Depois de alguns minutos a porta do táxi se abriu de repente e eu me virei para ver Tobias entrar no carro.

–O que você esta fazendo? – Perguntou, irritado – Você não pode sair por aí sozinha tarde da noite!

Tentei ignorar a ânsia que eu estava sentindo e virei o rosto para olhar a outra janela.

–Eu posso! Eu posso sim! E você nem ouse me repreender, você estava lá dentro cheio de intimidade com aquela garota, que a propósito, estava na casa do seu pai ontem também. Como é Tobias? Vocês ficaram bebendo juntos e o que mais?

–Mais nada! – Exalou – Ela mora lá, o que eu posso fazer? Ela só nos viu bebendo, ficou por alguns minutos na sala, depois saiu. Eu nem a conheço direito.

Eu ri.

–Não? Ela parecia bem íntima, te tocando – Ele piscou com os olhos arregalados.

–Você estava olhando... – Ele disse. Afirmasse a si mesmo.

–Bem, se não era para eu ver, vocês deveriam ter sido mais discretos – Olhei para frente e vi o rosto do taxista pelo retrovisor. Fechei os olhos, me sentindo envergonhada. Eu tinha esquecido que estávamos no táxi – Vá Tobias, saia daqui. Eu tô indo pra casa, você pode ficar aí...

–Não,e pode saindo desse carro – Disse saindo primeiro e me esperando com a porta aberta – Agora Beatrice!

Olhei de novo no retrovisor e suspirei. Abri minha bolsa para pagar ao taxista por ter me esperado, mas quando eu ofereci o dinheiro ele recusou, dizendo que estava parado e não tinha ninguém na rua, que estaria dormindo se eu não o tivesse chamado. Me senti mal por isso também, mas sorri e agradeci.

Quando desci do carro Tobias fechou a porta e se virou para mim.

–Você tem que parar de agir assim caramba! Eu fiquei doido lá dentro te procurando.

–Isso é ótimo! Agora você sabe como eu me senti quando acordei hoje e você não estava.

Ele respirou fundo coçando a nuca.

–Desculpa. Desculpa Tris. Eu não devia ter aceitado quando meu pai ofereceu bebida, não devia ter bebido muito e não devia ter dormido lá sem avisar – Fez uma pausa – Eu tentei te ligar, mas como você não atendeu, eu pensei que você estaria dormindo logo e como eu saio antes de você acordar quase todo dia, eu não pensei que você fosse perceber. Depois eu ia te ligar e explicar – Ele pegou minhas mãos e segurou junto ao seu peito – Desculpa?

–Eu não gosto disso Tobias... Você bebendo... Seu pai agindo como um machista, não se importando com ninguém...

–Você acha que eu vou ficar como ele? – Perguntou franzindo a sobrancelha.

–Eu... Não, não sei Tobias... É só que eu não quero que as coisas do trabalho interfiram na nossa vida.

–Eu sei – Ele me puxou para seus braços e beijou minha testa – E não vai interferir, não vamos deixar.

Ele me soltou e voltamos para dentro, mas só para que eu pudesse procurar por Kate e me despedir dela, pois não sei quando eu voltarei a vê-la.

Eu não voltei a ver a tal Nita. E sim, eu procurei -disfarçadamente, é claro- e não a vi em nenhum lugar.

**

No dia seguinte, acordei com um enjoo terrível. Eu sempre me sinto enjoada de manhã, mas graças aos cuidados da Anna, eu posso dizer que sinto bem menos enjoos do que quando eu estava grávida da Sophia.

Embora não seja suficiente.

Vomitei um pouco e tomei um banho gelado para me refrescar. O tempo não esta muito quente nessa época, mas era suportável.

Tobias continuava dormindo de bruços, com um braço para fora da cama. Resolvi deixa-lo dormindo e fui acordar a Sophia. Hoje eu iria ligar para a Evelyn e levar a Sophia para conhecer o tio e a avó. Eu também precisava falar com Tobias sobre isso.

–Bom dia minha pequena – Disse me sentando na cama e sussurrando seu ouvido. Ela se virou de costas para mim – Ei, esta na hora de acordar, sua preguiçosa.

–Num quero mamãe – Ela puxou a coberta até cobrir a cabeça.

–Você não quer? – Fiz beicinho – Então a mamãe vai tomar sorvete sozinha! – Fingi me afastar e ela se virou. Uma doce carinha de sono e a marca do nariz do seu pato de pelúcia em sua bochecha. Eu ri.

–Sorvete?

–Sim – Me levantei – A mamãe ia te levar no parque – Fiz gestos com os dedos, contando números – Depois eu ia te levar na sorveteria e depois a gente ia à casa da tia Shauna, ver como ela esta.

Sophia adora a Shauna e tem um fascínio enorme pela barriga de grávida dela. Isso é uma das coisas que me tranquilizam sobre contar a ela que ela terá um irmão ou irmã em breve. Eu acho que ela vai aceitar bem a ideia.

–Eu quero ir mamãe!

–Então se levante – Bati palma uma vez para apressá-la – E vamos tomar um banho – Sua alegria se desfez.

–Banho não!

–Banho sim!

–Cadê o papai?

–Esta dormindo ainda.

Antes que eu pudesse impedir, ela pulou da cama e correu para o meu quarto. Acordar o Tobias. É claro.

Enquanto eu separava sua roupa, fiquei ouvindo os resmungos do Tobias e os gritinhos da Sophia, tentando acordá-lo. E eu podia apostar que ela estava puxando as cobertas dele.

Depois de dar um banho nela, nós descemos para tomar café. O cheiro de ovos me embrulhou um pouco, mas Anna me fez comer mesmo assim. A promessa de comer melhor a partir de hoje estava sendo cobrada por ela.

–Como foi ontem menina, vocês se divertiram? – Perguntou Anna. Me lembrei do início, e sim, nós nos divertimos. Depois me lembrei daquela garota e a forma como ela falou e tocou no Tobias, essa parte não foi nada divertida.

–Sim, foi bom, Anna.

–Huum – Foi tudo que ela disse.

–Anna, você poderia me fazer um favor? Preciso que você prepare algum lanche para eu levar a Sophia no parque – Anna ergueu uma sobrancelha.

–Você vem almoçar, não é? – Eu ri. Ela não ia dar trégua.

–Venho Anna. O lanche é só para o caso da Sophia ter fome à tarde, vamos depois do almoço.

–Vamos a onde? – Tobias perguntou entrando na cozinha. Eu precisava dizer a ele, mas a sós.

–Ao parque! – Gritou Sophia, me fazendo tapar os ouvidos.

–Sophia, não grite! – Repreendi. Ela fez cara de triste, mas se calou.

Me levantei e peguei o meu copo de suco. Beijei o topo da cabeça da Sophia e subi para ligar para Evelyn.

Disquei o número e ela atendeu no segundo toque.

–Beatrice, oi! – Ela disse, animada.

–Oi, como vai?

–Vou bem, obrigada!

–Que bom... Tem um parque próximo da minha agência, você pode estar lá as 14:00? Eu te mando o endereço por mensagem.

–Sim, é claro! Mas tem algo que eu queria te pedir.

–O quê? – Me senti desconfortável, como se ela fosse pedir algo que eu não pudesse fazer.

–É que o Thomas está ansioso para conhecer o Six Flags. Você se importa de irmos lá?

–Bem, eu nunca fui a um parque de diversões com a Sophia, mas acho que ela pode se divertir.

–Que bom – Evelyn sorriu ao telefone – Obrigada, nos vemos às 14:00 na bilheteria?

–Esta ótimo, nos vemos.

–Ok – Evelyn disse e desligou.

Coloquei meu celular na cama e levei um susto ao me virar. Tobias estava encostado na porta do quarto, me olhando confuso.

–Com quem você estava falando? – Era a hora de dizer a ele.

–Com a sua... mãe – Respondi hesitante. Ele ficou tenso na mesma hora.

–E o que ela queria? Não sabia que vocês continuavam se falando.

–Eu liguei para ela essa semana... Eu te disse que permitiria que ela conhecesse a Sophia. Estarei me encontrando com ela hoje.

Ele não gostou. Sua expressão ficou séria e eu vi que ele estava se contendo, tentando se controlar.

–Olha Tobias, eu sei que isso tudo é difícil para você, mas...

–Não Tris, você não sabe! – Disse alterando a voz e me lançando um olhar irritado – Você não sabe! – Reafirmou e deu um longo suspiro – Você não teve que viver sozinho com o meu pai por anos. Você teve sua família feliz e nunca foi mal tratada. Então não, você não sabe de nada.

Eu não queria me ofender com as palavras dele, mas doeu. Limpei a garganta e engoli as lágrimas antes de dizer.

–Eu posso não ter tido uma infância difícil como a sua, mas eu consigo imaginar e consigo entender o porquê você não quer isso. Foi isso o que eu quis dizer – Andei até o closet, mas antes de entrar eu me virei para ele novamente – Como eu te disse, eu não espero que você queira isso, mas eu vou levar a Sophia para conhecê-la e seu irmão também.

Vesti um jeans largo e uma camiseta e quando eu saí do quarto ele não estava mais ali. Fui até o quarto da Sophia e coloquei um vestidinho leve nela. Depois me despedi da Anna e prometi voltar antes do almoço.

Não vi o carro do Tobias quando saí. Tentei não pensar que ele teria ido a casa do pai dele de novo. Afastei esse pensamento o máximo que eu pude.

Dirigi até a casa da Christina. Não avisei que estava indo, mas esperava e torcia para que ela estivesse em casa.

Fiquei aliviada quando ela abriu a porta e sorriu para nós.

–Minha afilhada linda! – Gritou pegando Sophia no colo. Depois se virou para mim – Ei, você não disse que estava vindo, eu teria me vestido melhor – Christina sorriu, depois franziu a sobrancelha para mim e me puxou pela mão.

–Madinha posso brincar com o carrinho do tio? – Perguntou Sophia pulando e olhando para os carrinhos de coleção que Will mantém em uma prateleira.

–Claro princesa. Espera só um pouquinho que a madrinha vai pegar para você – Christina pegou uma cadeira e subiu para pegar os carrinhos. Eu ri.

–Ta rindo do quê? Você também não alcança ali – Ela ficou na ponta do pés, mesmo em cima da cadeira – Eu acho que isso é estratégia do Will para ninguém mexer nessas coisas – Ela riu e deu de ombros. Sophia pegou os carrinhos e se sentou no chão.

–E ele não vai reclamar se vir a Sophia brincando?

–Que nada! Ele come na mão dela, com certeza não iria ligar. Se ele estivesse em casa – Ela estendeu a mão e eu a segurei – O que você tem? Além de uns 3 quilos a mais? – Revirei os olhos.

–Ow, obrigada. Eu vim aqui para você me dizer o óbvio mesmo! – Foi a sua vez de rir.

–Desculpe, mas você esta com jeitinho de grávida já.

–Algum dia espero entender o que seria ‘jeitinho de grávida’ – Ela riu.

Ficamos em silencio por um minuto.

–Como que você esta? E o trabalho na clínica? – Perguntei.

–Está ótimo – Seus olhos brilhavam – Eu adoro conversar com as pessoas. E é gratificante poder ajudar – Eu sorri – Mas você não me parece bem, o que aconteceu?

Eu tomei uma respiração longa.

–Esta tudo bem... Quero dizer, não aconteceu nada, mas aconteceu tudo... – Christina permaneceu em silêncio – Eu peguei um trabalho da Essence para fazer. O problema é o Marcus morando aqui. Ele deixa o Tobias irritado, ele quer se intrometer no meu trabalho e... Ahh, deixa pra lá. Eu não vim aqui para descarregar meus problemas. Eu vim pra te ver e para me distrair um pouco.

Christina fez uma careta.

–Desde quando somos assim Tris? Nós não temos essa coisa de não falar! A menos que você não queira dizer, eu estou aqui para ouvir. Sempre nos apoiamos e sempre será assim.

–Eu sei Chris. Não é que eu não queira dizer, mas eu vou parecer patética! – Suspirei.

–Com o quê? Diga!

Comecei a dizer tudo que aconteceu nos últimos dias. A mãe do Tobias, as nossas brigas, a garota... Christina ficou ouvindo tudo e não disse nada até eu terminar de falar.

–E você esta com ciúmes... – Afirmou.

–Não sei... – Olhei para ela, que estava sorrindo – Talvez...

–Tá, mas você não viu nada demais, né?

–Não, mas me irritou – Ela assentiu.

–E isso com a mãe dele... Você tem certeza que deveria ir sem ele? Quero dizer, esta óbvio que ele não esta bem com isso.

–Eu não sei Chris... Eu não a conheço direito, mas eu sinto que tem mais nessa história e que ela merece uma chance. Além disso, tem o garoto. Ele quer conhecer a Sophia. E eu estou sendo sincera com o Tobias, eu lhe disse o que eu estou fazendo.

–É, isso é importante.

–Ele não quer ir e tem toda razão de estar chateado por ela ter ido embora, mas ele sequer deu uma chance para ela dizer sua versão da história. E eu sei que o Marcus não tem nada de inocente.

–Você tem certeza que não esta usando seu julgamento com o Marcus precipitadamente? – Ela fez uma pausa e segundos depois voltou a falar – A mulher foi embora e deixou o filho, se passou mais de 10 anos. Ela poderia ter voltado há muito tempo.

–É... Mais eu não conheço todos os detalhes, não posso julgá-la.

–Nem a ele – Chris apontou – Talvez ele esteja apenas querendo proteger o filho – Eu realmente não consigo visualizar isso. Mas a Christina tem um bom ponto.

–Eu sei Chris... Estou deixando isso por conta deles, mas acho que eu não tenho o direito de negar a Sophia de conhecer a avó e o tio.

–Eu entendo, mas tenha paciência com ele. O Tobias só esta chateado, ele vai ver as coisas como você vê quando a cabeça dele esfriar – Ela sorriu e apertou minha mão – E quanto a essa garota, não se preocupe, não fique brigando com ele. Mas fique de olho nela – Chris estreitou os olhos e sorriu.

–Obrigada Chris! – Disse abraçando-a.

–Agora vamos que eu não tomei café ainda, acordei quase agora.

–Você? A madrugadora que adora acordar a todos? Eu devia ter vindo mais cedo para ver isso.

–Hahá!

Passei algum tempo a mais com Christina e quando voltei para casa, Tobias estava jogado no sofá, assistindo algum canal de esporte. Ele não falou nada sobre a nossa discussão, também não disse onde tinha ido. E eu não perguntei.