Fix You

Single Chapter

- Pensei que na próxima vez você não iria errar. – voz chorosa e falha. Sentia o choro entalado na garganta e uma sensação de mal estar em seu interior. As palavras tinham dificuldades de sair de seus lábios e o coração de seu receptáculo estava praticamente saltando em seu peito – por um momento achou que ser receptáculo estava com alguma doença.

- Eu ainda nem mirei. – um sussurro falho, desgastado. Cansado. Voz ainda mais rouca que o de costume e com alguns tons abaixo do normal. Se o outro não estivesse tão perto de si, duvidava que fosse capaz de compreendê-las. Não tinha vontade falar – não podia.

- Dean, por favor, não faz isso. – o Anjo não se incomodava em implorar. Não quando era para Dean, por Dean. Castiel não via problema algum em abandonar todas as suas crenças e fés somente em prol daquele ser humano – ou o que um dia já foi um ser humano.

Dean olhou para os olhos bem azulados de Castiel – ou de Jimmy -, prensando o Anjo ainda mais forte contra a parede e deslizando a Lâmina Celestial no pescoço do moreno. Mais um movimento e poderia acabar de vez com Castiel. Realizar aquela façanha, cuja qual não fora capaz de fazer a muitos anos atrás.

- Por que voltou agora, Cass? Pensei ter te dito há milênios atrás que não era para você voltar a me procurar. – Castiel ficou quieto perante as palavras, vendo os olhos de Dean, uma vez esmeraldinos, tornarem-se completamente pretos, praticamente como se estivesse vendo através de seu receptáculo, olhando bem fundo em sua Graça.

- Sam está morto. Sem ele eu fui o único que sobrou para impedi-lo de acabar com o mundo. – em um ato de ousadia, o Anjo levou uma de suas mãos a uma das bochechas do agora demônio, segurando-a com afabilidade. Por um segundo a negritude dos olhos do demônio vacilou – Pensei ter digo que eu seria o único a sobrar e que mesmo estando só, curá-lo-ia. – hesitante, desencostou sua mão da pele do rosto de Dean – o demônio quase gemeu em desgosto pela falta do contato.

- Depois de tanto tempo, Cass? Acha mesmo que eu ainda tenho alguma salvação? Sou O Novo Rei do Inferno, já fiz coisas que você não ousaria pensar e, caralho, não me arrependo de ter feito nada. – lembranças inundaram a mente do loiro, que tivera de conter o sorriso de prepotência e malicia que surgiria em seus lábios.

- Sim, acho. Você ainda pode ser Dean Winchester. Rowena conseguiu dar-nos a cura, mas você desapareceu antes que pudéssemos dá-lo. – Castiel ainda tinha o pequeno saco de feitiço escondido em seu sobretudo, ainda tinha as palavras em latim latejando em sua mente. Tinha ambos os componentes que poderiam salvar aquele ser humano, cuja qual tempo atrás não pode – Você sumiu Dean. Mas agora está de volta... E temos uma chance. – o brilho de esperança e expectativa nos olhos do Anjo, era belo de mais para ser apagado.

- Há anos atrás isso poderia ter me salvado. – Dean sentiu-se mal quando os olhos de safira perderam o brilho, mas ele não podia voltar atrás. Era um demônio, não sentia mais nada além deu luxúria, prazer e vontade de pecar, qualquer sentimento humano deveria ser exterminado – Mas agora é tarde de mais, Cass. Eu não quero ser salvo. – as mãos do demônio fraquejaram, soltando o aperto que fazia na gola da blusa de Castiel e dando a chance perfeita para que o Anjo se livrasse do aperto de suas mãos.

Invertendo as posições, Castiel jogara Dean contra o chão, ficando por cima do loiro e roubando a Lâmina Celestial de suas mãos. Posicionou-a contra o peito de Dean, bem no coração, que uma vez já pulsara. Dean somente gemeu com o impacto de ser tacado sem escrúpulos contra o chão – não fizera nada para sair da posição submissa que estava, muito menos para afastar a arma fatal de seu corpo, mesmo podendo, mesmo sabendo que venceria de Castiel.

- Você quer ser salvo, Dean. Está em seus olhos. – olhos safiras contra esmeraldinos. Dean não quebrou o contato, sabia que Cass estava vendo sua alma, da mesma forma que fazia quando ainda era humano. Castiel podia ver sua alma escura, sangrenta, quebrada, despedaçada e suplicante. Suplicando por uma salvação, porque humano que ainda residia nela não aguentava mais seguir seus instintos primitivos – irracionais – e fazer cada uma daquelas barbarias que sua parte demoníaca – predominante – adora fazer.

- Sim, mas você sabe qual a única forma de me salvar Cass. – sorriu, um sorriso que não alcançava os olhos. Castiel podia ver aquilo por de baixo de toda aquela fachada que Dean tinha. Cass era o único que podia enxerga-lo de verdade – podia enxergar sentimentos que Dean quisera esconder por muito tempo, por trás daquela fachada de demônio luxurioso.

Vendo aquela alma tão transparente em baixo de si, suplicando por sua ajuda, não resistiu e pela primeira vez, saciou seus seu desejo de milênios e juntou seus lábios contra o de Dean em um beijo perdidamente apaixonado. Provara daqueles lábios com delicadeza, como se o menor dos erros pudesse levar Dean, para nunca mais tê-lo de volta. Dean tinha a chance de inverter as posições e mata-lo, mas não fizera.

- Por favor, Dean, não desista. – Castiel implorou, não podendo afastar-se daquele ser. Não importa o que Dean fosse, precisava dele ao seu lado, para sempre. Os milhões de anos que passara sem tê-lo ao seu lado, fora o suficiente para perceber, que sem Dean, seu mundo não existia.

- Eu não estou desistindo, Cass. Eu só não consigo mais. – as palavras saiam com calma. Uma confiança inabalável. Quase uma fé – se Castiel não conhecesse Dean como conhecia, poderia até julgar ser uma. Dando um sorriso meio triste – mas que ao menos dava certo brilho as belas esmeraldas -, Dean colocara sua mão por cima da de Cass, que se encontrava sobre a Lâmina Celestial – Mate-me. – fizera o pedido que sua alma suplicava desde que se encontrara com Castiel.

Castiel vacilou perante aquele pedido, não podia cumpri-lo. Amava-o de mais para que pudesse vir a mata-lo! Dean apertou sua mão com força, aproximando ainda mais a Lâmina Celeste de seu corpo, encostando a ponta afiada contra sua pele ao ponto de perfura-la superficialmente. Um filete de sangue escorrera daquele machucado e Castiel sentiu seu coração despedaçar-se.

- Não posso... – sussurrou vacilante. Queria curar Dean, mas o loiro estava certo, era tarde, não tinha mais volta. A única salvação para o Winchester seria mata-lo. Mas Castiel julgava-se fraco de mais para aquilo.

- Pode sim. – falara convicto, ao mesmo tempo em que o timbre de sua voz era baixo, como se confiasse a Cass o maior de seus segredos – Feche os olhos, Cass. – pediu, implorando para que o moreno acreditasse em seu pedido e fechasse os olhos. Talvez muitos iriam julgar Castiel como ingênuo por acreditar no Rei do Inferno, mas atendera o pedido de Dean.

Dean delicadamente colocou uma de suas mãos – a livre - por cima das pálpebras de Cass e a que ainda repousava sobre a de Castiel, apertara-a ainda com mais força, antes de mergulhar por completo a Lâmina em seu corpo, bem no coração. Não tinha mais volta – não se arrependia de sua escolha egoísta.

- Dean?! – Castiel perguntou desesperado, sentindo a mão antes em suas pálpebras, cair, fraca. Antes que a mesma tocasse no chão, Castiel agarrou-a, entrelaçando os dedos moles de Dean contra os seus. Seus olhos safiras logo em seguida fora para a mão de Dean que continuava junto a sua, por cima da Lâmina Celestial.

O ferimento era grave e podia sentir a vida de Dean abandonando-o. Não teria como parar. Sentia o corpo de Dean, bem perto ao seu, perdendo a consciência, para dormir eternamente. Ter o descanso tão merecido depois de tempo de mais. A vida do mesmo estava sendo ceifada.

E por mais que soubesse que aquela era a única forma de Dean não sucumbir por completo a aquele ser demoníaco que o dominava, não queria acreditar naquele corpo jogado no chão, quase sem vida. Seu peito parecia que iria explodir, tamanha a dor.

- E-Eu te a-mo, C-Cass... – as palavras escaparam sôfregas dos lábios de Dean, enquanto o mesmo tossia, sufocado com seu próprio sangue, em último suspiro. O corpo ficou completamente mole em seus braços e a vida já não iluminava mais aqueles olhos esmeraldinos, por agora, opacos.

O Anjo mal podia acreditar naquelas palavras. Dean esperara o último momento para lhe confinar que seus sentimentos eram recíprocos. A dor em seu peito parecia aumentar. O mundo era incrivelmente cruel quando queria ser. Não queria deixar Dean partir, queria voltar, na época em que ainda era ele, Sam e Dean contra o mundo.

Talvez, por lá, ainda pudesse feliz. Mas as coisas pareciam nunca conspirar ao seu favor.

Castiel agarrou o corpo de Dean bem forte, abraçando-o bem contra o seu. O calor já não estava mais presente no corpo do loiro, e o sangue de seu machucado, manchava Castiel por completo, mas o Anjo não se importava.

- Eu te amo, Dean. – sussurrou contra o ouvido de Dean, em desespero, sentindo sua voz quebradiça, como se falar lhe causasse uma extrema dor – a mesma dor que sentia no coração de seu receptáculo. Esperava, veemente, que o vento pudesse carregar suas palavras e leva-la até a alma do seu Winchester – já que nunca mais poderia entrega-las pessoalmente.

Aquela seria a primeira vez que Céus e Infernos veriam um Anjo chorar, agarrado, ao corpo morto de seu amado – o mundo nunca poderia sentir dor maior que aquela. As lágrimas de diamantes escorriam livremente pelos olhos de Cass.

O mundo trovejou.

Um Anjo chorou.