Hipnotizados escrita por Wendy


Capítulo 9
Versos perturbadores


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, pessoas!



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A casa estava silenciosa quando Helena recebeu uma estranha carta. Surpreendeu-se ao perceber que as palavras haviam sido escritas por sua avó, a mais sábia entre as bruxas, e decidiu ler a mensagem imediatamente. Saudade e dúvidas percorreram entre suas emoções; Não era do costume de sua família enviar cartas e por isso imaginou que seria algo de grande importância.

Precisou ler mais uma vez para tentar entender o que aquelas poucas frases significavam, mas ainda assim, se tratava de um verdadeiro enigma:

“A Lua minguante sobre o verde adormecerá

Somente as mais frágeis mãos terão o dom de a marca libertar

As chamas ocultam a verdade

A morte caminha ao lado sem ao menos hesitar

Cuidado! Ela, convicta, não tardará.”

Logo, a bruxa percebeu que se tratava de uma profecia de sua avó e continuou a ler diversas vezes seguidas os versos que pareciam alertá-la.

Sentiu calafrios que a perturbaram. Seria possível que algo tão ruim fosse acontecer agora? Justamente quando tudo parecia correr tão bem.

Peter mudou de escola diversas vezes, não parecia adaptar-se a lugar algum. Somente agora, no último ano do Ensino Médio, parecia um tanto mais focado em sua vida escolar, após diversas mudanças de casa.

Oh, seu filho a enchia de orgulho! Mesmo com pequenos deslizes, o garoto não deixava de apresentar boas notas em seu boletim. Fred seria o pai mais feliz do mundo inteiro! Ah, Fred... Como desejava que estivesse ao seu lado, embora soubesse que onde quer que a pobre alma houvesse ido parar, estaria cuidando de seu filho.

Depois de longos minutos pensando, Helena decidiu que não deveria perder mais tempo. Guardou a carta no bolso da comprida saia que usava e saiu de casa. Precisava falar com Isaac.

☼ ☼ ☼

Rabiscos apareciam cada vez mais no caderno de álgebra de Peter Chevalier. Do fundo da sala era mais fácil desviar a atenção de um professor que não parava de explicar informações que, para o aluno, não tinham interesse algum. Suas notas eram exemplares, contudo, só ousava estudar antes das tão temidas provas, que não passavam de uma tremenda chatice e perda de tempo, segundo ele mesmo.

O sinal tocou. O jovem apressou-se em guardar seus materiais e pegar sua mochila, caminhando apressadamente para o pátio: Hora do intervalo. Como de costume, sentou-se em um banco, onde poderia observar a lanchonete, que logo ficaria lotada de pessoas à procura de um bom petisco. Uma dessas pessoas lhe interessava, em especial.

O headphone cor de rosa que Lara Gonzáles usava, denunciou que ela estava no meio da multidão e logo, Peter conseguiu vê-la adequadamente. O mesmo longo e liso cabelo castanho escuro, o mesmo olhar, o mesmo sorriso, a mesma simpatia e, é claro, o mesmo headphone cor de rosa. Tudo exatamente igual, contudo, o garoto parecia nunca cansar-se de observar a garota, que era apenas um pouco mais nova do que ele. Até mesmo o velho e comum uniforme escolar ficava impecavelmente bem em Lara. Ao contrário de si, a garota era muito querida por todos na escola, inclusive, sua personalidade simpática havia o conquistado desde a primeira vez que trocaram algumas palavras. Peter fazia questão de não se esquecer desse dia:

Lara havia acabado de iniciar sua jornada no Ensino Médio. Como de costume, os alunos mais antigos pareciam menosprezar os novatos, embora Peter não desse a mínima para essa tradição.

Um grupo de alunos mais velhos cercaram a pobre menina, apanhando de suas mãos um livro escolar.

–Ei! –Protestou ela, um tanto assustada. –Me devolvam!

–E por que deveríamos fazer isso? –Disse um deles. –É só um livro velho e inútil.

Lara pensou que o livro parecia novo, entretanto, isso não vinha ao caso. Sabia que havia uma espécie de hierarquia na escola, então mesmo se precisasse enfrentá-los, não teria coragem para isso.

–Por favor, - Continuou ela. –Eu preciso estudar.

–Vocês ouviram isso? –Perguntou outro, enquanto todos do grupo riam. –A nossa aluna brilhante precisa estudar!

Peter observou a cena enquanto caminhava no corredor, em direção à saída. Pensou que aquelas pessoas aparentemente não tinham nada melhor para fazer. Aproximou-se do grupo e pegou o livro enquanto todos estavam distraídos demais gargalhando, exceto Lara, que ficou muito feliz recebê-lo de volta.

“Vocês são ridículos”, Pensou ele.

–Por que não vai cuidar da sua própria vida? –Perguntou uma menina do grupo, que agora estava silencioso.

Peter virou-se para os demais alunos, encarando-os.

–Pergunto o mesmo.

Sem mais palavras, todos decidiram ir embora. Conheciam a fama do jovem muito bem: Não se importava em contradizer regras e já fora expulso de outras escolas por brigas em que o resultado não fora nada precário. Ainda mais quando se encontravam frente a frente com um cara alto, dono de um olhar tão concentrado, amedrontador e indecifrável quanto o de Peter. No fundo, ele apenas queria consagrar a expressão de medo e confusão no rosto daqueles que se achavam no direito de intimidar outras pessoas. Aquilo, de certa maneira, tirava seu tédio escolar.

–Obrigada. –Lara sorria após os outros partirem, assustados. –Você parece ser um cara legal.

Tanto faz”. Peter não achou grande coisa, ainda mais que não estivesse acostumado a receber elogios. Geralmente, era ao contrário, era como se usasse algum tipo de repelente que, cá entre nós, funcionava incrivelmente bem em grande parte do tempo.

Nos próximos dias, a garota o cumprimentava todas as manhãs. No começo, Peter achou estranho, mas, com o tempo, se acostumou com a ideia. Sentia-se até uma pessoa de verdade – comum, como todas as outras. - Por isolar-sedo resto da escola, não sentia que pudesse encaixar-se entre essas pessoas, entretanto, isso mudava quando ela dirigia poucas, mas significantes, palavras a ele.

–Bom dia, Peter! –As palavras de Lara despertaram o garoto, que parecia ter entrado em estado de transe com suas lembranças.

–Bom... –Antes que pudesse responder completamente, interrompeu-se. Lara já estava um pouco longe, caminhando e rindo com várias pessoas ao seu redor. A garota era tão popular que o intrigava; E Peter não era o único que pensava dessa maneira.

As meninas da escola (ou pelo menos, grande parte delas) poderiam facilmente ser divididas em dois grupos: As que odiavam Lara e as que a adoravam, procurando uma maneira de sempre estar ao seu lado, embora várias fizessem isso por apenas um motivo: Um interesse totalmente ligado com o motivo pelo qual a outra metade a detestava.

O motivo aproximou-se de Lara e logo, grande parte das garotas ao seu lado tratou de se exibir da melhor maneira possível. Lá estava Robert Bradley, seguido pelo tão amado time de basquete, do qual era o capitão. Um de seus braços logo contornou Lara, abraçando-a de lado, enquanto usava a outra mão para fazer gracinhas com a bola de basquete, girando-a na ponta de seu dedo indicador. Era alto, forte e tinha cabelos loiro-escuros bagunçados e olhos claros. Vivia usando o uniforme do time de basquete e às vezes incluía um casaco de couro no look, aumentando seu aspecto de Bad Boy. Impressionantemente, nenhum professor ou coordenador se importava com o fato de ele e seu time nunca usarem os uniformes normais, o que fazia Peter revirar seus olhos.

Algumas garotas diziam que Lara e Rob faziam um belo casal, o que deixava Peter com estranhas vontades de enforcá-lo com a língua dessas meninas. Como não podia, apenas gostava de idealizar diferentes maneiras de surpreendê-lo de formas não muito legais. Com um tiro na barriga, por exemplo.

O sinal já havia tocado e ele sequer se dera conta. Todos caminhavam para as salas, mas voltar para uma longa e tediosa aula não parecia ser algo muito atrativo. Ao invés disso, decidiu rabiscar mais um pouco seu desenho, que por um acaso, era Lara.

Os corredores estavam vazios enquanto Peter caminhava tranquilamente pela escola, tomando cuidado para não acabar chamando a atenção de algum professor ou diretor. Como o tédio insistia em dominá-lo, pensou em procurar algo para ler na biblioteca, entretanto, ela estava trancada. Peter sabia quem poderia ajudá-lo e não demorou pra encontrar quem estava procurando.

–Bom dia, Sr. Halkins. Como o senhor está se sentindo hoje?

–Bom dia, Peter. –Respondeu o amigável zelador. –Por favor, me chame apenas de Josh. Aliás, você não deveria estar na sala de aula?

–Bem... Deveria. –Confessou. –Mas é apenas a revisão de uma matéria que já cansei de estudar há muito tempo.

–Parece uma matéria realmente fácil para alguém do último ano escolar. –Riu ele.

Peter deu de ombros e o velho continuou:

–De qualquer maneira, não posso ficar conversando o dia todo, embora fosse uma boa proposta. Tenho trabalho a fazer!

–Entendo. Aliás, sabe me dizer por que a biblioteca está fechada?

–A bibliotecária precisou sair, então não podíamos deixar o lugar aberto sem ninguém tomando conta.

–Bem, então acho que eu morrerei de tédio entre estes mórbidos corredores... –Dramatizou. –Prepare-se para encontrar um fantasma nos próximos dias... Ou noite.

O senhor riu e o estudante continuou:

–Exceto... Se alguém de bom coração estiver disposto a me ajudar nessa missão tão importante com algo como... –Ele forçou o pensamento e logo prosseguiu, como se acabasse de encontrar uma brilhante ideia. –Uma chave, por exemplo.

–O que está querendo aprontar dessa vez, garoto?

–Ora, é só uma chave. Por favor, Sr Josh! Eu sei que posso confiar na excelentíssima pessoa que o Sr é. –Brincou.

–E quanto á mim? Não posso simplesmente sair entregando chaves aos alunos desse jeito. Se algum funcionário da escola souber disso...

–Não se preocupe, lhe entregarei antes que o período acabe. Nem mesmo as aranhas das paredes perceberão que eu entrei na biblioteca. Além disso, o senhor não pode negar um pedido tão singelo a um humilde e dedicado aluno como eu, não é mesmo?

Sr. Halkins hesitou, contudo, não conseguiria negar o pedido ao rapaz, principalmente por se tratar de algo tão genuíno. Não poderia negar a um estudante a entrada para a biblioteca de sua própria escola.

Entregou-lhe a chave, advertindo:

–Tome cuidado, garoto. Você está responsável por isso.

–Me responsabilizo por tudo. –Agora, ele parecia mais jovial. –Obrigado, Sr. Halkins. O senhor é incrível!

Josh riu enquanto Peter andava rapidamente para a biblioteca. Era inegável que o rapaz aperfeiçoava cada vez mais seus dons de manipulação e persuasão de pessoas. “Tão fácil pegar a chave de um velho como o doce de uma criança.” Pensou.

A biblioteca era um grande cômodo com mesas e cadeiras para estudos, cheia de estantes com milhares de livros repletos de qualquer assunto. Peter caminhou entre elas, folheando os que lhe chamavam a atenção, embora nunca parasse para ler. Chegando à parte de história, encontrou textos sobre diversas épocas, desde a pré-histórica até a atual. Dentre tantas opções, escolheu a que mais lhe prendia a atenção: Idade média.

Folheou boa parte deles, mas só uma lhe prendeu verdadeiramente a atenção: Um antigo e empoeirado livro de capa dura, com algumas ilustrações antigas. Boa parte explicava sobre uma crença muito aceita naquela época: Bruxas, Bruxos e como caçá-los. Manuais já haviam sido escritos ensinando como matar essas terríveis criaturas, incluindo um texto, usado geralmente por padres ou fanáticos, para atordoá-las, enquanto preparavam-se para queimá-las vivas diante todos. Aquilo parecia mais com uma espécie de feitiço, porém, não era nem um pouco usado a favor das bruxas. Se ele fizesse essa comparação naquela época, já estaria condenado à fogueira.

Peter tentou ler as frases que estavam em uma língua antiga, mas imediatamente algo estranho aconteceu. Achou que sua cabeça fosse explodir, enquanto uma mistura de chiados e sons agudos parecia dilacerar sua sanidade. Deixou o livro cair, segurando sua cabeça como se tentasse impedir que ela partisse ao meio (ou em mais pedaços). Lutava para não gritar. Quando a dor finalmente diminuiu e ele pensou que tudo estava voltando ao normal, sua visão escureceu, antes que Peter caísse desacordado no gélido chão daquela sombria biblioteca.


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Notas finais do capítulo

Eaí, o que vocês acham que vai acontecer?