Irmãs - O quanto um amor fraterno pode proteger? escrita por Jenny


Capítulo 2
Capítulo 1 - Partes do ciclo


Notas iniciais do capítulo

Bem gente, aqui não vai começar do início, início. Será apenas quando a história realmente começará, quando Theresa entrará no mundo frio e cruel dos adultos e pagará um preço bem caro. Aos poucos nos capítulos, quando Theresa completará as lacunas em branco que estão na vida dela, descobrirão com ela mais do seu passado.
Como no capítulo anterior, qualquer pergunta me mandem um MP!
Jenny



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O barulho dos meus saltos ecoando no corredor vazio era completamente irritante, o mover dos meus quadris era completamente desnecessário, e além disso a maquiagem pinicava muito.

As pessoas acham que vivo em TPM constante, porém nem por um segundo deixam de me seguir para pedir algum favor, ou apenas pelo prazer de andar comigo, a "namorada" de Scott Daniel. Reviro os olhos para meu pensamento e sorrio de lado, antes de ajeitar meus cabelos pretos e entrar na minha classe. Biologia, sinônimo de tédio.

A calça jeans skinny era um número menor que o meu, para segundo Wendy "Ficarem mais sexy e definidas", no caso as minhas pernas. Automaticamente todos pararam de ler o livro grosso de Biologia que era o mesmo desde que Monique se formara, e deram atenção para minha pessoa. Apesar de não preferir chamar muita atenção, gostava de saber que eu tinha um certo efeito sobre as pessoas, mesmo que esse não seja positivo.

Com o uniforme de futebol americano estava Scott Daniel me esperando sentado na primeira bancada da sala, com seu sorriso charmoso ou quase, e seus cabelos loiros cinzas. Tinha muitos músculos, e preferia me trair com uma vagabunda qualquer do que estudar. Com o tempo terminei não me importando com mais nada, e fingindo que eu não sabia que era chifruda.

Lancei o sorriso mais aberto e falso que consegui, e por fim me sentei ao seu lado, ouvindo o coro de suspiros de adolescentes apaixonadas e idiotas no fundo da sala, que pensavam que estavam por dentro do "romance" mais épico do colégio, só por estudarem na mesma classe de biologia que nós dois.

– Você é muito hipócrita. - Comenta ele aos sussurros, sem desviar o olhar do quadro e do professor careca e viúvo, que cuspia mais do explicava. - A TV está perdendo a sua atuação, querida.

– No dia em que você conseguir passar em álgebra, amor. Eu me rebaixo ao seu nível e dou um fora decente.

Foi assim desde o início do tal suposto "namoro".

Na realidade, fomos obrigados a fazer tal coisa, pela minha tia Evangeline e seu pai Robert, pois queriam ter um motivo para que pudessem fazer transações comerciais sem um motivo aparente. Sei que é o que eles falam, mas sinto que é outra coisa; algo mais sério.

Apenas sei de uma coisa: tia Evangeline, jamais pediria isso para Monique.

Não é favoritismo, ou talvez seja.

Isso se chama inteligência. Monique jamais aceitaria namorar alguém só para ter uma Mercedes Benz vermelha, como seu novo automóvel. Ela é muito mais que isso.

Suspirei, fingindo escutar o professor falar sobre a Relações Ecológicas entre os seres vivos.

Será que dá para minha vida fica pior?

Nunca subestime o destino, ele sabe ser muito cruel quando deseja.

#

– Atrasada.

Com os cabelos bagunçados pela correria, a calça jeans apertada fazendo ainda mais calor do que o necessário, a regata de alças com decote generoso pendendo para o lado, olhei para Monique que nem teve a dignidade de fitar a minha cara.

Ela dizia algo sobre me proteger de tudo e todos, porém assim mesmo conseguia parecer mais com a sua mãe do que a própria. Meus familiares contam que quando pequena, Monique apenas sorria para mim e protegia-me como uma mãe leoa. Apesar dela ter tomado minhas responsabilidades para si, e eu reconhecer de coração aberto e ter gratidão pela minha prima que considero irmã, ela não é uma flor completamente que se cheire como todos dizem ela ser.

Muito metódica e fria, contudo tenho que parar por aí. Não seria justo, o sujo falar do mal lavado.

– Me desculpe, Monique juro que não irá acontecer. - Suspiro e falo a mesma ladainha ensaiada, enquanto me sento em sua cama de colchão d'água KingBox, coberta por lençóis prateados de cetim fino e detalhes quase que imperceptíveis dourados.

Finalmente ela tirou os olhos do seu exemplar de Orgulho e Preconceito, e me examina com precisão.

– Não sei o que faz nessa hora, e sinceramente não me interessa. Agora cumpra com os seus deveres. - Como uma adaga, me corta com suas palavras venenosas, em seguida cala-se e fecha suas pálpebras. Ela está decepcionada comigo, desde que aceitei a proposta da tia Evangeline. Uma pena já que adoro minha prima e seus conselhos.

Olhando fixamente para sua imagem me perco em pensamentos profundos, e totalmente secretos que nem eu tinha ideia de sabe-los.

Sou um pouco confusa comigo mesma, e ás vezes me imaginava em outra realidade longe dessas pessoas influentes, e mistérios sem soluções.

– Você se parece a cada dia mais com ela. - Deixo escapar e me recrimino instantaneamente por isso. Droga!

Imediatamente a loira para de fazer o que estava fazendo e franze a testa, se perguntando mentalmente se o que ela havia escutado estava certo.

– Repita. - Murmura seca.

– Não.

– Eu mandei repetir, droga!

– Não quero! Você não manda em mim!

Uma batalha feita por olhares; cristais de gelo contra um pouco de terra. Eu sabia que estava agindo feito uma criança mimada, contudo todo mundo age assim perto da Monique. É inevitável.

– O que está acontecendo com a gente, Monique? - Interrogo baixo sabendo que mesmo que eu não soubesse a resposta, ela e sua maturidade precoce saberia. Meus olhos já estavam ficando marejados, pois ao contrário da maioria dos adolescentes de hoje em dia, eu não sei esconder o que estou sentindo.

– Dessa vez, nem eu sei o que houve. - E então me puxa para um abraço apertado com direito a choradeira, apertos e falta de ar da minha parte, já que seus cabelos são mais volumosos e maiores que os meus, tampando minhas narinas e impedindo a respiração.

Ficamos assim por um tempo, e pareceu que foram anos.

Como eu queria que tivesse sido.

#

Novamente o barulho irritante dos saltos ecoando no corredor, apenas que dessa vez seja o da minha casa. Meus quadris realizando movimentos desnecessários, e a maquiagem continuava a pinicar. Ter alergia a base e passar a mesma constantemente não era uma combinação muito boa.

Um ciclo vicioso: eu fazendo coisas fúteis pela minha tia, utilizando métodos de baixo nível, e magoando a mim mesma além das pessoas que me cercam.

Uma lágrima traiçoeira desceu pela minha face até chegar nos meus lábios superiores grossos e cheios de batom vinho. Depois veio outra, outra e outra. E apesar de tudo isso, continuava com um sorriso aberto, falso e ensaiado no rosto como se não reconhecesse meu sofrimento.

– Theresa?

Me virei e vi que era apenas Parker, um dos amigos imbecis do idiota do Scott. Ás vezes, ele tinha um ataque nervoso e conseguia utilizar alguns dos neurônios que foram proporcionados para ele. Apesar de tudo, ele é bem bonitinho com cabelos pretos escuros e de um cumprimento que bate na nuca, corpo meio magricela, alto o bastante para ser jogador de basquete profissional.

– Theresa? - Novamente ele me chama, e apenas finjo que não escutei.

Ando rapidamente e tento forçar um sorriso antes que seja tarde demais, só que ele é insistente e segura o meu antebraço impedindo que eu me mova mais um passo. Infelizmente ele percebe que estou me amaldiçoando por ser tão fraca, tento desvencilhar-me de seu aperto, só que o mesmo continua lá.

– O que você quer, Parker?

Ele suspira, e mesmo que eu esteja de costas para ele, consigo perceber que balança a cabeça como um gesto de reprovação. Reprimo um riso amargo, a que nível cheguei?

– Fugindo de tudo como sempre, não é? - Pergunta e elas veem. Elas sempre voltam e me questiono se isso nunca irá acabar.

– Não tente fingir que sabe de algo sobre a minha vida, Parker. - Retruco finalmente me livrando de sua mão nojenta me imobilizando. - Tanto o Scott quanto você, são ignorantes sobre a minha vida, e agem como se me conhecessem melhor que eu mesma.

A cada passo, a cada ciclo desnecessário, tenho pessoas que me relembram que estou passando por isso pela minha própria escolha.

Preferi o caminho mais fácil e essas são as consequências.

Queria que a vida funcionasse como Maquiavel escreveu: "Os fins justificam os meios".

Infelizmente querer não é poder.

#

– Vai sair? Pelo menos coma algo decente antes de se embebedar até cair, Theresa.

Apesar de tudo, quis acreditar que o tom que Monique falara comigo era de pura preocupação. Porém, também sei que esse sentimento de afeto não seria nunca mais direcionado a mim. A frase foi dita com o completo deboche e sarcasmo.

Calma Theresa, o fim desse ciclo está para chegar. É agora que você age como uma vadia e magoa a única pessoa que te protege realmente.

– Não se preocupe Monique. - Sorri com escárnio. - Seu posto de perfeita ainda está intacto. Alguém deve ser a ovelha negra da família.

– Quer dizer, fazer o trabalho de prostituta... - Conclui a frase sozinha, e me controlei para não me magoar com suas palavras. Controle, controle, controle... Como se eu conseguisse controlar minhas emoções.

Olhei meu visual no espelho que vai do teto até o chão do meu quarto, e admiro minha imagem. Um espartilho vermelho com uma saia de seda que na parte de frente é curta e cheia de pedras e detalhes, e atrás completamente longa batendo no chão, sapatos 15cm pretos com diamantes que variam de 2 a 4 quilates. Em meu rosto maquiagem forte, principalmente em meus olhos, uma sombra preta esfumaçada, e lábios pintados completamente de um vinho quase preto. Os cabelos soltos e ondulados, caindo em cascatas sobre meus ombros.

Parecia realmente uma prostituta, e a minha função era parecida com a de uma.

Ir a uma festa para conhecer e tentar acabar na cama de filhos de empresários famosos mundialmente, ou então nas deles mesmo.

– Theresa ainda dá para dar meia-volta nesse caminho sem sentido que você escolheu seguir. - Ela implora algo, que não deve ser implorado, parecendo completamente desesperada como se escondesse alguma coisa.

É a Monique.

Ela sempre será misteriosa, e esconderá um segredo obscuro de todos.

Tentei por isso em minha cabeça, enquanto ia em direção ao meu carro.

Nunca em toda a minha vida vou me perdoar por isso.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram ou não? Deixem críticas!
Jenny



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