Back In Time escrita por Thalita Moraes


Capítulo 5
Capítulo 5




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—Eu não acredito que ele fez isso. — Victor disse, ainda espantado pela história que Rose contara a eles.

—Eu ainda não consegui entender porque você não me contou isso mais cedo. — Amy perguntou, colocando sua mão sobre a de Rose. — Nós somos melhores amigas, não somos?

Rose sorriu tristemente. Ela também não conseguia entender porque não contara o que acontecera para ela. Eram amigas desde que começaram a estudar juntas, desde que começaram a trabalhar no mesmo lugar. E não seria Kelly aquele que estragaria tudo.

—Está pronta. — Arthur disse, ainda observando seu relógio. Todos pularam em sincronia. Ele levantou-se da cama, dirigiu-se para fora do quarto e, na área livre que havia logo ali, materializou o carro novamente. Era o DeLorean, porém, havia algumas pequenas diferenças. Agora o carro era vermelho e parecia um pouco mais com o modelo que eles tinham nas corporações. — Eu fiz alguns pequenos ajustes.

—Depois você o coloca de volta da maneira como ele estava. Eu preciso devolver essa máquina. — Rose pediu para Arthur. Todos entraram no carro. — Ok, agora precisamos encontrar alguma maneira de descobrir onde ela está.

—Ah. — Victor disse, só então se lembrando. — Eu instalei um GPS nela.

—Você fez o que? — Amy perguntou para o seu irmão do banco da frente.

—Eu me preveni caso ela fosse fugir de novo. — Victor se defendeu.

—Você fez bem, Victor. — Rose disse, ajustando as configurações do carro. — Onde ela está?

—Ahm... — Ele disse, olhando para o relógio. Ele não sabia ler aquilo. Amy estendeu a mão para ele e Victor entregou seu relógio.

—O sinal está fraco. Não sei exatamente quantos anos ela foi. — Amy disse, analisando o relógio de seu irmão.

—O sinal ficará mais forte conforme chegamos mais perto de quando ela está. Eu só preciso saber onde. — Rose disse, ligando o carro e dirigindo em uma velocidade constante, apenas esperando por Amy dar as coordenadas. De certa forma, Rose estava agradecida por Arthur ter instalado novas ferramentas ali. Era mais fácil dirigir em um veículo que ela já estava acostumada.

Amy tocou no relógio, como se verificasse se não estivesse quebrado. Ela parecia estar surpresa.

—Não pode ser...

—O que? — Rose estava apreensiva. — Onde ela está, Amy?

—Corporações Brown. — Amy disse, deixando todos confusos. — E pela localização dela, imagino que deve ser apenas anos antes da Corporação ser construída.

Rose acelerou com violência, atingindo rapidamente as 88 milhas por hora. Conseguindo manter a velocidade, ela conseguiu estender um pouco mais o buraco negro em que estavam, conseguindo enxergar as coisas apenas um pouco mais claras do que sempre. Rose estava apenas esperando para que Amy dissesse para parar. O sinal no relógio estava ficando cada vez mais forte, os números do ano estava mudando de forma constante. 1964, 1966, 1968...

—Não sei até quando posso manter esse ritmo. Ela está muito na frente? — Rose perguntou, preocupada. Aquela era a primeira vez que testava as teorias que elaborava com o Dr Velley. Nem sabia que tal coisa poderia ser atingida. Ela mal podia esperar para contar para ele do sucesso. Mas para isso, ela precisava sair de lá viva.

—Eu diria que falta mais vinte anos. — Disse Amy sem tirar os olhos do relógio. Rose inclinou a cabeça para observar o relógio.

—Ela está em...

—Sim. — Amy disse, finalmente tirando os olhos do relógio. — Eu temo que sim.

—O que está acontecendo? — Victor perguntou, não conseguindo sintonizar a conversa delas.

—Holly está mudando o futuro. — Rose disse. Era a única suposição que podia fazer sem estar lá para ver o que estava acontecendo.

Naquele instante, Arthur pegou seu celular em seu bolso e ligou-o. Um canal de televisão foi detectado. Ele começou a tocar. Uma mulher falava na tela de seu celular.

—Acho que é tarde demais. — Ele disse, enquanto observava a tela do seu celular. Ele virou para Amy e ela pôde ver a imagem de Holly, um pouco mais velha, algumas rugas ao redor de seus olhos conversando com uma repórter. — Estão dizendo que foi ela quem construiu as Corporações Brown.

—O que isso muda? — Victor perguntou, tentando entender. — Para nós?

—É díficil dizer. — Amy disse. — Ela mudando o futuro pode evitar que qualquer um de nós nasça. As coisas vão sair diferente do mundo que nós conhecemos, então, não podemos saber com certeza o que vai acontecer.

—É possível que nenhum de nós nasça? — Victor perguntou, preocupado.

—Sim, mas isso não vai nos afetar mais. Nós somos uma anomalia, Victor. Não existimos mais no nosso tempo.

Arthur ainda verificava alguma coisa em seu celular. O sinal pegava surpreendentemente bem ali.

—Encontrei uma coisa. — Ele disse. Todos pararam para ouvir o que ele tinha a dizer. — Diz que ela fundou a Corporação em junho de 1985, quando ela tinha somente dezoito anos.

—Junho de... — Amy estava pensando no que aquilo significava. — Esse foi o mesmo período em que pegamos ela!

—E aparentemente o mesmo tempo em que Kelly deixou ela. — Rose disse, remorso estava claro em sua voz. — Ela deve ter lido o livro.

Todos entreolharam-se. Eles sabiam muito bem o que aquilo significava. Rose parecia que estava mais determinada ainda.

—Precisamos agir rápido.

—Onde nós vamos? — Amy perguntou, o buraco negro finalmente cedeu e eles pararam perto de uma floresta. Estava muito escuro ao redor deles.

—Junho de 1985. — Rose respondeu, já saindo do carro. — Eu preciso parar eles antes mesmo deles começarem.

Amy não tinha percebido enquanto saia do carro, mas aquela era exatamente a mesma noite em que eles tinham acidentalmente sequestrado Holly. Kelly tinha devolvido ela para seu devido tempo, mas com uma diferença. Holly queria vencer na vida, não somente para conseguir fama e sucesso, mas principalmente para conseguir vingança das pessoas que tiraram vantagem dela por tanto tempo.

—Espere um pouco, Rose! — Amy disse, puxando-a pelo braço. — O que você pretende fazer assim que você chegar lá?

Rose gaguejou e tentou se livrar de Amy, mas ela tinha razão. Rose não tinha um plano. Estava agindo por impulso.

—Nós precisamos de um plano. Precisamos tirar o livro dele e destruí-lo. — Arthur disse.

—Mas como vamos fazer isso? — Rose disse, parecendo mais preocupada ainda.

—Eu tenho uma ideia. — Amy disse. — Mas a gente vai precisar de fazer um pequeno desvio.


***


Kelly, Holly e Emmett estavam conversando quando o DeLorean apareceu por ali, os quatro descendo do carro rapidamente. Emmett arregalou os olhos e correu até seu carro, aliviado que ele estava inteiro.

—Ah, meu bebê! — Disse, se jogando contra o carro e abraçando-o. — Por que você está vermelho?

Ninguém se atreveu a responder a pergunta dele. Kelly e Holly estavam parados ao lado da garagem, o portão ainda estava arregaçado, aos pedaços. Rose desceu do carro e foi em direção à eles, imaginando que talvez fosse aquela conversa que fundaria Corporação Brown antes de seu tempo certo.

—Kelly! — Ela gritou. Ele virou-se para encará-la. Ele não sabia se deveria estar surpreso que ela estava ali. — O que você está fazendo?

—Eu deveria fazer a mesma pergunta à você. O que você está fazendo aqui, Rose? — Kelly perguntou, colocando suas mãos em seus bolsos. Rose pôde finalmente olhar nos olhos dele. Ele parecia uma pessoa completamente diferente. Rose imaginou que esse seria um dos muitos efeitos do livro.

—Eu estou impedindo você de cometer o pior erro de sua vida. — Rose disse, tentando tocar na mão dele, mas ele apenas puxou seu braço de volta. Amy, Arthur e Victor estavam apenas à alguns metros de distância, prontos para pular para ação caso fosse necessário. — Você não precisa fazer isso.

—O pior erro de minha vida? — Kelly perguntou, surpreso, parando para rir alto. Emmett parou e apenas observou os dois conversando, tentando entender o que estava acontecendo. — Rose, se isso der certo, isso vai ser a melhor coisa que eu já fiz em minha vida!

—Mas não vai dar certo! — Rose disse. Ela olhou brevemente para trás, para Arthur. Ele tinha uma mania errada de querer confortar alguém dizendo mentiras, já fizera isso com Rose várias vezes. E agora, Rose teria que usar da mesma técnica. Ela temia que fosse a única coisa que o impediria de continuar com aquilo. Rose tentou puxá-lo para outro lado, mas ele continuava puxando seu braço de volta, como se o próprio toque dela lhe fosse repulsivo. — Kelly... Você se lembra da história que você me contou, de como sua mãe encontrou seu pai?

—O que isso tem a ver? — Perguntou, confuso.

—Você me disse que sua mãe o viu pela primeira vez quando teve que pegar o ônibus para ir ao mercado. Se sua mãe não tivesse que subir no ônibus, ela nunca teria conhecido seu pai. Se ela nunca tivesse conhecido seu pai, você nunca teria nascido. — Rose continuou, Kelly percebeu onde que ela estava indo com aquilo e resolveu ficar quieto, buscando por uma maneira de revidar. — O que você está fazendo, irá mudar não somente sua vida, mas uma geração inteira. São as pequenas coisas que as pessoas fazem todos os dias que nos molda em quem nós somos e nos tornamos. Se você seguir em frente, existe uma grande probabilidade que você nunca nasça.

—Rose... — Ele tentou dizer, mas ela o interrompeu novamente.

—Por favor, não faça nada que você possa se arrepender. Nós dois sabemos como você lida com arrependimentos. Você só vai continuar a cair mais e mais num ciclo infinito. — Rose pediu, mas Kelly estava irado. Ele não queria ouvir mais nenhuma palavra que ela estava dizendo.

—Arrependimentos? Querida, isso aqui não é um arrependimento, é um investimento! E o que você está falando sobre chances e mudar o passado, é apenas baboseira. Já estamos destinados a nascer e a mudar esse mundo! — Kelly praticamente gritou, assustando Rose.

—Então, eu receio que eu não tenha outra escolha. — Rose disse e Amy aproveitou a deixa. Enquanto Victor o distraia com um chute em suas costas, Amy correu até Holly a agarrando e projetando uma luz em seus olhos com um aparelho pequeno. Ela deveria ter feito isso mais cedo. Emmett e Holly desmaiaram, mas Amy conseguiu segurar somente Holly. Emmett começou a roncar assim que atingiu o chão.

—O que você fez? — Kelly bravejou, indo em direção à Holly que parecia dormir nos braços de Amy. Mas Victor segurou um de seus braços e Arthur fez o mesmo com o outro braço, empurrando seus joelhos, fazendo-o cair no chão.

Rose aproveitou a deixa e pegou a bolsa dele, retirando o livro grosso de capa de couro. Kelly gritou e tentou se livrar de Arthur e Victor.

—Você está agindo sob os efeitos do livro. — Rose disse, seu olhar triste. Kelly parecia estar possesso e aquilo machucava o coração de Rose.

—O que você vai fazer? — Ele perguntou, começando a ficar com medo. Rose não respondeu, apenas jogou o livro no chão e retirando uma garrafa do banco do carro, inundou o livro com um cheiro forte que parecia ser vodca. Kelly arregalou os olhos sem forças para falar qualquer coisa. A garrafa vazia voou para um canto qualquer. Ele ainda estava pasmo.

Rose se afastou um pouco e acendeu um fósforo, jogando-o no livro.

Kelly começou a gritar, não conseguindo acreditar que ela tinha feito tal coisa. Como ela poderia? Mas então, ele ficou quieto demais. Quando Rose olhou para ele, sentiu seu coração quebrar mais um pouco. Ele estava chorando.

Kelly estava vendo as memórias de sua falecida avó novamente. Todas as vezes que ela cuidou dele, todas as vezes que ela dizia que o amava, todas as coisas que ela fez por ele. As lembranças que se desfez por ele. Ele ouviu a voz dela dizer aquelas últimas palavras novamente.

A última vez que ele ouviu dela, as palavras que somente agora ele entendia.

"Eu sei que, um dia, você se tornará aquilo que eu sempre esperei que você se tornasse. Eu sei que você é muito melhor do que mostra aos outros. Eu gostaria de poder viver para ver o dia em que você voltaria aquele menino que eu sempre acreditei ser capaz de muitas coisas"

O efeito das palavras do livro tinha dissipado. Kelly tinha finalmente voltado ao normal. Arthur e Victor o soltaram, e ele continuou chorando mais um pouco, não conseguindo acreditar nas coisas que ele fez. No que ele tinha se tornado... Por simples... Orgulho?

Pela simples vontade de ter crescido de outra forma. Pelo desejo de ter outra vida. Por luxúria, por egoísmo, orgulho... A palavra que quiser escolher. A verdade era essa.

Ele sempre odiara a forma como sua avó fazia tudo parecer mais divertido. Ela vivia no momento e, durante sua vida inteira, tentou mostrar isso pra ele. Ele percebia isso agora. Ele tinha sido um idiota.

Pela primeira vez na sua vida, ele chorara como uma criança. E se sentia arrependido pelas coisas que ele tinha feito.

Ele, agora, queria voltar ao passado apenas para poder dizer, nem que fosse apenas uma vez, que amava sua querida avó.

***

Por um breve período, todos ficaram esperando para que Kelly parasse de chorar. Rose começou a achar que tinha algum problema com ele, mas aquilo era apenas resultado de tristeza reprimida por anos.

Ele nunca chorou quando sua mãe morreu. Nem chorou quando caiu de bicicleta pela primeira vez. Nem quando seu melhor amigo roubou seu par para o baile. Nem quando sua avó ficou internada por três dias. Muito menos quando sua avó morreu.

Kelly nunca chorou em sua vida. Então, era compreendível porque ele demorava tanto para limpar os olhos e levantar-se. Mas quando ele finalmente o fez, sentiu-se aliviado.

Como se um peso enorme tivesse saído de seu peito.

—Desculpe, Rose. Eu não queria... — Kelly tentou dizer, mas Rose o abraçou antes mesmo que ele terminasse a frase. Ela o apertou com força, sentindo falta dele. Não era preciso dizer mais nada. Ela o perdoava por ter agido daquela forma, e aquilo era o suficiente. Ele a abraçou de volta, sentindo outra lágrima escorrer de seus olhos.

—Tudo bem, Kel. — Ela disse, limpando uma lágrima de seus olhos, finalmente soltando-o. — Eu sei que você deve ter tido um motivo para ter feito essas coisas e... Você com certeza não sabia o quão poderoso esse livro realmente é. Ou... Era.

—Mas e quanto aos guardas na Corporação? Eles não vão ir atrás de mim quando eu voltar? — Kelly perguntou, um pouco preocupado.

—Eu digo para eles que você estava sob o efeito do livro. E que, durante a missão, perdemos o livro de novo. — Rose disse, dando de ombros.

—Às vezes, coisas acontecem. — Amy disse.

—Vocês todos estão... Tão... — Kelly disse, sem conseguir encontrar a palavra certa. — Isso não é parte de um plano para me fazer voltar e então me colocar na prisão perpétua?

—Eu consigo entender porque você pensaria isso. — Arthur disse e então colocando o braço por cima do ombro de Kelly. — Mas cara, você chorou tanto que eu ficaria com dó de te colocar numa prisão perpétua. Ou qualquer tipo de prisão.

O rosto de Kelly ficou vermelho. Rose deu um leve soco no braço de Arthur.

—De qualquer forma, acho que está na hora de limparmos a bagunça que fizemos e voltar. — Amy disse, claramente referindo-se à Holly que dormia em seu colo. Mas não era somente isso. A porta da garagem, Emmett, o livro queimado, o carro roubado.

—Acho que isso vai demorar um pouco. — Victor disse. Amy riu com o comentário do irmão, mas ele tinha razão. Mas nada que tecnologia não pudesse ajudar.


***


—Holly! Holly! — Emmett a acordou. Ela estava dormindo no sofá e seu sono estava tão bom que por pouco não o amaldiçoou por tê-la acordado. — Você viu o que aconteceu com a porta da garagem? E o DeLorean?

—Tio, acho que você deve estar delirando. — Ela disse, bocejando. — Não tem nada de errado com o seu carro.

—Não é isso, Holly. — Ele disse, levantando-a no impulso. Eles observaram da janela da cozinha a porta da garagem. — Olhe, está... está...

—Limpo? — Holly disse, espreguiçando-se.

—Exato! Eu nunca vi isso tão limpo, tão... Parece que alguém desamassou o meu portão! E o carro... Você viu o carro? Alguém pintou meu carro de vermelho!

—Tem certeza de que seu carro já não era vermelho? Eu acho muito improvável alguém ter invadido a garagem para pintar seu carro de vermelho. — Holly disse, indo à pia da cozinha para lavar seu rosto. Algumas imagens rápidas demais passaram por sua mente, mas ela não conseguiu identificar o que era. Achou que fosse apenas resultado do seu sonho. Seu sonho... Com o que ela tinha sonhado mesmo? Com viagens no tempo, com alguém chamado Kelly...

Que sonho estranho, imaginou. Mas foi apenas um sonho. Ela não deu muita importância à esse sonho. Enquanto seu tio ainda murmurava coisas sobre alienígenas terem invadido sua casa e implantado chips em seu cérebro, Holly se despediu, pegou sua mochila e abriu a porta da frente.

—Espere, Holly! Onde você vai? — Ele gritou.

—Procurar um emprego.

—E onde você encontrará um emprego nessa cidade? — Ele perguntou, ainda mais preocupado com seu carro do que com sua sobrinha.

Holly parou e pensou um pouco, lembrando de alguns detalhes do seu sonho. Detalhes específicos demais para ser um sonho.

—Eu acho que sei onde podem estar contratando.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? :3



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