Desolation Row escrita por Jen Carlie


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Betado pela Lady Maricchi, esse amor em forma de HimUp shipper.



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Ninguém conseguia explicar o que tinha acontecido. No dia 13 de novembro de 1998, às 22 horas e 45 minutos, Lee Taemin sofrera uma parada cardiorrespiratória e fora dado como morto durante um minuto, mas por causa de algum milagre, os médicos conseguiram reanimar a criança e trazê-la de volta a vida.

Minho observava toda a movimentação dos médicos do lado de fora do quarto. Olhando pela pequena janela que havia na porta, ele via a mãe agarrada à criança, chorando enquanto o pai conversava com os médicos. Taemin mantinha os olhos direcionados para a Morte, ele estava ainda mais pálido do que o normal e tremia; o corpo pequeno aparentando ser ainda mais frágil. Ele havia morrido, sabia disso, e também sabia o porquê de ter voltado à vida.

”Obrigado.” Minho colocou as mãos nos bolsos do sobretudo e se virou para Jonghyun que estava apoiado contra a parede.

”Eu não fiz nada, o menino apenas conseguiu me vencer novamente.” Ele disse de modo indiferente enquanto se virava para ir embora.

”Da ultima vez ele não brigou diretamente com você… Eu sei o que você fez e manterei isso em segredo. Obrigado Minho.” Jonghyun falou suavemente antes de entrar no quarto do hospital. Ele estava pronto para ajudar Taemin a aproveitar a sua vida.

A Morte saiu daquele hospital com o peso da culpa em seus ombros. Por mais que ela mentisse, sabia o que tinha feito. Realmente a alma de Taemin era forte. Desejava a vida mais do que as outras, mas Minho deixara se agarrar a vida, não fizera força para levá-la para o mundo dos mortos. Isso foi errado.

Ele havia escolhido uma alma para salvar, como se fosse especial, e isso não podia acontecer. O trabalho dele era recolher as almas, e apenas isso. Não devia escolher quem vivia e quem morria. Tudo o que tinha que fazer era seguir o que estava escrito. Mas, naquela noite, ele fora contra as regras, havia escolhido um humano, um daqueles seres tão desprezíveis, para salvar. Tudo o que desejava naquele momento era que seu ato impensado não trouxesse mais problemas para Taemin.

Não sabia o momento exato que passou a se preocupar tanto com a alma daquele infeliz ser humano. Talvez tenha sido quando os seus olhos se encontraram pela primeira vez, ou quando ele escapara por entre os seus dedos sem que ele nem percebesse, quem sabe tenha sido quando ele percebeu que o menino podia vê-lo ou então em uma daquelas noites que ele passara no quarto da criança, a observando sem que ninguém soubesse.

Minho quebrara as suas próprias regras por causa de Lee Taemin, e ele não sabia o que aquilo significava.

*

Felizmente a atitude de Minho não prejudicara Taemin, por outro lado, ela acabou afetando a Morte mais do que poderia ter imaginado.

Minho tentou a todo custo permanecer longe do menino, ele apenas fazia o seu trabalho e recolhia as outras almas como deveria ser. Mas uma visita de Jonghyun acabou com isso.

”Eles sabem. Os demônios descobriram o que você fez e eles agora querem a alma de Taemin. Ele já recebeu a visita de dois e eu consegui expulsá-los porque eles eram fracos, mas você sabe que se algum demônio forte for atrás dele, eu não poderei fazer nada.” Eles estavam sentados na sala de uma cobertura, o lugar estava com as luzes totalmente apagadas, porque Minho gostava delas assim. Ele se sentia confortável em meio à escuridão.

Do lado de fora uma chuva incessante caia forte enquanto o céu era cortado por relâmpagos.

Ele passou a mão pelos cabelos antes de suspirar. ”E o que você quer que eu faça?” Sua voz era fria, Minho não queria demonstrar o quanto aquela informação o abalara.

”Faça alguma coisa! Você sabe como a alma dele é pura, ele não pode perdê-la assim… Droga, Minho! Eu sei que você se importa, assim como eu, você também se preocupa com Taemin.” Jonghyun exaltou-se. Eram raros os momentos em que demonstrava raiva, mas perante aquilo não podia manter-se impassível. A Vida sentia-se impotente demais.

”Não fale como se soubesse o que eu sinto! Ele é apenas um humano, de nada vale para mim. Eu não vou me envolver com demônios só por causa dele, você sabe como eu os odeio. Se ele perder a alma para o inferno, a culpa será apenas dele.”

”Ele é apenas uma criança! Pare de tentar enganar alguém, você o salvou antes, não finja que não se importa.”

”Vá embora!” Minho gritou. ”Se você não for embora agora mesmo, eu irei até aquele hospital e recolherei a alma daquele garoto, assim você não terá que se preocupar com demônios.”

”Você não faria isso, não está na hora dele…” Jonghyun sussurrou, repentinamente com medo. Havia se esquecido que Minho era o seu total oposto e temia o que ele poderia fazer a Taemin.

”Você tem 10 segundos para sumir da minha frente.” Minho falou, seu olhar frio penetrando Jonghyun como se pronto para matá-lo.

”Você é um monstro.” Jonghyun falou,olhando-o com desprezo, antes de ir embora.

Assim que a Vida se retirou, a Morte deixou sua cabeça cair entre as suas mãos. Ela puxou os próprios cabelos antes de gritar. As janelas tremeram e as luzes de toda a cidade piscaram por um momento. A Morte estava irritada, e acima de tudo, estava sofrendo.

Minho sentiu a presença dele poucos segundos antes de ouvir a sua voz.

”Bravo!” Ele se aproximou enquanto batia palmas, o som se propagando por toda a sala. ”Sério, foi muito comovente. A sua falsa indiferença, o grito, nossa, foi digno de cinema essa cena!” Ele riu, deliciado.

”Kibum.” Minho rosnou enquanto se levantava.

”Agora, não me chame assim, você sabe que eu não gosto, não é querido?” Ele se aproximou e passou os braços pelos ombros do maior, ignorando totalmente o rosnado que ele soltou. Kibum mantinha uma expressão inocente, mas Minho conseguia ver em seus olhos­ ­­– e sentir – toda a maldade que ele possuía.

A Morte retirou os braços do outro de seus ombros bruscamente. Ele odiava Kibum, odiava com todas as suas forças. ”Não fique perto de mim, seu cheiro me enjoa.” Ele sibilou. E era verdade, o demônio cheirava a luxúria, assim como todos aqueles que faziam parte do segundo círculo do inferno.

”Você é quem está perdendo.” O demônio falou com um sorriso sedutor antes de sentar-se na poltrona que Minho ocupava antes.

”O que você quer?” Fazia tempo que Kibum não procurava Minho, o que era mais do que apreciado pela Morte. O demônio deveria ter sido ceifado pela Morte há duzentos anos, mas, um pouco antes disso, vendera a sua alma para um demônio em troca de poder, e, ao morrer, foi direto para o inferno.

”Não precisa me tratar assim, você sabe que eu prefiro muito mais o seu amiguinho a você, ele é mais… Vivo.” O demônio rira da própria piada. Ele era ousado o suficiente para se aproximar da Morte e da Vida. Já estava morto e adorava provocá-los, ainda mais Jonghyun. ”Eu conheci o Taemin hoje.”

”Você o quê?” Kibum sentiu seu corpo paralisar diante do olhar de pura ira de Minho, mas ele se esforçou para não demonstrar isso.

”Você sabe, a alma dele é tão pura, eu realmente gostaria de possuí-la.” Ele deu um sorriso inocente. ”O que você acha? Eu deveria fazer um contrato com ele?” Ele não teve tempo nem mesmo de piscar antes de sentir seu corpo ser pressionado contra a parede, a mão de Minho em volta do seu pescoço.

”Fique longe do Taemin.” Minho sussurrou, controlando-se ao máximo para não acabar de vez com a existência daquele demônio.

”Ou o quê? Eu já estou morto, querido, você não pode fazer nada contra mim.” O demônio falou com dificuldade enquanto colocava as mãos ao redor da cintura da Morte. Kibum nunca perdia a chance de dar em cima de Minho e de Jonghyun, ele pensava grande; queria se deitar com a Vida e com a Morte.

”O seu corpo está morto, mas a sua alma ainda não foi recolhida por mim, eu posso muito bem pegá-la e destruí-la.” Ele soltou o pescoço do demônio apenas para segurá-lo fortemente pelos cabelos, fazendo-o olhar em seus olhos. Kibum gemeu com a sensação da mão de Minho em seu corpo, a demonstração de poder deixando as suas pernas levemente bambas. Ele gostava de homens que sabiam comandar. ”É isso o que você quer? Ser banido totalmente desse mundo? ”

Kibum sentiu seu corpo gelar, ele gostava de brincar com a Morte, de provocá-la, mas nunca fora ameaçado por ela assim. ”Você… Você não pode fazer isso. Minha alma pertence ao Inferno, se você acabar com ela, terá que se resolver com o meu chefe.”

Minho riu. ”E você acha que eu tenho medo daquele pivete? Ele não manda, nunca mandou, e nunca irá mandar em mim, entendeu? Mexa com Taemin e eu acabo com você, Kibum.” Ele prensou o corpo do outro contra a parede, fazendo-o perder o ar.

Mas o demônio gemeu. Por mais que sentisse medo, ter o corpo da Morte tão perto de si o excitava, afinal, ele não era um demônio da luxúria por nada. Apesar da situação de risco em que se encontrava, ele não conseguia parar de imaginar como seria se deitar com Minho, de vê-lo se perder em meio ao prazer. ”Eu entendi.” Ele falou, finalmente, sua respiração saía rápida e ele não sabia ao certo se era por causa do medo ou por causa da excitação. Talvez um pouco dos dois. ”Não vou mexer com a criança, apesar da alma dela ser muito tentadora, tão pura...” Ele fechou os olhos e ouvir a Morte rosnar. Riu de leve. ”Tudo bem, eu parei, prometo que não tentarei fechar um acordo com o garoto. Agora…” Ele abriu os olhos e aproximou o rosto do da Morte e falou contra o seu ouvido. ”Por que você não aproveita que estamos assim e…” Antes que ele pudesse terminar a frase Minho soltou o seu corpo e se afastou.

”Você me enoja. ”

”Querido, assim você fere os meus sentimentos.” O demônio falou manhoso enquanto olhava o corpo do outro. Como podia a morte ser tão tentadora?

”Volte para o seu chefe e avise-o que se alguém se meter com Taemin, terá que se resolver diretamente comigo. Estou cansado de vocês se metendo no meu trabalho.” Então foi embora, deixando o demônio sozinho naquela cobertura, sorrindo enquanto pensava no papel ridículo que a Morte estava fazendo sem nem mesmo se dar conta disso.

*

Depois do incidente com o demônio, foi quase impossível para Minho não ir ao quarto de hospital onde Taemin estava. Ele passou a visitar o garoto todas as noites, às vezes se encontrava com Jonghyun, e a Vida silenciosamente olhava para ele, como se entendesse algo que a Morte não se dera conta ainda.

A Morte dizia para si mesma que só fazia aquelas visitas para que nenhum demônio atrapalhasse o seu trabalho. A vida do menino já era muito difícil sem a influência daqueles seres desprezíveis. A data da morte de Taemin mudava com muita frequência, às vezes ela aparecia em seu caderno com uma data assustadoramente próxima, outras com uma data tão longe que o menino poderia ter mais alguns anos de vida. Tudo era muito incerto quando o assunto era Lee Taemin, e por mais que odiasse, isso fascinava Minho.

Nas poucas vezes em que o menino se encontrara com ele, Minho se mantivera silencioso no canto do quarto, com os olhos cravados nos de Taemin, até que a criança pegasse no sono novamente. Ele não percebera, mas com o tempo, ele passou a acompanhar mais o crescimento da criança do que o próprio Jonghyun. Mesmo em vida, quem mais cuidou da criança foi a Morte.

”Você é o meu anjo da guarda?” Taemin perguntara uma noite. Ele estava observando o homem parado no canto do seu quarto desde que acordara há meia hora.

Minho segurou uma risada e se aproximou da cama do menino. Taemin sentia aquela sensação de que deveria se enrolar em seu cobertor e fechar os olhos para se proteger, mas simplesmente não conseguia parar de olhar para ele.

A Morte se ajoelhou em frente ao garoto, que agora já tinha sete anos. ”Não, Taemin, não sou seu anjo da guarda.” Sua voz estava estranhamente triste, geralmente a Morte era muito apática, às vezes sentia raiva ou desprezo, mas tristeza era uma coisa muito rara.

”Mas você me salvou… Eu sei que você salvou, e você cuida de mim.” O menino sussurrou como se fosse um segredo e Minho sentiu um estranho aperto em seu peito. O pequeno olhava pra ele de forma tão inocente, ele não imaginava que ao invés de cuidar dele, Minho seria aquele que acabaria com a sua vida.

”Você não sabe de nada.” A Morte sussurrou suavemente, sentia sua garganta apertada, como se um bolo estivesse lá. Ela ficou passando as mãos pelos cabelos do menino, observando-o voltar à terra dos sonhos.

Do lado de fora do quarto, a Vida observava tudo sem ser notada, com uma única lagrima solitária em seu rosto.

*

Quando Taemin estava com onze anos, o seu pai morrera vitima de um ataque cardíaco. Depois de conversar com o médico sua mãe, conseguira permissão para que ele saísse do hospital e comparecesse ao enterro. Mas ele nem mesmo conseguiu apreciar a saída daquele hospital; a criança sentia seu pequeno coração se quebrar enquanto sua mãe o vestia para o enterro.

Taemin era jovem, mas sabia como a sua mãe sofria por causa dele. A mulher passava praticamente todos os dias com o filho no hospital e, nas raras ocasiões em que ele voltava para a casa, ela ficava preocupada em instalar o menino e tomar conta dele para, em pouco tempo, ter que voltar para o hospital novamente, porque o caso dele se agravara. Aquilo não era vida. Taemin sabia que sua mãe era infeliz e que a culpa disso era dele. E com a morte do seu pai a situação só pioraria. Ele podia ver no rosto dela enquanto ela o arrumava as marcas da idade, sua mãe parecia muito mais velha do que a real idade dela.

Ele não chorou durante o enterro, Taemin mordeu os lábios quase até eles sangrarem, mas permaneceu firme em pé do lado da sua mãe, e quando ela o abraçou chorando, ele lhe falou que tudo ficaria bem.

Naquela noite ele dormira em sua casa, o quarto que era dele era tão estranho que ele não conseguia dormir, ainda mais quando conseguia ouvir o choro baixo da sua mãe no outro quarto.

Ele estava deitado com o travesseiro em cima da cabeça quando sentiu ele chegar. Um arrepio percorreu todo o seu corpo e a temperatura do seu quarto pareceu diminuir. Taemin fingiu que dormia por um tempo, estava esperando para ver se ele se aproximaria. Quando percebeu que ele não faria isso, pronunciou-se.

''Você não apareceu ontem. '' Sua voz era baixa, mas ele sabia que o homem iria ouvir.

''Não... Eu tive trabalho a fazer. '' A voz do homem era rouca. Ele parecia ser muito sério. Quando era menor, Taemin costumava sentir medo dele, e na verdade ele ainda sentia, mas era pouco. Na maior parte do tempo ele gostava de ter a companhia do outro. Era tão solitária a vida no hospital, Taemin se sentia especial em ter o homem como companhia, ainda mais porque sabia que ele cuidava dele. Apesar de ele ter negado quando o menor perguntara, Taemin o considerava o seu anjo da guarda.

''O meu pai morreu. '' A voz do menino estava embargada, mas nenhuma lágrima saiu de seus olhos. Ele seria forte.

O garoto ouviu os passos do homem ecoando pelo seu quarto e viu sua sombra cobrí-lo, o travesseiro foi retirado de cima de sua cabeça e as mãos do outro começaram a passar por seu cabelo. ''Eu sei. '' Ele não disse que sentia muito, que entendia o que ele estava sentindo, nem nada parecido com o que as outras pessoas disseram para Taemin durante todo o dia, e de certa forma o garoto gostou disso.

''Qual é o seu nome?'' Taemin falara de repente, ele não queria pensar em seu pai, senão acabaria chorando.

O homem pareceu congelar por um momento, Taemin podia ver em seu rosto que ele estava surpreso com aquela pergunta. Silenciosamente, o menino desejou que seu quarto estivesse mais iluminado; gostava de olhar o outro, ele era muito bonito. ''Você pode me chamar de Minho. '' Ele disse, finalmente, e Taemin sentiu que aquele era um momento muito importante para a relação deles.

''Minho... Você é meu amigo?'' Ele falou envergonhado, não queria demonstrar como era frágil, mas precisava ter a certeza de que o homem não o deixaria, assim como o seu pai.

''Eu... Sim, Taemin, eu sou seu amigo. '' Por um momento ele pareceu inseguro, como se não acreditasse no que havia acabado de falar, mas o olhar dele para Taemin mostrou que aquilo era verdadeiro.

''Obrigado por estar comigo, Minho. ''

Por mais que tentasse segurar, uma lágrima escapou dos olhos do menino. Ele tentou esconder aquilo, mas Minho desceu a mão que estava em seus cabelos para o seu rosto, e delicadamente limpou a gota que escorrera. ''Não se preocupe, eu estarei com você até o fim. ''

*

Com o tempo, Minho foi mudando sem perceber. Ele continuava recolhendo todas as almas que apareciam com o nome em seu caderno sem pensar duas vezes, mas também continuava visitando a criança que já não era mais tão infantil assim.

A Morte acompanhara Taemin desde o seu nascimento, o vira passar por todas as dificuldades em sua infância e naquele momento estava tendo que lidar com um Taemin adolescente, que gostava de passar as madrugadas conversando com o homem que ficava parado em seu quarto todas as noites, e que às vezes apromixava-se e sentava-se em sua cama, talvez até mesmo fazendo um carinho em seu cabelo. Mas a mudança não ocorrera apenas na Morte.

Era compreensível que o menino agisse assim, afinal passara a vida inteira naquele hospital tendo como companhia apenas sua mãe e os médicos, e nos últimos anos a pobre senhora não pudera mais estar tão presente na vida do filho porque estava muito ocupada.

O único momento bom no dia de Taemin era quando Minho aparecia. Durante todos aqueles anos, o homem permaneceu visitando o jovem e de certa forma acabou tornando os dias de Taemin mais fáceis. O menino passara, com o tempo, a ansiar pela chegada da noite, para que assim pudesse ver o mais velho, e com o tempo a felicidade que ele sentia quando o homem passava as mãos pelo seu cabelo se transformara em apreensão e um desconhecido frio no estomago.

Minho era tão bonito! O jovem não havia visto muitas pessoas na vida, mas sabia que a beleza do Minho era maior que a dos outros. Taemin gostava de ouvir a voz delee por isso que aproveitava as noites que a sua mãe não podia ficar no hospital para conversar com ele. Gostava de olhá-lo, de ouvi-lo falar e de quando ele tocava o seu cabelo delicadamente. Taemin gostava de Minho.

*

''A minha mãe está namorando. '' Como sempre o menino falara do nada, sua voz tinha um tom estranho que só serviu para preocupar Minho, que já estava em seu quarto há quase uma hora e até então estava estranhando o silêncio do mais novo.

''E você não gostou de saber disso?'' Minho perguntou enquanto se aproximava da cama, ele se sentou próximo ao menino que estava sentando abraçando as próprias pernas e com a cabeça em cima dos joelhos.

''Não é isso, eu só fiquei um pouco surpreso. '' O garoto estava evitando o olhar do outro. Minho se aproximou mais, ele podia sentir o calor do corpo de Taemin.

''É por causa do seu pai?'' Ele falou delicadamente.

''Não, meu pai morreu há cinco anos, minha mãe precisa de uma companhia. Isso só me fez pensar que... '' Taemin parou de falar de repente e virou a face contra os próprios joelhos, encostando a testa neles.

''O fez pensar no quê?'' Minho insistiu.

''Nada. '' Ele resmungou.

''Taemin, olhe para mim. '' A voz de Minho era séria e o menino não teve alternativa a não ser levantar o rosto e olhar para ele. ''Agora me diga sobre que você pensou. ''

Taemin suspirou. ''Eu... Eu só imaginei que se algum dia eu poderei namorar alguém. Eu sei que isso é idiota, quem poderia querer um menino doente e feio como eu?'' Ele desviou o olhar do homem mais velho.

Minho se sentiu surpreso, ele jamais imaginaria isso vindo do menino. Apesar de ter acompanhado o crescimento do garoto, ele se forçava a pensar nele como uma criança. ''Taemin. '' Ele falou baixou enquanto aproximava o seu corpo ao do outro. Lentamente, ele levou as mãos ao cabelo do mais novo, prestando atenção na textura e em como ele brilhava a luz da lua, desceu elas até o rosto dele, acariciando a sua bochecha com o polegar enquanto apreciava a suavidade de sua pele. O menino era um pouco pálido e seus lábios estavam rachados, mas naquele momento tudo o que Minho conseguia pensar era em como ele era a pessoa mais linda que ele já havia visto no mundo. Enquanto olhava nos olhos de Taemin, a Morte por um momento se esquecera de que o garoto era apenas um frágil humano, e ela aquela encarregada de acabar com a vida dele. ''Você é lindo, com certeza arrumara uma namorada muito bonita também. ''

''Você acha isso mesmo?'' Ele estava com os olhos arregalados, como se não pudesse acreditar no que acabara de ouvir.

Minho engoliu em seco. ''Sim, acho. '' Ele tentou focar a sua atenção no sorriso que Taemin dera após ouvir aquilo, e não na estranha sensação que sentiu quando pensou em Taemin namorando uma garota.

*

Minho percebeu os sinais, ele nem mesmo precisou ler em seu caderno para saber o que estava por vir, ele podia sentir isso.

Taemin estava com 16 anos e o seu estado havia piorado muito nos últimos meses. Ele estava mais fraco do que o normal, seu peso caiu e seus cabelos perderam o pouco brilho que tinham.

Vida e Morte assistiam o que acontecia com o garoto e não podiam fazer nada. Eles não podiam mudar o destino das pessoas, Minho já havia feito uma vez apesar de nunca admitir, e sabia que mesmo se quisesse não poderia realizar o feito novamente.

Naquela semana, o jovem havia pegado um resfriado e a Morte não conseguia ficar perto dele ouvindo as crises de tosse que pareciam mover todo o corpo magro.

Minho estava na mesma cobertura onde recebera a visita do demônio Kibum, quando uma sensação de paz e calmaria tomou todo o ambiente e o ser celestial sentou-se de frente para a Morte.

''Olá, senhor. '' A voz do anjo era calma e o seu tom, respeitoso. Minho não gostava dele, mas também não tinha nada contra.

''Olá, Jinki, o que você deseja? '' Minho perguntou, apesar de já saber o que o outro queria.

''Eu vim falar sobre o garoto. '' O anjo lançou um olhar significativo ''Nós temos conhecimento sobre o que aconteceu da última vez. A chegada dele no céu tem sido muito aguardada, e creio eu que você já saiba o porquê disso. A alma dele está destinada a algo grande... ''

Minho mordeu o interior da sua boca antes de olhar o anjo. Ele podia ver toda a bondade de Jinki em seus olhos, mas também havia algo a mais, o anjo parecia sentir pena do jovem... Ou da Morte. ''Eu sei que a alma de Taemin é muito valiosa, e dou a minha palavra de que não irei interferir no destino dele. '' Ele sentiu a sua garganta se fechar e seus olhos arderem, ele havia prometido ao anjo que ceifaria a alma do humano, mas em seu íntimo, sabia que não queria fazer isso.

''Obrigado. '' Jinki sorriu suavemente antes de levantar-se e dirigir-se à janela para ir embora. Minho observou o anjo pular e abrir suas belas asas enquanto pensava no nome que aparecera no seu caderno naquela manhã.

*

''Minho, você se lembra da primeira vez que você falou comigo?'' O menino perguntou com a voz fraca após uma crise de tosse. O homem mais velho fora ao hospital pouco tempo depois da visita do anjo, ele queria aproveitar o pouco tempo que o garoto ainda tinha.

''Sim, por quê?'' Ele estava sentado na cadeira que geralmente a mãe do menino costumava usar.

''Você falou que ia voltar para me buscar, mas eu não fui com você... Para onde eu vou quando chegar a hora?''

''Eu não posso te dizer isso. '' Minho disse apesar de saber exatamente o lugar para onde o garoto iria. Ele tentou ignorar o fato de que aquela pergunta mostrava que Taemin sabia mais sobre ele do que deveria

''Vai doer?'' A voz do menino era frágil e a Morte sentiu novamente aquele aperto que se tornara familiar desde que ele conhecera o garoto.

''Eu prometo que não, eu não deixarei que você sofra, querido. '' Minho pegou a mão do menino que estava sobre a cama e a apertou. Ele podia sentir como ela estava fria, e sabia o que isso significava. ''Você sempre foi tão bom em fugir de mim, sempre escapou por entre os meus dedos, porque você não pode fazer isso agora?'' A voz da Morte estava embargada, ela estava dominada por emoções humanas que pareciam querer transbordar do seu corpo.

''Minho, eu não quero mais fugir de você. Eu ainda sonho em poder fazer muitas coisas, mas ao mesmo tempo eu estou tão cansado, não tenho forças para realizar os meus sonhos. '' A voz do menino estava baixa e ele falava com dificuldade. ''E a minha mãe não merece mais sofrer por minha causa. Sabe, ela já arranjou alguém para cuidar dela, ela trouxe o namorado para eu conhecer outro dia e ele parecia ser um homem legal, ele não largou a mão dela enquanto estava no quarto. '' Ele falou enquanto apertava a mão do homem.

Minho fechou os olhos para tentar controlar as emoções que o dominavam tão fortemente.

''A sua mãe está chegando, nos vemos depois. '' Ele soltou a mão do menino e saiu do quarto sem olhar para ele.

*

''Mãe, você pode comprar chocolate para mim?'' O menino estava com os olhos fechados e a sua respiração era interrompida por fortes crises de tosse.

''Você quer isso agora?'' A mulher não queria abandonar o filho, os médicos falaram que ele não tinha muito tempo e ela estava se esforçando para tentar tornar tudo o mais confortável possível para ele. Ver o seu único filho morrer e não poder fazer nada a desesperava.

O menino apenas acenou levemente com a cabeça, permanecendo com os olhos fechados. ''Tudo bem, então. '' A mulher beijou a cabeça dele antes de sair do quarto.

Assim que ouviu a porta ser fechada o menino abriu os olhos e olhou para o homem parado no canto do seu quarto. ''Minho, dói tanto. '' Ele sussurrou.

A Vida estava sentada na ponta da cama do menino, sua mão tocava o seu braço enquanto ela sentia o seu vínculo com o menino cada vez mais fraco.

''Eu sei. '' A Morte sussurrou se aproximando da cama do mais jovem. Ela se sentou na cama do garoto, seus corpos se tocavam e ela podia sentir como a pele do menino estava quente. Taemin estava ardendo em febre.

A Vida se levantou e foi para o canto do quarto, Minho podia ver que ela estava chorando.

''Você pode... '' Ele não precisou terminar a frase para Minho saber o que ele queria dizer.

''Fazer a dor parar?'' Ele passava a mão pelo rosto de Taemin, sabia que Jonghyun estava vendo, mas não conseguia se conter.

''Sim. '' O menino inclinou a cabeça em direção a mão da Morte. ''Por favor. ''

''Se é isso o que você quer. '' A Morte se inclinou sobre o menino, ignorando os soluços de Jonghyun. ''Lee Taemin, você é a mais bela criatura que eu já conheci. '' Ele sussurrou contra o ouvido do menor.

Taemin levantou as mãos e segurou o rosto do homem e encostou a sua testa na dele, ele podia sentir a respiração da Morte contra o seu rosto e quando ele falou seus lábios de tocaram suavemente. ''Obrigado por tornar a minha vida mais fácil, você me fez companhia nos meus momentos mais difíceis e também me fez sorrir quando eu achei que não conseguiria. ''

''Por favor, não se esforce. '' Minho falou. Suas respirações se misturavam, e cada um buscava a resposta para aquilo que não tinham coragem de dizer nos olhos do outro.

''Eu te amo. '' Taemin finalmente falou. Minho fechou a distância que existia entre eles e tocou os lábios do menino com os seus. O tempo pareceu parar enquanto a Morte beijava o jovem humano. Então, enquanto uma lágrima escorria pela face da Morte, a alma de Taemin se dirigiu ao Céu.


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