Finalmente havia acabado a FFI e o Inazuma Japão ganhado dos Pequenos Gigantes do Congo, de uma forma extraordinária.O famoso goleiro estava dormindo em sono profundo em sua cama aconchegante que sua mãe fizera questão de deixá-la o máximo aquecida possível para a volta de seu filho.

—Endo, acorda, você já está atrasado!—Chamou ela com sua voz habitual.

Era verdade, quando Endo olhou para o relógio eletrônico ao seu lado, quase voltando a dormir, deu um pulo da cama, estava quinze minutos atrasado.Começou a achar o uniforme da Raimon para se vestir, colocou o tênis com as mesmas meias que dormira, pegou sua bolsa e na pressa acabou esquecendo sua chuteira e seu meião para jogar futebol.O café estava na mesa, um suco gelado de laranja e vários onigiris fofinhos.

O menino se sentou, pegou dois bolinhos, enfiou na boca o mais rápido possível e sem mastigar direito, tomou todo o suco do copo e se levantou.

—Acabei, até mais mãe!—Exclamou correndo para a porta.

—Satoru Endo!—Chamou sua mãe com autoridade—Você tem que comer direito, se não, não terá energias para jogar futebol, seu avô não vai gostar nadinha de saber disso...

Endo voltou de cabeça baixa para a mesa, se sentou devagar e pegou mais um bolinho, mordiscando e olhando pela janela: haviam dois menininhos, um driblando o outro com uma bola de capotão.Depois de mais alguns minutos escovando os dentes contra sua vontade, Satoru voltou a correr, e na velocidade de sair de casa, acabou esquecendo sua mochila de couro.Estava a poucas quadras da escola, sabia que estava atrasado, muito atrasado, tinha de ir mais rápido, mais, mais...PAFF !!!

Trombara com alguém—estava correndo olhando para baixo—e caíra no chão, a pessoa com quem trombou também caiu e estava se levantando.Era pouca coisa mais pequeno que Endo, tinha o cabelo preto e espetado para todos os lados, os olhos redondos da mesma cor e a pele mais clara.

—Me desculpe, eu...você está bem?—Perguntou o goleiro, ajudando o menino a se levantar.

—Até que estou...—Quando o garoto viu Endo, seus olhos chegaram a brilhar por um segundo—então você é o famoso Satoru Endo não...?

—Sou sim, haha.

O menino começou a andar na mesma direção que Endo, conversando, e foi assim que os dois descobriram que estavam indo para o mesmo destino.

—Então você é um estudante novo...que legal!—Satoru deu um pulo, e o novo aluno corou um pouco—Vai precisar de um uniforme, mas não se preocupe, eles lhe emprestarão enquanto não tiver.

O menino apenas assentiu com a cabeça com o lábio contraído.

—Hm...desculpe me intrometer mas, qual o seu nome?—Quis saber Endo.

—Ah é, Koji...Koji Riki, mas pode me chamar apenas de Riki—O menino parou e se inclinou para a frente como sinal de respeito, e depois voltou a andar.

—E...Riki, você gosta de futebol também?Vamos jogar na hora do intervalo, joga com a gente...—Convidou o goleiro

—Não!Não...gosto de futebol...

—O QUE ?!

—Hm...é que...chegamos, até mais Endo-san, foi bom te conhecer!—Se despediu Riki correndo para dentro da escola, sem mesmo conhecê-la, e deixou Endo na entrada, sem palavras e reação.

Com certeza todos já haviam entrado, os arredores estavam vazios, tinha que correr, subiu uma escada, virou um corredor e chegou na porta fechada da sala.Encostou o ouvido na porta e ouviu que a aula já tinha começado, estava frito.

"...a álgebra...", "Professor, posso ir até o bebedouro um minuto?", "...pode Yoko...então o resultado...".

Ouve um puxo, e a porta se abriu para dentro, Endo tropeçou caiu em cima da menina, estragando seu penteado oriental fazendo um baque surdo no chão, todos na sala se assustaram e Goenji deu um sorriso de canto da boca, voltando a olhar a janela ao seu lado.

—Perdão Yoko, é que eu...

—Sente-se, Satoru.—Mandou o professor, se contendo.

—Sim senhor Susumo-san...

A aula durou mais algumas horas de pura álgebra, e Endo apenas pensava em futebol, ficava desenhando chutes em seu caderno e lembrando de Riki, ficava se perguntando se fizera alguma coisa de ruim para ele sair correndo, fora sua culpa ?

—Acho a matemática que estamos estudando hoje não ter nada a ver com futebol, Satoru...—Observou Susumo com a voz cortante e Endo abaixou a cabeça.

—Eu acho que tem sim, senhor, aliás...—Começou Quatro-Olhos, mas também olhou para a carteira quando o professor lhe lançou um olhar mortal.

Quando a sineta tocou, todos saíram da sala educados, porém, o mais rápido que puderam, para escapar do olhar constante do Sr.Susumo. Endo esperou Goenji e Kazemaru para lhes contar sobre o novo aluno.

—Isso é estranho Endo...—Percebeu Kazemaru—estamos na metade do ano, e as inscrições deviam estar fechadas...

Já que ninguém disse mais nada, quem falou foi Endo:

—E você Goenji, o que acha ?

Goenji estava com as mãos atrás da cabeça.

—O Endo, deixe ele, cara...

Os três não disseram mais nada até se juntarem aos outros no "vestiário" que costumavam ficar antes de jogar futebol, para combinar estratégias ou dar suas opiniões.Dava para ouvir a falação já do lado de fora, e era um barulho ensurdecedor quando entraram.Quando Endo foi procurar suas chuteiras—que ele guardava ali todos os dias antes das aulas começarem—, se lembrou que não as havia trazido.

—Terá de pegar emprestadas as da escola capitãozinho—Esganiçou Kurimatsu que estava colocando sua chuteira ao seu lado.

Endo concordou, saiu do vestiário e foi correndo pedir um par de chuteiras velhas emprestadas para o zelador.No meio do caminho, viu a pessoa menos provável no meio do campo, Riki estava com uma bola nas mãos, no meio do gramado—colocado recentemente—, observando-a.

Satoru teve de se esquivar por reflexo para que não trombasse em um aluno terceiro ano que vinha em sua direção também correndo e distraído.Conseguiu a chuteira depois de convencer o zelador a lhe emprestar e prometer que as devolveria limpas.Voltou correndo para o vestiário e começou a colocar os calçados, só faltava ele, e teve de ficar com as meias normais mesmo, não teve moral para pedir meiões também.

Com todos vestidos, foram para o campo, onde, de acordo com os cálculos de Quadro-Olhos referente ao tempo que gastaram se trocando, teriam mais ou menos quarenta e cinco minutos sossegados para jogar.Porém, foram impedidos de entrar no campo pelo zelador que estava por perto agora e veio gritando.

—Vocês não podem entrar em campo meninos, depois de amanhã teremos um jogo aqui, nossa escola foi escolhida para receber o jogo, e estamos cuidando de tudo para que seja um dia perfeito, ninguém entra nesses dois dias...

—Mas por que aquele nanico está no meio do campo agora, hein?—Cuspiu Someoka carrancudo.

O zelador se virou devagar, viu quem era, e voltou a olhar para os outros, com um sorriso forçado no rosto.

—Ele tem permissão especial do diretor.

—E como conseguimos essa tal de permissão "especial"?—Interrogou o mesmo, com punho erguido.

—Calma Someoka...podemos esperar dois dias e...ainda temos outros lugares para jogar...—Acalmo-o Endo, afastando-o e levando a equipe para dentro dos vestiários, dando uma última olhada para o zelador e dele para Riki no meio do campo, ainda imóvel, com a bola nas mãos, observando-a.

—Aquele velho caduco...—Comentou Someoka, atirando sua camisa na parede.

Todos voltaram a se despir, Someoka se sentou afastado da equipe, chutando o chão, Goenji levantou a gola de seu uniforme, Kurimatsu estava olhando pela janela, para o zelador, mandando embora do campo mais um grupo de alunos. Endo ficou pensando quais equipes iriam jogar dali dois dias. Provavelmente Kido deveria saber, ele tinha informações sobre esse assunto, então Endo resolveu ir falar com ele depois das aulas.

Por sorte, as últimas aulas passaram particularmente rápidas. Satoru devolveu os materiais que havia pego emprestado do Toramaru, pois havia esquecido sua bolsa na correria de manhã, e se via andando pelas ruas de Inazuma, não indo para sua casa, mas para a de Kido. Não fora necessário: ao virar uma esquina, viu o próprio andando devagar, de mãos no bolso, quando ele o viu, parou de andar e esperou o amigo vir até ele.

—Kido, que sorte te ver cara, estava indo para sua casa para...

—...Endo, a minha casa é para lá...—Apontou Kido para o lado contrário.

—Ah! É mesmo haha—Endo deu um tapa na testa.

Os dois começaram a andar, Endo seguindo Kido por onde quer que ele estivesse indo.

—Kido, você ouviu falar no jogo que terá daqui dois dias lá na Raimon ?

—Então era isso que você queria saber, eu estava certo, você nunca fica quieto quando há uma notícia nova não é Endo?—Endo coçou a nuca como se fosse se explicar, mas Kido continuou—Bom... Tem um time que foi criado a pouco tempo, eu não tenho informações certas sobre ele ainda, mas se chama Armageddon... Esse time desafia todas as escolas e equipes profissionais e ganham todas de goleada, como fazia o Instituto Imperial...

Os óculos de Kido brilhavam sinistramente enquanto falava e o garoto parecia bem maior agora.

"Essa tal equipe Armageddon é conhecida como 'Invencível', destroça todos seus rivais deixando sobrar apenas as provas de que tiveram ali. Daqui do Japão, venceram o Colégio Ninja por 45 a 0, o Colégio Zeus tentou para-los, chegaram a usar a beber a Água dos Deuses... 32 a 0, o Aphrodi não estava no jogo, não voltou para o Japão desde a FFI...Endo, eu não ficaria surpreso se o time que jogar contra a Armageddon acabar detonado..."

Ouve um arrepio na espinha de Endo, aquilo estava cheirando muito mal.

—Mas quem vai jogar contra essa tal de Armageddon?—Pensou Endo, alto o suficiente para Kido ouvir.

—Não sei, só ficaremos sabendo na hora do jogo mesmo, mas, como soube de tudo isso ?

O menino lhe explicou tudo que acontecera, e Kido hesitou por um instante, pensativo.

—Isso não é normal capitão, os "Invencíveis" costumam jogar em qualquer tipo de campo, como por exemplo, o campo do Colégio Ninja estava lotado de lama, estava em reforma, e a equipe rival não fez nenhuma objeção.

Endo ficou congelado por um instante, como se tivesse tomado um banho de água fria.Em seguida assentiu com a cabeça e começou a correr por onde tinha vindo.

—Ei Endo, onde você?!...Endo...—Finalizou Kido, voltando a colocar as mãos no bolso e andando de cabeça baixa.

Satoru estava voltando á escola, tinha de fazer uma coisa lá, urgente, se acontecesse o que ele estava pensando...Chegou na portaria da Raimon já fechada, quem estava saindo era o Professor Akira, de esportes.

—Professor Akira-san!—O menino inclinou o corpo para a frente—Será que poderia me responder o time que jogará contra a Armageddon depois de amanhã ?

O professor também pareceu um pouco constrangido, mas fora em um milésimo de segundo, e voltara a uma posição de superioridade.

—Endo, todos ficarão sabendo o time no dia do jogo, não seja teimoso garotinho, e não se preocupe, este time é fortíssimo...eles estão treinando em uma área particular para não haverem interrupções como essa.

—Então...posso falar com o diretor um minuto, por favor, por favor?!—Insistiu o menino, atrapalhando o professor a arrumar suas coisas, fazendo-o corar como um pimentão.

—SATORU!!! Você não vai falar com ninguém, pois não lhe informarão nada até o jogo, e o diretor, ele não está no momento...—O Professor Akira, arrumou tudo de qualquer jeito e saiu andando em seu carro, cantando pneu.

A única opção agora era voltar para casa e esperar outro dia para ver se conseguia mais alguma informação valiosa, se acontecesse o que ele estava pensando, não ia ser nada bom.Mas ele não ia deixar, aliás, era Satoru Endo, o menino que salvou o futebol.

A volta até sua casa não fora demorada, mas muito cansativa, fora como se tivesse acabado de jogar uma grande partida de futebol.Se sentia fraco, desanimado, andava de cabeça baixa, e as mechas pontiagudas na sua cabeça estavam embaraçadas.Sua mãe estava preparando Okonomiyakis para o jantar, mas parou de cortar algumas coisas quando viu o filho subir a escada para seu quarto sem cumprimentá-la, seus olhos eram vazios, tristes.Depois de um tempo, continuando a preparar a comida, subiu devagar a escadaria, andou na ponta dos pés e olhou pelo vão da porta entre-aberta: Endo estava deitado na cama de bruços, por um momento a mulher pensava estar pensando, mas na verdade, estava dormindo em um sono profundo e com altos roncos agora.

A mãe deu um sorrisinho, entrou devagar, tirou seus sapatos e os deixou do lado de seu guarda-roupa, em seguida, o cobriu, sabia que, em dia desses, o menino precisava de descanso.Antes de fechar a porta do quarto, lembrou de mais uma coisa, tirou as chuteiras do garoto, do armário, e colocou do lado de seus outros calçados, para que ele não esquecesse no outro dia e, pudesse jogar seu esporte favorito.

Nesse momento, Endo sonhava com seu pior pesadelo.