A Quase Raposa e o Cão de Pedra escrita por Koyama Akira, Chisana Rumiko


Capítulo 1
Prólogo - Frio e Sombras


Notas iniciais do capítulo

Nota para Kitsune: E é assim que começamos mais uma história, n é Kistune-chan?

Nota para futuros leitores: Aproveitem o prólogo, mais está por vir :3 Para os que não manjam de japonês, tem algumas traduções nas notas finais O/



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≺ Iwako

Era manhã de outono. Bem, pelo menos era o que deveria parecer. No entanto, uma nuvem preta revestia o céu sobre nossas cabeças, e o frio, querendo ou não, nos atravessava como uma faca. É difícil de admitir, mas naquele dia nós estávamos com medo, com mais medo do que qualquer mortal um dia já sentiu.

Aquelas criaturas, os youkais, estavam se rastejando pelos muros do templo e investindo contra nós. Em sua grande maioria, eles eram sombras grandes e aterradoras. Eu e Sora, como guardiões do templo, nos levantamos dos nossos tronos de pedra para exercer nossa função naquele lugar... Protegê-lo. Mas, certamente, essa não era uma tarefa fácil de se fazer quando o Kami-sama não estava.

― Iwa-kun... ― Ela me fitou com carinho. ― Eu sei que está com medo, estou sentindo sua energia em mim... Não se esqueça, nós dividimos a mesma alma, se você sente medo, enfraquece a nós dois.

Sora era grande, tão grande quanto eu, talvez dois metros e meio de altura. Seu corpo era completamente coberto de pedra azul-acinzentada e seus olhos eram amarelos bem vivos. Sua aparência era de um leão com chifres, uma cauda longa finalizava suas costas largas e uma esfera pendia nelas assim como nas minhas. Nós éramos muito parecidos, exceto pelo fato de que eu parecia mais um cachorro. Na verdade, eu sou metade leão e metade cachorro, sendo essa a única diferença entre nós.

Por pouco tempo, não tive reação ao ver aqueles monstros de olhos vermelho-sangue se aproximando, mas talvez a força de Sora tenha invadido meu hara, meu centro de energia, e no mesmo instante a sede de sangue tomou o lugar do medo crescente.

― É assim que eu gosto, Iwa-kun ― ela disse sorrindo.

Frente ao pátio, antes das escadas, um dos youkais tinha uma forma quase que etérea qual não me permitia saber se eu podia tocá-lo ou não. Apenas posso dizer que era negro como o céu. Ele saltou em mim e tentou de todas as formas rasgar a minha couraça de pedra, então joguei-o no chão e esmaguei sua cabeça com a esfera de pedra que carregava nas costas e logo ele se desfez em fumaça e poeira.

Logo mais na frente, no pátio com árvores, Sora destruía dois outros youkais com a mesma facilidade que eu. Parecia que estávamos levando a melhor. No entanto, quando olhei novamente para o muro que envolvia o templo, mais e mais demônios apareciam um atrás do outro em uma velocidade assombrosa. O choque me distraiu e fez com que dois daqueles malditos saltassem sobre o meu peito. Não eram grandes, mas eram rápidos e seus golpes eram como espetadas feitas por lanças. Sora deve ter sentido o ataque, já que nossas almas eram conectadas, o que a fez enfraquecer um pouco. Com isso, um daqueles demônios acertou o peito dela e Sora recuou, tombando no chão logo em seguida.

― Sora! ― eu gritei.

Ela levantou rápido, não parecia ter sido nada de mais, porém um pedaço de sua armadura quebrou, fazendo com que o sangue escorresse por ali. Aquilo talvez fosse o incentivo que eu estava esperando. De amarelo, meus olhos mudaram para vermelho. Talvez fosse a raiva, não sei, mas sei que os dela também ficaram assim.

Aqueles desgraçados iam pagar.

Foram quase duas horas de batalha sem parar. Rasgávamos um após o outro, era quase uma brincadeira, e talvez, por estarmos tão confiantes em nós mesmos, subestimamos demais os demônios. Não levamos em conta que a ausência do Daisuke-Kamisama faria com que nossos ataques a longa distância fossem limitados, e esse foi um dos nossos maiores descuidos.

Eu e Sora nos entreolhamos por um instante, mas foi o tempo suficiente para que um daqueles youkais me agarrasse pelo pescoço e me jogasse no chão. Um aglomerado de outros youkais começou a subir em meu peito e eu, dificilmente, conseguia enxergar o ambiente ao meu redor. Naquele momento, estava cercado por sombras e sem possibilidade nenhuma de me levantar.

Até que Sora parou.

Seus olhos estavam cravados nos meus e progressivamente eu sentia uma dor percorrer a minha coluna... Não... Não, não, não... No mesmo instante, o sangue escuro começou a escorrer da boca de Sora. À medida que os demônios saiam de cima de mim para invadir o templo que não estava selado...

Não mais, porque uma lança negra havia atravessado o corpo da guardiã.

Sora tombou de joelhos ao meu lado e a armadura de pedra se desfez em pedaços, dando espaço para sua forma humana: uma garota de cabelo branco e olhos que aos poucos deixavam de ser amarelos. Tomei-a em meus braços e inevitavelmente as lágrimas começaram a escapar dos meus olhos e cair em sua pele nua. Eu ainda estava na minha forma original e intimidadora, mas ela não se importou; pousou a delicada mão sobre o meu rosto e me olhou firme, como nunca antes a vi fazer. Nossa conexão estava se perdendo, não parecia mais que partilhávamos a mesma alma.

― Fuja, Iwa... Ko... ― ela tossiu um pouco de sangue, sua voz era trêmula e fraca. ― Fuja enquanto ainda é tempo.

Eu neguei com a cabeça tentando conter as lágrimas. Logo ela percebeu a cor vermelha assumindo meus olhos novamente.

― Não... ― ela disse calma, como se tivesse todo o tempo do mundo. ― Deixe a vingança para outro dia, Iwa-kun. Sua honra tem que ser resgatada com sabedoria, não com estupidez.

Ela sorriu uma última vez, suas feições humanas eram suaves e femininas, muito diferentes da sua forma original. Seus olhos mudaram de amarelo para um cinza claro e gélido. Já não havia mais calor em seu corpo e nem uma ligação entre nós, apenas a dor que ainda insistia em permanecer em meu peito: a dor da lança, como se ela estivesse presa em mim. O templo atrás de nós estava sendo destruído pelas sombras e não havia nada que eu pudesse fazer, não sem Sora ao meu lado.

Carreguei aquele corpo frágil e pequeno e conjurei um encantamento para que seu corpo fosse selado em pedra como uma grande rocha espiritual naquele jardim, antes das escadarias ao lado de um caminho de pedras sob a sombra de uma cerejeira, para que ninguém, nunca mais, pudesse colocar as mãos nela. Segui para os portões da frente para sair, mas não sem antes dar uma última olhada no lugar o qual protegi por breves quinhentos anos, deixando pra trás tudo o que eu conhecia.

― Vai fugir, Koma-inu? ― ouvi umas das vozes demoníacas falando atrás de mim. ― Ficou triste pelo que fizemos com sua amiguinha?

Alguns deles começaram a rir e, antes que eu finalmente pudesse atravessar o aro, um rugido saltou para fora dos meus pulmões; um rugido feral e animalesco que nunca soube que era capaz de fazer. Alguns deles pararam de rir na mesma hora e se esconderam dentro das ruínas do templo. O restante me encarou com certo receio; outros ainda com aparente ódio, mas nenhum deles foi capaz de me afrontar.

Atravessei o portal do templo e meu corpo de pedra se desfez, dando espaço à minha forma humana, incrivelmente mais fraca.

Caminhei por uma estrada de terra cercada por árvores o suficiente para que não fosse mais capaz distinguir a diferença entre estar pisando no chão e não estar. A dor no meu peito ficava cada vez mais forte e aos poucos minha visão escurecia, mas antes que o breu tomasse conta, vi uma figura feminina parada a alguns metros de mim.

― Sora...? ― minha voz saiu como um sussurro.

Apaguei.


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Notas finais do capítulo

Nota para Kitsune: Não tem mais graça já que vc sabe quem é a moça --'

Nota para os futuros leitores: "Youkai" = ser sobrenatural, "Koma-Inu" = Figura mitológica protetora de templos que é metade cachorro, metade leão, "Hara" = centro (os japoneses acreditam que a energia vital se concentra nele), "Kami" = Divindade, "-sama" = sufixo que representa alto grau de respeito.

É isso, espero que tenham gostado, sintam-se a vontade para comentar suas críticas, sejam elas positivas ou negativas, até a próxima, obrigado por ter chegado até aqui :3



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