Família escrita por Nancy Boy


Capítulo 1
Even at my worst, I'm best with you




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/628195/chapter/1

Frank seguiu discretamente por trás do edifício. Sorria consigo mesmo, em silêncio quase total, ouvindo as risadas escandalosas de Gerard vindas lá da frente. Ray e Mikey ficavam respectivamente em segundo e terceiro lugar quando se tratava de fazer barulho. Principalmente quando bêbados.

Isso sem incluir o próprio Frank, claro, que estava bem sóbrio.

Quando contornou o prédio e viu que apenas Mikey estava de frente para ele, fez um sinal de silêncio com o dedo e se aproximou de Gerard e Ray, ambos sentados na calçada e totalmente desprevinidos.

- CORRE DA PERERECA, CORRE!

Frank seguiu em uma sequência de rolar no chão de tanto rir, enquanto Gerard e Ray se decidiam entre levantar, rir também ou chutar o indivíduo. Todos menos Mikey continuaram no chão por mais alguns minutos após a junção de piada interna e susto programado.

- Você é um merda - Gerard finalmente disse, sentando-se na posição inicial de novo. - Um grande merda, Frankestein.

Frank enfiou a cabeça por baixo do braço do outro, pousando-a em seu colo.

- E você me ama por isso - disse com um sorriso enorme, trocando então o olhar para Ray, a quem via de cabeça para baixo. - E você também.

Os quatro continuaram ali, Mikey sendo incluido em breve, por muito tempo. Aquele era seu beco; seu lugar; sua selva. Muito depois dos efeitos da bebida terem passado em quem a consumiu, eles continuaram rindo e conversando. Queriam adiar a ida para casa, por mais que isso significasse aumentar o problema ao chegar lá. Gerard e Mikey iriam para a mesma, o que só dobrava o perigo.

Mas parecia certo, e eles não esperavam que os pais de ninguém entendesse isso.

Quando finalmente o inevitável aconteceu, já depois da meia-noite e apenas com a insistência de Mikey e Ray, eles se despediram e marcharam para seus respectivos lares. Chutando pedrinhas no caminho, cantando, dançando com as mãos. A alegria é algo bem fácil de se ver.

Ela se desvanece conforme cada um se aproxima de seus destinos. Ray tira os fones e caminha com o coração a mil, esperando que os pais não o notem entrar. Frank murcha cada vez mais e sobe para seu apartamento sem cerimônias, sabendo que o horário não importava para sua mãe. Gerard e Mikey reconhecem que não adianta fingir que não sabiam que estava tão tarde, e se preparam para o sermão.

É isso o que acontece:

Os irmãos Way se deparam com pai e mãe parados na sala, com os olhares um pouco mais furiosos do que da última vez. Todos se sentam. Há uma discussão, que logo escala para uma briga, que logo escala para a ignorância pura. Gerard grita com o pai, Mikey chora com a mãe, todo tipo de xingamento é ouvido e, no fim, cada um acaba em seu quarto, como sempre. Amanhã é um novo dia, figurinha repetida.

Ray infelizmente está sem sorte. O pai está acordado, aguardando-o na cozinha. Ele não perde muito tempo com discussões amigáveis, chegando rápido aos gritos e pequenas agressões físicas. A mãe observa do batente da porta, fumando um cigarro e tentando esconder o medo e as desculpas no olhar. Ray escuta e sente em silêncio. Não sai com mais do que uma queimadura, causada pelo empurrão que o pai deu em direção à mãe. Ela diz que sente muito, tenta lhe cuidar, e o pai a empurra também, e no fim, cada um acaba em seu quarto, como sempre. Amanhã é um novo dia, figurinha repetida.

Frank vê a mãe no sofá assim que entra. A garrafa rolando pelo chão, manchando o carpete de dez anos, o ronco mais alto que os sons de fome que vem da barriga dos dois. Frank checa o que tem para comer, e acaba bebendo a única cerveja que há na geladeira. Pega a garrafa, não se preocupa em limpar o chão, vira a mãe para o outro lado, posiciona o cobertor sobre ela. Pega um dos cigarros do maço que ele sabia que também estaria largado em algum lugar e vai para a janela por alguns minutos. Se não soubesse que não era muito melhor, desejaria estar na casa de um dos amigos. Ele vira para trás, olha para a mãe mais uma vez e vai para o quarto, como sempre. Amanhã é um novo dia, figurinha repetida.

Frank vai para o trabalho. Gerard e Mikey vão para a escola. Ray vai para os dois. E naquela noite, eles se encontram de novo. Xingam suas famílias com todo o ódio que tem por elas, e todo o amor que tem uns pelos outros. Não querem que aquilo acabe, e enrolam mais do que deviam, como sempre. Figurinha repetida. Intocável, inquebrável, favorita.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Família" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.