Um Príncipe as Avessas escrita por Fleur dHiver


Capítulo 1
O Amor que Nasce em Galhos


Notas iniciais do capítulo

E nessa maratona eu não poderia deixar de fora meu sofrido bebê. Como a fenix, renasce das cinzas para arrebatar seus corações. Venham para minha fantasia. Espero que todos gostem. Uma boa leitura a todos;*



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A história que lhes vou contar hoje não possui maçãs envenenadas, nem espelhos mágicos, o sapato não é de cristal e o sapo não se transforma em príncipe, mas nem por isso o encanto se perde, nem por isso a magia não existe.

A magia, com toda certeza ela está presente, movendo cada pequena roca desse emaranhado de fios. Porém possui algo de semelhante com todas outras, ela tem o amor, o amor que move mundos, destrói barreiras e transforma tudo em beleza. Todavia não é uma história só de amor, mas também de coragem, bravura, companheirismo, amizade e mais um bocado de outras virtudes, de fato o amor é o eixo que move todo o resto e em algum lugar, de um reino distante, duas pessoas se amaram e desse amor nasceu uma flor...

 

O Amor que Nasce em Galhos

 

Resguardada pelas altas colinas montanhosas existia o Reino de Treerying. Um pequeno, porém, prospero reino que tinha como rota comercial, de entrada e saída o rio conhecido como a Serpente da Alvorada. Suas águas escuras, violentas e curvas sinuosas já levaram muitas embarcações a baterem e naufragarem.

O local era cercado por uma espessa muralha de mármore branco, além de ter uma densa floresta rodeando parte da costa e os entornos da muralha até o paredão de pedra, localizado as costas do belo reino. Durante séculos aquele lugar foi usado como rota de fuga, ponto estratégico para batalhas. Diziam as lendas que antigos Reis das Ilhas Duncan criaram passagens secretas para entrar e sair, sem precisar passar pelo rio, levando seus inimigos a chocarem-se e bater em retirada.

Tudo mudou durante o reinado do Rei Richard que entregou a bela fortaleza aos cuidados de seu irmão do meio, que fez daquele lugar o seu lar. Levando Treerying a prosperidade. Suas iguarias, artesanatos, sedas e demais especiarias ficaram conhecidas entre todos os reinos vizinhos.

Um lugar de paz, amor e felicidade. Anão se via uma batalha aos arredores, nem mesmo em sua terra. Aos poucos o povo foi esquecendo do mundo ao seu redor, pois para quem vivia ali não havia porque desejar ir para outro lugar.

A cidade despertava cedo. Os portões se abriam antes do alvorecer. Os comerciantes puxavam seus carrinhos, estendiam suas tendas. O cheiro de pão recém assado impregnava a praça central, levando os mais preguiçosos a acordar com aquele aroma acolhedor

As crianças corriam atrás de gatos pelas ruelas. As belas flores eram colhidas no marco central e postas à venda por toda a próspera cidade. Havia música em todos os lugares, até mesmo onde não tinha cantores: a canção do vento.

Curiosamente, em uma tarde fria do final do Outono, a cidade se aprumava de alegria. Nas venezianas lantejoulas eram penduradas. Bandeiras eram erguidas e flores eram jogadas ao chão. As pessoas festejavam e dançavam desde a primeira hora.

Faltavam apenas alguns poucos dias para o Solstício de Inverno. No entanto não era por essa razão que o povo festejava, mas sim pelo regresso de seu príncipe e o anúncio de que ele enfim havia escolhido uma donzela para ser sua noiva.

A aparição da garota trouxe espanto e adoração, era uma jovem conhecia por muitos, adorada por quase todos. Possuidora de uma beleza única. Os olhos âmbar tão intensos e deslumbrantes que chegavam a causar a estranha sensação de serem líquidos como mel. Os cabelos rosados davam a ela um toque exótico, como se em seu ser a primavera para sempre residisse. Jovial, meiga, bondosa e caridosa. Qualidades de uma rainha, no corpo de uma camponesa.

Contudo não era a esposa que todos esperavam. Ela e sua família viviam às margens da floresta. Preservando os velhos costumes e aprofundando-se em partes da densa vegetação. Onde outros não mais se encorajavam a ir.

O vilarejo fora da muralha se dividia em três partes: a pequena cidadela, onde tinha comércio livre e moradia de muito dos mercadores; a recanto do mar: pequeno vilarejo ondem moravam os pescadores e donos de pequenos restaurantes de frutos do mar; e o recanto profundo: a parte mais destacada de todo o reino. Ficava praticamente aos fundos da fortaleza, rodeada pela floresta. Naquele lugar pouco tinha a importância o comércio e tudo o que vinha do exterior. Amavam seu rei, mas costumavam manter as antigas lendas e crenças, as histórias de outros tempos.

Sarah pertencia ao recanto profundo, era uma garota simples e de costumes ainda mais simplórios. Não era refinada, não vinha de uma linhagem de nobres, não tinha um dote. Nada disso parecia importar, pois ainda assim havia conquistado o coração do príncipe. Isso ninguém podia negar.

A história deles era digna de uma canção. Uma conspiração do destino para selar duas almas que já se pertenciam.

Tudo se iniciou em uma cálida manhã. Os raios de Sol buscavam brechas entre as imensas copas das arvores. O ar era gelado, uma leve neblina ainda pairava sobre o interior da floresta. O canto dos pássaros podia ser ouvido, mas apenas em uma clareira que ficava próxima as margens. Nem as aves costumavam se aventurar naquela sombria escuridão.

No entanto Sarah a nada temia, sorridente, carregava consigo um pequeno cesto de palha. Tinha saído de casa decidida a colher as últimas cerejas da estação. O inverno estava por vir e as árvores descansavam para o desabrochar de suas lindas folhagens. Sabia que no interior da floresta, tinha uma fileira de maravilhosas cerejeiras e seus frutos tinham o sumo mais doce que ela já tinha provado.

Apesar de saber de que aquele tipo de arvore gostava do frio, era de conhecimento geral que qualquer planta necessitava de Sol para viver e ali naquele lugar os raios mal conseguiam chegar. Gostava de acreditar que era a magia que as fazia florescer. Magia boa, pois se a beleza e o frescor cresciam perante aquela escuridão, não poderia haver só trevas.

Ela percorreu todo o caminho confiante, com sua determinação ferrenha, cantarolava uma antiga cantiga que sua mãe tantas vezes tinha recitado.

Todavia Sarah não chegou a provar o doce sabor das últimas cerejas da estação.

Seus pés pararam de caminhar e sua cesta foi ao chão assim que avistou um homem caído aos pés de um grande salgueiro. De onde estava não tinha como definir se estava vivo ou morto. Porém preferia crer que estava apenas desmaiado, com toda a certeza tinha sido atacado pelas mais terríveis criaturas que viviam no breu.

Penumbra.

Apesar de fazer o possível para ignorar tudo de ruim que havia naquele lugar, em momentos como aquele refletia se realmente estava fazendo certo em estar ali. Apertou o pequeno medalhão de ferro que havia em seu pescoço. Nada conseguia chegar ao coração daquelas criaturas. A escuridão reinava e de tempos em tempos cismava em se esgueirar pelas sombras e tomar ainda mais da luz. Destruindo assim tudo que havia de bom e terno.

Qualquer pessoa normal não se arriscaria a tocar em alguém que tinha sido ferido por Penumbra. Pois poderia ter sido marcado, fadado a uma vida curta e aquele que o tocasse pagaria o mesmo preço. Só que ela não poderia deixa-lo a mercê da sorte, sua natureza gentil não permitia.

Escondeu-se atrás das arvores, mas não conseguiu se segurar e antes mesmo que notasse já estava se esgueirando até o rapaz caído. Santa fosse a ingenuidade da garota. Por viver tantos anos na floresta e por preferir ela aos bailes que ocorriam dentro dos muros do reino. Nunca tinha visto vossa alteza, nem ao menos sabia que era dele a cabeça que segurava com tanto apresso. Acreditava que tinha salvado apenas um bravo e desavisado cavaleiro.

Com certa dificuldade, a jovem, conseguiu esconde-lo abaixo das raízes de uma ameixeira. Cutucou-o com a ponta dos dedos, procurando por cortes profundos e analisando-o com mais afinco. As vestes eram simples, couro curtido nas calças e colete. Uma camisa branca por baixo de linho, botas de cano longo com duas pequenas adagas escondidas em cada pé. Provavelmente tinha passado por ali para caçar. Os cabelos eram castanhos claro e o rosto másculo de queixo reto, era bonito. Sem dúvida o rapaz mais belo que já tinha visto.

Todas as manhãs ela escapulia de casa até a floresta para cuidar do jovem rapaz. Fazia unguentos e trocava os curativos das pequenas feridas que ele possuía. Dava-lhe um caldo fortificante e voltava para casa, repetindo o mesmo sistema quando a noite caia e apenas o som das corujas era ouvido. Sarah conhecia os perigos que corria, melhor que ninguém, sabia que a noite a floresta era tomada pela podridão. Onde muitos se perderam achando que seguiam o luar.

Mas ela conhecia aquele lugar. Era parte dele e tinha fé de que nada de ruim lhe aconteceria. Não podia abandona-lo, não podia deixa-lo a mercê de alguma fera. Para mantê-lo a salvo em sua ausência retirou seu pequeno cordão com o pingente de ferro e colocou no pescoço dele. Quem visse pensaria que era uma moeda, simples e gasta, mas em sua superfície havia cravado o desenho de uma bela arvore. Poucos sabem o seu real significado e para o que servia.

Desde que sua mãe o tinha posto em seu pescoço ali havia ficado, sentia-se nua e desprotegida sem ele, mas era por uma boa causa.

— E quando as brumas partirem e orvalho cantar que o tempo o traga até mim... — Secretamente ela imaginava como ele poderia ser. O que gostava, como seria a cor de seus olhos e o som de sua voz, se ele seria uma pessoa de riso fácil ou daquele tipo contido e adorável.

À noite, quando se punha a dormir, imaginava as diversas conversas que teriam. Talvez o ensinasse a caçar por ali, a colher frutos e montar armadilhas. Todas as noites fechava os olhos orando para que ele logo melhorasse e sonhava com o dia de seu despertar.

O despertar só veio a ocorrer uma semana depois que Sarah o encontrou e ainda assim foi um processo lento. A visão do príncipe estava embaçada e ele mal conseguia ver quem estava por perto. Mas podia ouvir uma voz doce e delicada que lhe cantava uma linda canção. A voz embalava seus sonhos e impedia-o de continuar a ter pesadelos com as terríveis criaturas que o atacaram.

Uma tarde sua consciência enfim se libertou das amarras da febre e das alucinações. Pela primeira vez tomava ciência do local onde estava que cheirava a bolor e capim, além de ser escuro demais para o seu gosto. Acreditou estar em um tipo de cabana improvisada, rustica. Toda feita de madeira, mas não perdeu sem tempo refletindo sobre tal. Levou logo as mãos a cintura em busca da sua espada que não estava ali. Virou a cabeça em busca dela, porém o que encontrou foi muito melhor.

Pela primeira vez ele pode ver sua salvadora, a dona da voz que o embalava. Uma silhueta delgada e vistosa, os cabelos longos e encaracolados de tom róseo que o encantou. Exótica e extraordinária. Só pode vislumbrar a face dela de perfil, o nariz pequeno e arrebitado, cílios longos... A queria, a queria como nunca quis um outro alguém.

Involuntariamente sua mão se moveu e prendeu um dos cachos rebeldes entre seus dedos. A moça logo se assustou, virando-se no mesmo instante. Os olhos âmbar, pura larva quente que chegava até o amago de seu ser. Sentia que seria engolido caso continuasse a fita-los.

Não seria preciso olha-la uma segunda vez ou qualquer outra, daquele dia em diante o coração dele só bateria por uma pessoa. Mesmo que ela fosse fruto de outra alucinação, beleza tão singular não lhe parecia ser terrena.

— Não queria assusta-la... — Aquela voz não lhe parecia sua, muito rouca. O tempo sem uso a danificou, pelo que parece. — Ei...

Estendeu uma das mãos, mas a garota continuava acuada do outro lado de sua curiosa cabana. Agarrava-se a capa que usava e se arrastava lentamente para o canto pronta para escapar, mas ele não estava pronto para deixa-la ir.

— Foi você que me ajudou? — Enrolou um cacho entre os dedos, puxando a mecha com nervosismo, podia vislumbrar a grama e as raízes fora daquele espaço, refletindo no tempo de fuga. Tinha sonhado com o despertar dele, mas agora desperto não sabia o que fazer e como agir, só queria fugir. Talvez fosse melhor assim, afinal ele já estava recuperado. — Minha mente está confusa, lembro de ter me perdido da minha comitiva...

— Comitiva? Você tinha uma comitiva? — A menção da comitiva agitou Sarah e por um momento ela se esqueceu de seu plano de fuga. Aturdida pela ideia de mais gente está perdida na floresta ou a procura dele. Deveria ter ido à cidade para saber se alguém estava desaparecido. — Todos devem estar a sua procura, então...

— Não era uma comitiva assim, amigos... — Ao ter a atenção dela, engoliu em seco, buscando uma desculpa qualquer para manter a jovem donzela junto a si. — Perdi-me de meus amigos, companheiros de caça. Jurava estar seguindo um caminho e acabei caindo em outro, tudo ficou confuso, vozes, sussurros, um frio terrível e então...

— Está tudo bem... — O pavor no rosto dele, a trouxe de volta, sorriu passando os dedos pela pequena cicatriz na testa dele. — A floresta gosta de pregar peças nos desavisados. Não precisa se recordar disso. Fui eu que o salvei, posso ajudá-lo a voltar para o seu grupo.

— Creio ainda estar fraco para isso, mas onde estamos? É uma moradia muito curiosa.

— Embaixo de uma ameixeira. — Corou, voltando a remexer na mecha de seu cabelo.

— Muito engenhoso. Não há perigo?

Agora desperto era quase impossível evitar as conversas que sempre ocorriam. Sarah se viu perguntando e debatendo os temas que tantas noites tinha sonhado e aos poucos eles foram entrando na brincadeira perigosa que é amor. Andrew se ressentia por não ter dito a verdade a jovem e quando já se sentia bem o suficiente para ir embora ele fez a revelação, desculpou-se e declarou-se.

Ela poderia ter se chateado, emburrando-se e ido embora, mas o verdadeiro amor é sempre generoso e não houve ressentimentos. Juntos eles caminharam até a casa do pais dela. Pegaram um cavalo e quando o príncipe cruzou os portões da muralha, Sarah estava em sua garupa, cavalgavam juntos perante todo reino.

O Rei e a rainha sempre foram benevolentes com as escolhas do filho e dessa vez não foi diferente. Receberam sua bela noiva de braços aberto, uma nova filha e em pouco tempo o casamento foi anunciado para todo reino.

Um mês foi o tempo que durou o noivado. O casamento ocorreu junto com a coroação do príncipe. Todo o reino se alegrou em partilhar a felicidade de seu mais novo soberano. Visitantes de outros reinos também vieram para ambas às cerimônias, tudo parecida perfeito para a Rainha Sarah e o Rei Andrew.

No entanto o “feliz para sempre” é singular, é eterno e é um momento, um momento que vale por toda a eternidade. Andrew e Sarah eram pessoas maravilhosas que mereciam ser felizes,

Ele seria um rei bom e justo. Ela uma rainha adorada e caridosa, além de se amarem imensamente e todo o reino ama-los de volta. Apesar do amor ser um sentimento universal, sempre há de existir aqueles que não conseguem ver sua a beleza e virtudes. Corações negros e pecaminosos. O tempo era de paz, mas o caos havia se instalado em um ser: Arianne.

Filha da casta mais alta de nobres em Treerying, Arianne cresceu achando que seria a escolhida do príncipe. Seu pai era amigo íntimo do rei, além de sempre ter sido considerada a mais bela entre todas as outras garotas da nobreza. A chegada de Sarah arruinou todas as suas pretensões. Era bonita o suficiente para ferir o seu ego e humilde o para não ser aceitável. Foi trocada por uma qualquer, esquecida por todos.

Não conseguia viver a margem dessa história, servindo a eles, quando deveria ser ela sentada no trono. Havia sido criada para reinar e não para obedecer. Durante a primavera foi anunciada a gestação da Rainha, desse dia em diante Arianne jurou a si mesma que faria tudo que estivesse ao seu alcance para estragar a felicidade deles, para tomar o que lhe pertencia.

Sua inveja e cobiça só aumentavam, levando-a se interessar por contos proibidos e maldições inquebráveis. A medida que lia seu interesse aumentava, aprofundando-se em artes antigas e maléficas. No auge de sua obsessão ela foi em busca daquilo que um dia feriu o príncipe, aprofundou-se nas áreas mais negras daquele lugar sombrio e encontrou algo, algo que lhe daria mais poder do que sequer um dia sonhou conseguir.

Há muito tempo ela tinha sonhado com o príncipe, em casar com ele, ser sua princesa e futura rainha. Mãe dos futuros herdeiros do trono, mas até mesmo nessa tenra época a imagem de ser cercada por todos e ter em mãos tudo que lhe fosse pedido era o que mais lhe enchia os olhos, atualmente era a única coisa que desejava. O príncipe, agora rei, deveria pagar, mas não o queria mais, queria o poder e tudo que ele acarretava.

Que as sombras tragassem tudo de bom que houvesse no mundo de Andrew.

O pronunciamento da gravidez da rainha não mexeu apenas com Arianne, mas com o imaginário de todos, pessoas vinham de muito longe presentear a criança real, com lindos mimos, berços feitos das madeiras mais raras, chocalhos de ouro e prata; bonecas de porcelana e vestidos de seda. Também houve os presentes humildes bonecas de pano, canções, histórias e profecias, profecias de diversas maneiras diferentes. Clamavam sobre a beleza, benevolência, astucia, temperamento; tempo de vida, de reinado, casamento, herdeiros e o principal: qual seria o sexo do primogênito do rei.

A maioria dizia um menino. Alguns poucos falavam em meninas, alguns previam morte e destruição. Outros disseram que a criança nasceria natimorta. Houveram profecias comuns e aquelas que falavam de traição a aborto. Por essas e outras razões foram proibidas qualquer profecia sobre a vinda do primeiro herdeiro. Mesmo que não fosse próximo a rainha ou ao rei, qualquer um que ousasse dizer como seria o futuro da criança real estava fadado ao calabouço e ao julgamento do rei.

Todavia um senhor de muita idade conhecido do pequeno vilarejo onde a rainha nascera veio até o palácio ter com ela. O senhor era famoso por seus unguentos e previsões geralmente feitas sobre as estações e como as plantações deveriam ser trabalhadas. Nunca falhou, por essa razão ela o ouviu, as escondidas em sua sala privativa:

“Tempos de caos se aproximam, uma era escura e negra se iniciará. E não há muito o que fazer, pois a escolhida da escuridão já foi eleita, as sombras batem as portas. É tempo de se refugiar, todo o reino deve evacuar, minha senhora. Eu vi as trevas e ela quase a matou. No entanto eu vi luz, não aqui, pois toda forma de beleza e virtude morrerá antes do inverno chegar.

Mas sua filha sobreviverá como a criança de primavera que será. Uma flor, radiante como o Sol, fadada a grandes feitos, abençoada por Deus. Será ela a portadora da arma para destruir o mal, mas para isso terá que se aprofundar na floresta, não fará sozinha alguém de um lugar distante a ajudará a se tornar a salvadora do nosso tempo. Aquela que trará a luz! ”

Sarah ficou perplexa, sem saber ou ter o que dizer ao pobre homem, passou a mão pelo ventre pouco visível ainda.

— Não terminei minha rainha, mas isso não faz parte da profecia é apenas um aviso: o maior empecilho para o sucesso da missão de sua criança será você. Às vezes é preciso permitir que eles se arrisquem, mesmo que isso signifique vê-los se machucar.

Após a partida do ancião Sarah permaneceu em sua sala privativa no castelo. Observando o sol se pôr e a noite cair, que a verdade fosse dita, os dias pareciam mais curtos e frios. Ela já sabia que algo estava para acontecer.

A rainha contou a seu rei tudo que ouviu, aflita e desesperada, mas Andrew não era homem de profecias, encantos e magia. Até mesmo a criatura que o atacara até hoje ele desacreditava de sua existência. Havia de ter uma resposta lógica para tal situação, era o que ele sempre dizia. Para acalentar o coração dela, mandou reforçar a segurança do reino, que de nada adiantou, pois, o tempo passava e mais nervosa ela ficava.

Em uma noite tempestuosa em meados do outono eles foram atacados. Pelo o que? Ninguém sabe. Por sombras, talvez. Pelo manto negro que caiu, uma noite sem luar, sem estrelas. Crianças morreram em seus leitos, idosos se abraçaram e sussurram a última nota de amor. Como lutar com aquilo que não se pode ver?

Andrew ergueu-se desesperado, pegou seu comandante que conhecia cada esconderijo daquele lugar e entregou Sarah aos cuidados dele, juntos entraram em uma das câmaras secretas do castelo que desembocava aos fundos da muralha, aos pés da floresta.

Sarah acordou a Vila e levou consigo quem pode, ela conhecia um lugar. Muitos ali conheciam as lendas de um canto escondido entre as densas arvores, um tipo de fortaleza, construída por aqueles que foram expulsos da floresta nos primeiros tempos, um lugar sagrado, nunca achado.

Mesmo descrente de que esse lugar existia, Sarah acreditou que o encontraria. Apertou firme o pequeno pingente do colar dado por sua mãe e caminhou por entre a floresta. Refugiando-se em todos os locais que conhecia, buscando clareiras onde a luz do luar pudesse chegar até eles. O Sol começava a surgir no horizonte quando ela encontrou um local escondido por espinhos

Uma clareira, uma cidade de pedras, onde ao fundo podia vislumbrar a queda de uma cachoeira. Um refúgio para aquele reino desabrigado.

Naquele recanto eles construíram seu lar e rapidamente aprenderam como a vida poderia voltar a funcionar

Quem estava dentro podia ver o que acontecia fora, mas quem estava fora não via nada do que ocorria na clareira. Cheia de passagens secretas para que pudessem sair e entrar, mas muito cuidado era preciso. Pois se saíssem por algum lugar e não soubesse o caminho de volta perdidos pelo bosque estariam para sempre.

Para chegar a tal clareira precisava passar por um labirinto de arvores, um denso caminho de espinhos e uma cascata de trepadeiras, o local era protegido por antigas magias. Naquele lugar sagrado eles viveram em sociedade, abrigando todos que fugissem da noite sem fim que caiu sobre o reino de Treerying como eles.

Por muito tempo Sarah esperou, de vez em quando incursões eram feitas para ver se havia algum paradeiro do rei, mas nenhum rastro dele foi avistado, nem mesmo notícias de sua senhoria foram ouvidas.

Em uma tarde de primavera, quando todas as cerejeiras desabrocharam sua filha nasceu, com seus cabelos rosa e os olhos verdes de seu falecido marido, a ela foi dada o nome de Sakura. Naquele local toda a população conhecia a profecia e juraram que protegeriam a princesa até a chegada do príncipe. Foi decidido que Sakura nunca colocaria os pés fora daquela clareira até o tempo certo, pois a nova soberana de Treerying também conhecia a profecia.

Arianne havia conseguido o poder e como ele lhe fizera bem, escravizara a maioria das pessoas que tinham ficado para trás, matou o rei e tomou o poder. No entanto ela temia a profecia, tinha entre seus homens alguém como o velho ancião que agora se encontrava trancafiado nos calabouços da fortaleza.

Seu homem havia visto a sua ruina nas mãos da futura princesa e de um príncipe que viria de um lugar muito distante. Ao saber disso Arianne tratou logo de dar um jeito de matar todo menino que nascia nos reinos vizinhos. Até mesmo nos reinos mais distantes, que ela dominasse tudo e que ninguém nunca tirasse o poder dela.

Afinal quem seria capaz de desafia-la?

 Página: Fleur D'Hiver


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Notas finais do capítulo

Bem, estou recontando a história, então você que já a conhece de outros carnavais é melhor reler, porque quando chegar no ponto que você parou pode ter mudado muita coisa.

Esse é basicamente o prólogo, onde conto a vocês o que acontece onde a maior parte da história ocorre. Espero que vocês tenham gostado. Eu amei reescrever. ;D

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Não deixem de ir a minha página e me amar por lá, vendo as noticias sobre minhas novas loucuras.

Espero vocês nos comentários;*