Nadie dijo que sería fácil escrita por Miss Addams


Capítulo 9
Nove




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Dulce

:- Dulce? - ela chegou na cozinha enquanto eu fazia café para mim.

:- Hei Cristina. – eu ri, olhando para ela.

:- Hei. – ela riu também, passando a mão nos cabelos grandes dela. – Vim avisar que já estou indo, para casa, depois eu tenho aula tenho que me apressar.

Cristina era mais que a babá de Dominique, era uma amiga que fiz enquanto estive na Itália, ela era brasileira e fazia intercambio no México. Adorava viajar e conhecer novos lugares tem um trabalho lindo com crianças surdas, não só no Brasil como no mundo, fiquei tão agradecida quando ela aceitou meu pedido para ser babá de Nique.

Não apenas por ela ser intérprete das línguas de sinais, de vários países, mas por ela ajudar na adaptação de Dominique desde que era um bebê, a conheci por meio de Georgette e me surpreendi quando ela me confessou que já foi minha fã e ainda era traumada, entre eu e Christopher.

Rimos bastante com algumas histórias que ela me conta do que já fez, pelo trauma, por mim.

:- Antes que eu me esqueça, Dominique está na sala com os novos quadrinhos que ganhou, quer dizer, velhos né. Por que faz tempo que não vejo uns desses. – ela entrou na cozinha e abriu a geladeira. – Já o tinha visto na Tv, mas vê-lo pessoalmente é bem melhor.. – ela riu e me deixou confusa.

:- Do que está falando, Cris? - esqueci do café e me virei para ela que tomava água.

:- Não sabe? Ele não veio te ver? - ela estranhou.

:- Ele quem?

:- Agora a pouco eu abri a porta para Poncho e ele veio entregar um presente para Dominique, os deixei conversando na sala e quando eu voltei, ele já tinha ido. – ela falou, deixando o copo vazio, na pia. – Por mais que tenha sido rápido, eu pensei que ele tinha vindo falar com você.

:- Poncho veio aqui? Eu não o vi, estava no banho Cris. – expliquei.

:- Ah então isso explica, mas vocês não estão se falando?

:- Na verdade, nossa relação esfriou desde que Thierry veio passar aquela temporada aqui, e não voltou como era antes desde então. – voltei a me preocupar com o meu café para não encara-la.

:- Como você da uns pegas nele e não se falam? - ela ficou confusa. – mas, para que falar numa hora dessas, não é verdade. – começou a rir de novo.

Ela, como várias pessoas, eram telespectadores da novela. Dizia que era seu vício e que assistia depois por conta de suas aulas, e comentava comigo rapidamente quando chegava. Me fazendo rir ou me fazendo ficar sem graça, com os comentários.

:- Você sabe que as coisas não são assim, tudo é para novela, profissional. – Pensei nas cenas intensas que eu tinha com ele. – E não que nossa relação estava tão mal, apenas nós estamos nos tratando com cordialidade de colegas, ele vez ou outra pergunta de Dominique e essas coisas.

:- Se isso não é mal, imagine quando for.

Ri do que ela falou enquanto colocava meu café na xícara.

:- Não sabe o que fala, Cris, eu e Poncho já tivemos muito pior. Já chegamos ao limite da loucura, do ódio, da raiva, da mágoa, da vingança, do ciúme...

:- Do amor... – ela falou. Me fazendo olha-la. – Eu sei que aquela época eu não via isso, mas nada como o tempo passe e nós amadurecemos. – deu os ombros.

:- O pior é sentir tudo isso e quando precisávamos de distância, o que nos restava era a convivência, por que não havia de outra.

:- Mas, voltando para o presente, depois que Thierry voltou para França, não tentou falar com o Poncho?

:- Não. – coloquei açúcar no meu café.

:- Por que não?

:- Por que é o melhor.

Ela ficou me olhando com uma cara de você é louca, doida varrida como costuma dizer, e procurei ignorar esse olhar.

:- Cris?

:- Que? - ela me olhava encostada no balcão.

:- Não disse que estava indo por que não queria se atrasar. – olhei para ela sorrindo. Vendo ela se assustar e começar a andar apressada.

:- Meu Deus, é verdade, já era para está em casa essa hora. Está vendo fico aqui ouvindo os bafões e perco noção do tempo. – ela ia saindo da cozinha. – Antes que eu me esqueça, Dulce, Clara está vindo para cá ficar com a Nique e falando nela, tem notado uma mudança de comportamento?

Pensei que fosse só eu que havia notado, Dominique está ficando cada vez mais reservada, desenha mais e fotografa também, fica sempre que pode vendo seus filmes e quadrinhos.

Não que ela não já fizesse isso, mas ela não brincava mais e estava cada vez mais trancafiada no seu mundinho.

:- Sim. Eu notei, mas deixei para lá, achando que era paranoia minha, essas coisas de mãe.

:- Eu também andei observando, talvez realmente não seja nada, ou apenas saudade do pai. Mas, não custa observar com mais atenção ou conversar com ela. – ela sorriu, indicando que ficaria de olho também, como eu disse era mais que a babá dela. – Agora deixa eu ir, minha virgem. – ela saiu apressada.

Fui pegar alguns biscoitos e fazer chocolate para Nique e Clara quando chegasse, o que não demorou muito. Ainda da cozinha ouvi o barulho da campainha e o barulho da chegada de Clara.

Cheguei na sala com uma bandeja, e elas já estavam conversando.

:- Tia Dulce. – ela sorriu me olhando. E por um instante me lembrei de Claudia, ela era tão parecida com a mãe, ou seja, comigo, Blanca, man.

:- Oi meu bem. – A cumprimentei com um beijo na testa. – Vai dormir aqui hoje? - olhei para a mochila dela no sofá.

:- Vou sim, demorei para convencer a vovó. Mas consegui. – ela levantou os braços em sinal de vitória.

Man, dificilmente queria ficar longe da neta quando ela estava no país. Por ela, queria todo mundo junto, debaixo da sua asa.

“Clara, trouxe o filme que eu pedi.”

Dominique, estava com a boca já toda lambuzada de chocolate, dos biscoitos.

“Trouxe Nique, baixei da internet e gravei em dvd, você quer ver agora?”

“Vocês vão ver filmes?” Perguntei para elas.

“Vamos assistir também, mamá?”

Poder eu não poderia, tinha muito texto para ler e decorar, mas não conseguir resistir a ideia de ficar ali com elas e ter como a um bom tempo, um programa caseiro como esse, filmes, besteiras para comer, chuva e frio.

“Sim claro.” Respondi para Nique.

:- Clara, o filme está com a censura ligada? – olhei para minha sobrinha. – Está tia, já abaixei tudo certinho. – ela sorriu.

Eu peguei cobertores e nos deitamos na sala para ver os filmes, cada uma comendo alguma bobagem. Com o tempo eu fiquei mais interessada no filme, e tinha a sensação estranha, eu já o tinha visto, mas não lembrava o nome e tinha perdido o começo.

“Essa era a parte que eu queria ver, olha Clarinha, olha.”

Dominique ficou empolgada, com a cena que veio, e o filme tinha uma adaptação de uma interprete para pessoas surdas, mas Dominique não olhava para isso e sim para cena, que agora eu tive certeza que já vi esse filme. A menina, o cara, o parque e os esquilos.

“Meninas, qual é o nome desse filme mesmo?”

“Nova York, I love you, tia.”

Clara que me respondeu em línguas de sinais, mas como Nique pediu as duas prestava atenção na cena.

E eu voltei no passado me lembrando de quando vi o filme pela primeira vez, numa noite como essa, mas daquela vez eu estava sozinha e era madrugada estava com insônia e me entupindo de bobagem.

Naquela época eu estava ainda tão frustrada pela minha relação com Poncho, na forma que eu ainda estava envolvida por ele, mesmo não convivendo mais. Me sentia como um passarinho na gaiola, que por mais que a portinha esteja aberta, não queria voar, sem saber o que fazer com a liberdade que ali havia.

Estava começando a conhecer novas pessoas, a me interessar por outras pessoas e mesmo assim eu ainda estava ligada a Poncho. E lidando ainda com a liberdade que tinha.

Lembro-me de assistir o filme e lembrar dele, naquela cena tão simples e significava muito para mim. Até indicar o filme para algumas pessoas eu fiz.

Olhei para Dominique e a vi concentrada na cena até ela acaba, o que veio na cabeça foi essa fixação, idolatração, vício dela com relação a tudo que é esquilo. De um momento para outro, em realidade desde que ela começou a conversar com Poncho e descobriu meu antigo apelido.

E querendo ou não, toda essa situação está acordando um lado adormecido meu, com relação a esse apelido, e sem querer me veio uma lembrança na memória.

Nós seis estávamos dando entrevista e estávamos bem descontraídos, todos, bem felizes.

Então pediram para cada um descrever o outro, e teve aquele momento de nervosismo, não só de falar como também de escutar, por que cada um estava sendo sincero no que dizia.

Chegou minha vez de falar dele, e falei o que me veio à cabeça, nervosa com o olhar dele sobre mim. Por que aconteceu o que sempre acontecia, eu esquecia de tudo e focava nele.

:- Poncho? – eu ri nervosa. – Ai, o quero.

E mal escutei Maite, enquanto eu tentava selecionar algo para dizer.

:- Awn. – Maite falou e se mexeu no sofá. E eu segui falando, algo que não fosse comprometedor, e sim sincero.

:- Ele me faz rir muito, pois diz a todo tempo que pareço um esquilo. Nos damos muito bem. – E depois passei o microfone para Christian, pensando no que eu disse, se deixei passar alguma coisa ainda mais pela reação de Maite.

Fiquei pensando e escutando os outros falarem entrando nas brincadeiras, realmente gostando da entrevista, por que estava tranquila. E quando fui me da conta ele, me descreveria, e só pelo olhar de Maite e Christian, de “agora vem seu troco” eu ri, voltando a ficar nervosa. Coloquei a mão no queixo e os dedos separados na boca, mas ainda dava para ver meu sorriso.

:- Dulce. Ela me faz rir muito também, por que é um pouco autista, de repente está em outro mundo, muito tranquila. – Eu ria disfarçando, fingindo que estava nesse mundo autista, e quando Christian veio comentar algo comigo sobre nós dois quando saímos para ir no cinema, me lembrava de rir, olhando Poncho e passando os dedos no rosto. Por que minha atenção estava mesmo na voz e nele. – A admiro muito por isso, porque às vezes tem que estar mesmo em outro mundo para que as coisas não te afetem. - fiquei séria por um momento pensando no que disse, e depois voltando a rir de Christian, e voltar a pensar no que Poncho falou.

E ele estava certo, eu usava esse mundo para fugir e como armadura do mundo exterior que pudesse me fazer sofrer ou prejudicar, e com o tempo ele foi o cara que tinha passe livre para esse mundo. Até mesmo construir o nosso mundo.


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Notas finais do capítulo

Essa lembrança final foi baseado neste vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=25mak3qiF_8

;)



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