À Caminho do Pão escrita por Wuu Tzu


Capítulo 1
As Aventuras de Lucas


Notas iniciais do capítulo

Nunca saio de casa sem um colete à prova de balas.



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5:56, Sábado, 12 de Junho de 2015.

Começaria mais um dia da minha vida. Hoje fui dormir lá pras duas horas, acordei agora por causa do meu celular. Me arrependo de ter colocado minha música preferida como despertador.

Moro com minha mãe e meu pai, minha irmã mais velha, tem dezenove, e já tem um trabalho, em um shopping. Eu ainda sou um estudante, no oitavo ano da escola.

Me levantei com a preguiça de cem Folivoras em uma árvore na floresta da Amazônia. Com os cabelos enrolados, olhos praticamente de um peixe morto e com a blusa quase saindo do meu corpo. Olhei para a minha cama. O edredom estava no chão e o lençol que cobria a cama estava todo bagunçado. Me da um desgosto só de olhar.

Nesse momento minha mãe chegou no quarto. Meu pai já havia ido trabalhar, ele começa cedo, pois o trabalho dele consiste em viajar a vários lugares para entregar.. umas máquinas.

Minha mãe olhou para minha cama, seguindo seus olhos até eu. Respirando e expirando o ar com calma, ela enunciou.

— Tudo bem, é bom que esteja acordado, mas vai arrumar sua cama e vai no banheiro extinguir essa cara de retardado. disse com seus braços cruzados. Ela se retirou do meu quarto, talvez tenha ido para a cozinha.

Ser chamado de retardado pela própria mãe é humilhante, pra mim é até normal. Após concluir tudo que minha mãe determinou, eu fui em direção a cozinha. Abri a geladeira, peguei uma caixa de leite desnatado junto com a manteiga e coloquei sobre a mesa. Em seguida, peguei uma colher e uma faca. Abri o armário, peguei um pote de Nescau e coloquei tudo sobre a mesa.

Fui novamente até o armário para pegar o saco com os pães, mas não estavam lá. Procurei em todo lugar da cozinha e não achei, até minha mãe chegar.

— Filho, não temos pães. disse minha mãe olhando para o armário, como se não tivesse percebido.

— É, eu sei. respondi pacato.

— Então, vou te dar o dinheiro, vai comprar mais. minha mãe se dirigia até a sala, mas eu rotulei.

— Por quê eu? Vai você! minha mãe continuou seu trajeto, me ignorando. Já não bastava ser retardado, tem que me ignorar também. Já não tinha jeito de convencer ela.

Coloquei uma roupa decente, peguei o dinheiro com minha mãe, a chave, e fui à caminho da rua. O dia estava frio, com várias nuvens no céu, apesar disso, não parecia que ia chover. Fui seguindo meu trajeto.

Minha rua é uma rua comercial. Várias lojas em cada lado dela, barracas de doces, balas, frutas, bancas de jornal, etc. Passavam muitas pessoas. Ao final da minha rua, havia uma estação de trem.

Andei em direção ao final da rua, ficava um pouquinho longe. Enquanto eu seguia normalmente, encontrei um cachorro que estava deitado, ele era marrom, suas orelhas um pouco brancas com um rabo bem grande. Não fazia ideia de qual raça ele era. Como tenho um carinho especial por animais, me aproximei dele. Ele de repente se levantou e olhou para mim e começou a rosnar. Eu tomei um susto e cai no chão. As pessoas que passavam ao redor tentavam segurar o riso, mas estava bem visível. O dia não podia ficar pior.

Ignorei o cachorro e continuei meu trajeto. Até ai tudo bem, até que eu avistei uma criança infernizando sua mãe para comprar sorvete.

— Mãe, eu quero sorvete, mãe! o garoto puxava o braço da sua mãe de uma forma estranha.

Achei que ela ia dizer não e talvez até mesmo brigar com o pirralho, mas não. Ela foi comprar sem hesitar. Bem, nada de importante por aqui. Mas antes de eu continuar novamente à andar, eu vi o mesmo cachorro que tinha me dado um medo maior que o Pyramid Head do Silent Hill. Ele chegou no garoto sem dó nem pena e de alguma comeu o sorvete, junto com a casquinha. Ele ficou confuso por um instantes enquanto o cachorro ia caminhando de boa com a vida. Ele está me perseguindo ou algo do tipo?!

Enfim, acho que é até normal para mim. Enquanto caminhava, ouvi um barulho estranho. Foi do céu. O que eu tinha falado no início sobre não chover estava errado, então me apressei. Estava ficando mais frio também, que bosta, acho que tenho sorte no azar.

Não era muito de acontecer, mas estava acontecendo. Enquanto eu andava, um cara que aparentava ter vinte anos roubou uma loja. Mas, ele vai roubar em uma rua comercial, cheia de gente? E ainda desarmado?! Mas nunca se sabe. Ou ele é burro, ou ele é um vampiro ninja macaco saltitante que domina a arte dos dribles gaúchos contratado pelos Vingadores. Homem-Aranha não gostou disso.

Eu ia tentar pega-lo junto de mais cinco caras que estavam fazendo pose de Usain Bolt, mas ele tropeçou no chão e caiu ali mesmo. Então tá né.

Ainda andando, eu avistei uma fila enorme que quase chegava no outro lado da calçada. Não fiquei surpreso porque vi que era uma loteria. Tinha pessoas calmas, estressadas, mexendo nos celulares, ou conversando com um desconhecido ou um amigo. Na maioria essas conversas eram sobre a Dilma ou sobre a demora da loteria. Enquanto eu observava essa fila enorme, chegaram alguns adolescentes com um celular tocando funk com um volume altíssimo. Não tenho nada contra nenhum ritmo musical, mas acho que deveriam usar fones. Dois homens abordaram eles falando para desligar o som pois incomodava as pessoas, e eles começaram uma discussão. Eu cheguei lá, na paz, mó tranquilo, falando para se acalmarem. Os dois lados olharam para mim com seus olhos parecidos com o de Sauron. Imaginei que eu fosse o Bilbo e estivesse em uma aventura pela Terra-Média. Eu estaria à caminho da Padaria Solitária resgatar os pães do terrível dragão Padeiro. Me falaram pra cair fora e eu fiz isso com o medo de um cabrito em um bando de mil leões macho alpha no cio. Sai correndo também.

Acho melhor continuar andando sem interferir em nada. Olhei para trás e vi os caras discutindo, e aquele cachorro de antes havia chegado, latindo. Acho que ele quer meu corpo nu.

Finalmente cheguei no final da rua. Aqui onde fica a estação. A padaria fica a direita, e é pra lá que vou agora.

Andando, eu vi um bar, que tinha uma TV transmitindo algum jogo de futebol com o Neymar. Vários caras assistindo o jogo bebendo, e como de costume, o Galvão falando "Joga muito esse menino Neymar!" Acho que o Galvão também quer o corpo nu de alguém.

Também avistei um grupo de pessoas com cosplay. Devem estar indo para algum evento de jogos ou anime, talvez? Não me importo, mas aquele cosplay do Coringa está horrível. Parece um palhaço de algum filme ou jogo de terror. Dead Rising que o diga.

Finalmente! Estava conseguindo ver a padaria. Apesar do nome "Pãozinho do Seu Tarcizio" ser esquisito, ela é ótima.

Com pressa, sai correndo, driblando todos os obstáculos na minha frente. Me senti em um filme de ação com os efeitos de explosão do Michael Bay, só faltava um caminhão de pães virar o Optimus Prime, o pãobot.

Cheguei ao meu destino, para minha alegria.. alegria de dois segundos, até ver uma fila quase do tamanho da loteria anterior. Acho que suicídio não seria tão ruim.

Quase trinta minutos esperando e a fila ainda não acabou, apesar de estar perto da minha vez. Enquanto eu esperava, eu vi uma mulher derrubando seu saco de pão sem perceber. Eu então, peguei o pão, e comecei a cutuca-la.

— Ei moça, você deixou cair isso aqui. Ela se virou, e ficou procurando alguma coisa. Eu percebi que ela estava me procurando.

— EU TO AQUI!! gritei para ela. Ela virou sua cabeça para baixo e me viu. Pegou seu saco e disse obrigado. Apesar de eu ser baixo por natureza, ela era alta mesmo. Bem, hora de voltar a fila... Espera!! Eu sai do meu lugar! Quando olhei para a fila gigantesca novamente, quase desmaiei no chão.

Passou-se mais trinta minutos, finalmente chegou minha vez. O padeiro apontou para um cara atrás de mim e sinalizou para ele ir até ele. Eu comecei a pular com raiva, e ele me viu.

— Opa, foi mal garoto, você é bem pequeno. disse o padeiro, rindo. Eu não achei graça, seu velho bigodudo.

Finalmente comprei o maldito pão! Agora vou voltar, ignorando tudo que estiver em meu caminho. Sai da padaria furioso, uma mulher e um padeiro não me enxergaram, me senti o Edward Elric do FullMetal Alchemist.

Enfim, vou voltar. Finalmente, vou comer, mais de uma hora na rua, minha mãe vai pensar que eu fiquei com diarreia no meio da rua e comecei a cagar em qualquer canto. Eu estava de boa, até aquele cachorro de antes NOVAMENTE vir até mim e morder a minha sacola. Caíram três pães no chão, sobrando apenas outros três. Tive que segurar o saco com as duas mãos. Eu já disse que esse cachorro quer meu corpo nu! Bem, ele foi embora, nada pode piorar.. bem, até começar a chover dois segundos no momento em que eu falei isso. Minha vida é uma bosta.

Depois de uma correria e tanto, cheguei em casa, todo molhado, com apenas três pães. Expliquei para minha mãe e ela ficou de boa, disse até que era normal para mim. Não sei se fico feliz ou ofendido.

Finalmente, eu iria comer, meu café da manhã, depois de praticamente uma hora.. Coloquei manteiga no meu pão, queijo, presunto. Peguei um copo, coloquei o leite. Eu então, abri o pote de Nescau.

Não tinha nada lá dentro.

— Ah, filho, esqueci, também não tem mais Nescau. Vai lá comprar novamente. disse minha mãe, indo buscar o dinheiro.

Sinceramente,

Eu me odeio


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Notas finais do capítulo

Eu amo pão.



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