Eu confesso que demorei um pouco para soltá-la.
- Então, né? - Alice corou - Pois é... - me deu um sorrisinho depois se esticou pra pegar uma caixinha - Seu CD.
- Ah - suspirei - Obrigada.
 Ela assentiu com a cabeça me entregando a caixinha.
- Bill? - ela perguntou, depois de alguns instantes de silêncio.
- O quê?
- Você acha que a morte da Layla foi minha culpa? - perguntou, com os olhos marejados.
 Arregalei os olhos. Como Alice podia pensar uma coisa dessas?
- Claro que não! - eu disse, exasperado, a puxando para outro abraço - Foi um acidente, só isso.
 Ela suspirou pesadamente com o rosto enterrado nos meus cabelos.
- Eu nem sequer estava na cidade quando ela foi para o hospital - Alice disse, com a voz fina - Eu devia estar lá.
 Apenas afaguei seus cabelos e murmurei um "Shhh" enquanto ela soluçava. Não fazia muito tempo que a Layla tinha morrido, devia ser recente, sei lá.
- Enfim - ela concluiu, me permitindo secar suas lágrimas - Você não veio aqui para que eu fique alugando seus ouvidos, desculpe-me.
- Al - a abracei pela cintura, fazendo-a estremecer - Eu sinceramente gosto de ouvir você falar.
 Alerta. Estamos perto demais. Quando eu digo perto demais, eu quero dizer demais meesmo. Alice olhava dos meus olhos á minha boca. Aaah, socorro...
- Enfim - ela abaixou o rosto, corando e sorrindo - Obrigada.
- Ah, foda-se - eu disse, sem pensar e a beijei. Sim, sim! Eu finalmente tomei coragem e agarrei Alice. Pode rir, é verdade.
- Orr - ela rosnou, depois que a soltei - Porque parou?
 Soltei uma gargalhada e selei nossos lábios de novo. Ah, fala sério. Vou ficar de pega com a minha melhor amiga? Bem...talvez ela seja mais que isso.
- Hm... - suspirou - Bill, desculpa. Eu sei, foi besteira e...
- Shh - calei seus lábios com um dedo - Eu...desculpa, mas eu li o que está escrito naquele caderno - apontei, vendo-a arregalar os olhos - E gostei do que vi, sinceramente.
 Alice abriu um sorriso e seus braços envolveram a minha nuca, colando nossos lábios. Nooovamente.
- Não... - ela disse, seu sorriso morrendo, depois que se desvencilhou de mim - Não pode, eu sou sua amiga, e só...
 Olhei para era, incrédulo, chocado, sei lá. Só sei que eu olhei pra ela com uma expressão não muito boa.
- Alice, estava escrito - arregalei os olhos - Como pode negar logo agora?
- O que você quer dizr com "logo agora"? - ela me olhou, triste - Você nunca gostou de mim! Agora só porque sabe que eu estou de quatro por você, está todo metido.
 "De quatro por você"?? OK, essa não é a minha Alice.
- O que deu em você? - a encarei - Primeiro escreve num maldito caderno que me ama e tal, depois fica usando essas gírias do gueto? Qual é, Alice?
 Ela suspirou pesadamente.
- Eu gosto de você - baixou o olhar - Mas tenho medo.
- Medo de quê? - arqueei uma sombrancelha.
- De me machucar de novo - ergueu o rosto, com lágrimas nos olhos - Eu deixei a Layla morrer, não posso enfraquecer e...E se eu me permitir amar você, vou ficar vulnerável e fraca...
- Alice? - olhei pra ela, chocado - Faz idéia do que esta falando? Você está sendo terrivelmente cruel!
- Desculpe, Bill - suspirou - Eu sinto muito.
- Mas que papo é esse de sinto muito? - eu estava confuso e arrasado - Alice, eu também te amo. Você simplesmente não pode fazer isso comigo.
- Eu só... - olhou para baixo, deixando uma lágrima escorrer pela face macia - ...Sinto muito.