Mãos cuidadosas escrita por Iniquidade


Capítulo 1
Topo do mundo




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Oh, Inglaterra. Uma terra próspera e recheada de cultura, história, e experiências boas para levar para vida. Várias famílias sustentavam o país, pobres ou ricas, todos faziam sua parte. Uma dessas famílias, no entanto, não era muito bem vista lá.

- Eles estão tentando nos tirar daqui há anos!

Salazar Giustino, homem alto, pálido, jovem de uns 24 anos, casado, e de tanto que fazia cara de mal humor, fazia parecer que o rosto já estava moldado para noticias ruins. Pai de duas crianças, Saralegui, de 3 anos, e George, um recém nascido rechonchudo e de lindos olhos azuis herdados da mãe, Antonella. Uma graça de mulher, realmente simpática quando estava bem.

Salazar era o homem da família, jovem demais para comandar, mas sabia o que fazia. A família Giustino era responsável por boa parte de produção de armas da Europa, e afinal, quem não usa armas? Amante de guerras, justamente por lucrarem loucamente, assistia fervorosamente a disputas politicas e a noticias a espera de algum conflito para aumentar as vendas. Uma tática realmente cruel, mas era assim que era criado os homens da família: Cruéis, egoístas, e visando o próprio lucro.

Xingava em italiano deus e o mundo, principalmente a deus, como a se a culpa da crise fosse uma ideia divina para tentar testar a paciência dele. Não sendo apenas pela crise, mas também pelas crises de esquizofrenia da esposa voltando a atacar, mais um teste de paciência e amor. Pobrezinha, Antonella estava se afogando em seus próprios pensamentos, pulando na cama do quarto, rodando e caindo no chão, tonta, rindo de forma graciosa e vivendo em outro mundo onde a crise felizmente não poderia a atingir.

Antonella era uma jovem também de uma família rica, investidores que participavam fortemente da economia. Era igualmente pálida a Salazar, mas diferentemente do marido, tinha partes rosadas adoráveis pelo corpo; As bochechas, os ombros, os seios… Tudo perfeito. Olhos grandes, azulados como gelo, e um sorriso sincero. Desde sempre, a pobre garota - que comparada a Salazar, era bem mais jovem, tinha apenas 16 anos quando foi prometida ao homem - sempre sonhou em ser mãe e criar uma família perfeita, com um marido perfeito, e filhos lindos que lembrassem tanto a ela quanto o marido. Mas isso não aconteceria. Sofria de esquizofrenia, e não tomava os remédios. Os cuspia em cima das pobres empregadas, e falava que estavam tentando a envenenar.

Era uma família italiana em terras inglesas. Não eram desejados ali, e segundo muitos, roubavam do mercado inglês. E sejamos sinceros, realmente roubavam, e muito. A família Giustino, apesar da origem militar, era extremamente corrupta e gananciosa. Mas segundo o pai de seu pai, faziam isso porque o capitalismo funcionava desse jeito. Desde então, Salazar atacava com unhas e dentes quaisquer maneiras de conseguir lucros, e eliminava as ameaças de forma impulsiva, ficando ocupado demais com os próprios negócios.

Devido a isso, digamos que nem Salazar nem Antonella tinham tempo para os filhos. Antonella, segundo o marido, ficava a toa o dia inteiro, perdida nas próprias alucinações, dando desculpas para poder ser criança novamente. Por isso não permitia que os filhos interagissem com ela; A mãe estragaria o comportamento do mais velho, quietinho e tímido, o transformando em um pirralho barulhento, como ela mesmo era.

Ainda permitiam que Antonella cuidasse de George, visto que precisava se amamentar, e Antonella compreendia que estava sendo uma mãe nesse momento. Sentia falta do calor de seus filhos, coisa que Salazar havia providenciado de afastar o mais velho dela. Poderia estar louca, mas sabia que quem havia feito isso com ela era o próprio marido, e por isso o desprezava, mesmo que Salazar a amasse.

Infelizmente, já aos 3 anos, Saralegui já era visto como um homenzinho, o futuro herdeiro da família. Era ele quem deveria aprender a agressividade do pai ao tratar negócios. Vivia fechado naquela mansão enorme, com um jardim maior ainda, e um lago cheio de peixes para pescar. Mas o pobre do menino nunca conseguiu aproveitar nada disso em sua vida. Nos 3 anos de vida, nunca havia saído da mansão, e era jovem demais para compreender o mundo e o porquê das coisas serem como são.

A mansão era como um castelo que crianças de sua idade sonhariam; Grandes torres de pedra, que de tão pequeno que era, Sara achava que se estendiam até os céus. Sonhava poder subir na torre superior, o quarto mais elevado aos céus de todos, mas que era proibido a sua entrada. Imaginava que lá estaria uma princesa escondida, quando na verdade era apenas o quarto de sua mãe, sendo tratada por enfermeiras. Por outro lado, o jardim era tão grande que com toda certeza sabia que se perderia lá fora. Chamava uma área de “floresta da bruxa”, onde altas árvores fechavam a mata, e sua imaginação fluía sobre quais criaturas mágicas se escondiam lá.

Apesar de todo esse espaço livre para brincar e correr, não tinha tempo para brincar, tampouco interagia com outras crianças. Porque afinal de contas, que crianças teria para brincar? Vivia isolado, tendo aulinhas com professores particulares, empregadas cuidando dele, sem nem televisão ou rádio para o entreter. Desenhava em cadernos enormes, com vários lápis de cor, e tinta também. Sujando as próprias mãozinhas com tinta, uma gracinha! Corria sozinho pelos corredores, fugindo das babás que o perseguiam com medo de que o pai o encontrasse correndo e colocasse a culpa nas empregadas, tratando tudo como um jogo! Mas Sara não compreendia isso.

Foi criado pelas empregadas assim que sua mãe parou de o amamentar. Nunca se apegou a nenhuma das empregadas ou serventes: Elas estavam sempre entrando e saindo de lá, uma sempre com o rosto diferente da outra. Mesmo com os rostos diferentes, essas empregadas pareciam sempre as mesmas mulheres, com o mesmo modo de falar, e as mesmas manias. Apesar disso tudo, era uma criança, também não compreendia porque tantos rostos chegavam lá para o encontrar e interagir com ele. Todas elas: Cuidando dele, obedecendo ordens, tomando culpa pelas coisas que ele acidentalmente quebrava.

Saralegui, com 3 anos, já se achava estar no topo do mundo.


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