocar, acho que era dos Beatles. Enfim, era uma música sobre amor e tal, aí ela virou e perguntou sobre o nosso beijo mais cedo, se alguma coisa tinha mudado.” Expliquei. “E aí... eu meio que beijei ela. Pra ver se alguma coisa tinha mudado, pra ver se eu sentia alguma coisa.”

“E...?”

“E aí que eu senti. Eu senti alguma coisa diferente de quando eu beijo a Lolie, alguma coisa quase animal. Sei lá, como se eu precisasse daquela beijo.” desabafei. “Mas aí a Lolie abriu a porta bem nessa hora, e rolou essa puta confusão, e eu tinha certeza até pouco tempo atrás que, apesar do beijo com a Thalia, eu amava a Loretta, mas agora eu não tenho mais.”

Larguei meu corpo na poltrona, e senti alguém me abraçando por trás, os cabelos negros caindo sobre o meu peito.

“Nico, desculpa por ter agido que nem uma babaca mais cedo.” Bianca se desculpou, vindo até a lateral da poltrona. “Eu te amo demais, maninho, só quero te ver feliz. Mas eu fiquei arrasada quando vi a Lolie tão tristinha por sua causa.”

“Eu também fiquei, mana, acredite. Quer dizer, ainda estou.” Eu disse, e ela tirou a caixa de pizza de cima de mim e se sentou no meu colo. Eu a abracei, e nós ficamos assim.

“Eu senti tanta saudade, tino.” Ela sussurrou, e eu a abracei mais forte. Aquele apelido idiota, mais velho que Cronos.

“Eu também, Bia, eu também.”

“AWN, eu também, Bibi!” Percy falou, rindo, enquanto se jogava em cima de nós dois em um abraço grupal.

“Ugh, você tá me esmagando, Percy” Bianca reclamou, e Percy saiu de cima dela, ainda gargalhando.

Nós três nos sentamos no sofá em frente a TV e ficamos assistindo um filme qualquer que estava passando. Eu sentado em uma ponta, Percy na outra, e Bianca deitada com a cabeça sobre minhas coxas e as pernas sobre as de Percy. Eu fazendo cafuné nela, Percy fazendo cosquinhas em seus pés de vez em quando. Como nos velhos tempos.

[...]

POV Thalia

Acordei relativamente cedo no domingo. Abri meus olhos e me espreguicei, esparramada pela minha cama de casal. Fui até o banheiro, bocejando, escovei os dentes e penteei os cabelos, ainda com o meu pijama/camiseta velha do meu pai.

Saí do cômodo pensando em tomar café da manhã.

“Bom dia, Thalia.” Connor disse, do sofá da sala.

“Bom dia, Conn... AIMEUDEUSOQUEVOCÊTAFAZENDOAQUICONNOR?”

Ele ficou gargalhando enquanto eu puxava a camiseta mais pra baixo, afim de cobrir ao menos um pedaço das minhas coxas, em vão.

“Você não lembra?” ele falou, em meio as risadas, com uma mão cobrindo os olhos.

“OBVIAMENTE NÃO, SEU TONTO.” Gritei.

“Vai se trocar, criatura, daqui a pouco a gente conversa.”

Corri de volta para o meu quarto, vermelha de vergonha, e pus um shorts e uma blusa decentes.

“Pode ir explicando” exigi, quando voltei para a sala.

“Tá. Não acredito que você não lembra de nada, cara.” Ele riu.

“Nada o que, Connor? AI MEU DEUS, O QUE A GENTE FEZ?” eu empalideci, desesperada.

“Não, não! A gente não fez nada demais ontem a noite!” foi a vez dele de corar.

Sentei-me ao lado dele no sofá. Ele estava com a mesma calça velha de sexta e sábado, mas sem a camiseta dessa vez. E uau, Jesus me abana, que corpo aquele menino tinha, Senhor.

“A gente chegou aqui, você me abraçou, tralalalala. Aí você perguntou se eu queria entrar, e eu entrei.” Ele começou. “A gente sentou na cozinha, e você perguntou se eu queria comer alguma coisa.”

Alguns flashes da noite anterior começaram a surgir na minha mente. Connor entrando. Eu pedindo uma pizza, nós dois jogados no sofá conversando e comendo.

“Começou a lembrar?” ele perguntou, e eu assenti. “Então a gente ficou no sofá comendo e bebendo um champanhe barato que você tinha. Ah, e por sinal, champanhe e pizza juntos ficam horríveis, melhor não fazermos mais isso.”

Eu ri, e ele voltou a falar.

“Nós começamos a conversar e tal, e depois de uns copos de champanhe, você ficou... ahn... animada.” Ele explicou, rindo. “Você me perguntou se eu queria dançar, lembra disso?, aí você colocou essa musiquinha lenta idiota e me faz dançar com você, bêbada.”

Eu corei, envergonhada. Mais flashes vieram. Eu dançando com Connor, no meio da sala, mal conseguindo me manter em pé e tendo que me escorar nele.

“Aí, bem...” ele continuou, meio sem graça.

E então eu me lembrei de tudo que tinha acontecido. Senti meu rosto corar tão violentamente com a memória que tive que abaixar a cabeça.

“Eu tentei te beijar.” Falei, olhando para baixo. “Ai meu Deus, Connor, me desculpa, me desculpa, me desculpa! Juro que foi por causa da bebida, eu nem devia ter bebido, me desculpa!”

“Tudo bem, Thals, de verdade.” ele respondeu, mas eu podia jurar que tinha sua voz continha um tom de... decepção? “Enfim, aí você se jogou no sofá e dormiu. Eu te levei até o seu quarto e falei pra você por seu pijama. Em menos de cinco minutos você já tava capotada de novo na sua cama.”

Eu assenti com a cabeça.

“Como já tava tarde, eu só me joguei no sofá e dormi.” Explicou. “Vamos comer alguma coisa? To morrendo de fome.” ele mudou de assunto, percebendo como eu estava sem graça.

Eu andei até a cozinha, puxando-o pelo braço, e fiz ele sentar em um banquinho em frente a bancada. Separei alguns ovos, de costas pra ele. Agindo como se nada demais tivesse acontecido. Como se eu não estivesse envergonhada.

“Então, você vai querer ovos fritos ou mexidos?”