O Caminho da Expressão escrita por GMarques


Capítulo 2
A História por Trás da História.




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A rua é sempre movimentada. Pessoas que andam para lá e para cá com malas na mão, terno ou roupa social. Alguns com roupas mais diárias, mas todos indo para um único lugar: ao trabalho. Acho que essa é a única coisa que o governo não pôs uma lei contra. Ele proíbe muitas coisas em geral, mas acho que sem trabalho nada funciona, mesmo que o trabalho seja até mesmo para crianças, adolescentes ou idosos que mal conseguem se sustentar com o peso de seu próprio corpo.

Eu preciso alimentar minha irmã, ela é o único motivo para que eu não siga os caminhos de meu pai e minha de mãe entrando para Os Contras. Eu trabalho num lugar onde a função principal é perseguir pessoas. Para ficar melhor explicado: eu trabalho para o governo. Mesmo eu não querendo, é preciso. Minha irmã só tem 12 anos, e é muito nova e frágil para trabalhar e sair no meio de multidões na rua. Para ser sincero, ela não é frágil fisicamente, e sim psicologicamente. Basta que ela veja algum policial agredir algum contrário e ela se desespera, afinal ela não aguenta ver sangue...

~~~

Todo dia, no qual faço o mesmo caminho para o trabalho, eu penso. Penso que sou eu quem está localizando estes para a morte, eu quem ajuda a manter o sistema funcionando à base da violência. Eu...

Contrários, sempre é possível ver um na rua, gritando por liberdade, por paz, por uma vida melhor ou por igualdade. Insultando o governo, e fazendo de tudo para conseguir mais pessoas para o grupo, mas nunca conseguem, as pessoas têm medo, medo do que possa acontecer com elas e suas famílias. Medo, medo do que o sistema irá fazer. Eu não sei como ainda conseguem existir, já que o medo que impõem sobre as pessoas as impedem de se rebelar ou algo do tipo. Os Contras são o maior exemplo de que o ser humano, como qualquer outro animal, procura a liberdade, mesmo que não possa tê-la.

Qualquer algum contrário qualquer consegue parar no meio da rua ele arranja um caixote qualquer, sobe em cima, onde possa ser visto, e grita por liberdade. Por mais que isso seja livre, pegar um caixote subi-lo e gritar contra o governo e o governo diga que todos temos liberdade de expressão, ninguém tem tanta coragem de fazer isso quanto Os Contras. Os contrários têm uma palavra oficial, e basta de dizê-la que você está dentro do grupo, basta dizê-la e você é levado.

—Annullare! Eles não podem tirar a verdade! —O homem grita em cima do caixote, de modo que a multidão para por um instante para olhá-lo, mas como sempre, ninguém nunca se une. Embora eu não saiba bem o que a pronúncia da palavra anular possa fazer de tão mal para uma sociedade.

A palavra é dita, e os grupos de policiais correm. Mais um para a lista dos desaparecidos. Para onde o levarão? Eu não sei. Nunca contam. Mentem. Nunca acreditei em nada que o governo dizia sobre Os Contrários, e ainda não acredito.

–Basta dizer! Digam annullare e estarão conos... —O homem cai ao chão com a coronhada da arma de um Guarda da Verdade. Não está morto. Não está vivo? Está desmaiado, entre os mundos enquanto o colocam dentro do camburão da GDV, ou também conhecida como a Guarda da Verdade, nomes sem sentido...

Todos param e em meio ao silêncio um dos Guardas sobe no caixote, o mesmo que o contrário estava e manda todos saírem do local. Ordens foram dadas, obedeçam-na.

—Saiam todos daqui!

E em um simples contar de segundos todos começam a seguir em direções opostas às que fariam normalmente, procurando caminhos alternativos. Quando a Guarda da Verdade conseguir sair dali sem que ninguém sequer veja para onde vão a rua voltará ao seu ritmo normal.

Carros para os ricos e muitas pessoas. As praças quase sempre estão cheias, não de pessoas aproveitando-as felizes com sua família, mas sim transitando de um lado para o outro, usando-a como um atalho. Aqui nada é aproveitado simplesmente é usado como algo comum, sem valor. Sempre que passo por uma praça não deixo de notar seus detalhes e me pergunto se algum dia alguém já passou por aqui e com um sentimento contrário ao meu, imaginou-a como sendo uma simples viela de uma sociedade arruinada.

Sempre andando, sempre numa única direção. Se perder significa que você não é do local, e claramente, as pessoas evitam conversar com quem não conhecem, não por medo de serem assaltadas ou mortas, o sistema já faz isso, mas por desconfiança de estarem sendo vigiadas. Também não é muito comum vermos turistas por aqui, aliás não há nada no resto do mundo que não seja radiação e escombros de uma sociedade egoísta que só quis mais e mais.

Se você quiser informação por aqui terá que se virar. Não pergunte. Procure. Confie desconfiando. Aqui neste mundo "moderno" não podemos confiar nem em nós mesmos. Simplesmente seguimos nosso rumo, nossa vida. Numa única direção, sem parar. Sem nem mesmo, perguntar. Com dúvidas e com respostas que só você pode saber, pois se alguém mais a descobre, o sistema te descobre.

~~~

Tudo que temos aqui que poderíamos tentar chamar de escola é um centro educativo que claro, favorece ao governo. Os horários se variam por lá, desde três horas por dia a dolorosas sete horas diárias de ensino bruto do sistema e suas leis.

Eu não preciso ficar num tormento grande de sete horas, fico lá por apenas três. Das 5 da tarde às 8 da noite, até porque eu trabalho e esse já é um outro sofrimento que o governo praticamente me obriga a passar de certo modo.

Minha irmã é obrigada a ficar dentro daquele centro de torturas e baboseiras. Ela aprende de tudo lá que não fará a mínima diferença pois não tem como crescer, se você nasce pobre será pobre, se nasce rico será rico e sem mais. O esforço que ela faz para aguentar os professores com a ponta da língua pronta para um discurso enorme de três horas sobre como o sistema é beneficiário deve ser imenso. Ela sai no mesmo horário que eu, o que a faz entrar uma hora da tarde no centro.

Na escola eu tenho somente dois únicos amigos: Lucas e Helena, os únicos em quem eu confio sem precisar desconfiar. Com eles guardo todos os meus segredos, e eles guardam os deles comigo. De vez em quando, Helena me acompanha até o trabalho, já que o seu é próximo. Sempre que preciso de ajuda, os dois sempre estão dispostos a fazer todo o possível para me ajudar, e eu também sempre estarei disposto a ajudá-los, afinal somos amigos, pelo menos até o governo não proibir a amizade, também.


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