Bellarke - The Wedding escrita por Commander


Capítulo 12
The Shoes




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Clarke

Como sempre, Clarke estava na casa dos Blake.

Na verdade, ela ainda estava no quarto de Bellamy. Havia passado o dia inteiro lá desde que chegou, e já eram, exatamente, 20:00. A cama parecia tão confortável e tinha um cheiro tão familiar... Ela simplesmente queria ficar ali para sempre. Mesmo que Bellamy já tivesse ido embora, ainda era melhor ficar em sua casa do que encarar Abby Griffin novamente.

Mas, como tudo que é bom dura pouco, ela ouviu as vozes de Raven e Octavia. Clarke se apressou para sair da cama e arrumar o quarto, antes que as duas a vissem na cama de Bellamy.

— Clarke, sabemos que está aí! – ela ouviu Octavia, do outro lado da porta. A loira gemeu em protesto. Hora de ouvir, pensou. – Jantar, Princesa. Bellamy já deve estar chegando.

Ela saiu do quarto, relutante, indo até a mesa formada na cozinha. Pizza, o típico jantar "chique" das duas amigas. Teve que aguentar as expressões maliciosas de Raven e os sorrisos de Octavia, tentando não revirar os olhos.

— Então... Por que dormiu aqui, afinal? – Octavia perguntou, distraída com seu celular.

Clarke deu de ombros, se sentando:

— Eu tive uma briga com a minha mãe. Não queria atrapalhar nem nada, mas Lexa não estava em casa e aqui meio que foi o primeiro lugar que me veio na cabeça.

Raven se sentou à mesa e se serviu uma fatia de pizza, já não contendo seu sorriso enorme:

— E o quarto do Bellamy é o primeiro lugar que te vem na cabeça... Fala sério, vocês são o melhor casal do mundo.

Octavia balançou a cabeça:

— Raven, eles não são um casal. É hora de superar isso.

Obrigada, Octavia, Clarke pensou. Pelo menos uma pessoa sã em sua vida.

— Me recuso a acreditar nisso. – ela revirou os olhos. – Pelo amor de deus, gente, a tensão sexual bate na cara desses dois, toda vez que estão juntos!

Clarke parou para pensar naquilo (não sobre a tensão sexual, era estranho) por um tempo.

É verdade que Lexa estava ocupada, já que ela havia conseguido se transferir seu trabalho no exército para a cidade por um tempo, mas... Mesmo assim, não era estranho que a primeira pessoa que viesse em sua cabeça fosse Bellamy? E, mais estranho ainda, Lexa não ter a menor ideia de toda aquela história das pílulas, já que ela contou apenas para ele?

A noiva não deveria ser a primeira à saber de tudo?

Seus pensamentos foram interrompidos pelos toques de seu celular. Revirou os olhos quando leu "Mãe" no identificador. Ela já ia recusar a ligação, quando Octavia pegou o aparelho de sua mão.

— Ela está aqui, senhora Griffin. – Octavia disse, ao telefone, sorrindo. Clarke tentou protestar, mas ela já falava. – Disse que quer falar com você também. Só um momento.

— Octavia! – ela exclamou, furiosa. A Blake colocou o dedo indicador sobre os lábios, pedindo silêncio e Clarke quis matá-la por isso. – O que está fazendo?!

A morena jogou o celular nas mãos da loira e puxou Raven, que nem mesmo tinha acabado de comer ainda, para o quarto dela. Provavelmente ela queria dar mais privacidade à Clarke, para que ela pudesse ter uma conversar que ela definitivamente não queria.

— O que é que você quer? – ela disse, sem ânimo nenhum.

O que eu quero? – Abby perguntou, em tom de ironia. – Você passa a noite fora, não responde as minhas ligações, e ainda acha que pode sair em horas como aquela?!

— Caso não tenha percebido... Eu tenho mais de 21 anos. Isso significa que eu posso ir a qualquer lugar que eu quiser, com qualquer pessoa, a qualquer hora, sem precisar dar satisfações a você.

A linha ficou muda por um tempo. Clarke odiava agir como uma adolescente mimada tendo crises por desespero de atenção. Mas ela havia tomado uma decisão: Bellamy estava certo. Se ela fosse começar a viver do jeito que todos queriam, nunca viveria de verdade.

Eu... Tive uma conversa com seu amigo ontem. – Abby disse, em um tom mais calmo. – Bellamy realmente gosta de você e isso me deixou mais tranquila, quanto a sua decisão de procurá-lo. Ele também me falou algumas coisas sobre você.

Clarke arregalou os olhos. Bellamy havia contado à Abby sobre as pílulas? Ele prometeu que não contaria e seria difícil perdoá-lo, se ele realmente tivesse o feito.

— Hã, que tipo de coisas? – a loira perguntou, fingindo estar distraída.

Abby pareceu sorrir, quando disse:

Que eu amo você. Que tenho fé em suas escolhas e em qualquer outra coisa que você faça na vida. E finalmente me dei conta de que não importa com quem você vai se casar, não tem nada a ver com isso, você vai ser sempre a minha filha. A minha garotinha. – Abby fez uma pausa. Clarke passou as mãos pelo rosto, tentando controlar o choro que provavelmente viria.

— Isso significa que... Você não achava nada daquilo que disse? – a loira perguntou, ouvindo sua própria voz parecer trêmula.

A voz da mãe do outro lado na linha parecia tão emocionada quanto a dela:

É claro que não. Eu não poderia querer você de outro jeito. Eu te amo, Clarke, e isso nunca vai mudar.

— Eu também te amo, mãe. – a loira sorriu, contra o telefone.

As duas conversaram por mais um tempo antes de finalmente desligar. Clarke queria correr de volta para casa e abraçar Abby o quanto pudesse. Mas, olhando para a janela, percebeu que estava chovendo, o que significava que ela teria que ficar aqui novamente.

— Ele está atrasado. Como alguém que larga o trabalho oito horas consegue atrasar uma hora?! – Raven finalmente saiu do quarto, bufando. Ela não tirava os olhos da televisão, que estava prestes a transmitir um jogo de basquete. – O filho da puta sabe que hoje tem jogo.

— Deve ter tido algum problema, Bellamy nunca perde um jogo do James. – Octavia bufou, se sentando no sofá. A irmã de Bellamy batia os dedos nas pernas, parecendo preocupada. – Estou com um mau pressentimento. Raven, pega a moto e dá uma volta pelo quarteirão. Talvez ele esteja chegando.

Antes que Raven pudesse responder, a porta foi escancarada. E Bellamy entrou, completamente arrebentado, no sentido mais literal da frase.

Tinha sangue escorrendo pelo rosto, do nariz e do canto da boca, e marcas vermelhas se espalhavam por todo o corpo, concentradas nos braços e pernas.

E isso lembrou Clarke de quando eles eram menores e o Blake se metia em muitas brigas com outros garotos. Sempre que ele ficava muito machucado depois disso, Clarke e Octavia quase sempre cuidavam dele. Parece que nada mudou, desde então.

.

Bellamy

— Ai, meu Deus, Bellamy! – Clarke se levantou do sofá, indo em direção à ele. Seus olhos azuis estavam cheios de preocupação e ele se sentiu meio culpado por isso. – O que houve?

Ele andou até o quarto, resmungando:

— Eu bati a moto.

— Não, você atravessou a moto, garoto! – Octavia se levantou também, igualmente furiosa. – Se meteu em alguma briga?!

— E esse olho roxo? – Raven foi até ele, mais nervosa ainda. – Quer se explicar?!

Ele sentiu como se três papagaios falantes estivessem na sua frente. Octavia e Raven eram como se todas as mães do mundo se juntassem em duas pessoas diferentes. Dava para imaginar o que ele aguenta todo dia...

— Tudo bem, gente. – Clarke se pôs entre eles. Se virou para as garotas. – Ele provavelmente deve ter um bom motivo para isso... Então, eu assumo daqui.

Ela pôs uma mão em suas costas e o conduziu até seu quarto. Clarke esperava que ele se sentasse na cama desarrumada, mas o Blake continuou de pé, mesmo que, claramente, não tivesse forças para isso:

— Eu não pedi...a sua ajuda.

Ela revirou os olhos:

— Senta logo. Reclame depois.

Ele bufou, finalmente se sentando. Sentiu as costas arderem e os músculos retesarem, quando sua pele entrou em contato com a cama. Ele parecia fazer pequenas viagens ao Inferno, sempre que respirava. Não tinha noção do quão fodido estava, até voltar para casa e receber o olhar reprovador de Clarke.

Clarke andou até a cozinha, provavelmente procurando por coisas que usaria para ajudá-lo, por mais que ele achasse aquilo um desperdício de tempo.

— Tira a camisa. – ela pediu, voltando com uma bolsa de gelo em uma das mãos e um pano molhado na outra. Colocou a bolsa de gelo na cabeceira da cama.

— Por que não a calça também, Princesa? – ele sorriu, sarcástico, fazendo o que ela mandou.

— Engraçadinho. – ela bufou, molhando o pano com água. Olhava cada machucado em seu peitoral como se estivesse fazendo uma cirurgia. Percorreu o pano por alguns de seus machucados, tentando lavar a área com o que tinha nas mãos. – Parece que todo dia você arruma um problema novo.

— Pelo menos eu não fico acordado por causa dos meus problemas, nem tomo remédios para isso. – ele deixou escapar as palavras, assim que soube que falou algo que não devia, como sempre. Clarke parou o que estava fazendo e encarou o chão, inexpressiva. – Desculpa, eu... Não quis dizer isso.

Ela balançou a cabeça:

— Você é um idiota, Bellamy. Só posso te ajudar, se você me deixar fazer isso. E me contar porque está desse jeito seria um ótimo jeito de começar.

— Eu não faço a menor ideia, Clarke. Dois carros começaram a me seguir e uns caras vieram. Dei conta de alguns, mas... Era gente demais.

Bellamy percebeu que as mãos da loira tremiam, enquanto ela passava o pano em seu corpo, e isso o fez pensar... Ela se preocupava tanto com ele assim? Ele era tão importante para ela que apenas uma surra já poderia levar a garota a perder a cabeça? Aquilo fez ele imaginar o que realmente significava para ela.

Ela levou o pano até o rosto do moreno, passando-o suavemente pelas áreas machucadas:

— Caras...Quantos eram?

—Sei lá... Quando uma pessoa leva uma porrada, ela não se preocupa muito em contar. Talvez seis, sete?

— Que covardia. – ela franziu o lábio, se aproximando cada vez mais, como se tivesse medo que alguém os ouvisse. – Bell, isso é muito sério. E se alguém estiver tentando te matar? Sei lá, isso é loucura, você pode ter feito alguma coisa pra alguém e...

Bellamy se sentia péssimo (não só por causa dos machucados), mas, sim, porque Clarke estava ali. Porque ela estava perto do seu rosto o suficiente para que ele ouvisse sua respiração. Estava perto o suficiente para que ele pudesse beijá-la, se quisesse.

Ele se parecia com um garotinho ridículo de 12 anos, falando com a primeira garota na vida, quando estava perto dela. E ele realmente odiava aquilo.

— Relaxa, foi só uma surra, tá tudo bem. A Princesa não é muito acostumada com isso, não é? – ele deu um meio sorriso, balançando a cabeça devagar. – Talvez eu tivesse merecido essa, mas eu não saio por aí arrumando briga, chutando cachorros e velhinhas indefesas, se é o que está sugerindo.

Clarke envolveu um corte na perna dele com um pouco de gaze, fazendo um curativo, e Bellamy se chocava com a naturalidade da loira ao fazer aquilo. Ela também sorriu, largando o pano usado na cabeceira da cama.

— Você entendeu o que eu quis dizer.

— É. Você tá certa, talvez eu não fosse o melhor exemplo do mundo, uns anos atrás.

A verdade era que Bellamy havia mudado muito. Mesmo sabendo que Octavia (e talvez Raven, depois que eles se conheceram, mas aquela era uma longa história) teve grande parcela de crédito por isso, a maior parte foi por causa de Clarke.

— Anos atrás? Ok, Blake, agora estou curiosa. O que te fez mudar desse jeito?

Você.

Você é a única porra de razão, a única pessoa capaz de fazer esse tipo de coisa comigo. Pelo amor de deus, como você ainda não percebeu?

Aquilo era tudo que ele precisava falar para Clarke, por que era tão difícil? Por que era tão difícil sustentar o olhar dela, sabendo que ele escondia uma coisa tão óbvia? Por que era tão difícil responder algo bom o suficiente para todas as perguntas dela? Por que tudo tinha que ser desse jeito?

Ele olhou diretamente para ela, quando disse:

— Você sabe o que, não sabe?

Clarke ia dizer mais alguma coisa, mas foi interrompida por Raven, que entrou no quarto. A morena pareceu muito decepcionada ao dizer aquilo:

— Clarke, a Lexa está te esperando lá embaixo.

A morena fechou a porta devagar, saindo do quarto. Clarke olhou para Bellamy, como se quisesse se desculpar por algo.

— Aplique a bolsa de gelo onde estiver doendo, para evitar que fique roxo ou que infeccione. – Clarke disse, colocando sua jaqueta. Ela se inclinou e lhe deu um beijo demorado no rosto. – Nos vemos amanhã, tente não morrer até lá.

Então, ela saiu. Saiu, deixando Bellamy na confusão que ele era normalmente, pensando: Por que, Clarke Griffin?

.

.

Clarke

— Dormindo aqui? Será que você não tem casa? – Lexa perguntou, ironicamente, quando Clarke entrou no carro.

Clarke bufou. Depois de tudo o que aconteceu, tudo que ela menos queria era contracenar em uma briga inútil de casal. Ela não havia dado conta de como Lexa podia ser ciumenta, mas não tirava a razão dela por isso. Qualquer um ficaria puto, se a sua mulher fosse dormir na casa de outra pessoa e não tivesse contado nada.

— Briguei com a minha mãe e precisava ficar distraída por um tempo. Eu e Octavia ficamos conversando por um tempo, e eu acabei dormindo lá. – ela mentiu, sem dar mais detalhes que aquilo. — E Bellamy se meteu em uma briga, eu tinha que ajudar.

Aquilo não deveria ser muito estranho, considerando a personalidade extremamente forte de Bellamy, mas, ainda assim, deixava Clarke inquieta.

Ela se lembrou de uma vez em especial, quando ele ficou com uma garota (com quem namorou por umas três semanas), chamada Amanda. Porém, essa garota tinha um namorado antes de se envolver com Bellamy.

Conclusão: mais uma briga para o estoque de Blake. Isso já devia ser normal, por que Clarke estava tão preocupada?

— Entendi. – Lexa franziu a testa, parecendo tão inquieta quanto a noiva, ainda sem tirar os olhos da estrada. Clarke estranhou a atitude de Lexa, mas realmente não queria perguntar. – Você se preocupa muito com ele.

Clarke a encarou, começando a ficar realmente irritada:

— O que quer dizer com isso? Eu me preocupo com os três.

— Mas se importa mais com ele.

A loira deu de ombros, desconfortável:

— É... Bellamy já fez muito por mim. O mínimo que eu posso fazer é me importar com ele. Além do mais, somos amigos, e você, mais do que ninguém, deveria saber disso.

Ela encostou a cabeça na janela, parando de ouvir qualquer coisa que Lexa fosse discutir. Ela não tinha espaço para isso na sua mente.

...

Mais tarde, enquanto organizava sua papelada na estante, Clarke percebeu uma coisa muito estranha que se escondia atrás da porta.

As botas de Lexa estavam completamente molhados e sujos de lama. Como se ela tivesse saído a noite, na chuva. Mas, se ela trabalhava dentro do quartel o dia todo e voltava para casa de carro, quais eram as chances de ter as roupas molhadas?

— Lexa. – Clarke chamou a noiva, que estava na cozinha. A morena apareceu no batente da porta, arqueando as sobrancelhas. – O que fez no trabalho hoje?

Ela deu de ombros, indiferente:

— Cuidei de algumas fichas e documentos de pessoas que queriam se alistar no escritório, por que isso é importante?

— Não é, só que... Parece que você está precisando relaxar. – a loira arrumou uma desculpa qualquer. – O que acha de sair?

— O que você quiser, Princesa. – Lexa sorriu, concordando. Ela foi até o quarto, deixando Clarke sozinha. – Vou me trocar.

Ela olhou novamente para os sapatos.

Talvez a loira estivesse exagerando demais. Como Bellamy mesmo disse, foi só uma surra que, talvez, ele tivesse merecido. Talvez não tivesse nada a ver com Lexa. Talvez a loira apenas estivesse cansada demais para penar sobre qualquer coisa.


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