Esta, que nunca seria uma história de amor escrita por Yuki Max


Capítulo 1
Único - Esta, que nunca seria uma história de amor


Notas iniciais do capítulo

Olá,

tudo bem com vocês?
Esta one-shot é um presente de aniversário para a minha querida mamis, Black-rose. Eu poderia dizer centenas de coisas aqui sobre ela, mas ela, verdadeiramente, dispensa apresentações. Acredito que todo amante de Shizaya do fandom brasileiro tem uma história dela como preciosa em seu coração. (eu tenho várias, =D )
Parabéns, mamis, do fundo do meu coração! Eu nunca poderei de agradecer o suficiente por todo o apoio que me dá e por ser quem, ao escrever histórias magníficas, fez nascer em mim a vontade de publicar minhas próprias histórias. Eu sei que one-shots são muito mais a sua praia do que a minha, mas, ainda assim, não havia como não arriscar escrever algo no seu aniversário! Espero que goste! *.*
Parabéns, muitas, muitas, muitas felicidades!

E eu espero, também, que todo mundo que leia goste da história! Muito obrigada por lerem!

Beijo, beijo, =*
Yuki



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Esta, que nunca seria uma história de amor



Esta nunca seria uma história de amor. Nunca. E este era um acordo mútuo, tão incontroverso que sequer precisou da troca de palavras para declará-lo ou selá-lo. Ambos os protagonistas, aqueles que nunca se permitiriam chamarem-se amantes, zelariam com assíduo pela manutenção da impossibilidade de tal indesejado rótulo, afastando de imediato qualquer indício de que aquela história poderia transformar-se, tragicamente, em uma história de amor.

Não que eles precisassem de todo esforçar-se. Ambos tinham ao seu lado, afinal, duas armas poderosíssimas para afastarem qualquer batida mais forte de seus corações: os anos de prática e a distorcida personalidade. Era natural que, portanto, fosse fácil mudar de uma hora para outra a essências dos gemidos que entregavam um ao outro. Assim como era fácil mudar a intensidade do aperto ou o lado da lâmina. O ódio que sentiam era, no fim das contas, barulhento o suficiente para ocultar qualquer pulsar que insistisse em preencher seus peitos.

E este era outro acordo silencioso entre eles. Literalmente silencioso.

Os gemidos. Os sussurros. Os pedidos. Todo e qualquer contato trocado naquela tênue e perigosa linha sobre a qual se equilibravam toda vez que se encontravam longe dos olhos atentos dos moradores de Ikebukuro era inacreditavelmente silencioso. Silencioso como uma confissão envergonhada num confessionário. A única exceção era o som produzido no encontro de seus corpos. Esse sim absurdamente barulhento. Alto o bastante para que eles pudessem ignorar os traidores sons que produziam seus lábios e suas respirações e, principalmente, alto o suficiente para que eles pudessem esforçar-se a convencer as próprias consciências de que aquela era uma luta, de que os choques violentos entre seus corpos tinham como objetivo ferir o outro. O que, ao fim de todas as noites que compunham até ali aquela história que não era de amor, não deixava de ser verdade.

Eles nunca negariam que, de alguma forma, o objetivo de tudo ali era ferir. Ao outro, pela rebeldia em estar ali, entregue ao pior inimigo e a si mesmo, como punição pelo ato rebelde de receber o outro. Pela rebeldia de desejar receber. Mas nunca admitiriam, nem um nem outro, que a punição escolhida era, ainda que os roucos gemidos baixos e as respirações descompassadas não denunciassem isso, a mais dolorosa possível. Mais dolorosa do que qualquer corte ou qualquer soco. Cortes e socos, afinal, por mais intensos que sejam – e eram sempre os mais intensos possíveis –, não são capazes de ferir para além da pele. Não são capazes, portanto, de baixarem os sempre atrevidos olhos castanho-avermelhados, nem fazerem oscilar os músculos dos ridiculamente fortes braços dourados pelo sol. Estas reações eram o doloroso privilégio daquele contato que não era amor mas gemia como se fosse. A reação que somente dois poderosos homens que tem seu orgulho quebrado são capazes de esboçar.

E eles, por mais bem preparados que estivessem para qualquer situação, não sabiam que iriam-se quebrar de forma tão vergonhosamente desastrada.

Orihara Izaya jurava a si mesmo que seria divertido. Que subjugar na cama o homem mais forte de Ikebukuro seria um dos pontos altos de seu jogo tão precioso. Que os gemidos arrancados à força dos pulmões do homem que considerava um monstro seria a prova inquestionável que de ele era um herói. Jurava que quando o fizesse, faria alto, barulhento, entrecortado por risos, por ameaças, por gritos, por qualquer som que deixasse clara a sua conquista. E, acima de tudo, jurava que seria apenas uma vez.

Heiwajima Shizuo não fizera jura alguma. Não fizera plano algum. Não queria ouvir gemido algum ou se tornar herói algum. Não queria público e não queria louros. E não queria – tornou-se consciente conforme o fazia – fazê-lo apenas uma vez.

Por fim, não houve riso, nem grito, nem conquista, nem glória. Apenas gemidos baixos, suor, violência e gozo.

Ninguém além dos dois soube. O que deveria ter se espalhado pelos ouvidos curiosos de Ikebukuro e sujeitado o homem mais forte dentre os que já haviam pisado no distrito, permaneceu um desconfortável segredo que humilhava ambos os participantes daquele encontro que era tudo, menos amoroso. Segredo que se cravava cada vez mais profundo, como repetidos cortes feitos sobre feridas ainda não cicatrizadas, a cada reencontro dos corpos que se uniam com brutalidade.

E cada novo encontro, a cada vez que cravavam-se com mais força um no outro, o outro lado de suas relações mostravam-se com ainda mais intensidade. As perseguições, os gritos, os cortes, os socos, as ameaças: todos intensos o suficiente para mascararem o que aconteceria quando o sol se pusesse e permitisse a eles escuridão o suficiente para fazerem-se cegos por mais uma noite. Talvez fosse como queima de arquivo. Ou compensação pelos danos sofridos. Ou vingança. As ameaças de morte que a cada dia aproximavam-se mais do momento no qual renunciariam a alcunha de ameaça.

Na primeira vez em que Shizuo conseguiu fazer Izaya inconsciente após acertá-lo com um golpe forte o suficiente para mata-lo caso o pegasse desprevenido, conseguiu também com que se beijassem pela primeira vez. Izaya teria rido ao ser acordado pelo pressionar dos lábios arfantes de Shizuo. Teria rido se ainda se iludisse quanto à diversão que aquela história poderia trazer. Não fora divertido, entretanto. Nem quando Shizuo segurou as laterais de seu rosto. Nem quando mordeu seu lábio interior. Nem quando selou os lábios juntos, quase delicadamente, pela última vez antes intensificar o beijo. Nem quando deixou a própria língua enroscar-se à de Shizuo, roçando-as juntas com mais intensidade do que normalmente dedicaria a um beijo. Assim como também não foi divertido perceber que naquela noite trocaram tantos dos intensos beijos com gosto de sangue que sequer soube dizer se, no fim, uniram-se ou não naquela briga violenta que se recusavam a chamar de sexo.

Na primeira vez que Izaya conseguiu um corte perigosamente perto da jugular de Shizuo, profundo o suficiente para precisar de pontos, eles deixaram-se ficar juntos após os gemidos baixos, o suor, a violência e o gozo. Os cabelos negros a confundirem-se com o negro da linha dos pontos enquanto Izaya apoiava-se relaxadamente no ombro do homem que tentara matar há pouco tempo. As pernas entrelaçadas juntas, enroscadas umas nas outras, assim como os dedos das mãos pousadas sob o peito firme do homem mais forte de Ikebukuro. Naquela noite, após os lábios encontrarem-se desesperados, desviaram-se quase carinhosamente, um par para o machucado recém-tratado, outro para o topo dos cabelos negros. Apenas um roçar suave, não um beijo, e que sequer foi percebido pelo outro, mas que, ambos sabiam, teria sido relevado caso o fosse.

Assim como foram relevados os beijos nas bochechas arroxeadas por um soco. Ou os carinhos de pontas de dedos nas cicatrizes de cortes. Ou um cafuné discreto a embalar o cochilo do outro. Ou até mesmo o sorriso sacana compartilhado quando algum botão de alguma roupa chegava mais longe do que o esperado. E ambos sabiam, com cada célula de seus corpos e cada fio de suas forças, como, ridiculamente, era difícil relevar um sorriso sacana, daqueles que os faziam cúmplices.

E, então, acima de todas as suas juras ou desejos anteriores, impusera-se apenas uma regra: quanto mais silenciosa a noite anterior, tanto mais barulhento o dia seguinte.

Esta e, claro, a de não transformar aqueles encontros numa odiosa história de amor. Esta e, furtivamente, a de relevarem qualquer sinal de que, com seus sorrisos sacanas e gemidos a tornarem-se cada vez mais sonoros, não estavam cumprindo a segunda regra.

E eles empenharam-se, da maneira como somente dois fortes, decididos e orgulhosos homens podem fazer, a respeitar cada um de suas regras, nem que pra isso tivessem que sacrificar tudo, até mesmo o sentido por trás das leis autodecretadas. Nem que para isso tivessem que, consequentemente, traírem-se a si mesmos.

O informante que fechava os olhos a tão sérias evidências apenas porque lábios pousavam sobre os seus.

O homem mais forte que não tinha forças para escapar de um abraço.

Mas, no fim, talvez não houvesse o que ser feito - eles tentavam se convencer. Beijos, afinal, exigem olhos fechados e abraços têm como princípio o manter-se quieto, o deixar-se cercar. E, talvez - eles também tentavam convencer-se - também não tivessem escolha quando aos olhos fechados pelos beijos juntavam-se mãos que acarinhavam ora suave ora rudemente os cabelos ou que rodeavam cinturas, ou quanto ao sentir-se confortável ao ver-se envolvido por braços quentes e, inevitavelmente, aproximar-se ainda mais do corpo colado ao seu.

Nada disso, inegavelmente, significava que aquela era uma história de amor. Não havia espaço para histórias de amor no ódio entre Heiwajima Shizuo e Orihara Izaya. E, exatamente por isso, após os beijos e abraços viriam os socos e os cortes. Todos eles mais intensos a cada novo encontro.

Até que um lado cedesse.

E ambos os homens que não deixavam-se chamar amantes sabiam que algum lado cederia.

Algum dia um dos desmaios que faziam nascer beijos estenderia-se por tempo o suficiente para comprovar que o informante que se fazia de cego nunca mais abriria os olhos.

Algum dia os pontos negros como os cabelos que os acarinhavam quando deitavam-se juntos não seriam o suficiente para conter o sangue do corte profundo demais, esgotando inexoravelmente a força do homem mais forte.

Porque, eles sabiam, finais felizes são apenas para histórias de amor e aquela, definitivamente, não era uma história de amor. Até o fim, entretanto, eles continuariam unindo-se nas contradições de sua própria história a cada vez que se encontrassem.






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Notas finais do capítulo

Olá de novo, *.*

muito obrigada por ler até aqui! Eu espero, do fundo do meu coraçãozinho, que tenham gostado!
E, mamis, espero que tenha curtido seu presente de aniversário! Queria poder fazer muito mais... Mas ficam aqui milhões de abraços, beijos e gigantescos votos de felicidade da sua filhota! ^^

Beijo, beijo, =*
Yuki



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