Margareth e Edgard escrita por Not Me


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Devo dizer-lhes de pronto que a narrativa que aqui é apresentada por mim pode não agrada-los de forma alguma.

Para os sádicos, entretanto, talvez seja interessante entrar dessa forma furtiva na dor de alguma pessoa, até sua eventual, porém bastante provável, morte.

Infelizmente, para mim no entanto, eu estimava em muito a que aqui sofre e dói, não só como doeu a ela, contar isto a vocês. Entretanto, é de carater tão extraordinário que não poderia manter para mim em minha mente e, mais ainda, em minha própria morte. Logo, morrere aqui, só, e gostaria que a verdade fosse contada a quem quisesse e pudesse ler sobre isso. Chamarão minha história de falsa e a mim de lunático, como se esperam que faça de alguém preso desta forma. Eu, que fui preso pelo assassinato de minha bem amada e, ainda assim, pelo assassinato errado.

Sim, leitor, por aqui confesso que matei alguém, mas não quem estou sendo encarcerado e condenado por.

Os fatos que irei relatar aconteceram há algum considerável tempo, eu sendo ainda como um garoto e ela não menos criança do que eu.

Éramos primos, não de verdade, mas de criação, nossas famílias sendo tão unidas quanto qualquer outra. Nós éramos amigos, Margareth e eu. Andávamos, líamos e riamos juntos.

Por fim, vim a me apaixonar por ela. Ah, quão doce era sua face e quão vermelhos eram seus cabelos, assim como seus lábios.

Um dia, porém, um senhor interveio em nossa felicidade. Era um homem mais velho e bastante pálido. Tinha mãos extremamente parecidas com as minhas, como foi ressaltado por Margareth várias vezes.

Este queria a mão de minha amiga em um vantajoso casamento, por status sociais, antes de mais nada.

Minha prima, que Deus tenha sua alma, não queria se casar com ele. Porém, como a santa que era, o fez pela vontade do pai.

Foi um bonito casório, mas não observei muito do mesmo, saindo dali no meio da cerimônia, sem desculpas algumas. Não veria minha querida Margateth se casando com um homem por dinheiro e pressão social, ela que sempre fora tão livre, em sua própria liberdade simples de não ser esposa de ninguém.

Ficamos sem nos falar um tempo, o qual eu me foquei nos estudos e em me tornar um advogado. Passaram-se três anos inteiros até que recebi uma carta dela e, depois disso, começamos a nos comunicar regularmente, ela me contando coisas de sua vida, casa e lar e eu lhe contando de meus casos e coisas de advogados.

Nunca falamos de seu marido, porém, mesmo que o assunto casamento fosse posto em pauta. Era sempre o meu casamento que era discutido e ela reclamava, a quem quisesse ouvir, que eu precisava me casar logo.

Um dia, querendo acabar com minhas saudades e solidão, convidei-a para passar uns dias aqui, com seu marido também, se assim lhe fosse conveniente. Ela recusou dizendo que seu esposo não gostava da cidade. Respondi-lhe então que viesse sem ele e visitasse também meus pais e meus irmãos.

Ela, porém, não respondeu por meses, ao qual eu fiquei preocupado e tentei entrar em contato o máximo que pude, não tendo sucesso. Só ela poderia me responder e, de fato, fez, convidando-me para ir lá ao invés de ela vir aqui para a cidade. Disse-me que seu marido deixara e que sentia muito minha falta, assim como eu dela.

Não podendo resistir a este apelo, tirei então férias de meu amado trabalho e fui para o campo, onde morava ela e seu marido apenas, sendo um casamento, naquela época, vergonhosamente sem filhos.

Quando lá cheguei, vi sua moradia ser uma bela casa, com muitas janelas e luz natural.

Fiquei mais do que contente, como deve parecer obvio, ao vê-la parada ao me esperar, seus vermelhos cabelos trançados, não tão brilhantes quanto antigamente, seus lábios e seu rosto também sem cor.

Conversamos a tarde inteira sobre a infância e coisas banais. Estabeleci-me lá por três dias. Deveria ter sido uma semana, não fossem os acontecimentos que irei agora relatar.

Acordei na manha do quarto dia com gritos. Sentei-me na cama, ainda tonto e comecei a prestar atenção. No minuto que o fiz, ouvi um forte estalo de um tapa e ergui-me da cama, correndo lá para baixo.

A cena que vi foi horrenda.

Minha amiga, estirada no chão e seu malfeitor a olhando. Depois, então, olhou para mim.

- Ah, então será este nosso convidado especial? - perguntou o homem, me fazendo olha-lo - Seja bem vindo, rapaz! - a raiva começou a latejar dentro de mim. Margareth começou a, lentamente, se levantar, ainda com a mão no rosto - Sinto por minha esposa não estar em condições de lhe dar os devidos cumprimentos da manhã. Aparentemente, ela também não estava em condições de me avisar que viria e, ao menos, esperar que voltasse para recebê-lo - sorri-lhe da melhor forma que pude, tentando me portar naturalmente a frente daquela fatalidade e não mata-lo ali, naquela hora. Margareth, então, foi fazer o café da manhã, saindo apressada - Daria-me o prazer de ajudar-me a cortar lenha? O senhor não precisa fazer nada, apenas sua companhia me fará bem. Aquela mulher não serve pra conversas longas, quaisquer que fossem essas - cerrei meus punhos, mas consegui parecer lisonjeado.

- Adoraria, senhor - disse e o acompanhei para fora da cada. Fazia um dia nublado e cinza, parecendo mais escuro a cada passo meu.

O homem poderia parecer meio velho para conseguir cortar lenha, porém quando começou parecia mais ativo do que qualquer um.

Não o ajudei e sim conversei com ele, da melhor maneira, escondendo minha raiva o máximo possível.

Quando ficamos meia hora ali, minha prima apareceu na janela. Sua fisionomia estava intacta, sendo o vergão vermelho a única coisa que a diferenciava, estando ele cortando uma das maçãs do rosto.

O marido foi ter com ela e os dois começaram a discutir rapidamente.

Não sei o que me passou pela cabeça para olhar para o reluzente machado de cabo negro no chão e o pegar em mãos, bem na hora que os gritos aumentaram e outro tapa ser desferido.

A raiva é uma coisa confusa e cega, que nos faz fazer coisas surpreendentes e, por alguma razão, eu não tive duvidas. Cerrando meus punhos fortemente sobre a arma, andei lentamente ao meu alvo e então parei, cortando-lhe a cabeça.

O sangue espirrou em mim, minha amiga, nossas roupas e na janela. O vestido dela parecia estar apenas manchado de branco e ter sido inteiramente vermelho uma vez, quando o corpo de seu marido caiu no chão. Seus cabelos, entretanto, não pareciam ter sofrido nenhuma mudança, mesmo estando eles, e seu rosto, molhados também.

Ela ergueu as mãos pálidas ao rosto e o limpou solenemente, sem fazer som, jogando o sangue no chão. Seus olhos não mais estavam arregalados.

Olhei para o morto com nojo, suas mãos vermelhas, olhando para as minhas próprias, também vermelhas. Iguais, ambas nossas mãos.

- O que faremos com o corpo? - Margareth me tirou de meu transe e eu a olhei. Juntos, trocamos olhares com a floresta atrás da árvore e ela pulou graciosamente a janela, mostrando-me onde ficavam as pás.

Nós dois, então, arrastamos o corpo para longe.

Naquele lugar isolado, ninguém daria pela falta dele, nem mesmo sua família, que o odiava.

Ao fazer todo o trabalho, resolvemos o que faríamos com nossas vidas. Minha prima estava sobrenaturalmente calma com a situação toda e eu, estranhamente, também, sendo a calma dela que refletia tudo em mim.

- Meu marido não confiava em bancos - disse, quando lhe disse que precisaríamos de dinheiro e que não sabia se só o meu trabalho daria para nós dois - todo o dinheiro que pertence à nós está aqui. Você não precisará trabalhar nunca mais.

Margareth e eu, então, resolvemos, definitivamente, fugir, colocando o dinheiro todo em grandes malas volumosas que achamos por ali.

Mandei uma carta para meus pais dizendo-lhes que viajaria muito tempo e que mandaria o endereço de minha estadia. Minha prima, por sua vez, disse a família dela que se mudaria de pronto para um lugar mais longe, onde estaria completamente isolada. Isso, por mais absurdo que pareça, não era algo surpreendente vindo do casamento de Margareth, percebi. Todos sabiam o que ele era, menos eu, até aquele dia. Ninguém nunca fez nada.

Juntos, mudamo-nos e vivemos por dois anos em uma casa. Nos demos por casados a vizinhança e pensávamos assim estar livres até...

Até minha então esposa cair de cama.

Quão sofrida foi sua doença. Os criados e eu trabalhávamos, em vão, para acalmar a febre e os delirios, mas mesmo assim nada dava resultados. Médico nenhum sabia o que estava acontecendo com seu pobre corpo, sendo que não haviam vestigios de nenhuma doença comum da época.

Um dia, enquanto lia ao pé de sua cama, ela pegou minha mão e a observou, de olhos arregalados.

- Marga...

- Suas mãos - falou apenas e então desmaiou.

Uma semana se passou depois deste evento e ela apenas acordava em pânico, dizendo que tivera pesadelos, vira seu marido olhando para si de todos os ângulos e que não importava para onde olhasse ela encontrava seus olhos. Todos os dias, por sete dias, ela teve o mesmo sonho.

No oitavo, ela acordou gritando, mas não o fez por muito tempo. Em troca, Margareth começou a encarar apenas o mesmo canto da parede, por vários minutos. Eu a chamava, eu tocava seu rosto, mãos, mas nada a trazia para mim.

- Ele... Está ali - ela agarrou meu ombro -Edgard... Edgard ele vai me matar.

- Meg, o que, quem vai te matar? - perguntei.

- Ele... - respondeu minha mulher - Meu marido... Meu marido irá me matar.

- Não vai, não vai - eu me movi para tentar abraça-la, mas algo me empurrou. Eu a olhei tão surpreso quanto ela, quando seus olhos se arregalaram. Sua garganta havia fechado, fazendo apenas sons, como se estivesse sendo sufocada. Quando pisquei, vi mãos vermelhas se formando em sua pele branca, como se grande pressão estivesse sendo feita no lugar.

Não havia mais ninguém ali.

Eu me precipitei para cima de seu corpo, mas nada consegui fazer, pois era repelido todas as vezes até que minha esposa caiu morta, na cama.

Em desespero, comecei a chorar, ouvindo, no fundo de minha cabeça, uma risada masculina, sabendo de quem era. Era o espirito do marido de Margareth que nunca nos havia deixado, sempre espreitando, todos esses meses, apenas esperando nossa felicidade atingir o ápice e tirar de nós tudo pelo que trabalhamos... Por cima dessa risada, apenas o grito da criada passou em altura e, correndo lá para baixo, sabia que esta estava chamando a policia. Não importava mais. As mãos no pescoço de minha bem amada eram iguais as minhas, eram como as minhas e talvez fossem as minhas. Essas marcas não sumiam, não sumiram quando a policia me prendeu e nem quando o corpo dela foi levado.

Não sumiram como a risada também não sumiu, ecoando em minha cabeça mais e mais alta agora que eu mesmo caminho para minha morte.


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Notas finais do capítulo

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