Redenção escrita por Gabriel Silva


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Escrevi esse conto há uns dois anos. Ná época eu estava passando por uns problemas familiares e, na hora de escrever, acabei sendo influenciado por tudo e saiu essa história. Ela ficou com uma pegada religiosa, mas espero que apreciem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/628472/chapter/1

Quando o carro ia bater em Camila, ela acordou. "Que pesadelo terrível" ela pensou. Seu coração batia acelerado e o suor molhava seus longos cachos loiros. Ela olhou ao redor e percebeu que não sabia onde estava. Sua última lembrança era de poucos instantes antes do acidente. Tentou forçar a memória, mas uma forte dor de cabeça a dominou. Muito mal se lembrava do próprio nome. Camila Rodrigues Lopes.

Ela estava em um quarto pequeno, de paredes brancas e piso bege. Estava em uma cama de solteiro. Ao lado da cama havia uma escrivaninha. Ela saiu da cama e percebeu que estava vestindo um vestido branco estampado com girassóis. "Onde eu estou?", pensou. Não se lembrava daquele lugar, mas, por mais que não se achasse bem com aquele vestido, ele lhe parecia familiar.

Encontrou um par de simples sandálias brancas e as calçou. A porta do quarto estava destrancada. Ela abriu e saiu. Havia um largo corredor, que dava primeiro numa cozinha. Camila não viu ninguém lá. Caminhando mais um pouco, ela achou a sala, mas também estava vazia.

Assim como o quarto, a cozinha e a sala eram bem simples e de cores claras. Camila ouviu um barulho. Alguém batia na porta da sala. Desconfiada, Camila andou devagar até a porta. A porta tinha um olho mágico e ela olhou por ele.

Pelo olho mágico ela viu uma mulher mais velha que ela. A velha tinha cabelos negros e lisos, e estava segurando uma bandeja com bolo.

"Ola" disse a mulher "sou sua vizinha" "Vizinha?" pensou Camila. "Você deve estar confusa sobre o que esta acontecendo. Eu posso..." A mulher nem pode terminar de falar, pois Camila abriu a porta rapidamente e perguntou: "Onde eu estou?!"

Percebendo o desespero de Camila, a senhora disse: "Calma, querida, posso entrar? Sentada na sala, Camila olhava com desespero para a mulher, que estava falando: "Meu nome é Carol. Você... Lembra seu nome?"

"Camila"

"Bem, Camila, você se lembra de alguma coisa sobre antes de acordar aqui?"

As imagens novamente preencheram a mente de Camila. "Eu estava na rua e um carro veio e..." Camila não conseguiu concluir. Ela abaixou a cabeça, que doia quando tentava se lembrar. Carol suspirou. "Camila, o que eu tenho para te dizer agora é muito serio. Quero que você se mantenha calma" Levantando a cabeça, Camila a fitou, ainda mais desconfiada.

"Camila, você esta morta"

"Não, não é possível..." As imagens voltaram à mente de Camila. Era mesmo verdade. Lagrimas caíram, escorrendo pelo rosto de Camila.

"Não, não, não..." Ela abaixou a cabeça novamente e começou a gritar, enquanto as imagens se repetiam em sua mente. O momento em que ia atravessar a rua, o carro... "Não! Não!..." Carol a abraçou e Camila chorou em seus braços. Mas uma luz ainda restava em seu coração. "Não" disse Camila. Ela afastou gentilmente os braços de Carol, dizendo: "Isso... Não pode ser real. Eu não posso estar morta. Eu não quero..." Ela não queria acreditar naquilo. Carol tentou abraçá‐la novamente, dizendo: "Oh, querida, quanto antes aceitar isso, melhor será"

Camila recusou. Olhou para Carol e disse: "Muito obrigado por me ajudar, mas isso não está certo. Eu não estou morta, eu sinto isso.

"Querida, não tem mais volta" Disse Carol. Mesmo que sua voz ainda fosse a mesma, meiga e acolhedora, estava causando arrepios em Camila. "Você esta morta! Aceite isso!"

Os olhos de Carol se tornaram dois globos negros e reluzentes. Um enorme e medonho sorriso se formou em seu rosto.

"Aaaaargh!!!" gritou Camila, se afastando com pressa. Ela deu as costas para aquilo e correu emdireção à porta.

Ela viu que as paredes e o chão da casa se tingiram de uma cor rubra. Olhou para trás e o que viu não era mais Carol. Aquilo era uma criatura estranha e amedrontadora, que parecia um bode em duas patas e garras. Estava olhando fixamente para Camila com aqueles grandes olhos negros.

"Aaaaaaaaargh" Camila gritou e correu o mais rápido que pode ate a porta e saiu para a rua. "Não adianta fugir, querida" disse a criatura, rindo.

Do lado de fora, enquanto corria, Camila viu que o céu estava negro e uma enorme lua cheia vermelha preenchia‐o. Ela continuou a correr.

Enquanto Camila corria pela rua, notou que milhares de pássaros negros estavam empoleirados nos telhados. Ela podia ouvir sussurros bem baixos, mas não sabia o que estava sendo dito. Os sussurros, então, ficaram cada vez mais altos, até se tornarem gritos, misturados com grasnos, que diziam: “Você não deve fugir, aceite os fatos. Você está morta”. Camila não agüentou os gritos e tapou os ouvidos, gritando.

Os corvos, então, começaram a voar em direção a ela e a bicá‐la até que criasse feridas. Camila se ajoelhou, com a cabeça baixa. Tampou os ouvidos e gritou: ‘’Parem! Por favor!”

Então Camila começou a se lembrar de sua vida. O pai dela era a pessoa mais importante para ela, mas um dia ele morreu. Uma parada cardíaca. Ninguém esperava por isso.

O mundo de Camila, com apenas 11 anos de idade, se acabou e para piorar, dois anos depois da morte de seu pai a mãe começou a namorar um amigo do trabalho. Aquilo foi a gota d’água para Camila e seus sentimentos reprimidos.

Alguns anos depois, com constantes discussões em casa, Camila começou a sair à noite com os amigos, largou o colégio e começou a beber e usar drogas. Em um de seus passeios noturnos com os amigos, aos 17 anos, Camila foi atropelada.

“Você não tem para onde fugir”, os corvos continuaram a grasnar, enquanto continuaram a bicar Camila “Seu lugar é aqui, pagando por seus pecados. Eles continuaram a bicar, se amontoando cada vez mais sobre a garota, que gritava de dor. ‘’Aceite seu destino. Aceite sua morte!”

“Não!” gritou Camila. Ela se levantou e continuou a correr, cambaleante, até chegar a uma escura floresta. Camila começou a ouvir sussurros novamente, que desta vez vinha das árvores. “Você não fez nada de bom em sua vida. Pessoas sofreram por sua causa. Sua mãe, seus amigos, você é um fardo para todos. Aceite que você estar morta é o melhor para todos. É o que todos desejam. Morra. Morra. Morra!!!”

“A culpa não é minha!” Camila gritou “Me deixem em paz!!!”

“Você culpa os outros, culpa sua mãe, mas é só para fugir da realidade. Depois que seu pai morreu você se rebelou, fez coisas que não devia.”

“Aaaaargh”, ela gritou “para, por favor. Para!!!” Camila não agüentava mais. Ela tentou correr, mas raízes saíram do chão e prenderam seus pés, fazendo‐a cair.

“A culpa não foi minha! Minha mãe é culpada! Ela se esqueceu de mim! Esqueceu do meu pai!!!”

“Pare de mentir para si mesma! Você desistiu de viver. Encontrou conforto em drogas e álcool, mesmo sendo tão nova! Inventou falsas desculpas para seus erros. Você não quis viver antes, para que voltar a vida? Por que não aceita a morte?"

Camila se livrou dos galhos e continuou a correr, com os olhos fechados e os ouvidos tampados, mas os sussurros das árvores continuavam em seus ouvidos. Ela correu até que os sussurros cessassem, sendo substituídos por um barulho familiar.

Camila abriu os olhos e se espantou, pois viu que estava na rua próxima à sua casa. Olhou para tras, mas a floresta havia desaparecido e agora só havia o muro de uma casa. "Mas o que...?" Ela ficou sem palavras. Recuperando o raciocínio depois do choque, ela correu para casa.

Chegando lá, ela encontrou a porta entreaberta, mas não ligou para isso e entrou em casa, chamando pela mãe. Ao chegar na sala Camila soltou um grito de horror. No meio da sala estava Carol, transformda em monstro. "Olá, querida" disse ela, com um longo sorriso "Estive te esperando"

Camila se vira par correr, mas a porta havia sumido. Ela cai de joelhos e começa a chorar. Carol, ainda sorridente, continuou a falar: "Agora que você parou de correr vamos terminar logo isso. Foi divertido te ver sofrendo,mas eu cansei"

"O que você quer?!" Gritou Camila "O que quer de mim?!" "Lindinha, só quero que você aceite que acabou, que está morta. Porque fugir tanto? Ninguém se importava com você, nem você mesma"

"Quem é você para saber algo sobre mim?" disse Camila. Carol riu.

"Você não percebeu, não é?" a voz de Carol estava se modificando, começando a ficar mais fina. "Camila ROdrigues Lopes, eu sou você." Camila abriu os olhos e o ar faltou em seu pulmão. Carol havia se transformado nela, como o reflexo de um espelho, só que o sorriso aterrorizante ainda estava lá. "Qual a melhor pessoa para te julgar, senão você mesma?" Disse Carol.

"O que é você?!" Camila gritou em prantos.

"Eu sou sua consciência, e já estou muito cansada, para falar a verdade. Aceite que acabou e vamos terminar isso"

Carol se moveu vagarosamente, caminhando em direção a Camila. Segurou a menina, que estava paralizada de medo, pelo pescoço e a ergueu. Camila gaguejou ao tentar falar: "Eu... Eu não..." "Ah, por favor" disse Carol "você só fez as pessoas sofrerem, só deu trabalho." Camila então foi perdendo o foco, sua visão ficando turva. "Sim, esse deve ser mesmo o meu fim, depois de tudo que eu fiz. Magoando a todos, magoando minha mãe, acabando com a minha vida. No fundo eu sabia que a culpa era minha, que eu estava sendo irracional. Joguei minha vida fora." pensou Camila

"Você se lembra de onde é esse vestido?" perguntou o reflexo. Sim, Camila se lembrava. Sua mãe lhe dera ele muito tempo atras, mas ela nunca usara. Camila parou de lutar. Fechou os olhos. "Mãe, me desculpe" ela disse. Alguns segundos depois ela ouviu uma voz bem baixa. Era sua mãe. Parecia falar com alguém.

Carol olhava para os lados, com olhares suspeitos. A voz foi ficando mais alta e Camila percebeu que sua mãe estava orando. “Senhor, por favor, não leve minha filha. Eu sei que ela fez coisas ruins, mas é uma boa garota. Parte da culpa é minha, por não ter dado atenção a ela. Não leve minha filha, Senhor. Perdoe-a!”

Ao ouvir aquilo, Camila foi dominada por um sentimento estranho. Seu peito pesava. Não podia abandonar sua mãe, que a amava tanto.

Carol estava desnorteada, mas não largou Camila. “Mãe!” ela gritou, enquanto tentava se soltar “não posso deixá‐la!” Carol apertou ainda mais o pescoço de Camila. "Você não vai fugir!" Ela gritou.

Camila chutou a cara dela, conseguindo que Carol a soltasse. “Me larga!” ela gritou, enquanto chutava Carol. “Me solta! Mãe! Mãe!”

. . .

A mãe de Camila estava sentada ao lado do leito da filha. Orava pedindo que sua filha acordasse, pois os médicos disseram que ela ficaria inconsciente para sempre e que a mãe deveria decidir o que fazer, pois não podiam mais mantê‐la no hospital. Os médicos queriam dar à jovem um remédio que faria seu coração parar, mas a mãe não podia aceitar isso. Ela acreditava que a filha era forte o suficiente para sair dali.

Sentada ao lado da filha, após terminar a oração, a mãe viu algo que a espantou. Os olhos da filha se mexeram.

Ela se levantou da cadeira e abraçou a filha, dizendo: “Camila! Filha! Por favor, acorde! Seja forte, filha!”

Camila estava correndo em direção à porta, mas ouviu um grito ensurdecedor e tapou os ouvidos. Era Carol. "Você está morta! Desista!" Ela gritou, se transformando novamente emum demônio. Ela pulou para junto de Camila e a agarrou novamente. "Morta!" Camila estava perdendo os sentidos. "Mãe, desculpe, não tenho mais forças para..."

A visão de Camila se enegreceu e seu corpo ficou mole, sem força. Carol gargalhou alto. Uma luz desceu da superfície como um pilar, cobrindo Camila. A luz queimou as mãos de Carol, que soltou Camila enquanto berrava de dor.

"Não!" Gritou o demônio "Ela é minha, não!!!"

Camila, dentro da luz, despertou ouvindo clarmente a voz da mãe. "Mãe! Mãe!!!" Ela gritou de volta, enquanto subia pelo pilar e então a luz ficou mais forte, e Camila não enchergou mais nada.

. . .

A mãe de Camila a estava abraçando e gritando seu nome quando ela acordou. Camila abriu os olhos e abraçou fortemente a mãe, que a enchia de beijos. “Eu vou viver” Camila falou “eu vou viver pela minha mãe e por mim mesma de agora em diante.

FIM


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Redenção" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.