Dublê de pai! escrita por AneQueen


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentarios, estou amando :)



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— Você tem razão, tenho que ir. Mais uma coisa. Se algo acontecer com Sabrina... — sussurrou. — Vou processá-lo e jogá-lo na cadeia por cem anos.

— Pensei que confiasse em mim.

— Preciso de você. Não confio em você. Não confio em ninguém. Sabrina é tudo o que tenho e... — O celular começou a tocar novamente. Regina rolou os olhos e atendeu. — Estou a caminho, juro. — Colocou o celular na bolsa e tirou um cartão de visitas. — Meu celular está aqui, assim como o telefone do escritório. Ligue-me a cada meia hora para me atualizar.

— Atualizar sobre o quê? Arrotos?

— Sim.

— Você está de brincadeira. Crianças não fazem nada o dia todo. Elas comem, fazem cocô, dormem. Pronto, essa é sua atualização.

Ela deixou o queixo cair, horrorizada. Esperava que ela fosse brigar, mas só se virou.

Em seguida, seus ombros começaram a chacoalhar, e ela estava fazendo aquilo de novo...

Chorando.

Bem, não exatamente chorando, mas segurando a filha e parecendo que soltaria uma enxurrada a qualquer momento.

Droga

Ficou atrás dela, com as mãos soltas, estranho e inútil. Seu peito apertou, os pulmões fecharam-se. Uma parte dele dizia para abraçá-la.

A outra parte dizia para não se envolver. Escutou essa parte, decidindo que era o lado mais racional.

Ela encostou o rosto na cabeça da criança, como se respirasse naquele cabelo. Robin concentrou seu olhar na geladeira e evitou o momento o quanto pôde.

— Odeio deixá-la. Odeio — disse ela, mais para si do que para o bebê, quase sussurrando.

— Então peça demissão — sugeriu. Sempre prestativo.

— Não posso. Tenho que pagar as contas.

— Então pare de reclamar.

Ela se virou.

— Você é muito antipático.

— Não sou antipático. Sou realista. Pelo que vejo você tem duas escolhas: se demitir ou se animar. — Metade dele sentia que devia se aproximar e secar aquelas lágrimas. Em parte, era exatamente isso o que ele queria fazer. Mas não a conhecia, e ela provavelmente o socaria se a tocasse. — Reclamar não vai levá-la a lugar nenhum.

— Acabei de ter um bebê. Estou... Cheia de hormônios. Você podia ser um pouco compreensivo.

— Estou sendo racional.

— Deve achar que sou um caso perdido. Só chorei hoje. E que... Há muita coisa acontecendo, foi um dia difícil no trabalho, e essa coisa toda da Sra. Belle e ver você com Bri, isso tudo trouxe à tona toda a emoção que tento suprimir.

Não sabia o que responder. Então se calou.

— Toda vez que estou trabalhando, sinto muita saudade de Sabrina. Sou como toda mãe de primeira viagem, eu acho. Você praticamente tem que arrancá-la dos meus braços. — Aquele rosto suavizou-se, quase derretendo de amor e mágoa, mostrando que ela saía destruída; todas as manhãs, quando deixava a filha.

Robin podia não ser o cara mais legal de Boston, mas até ele via como isso era difícil para ela. Onde estava o marido? Por que ele não estava ajudando-a? De qualquer jeito, não devia se envolver, pelo menos, não mais do que para cuidar da menina temporariamente.

— Tenho um pé de cabra na garagem e não tenho medo de usá-lo — provocou, sorrindo, esperando que ela retribuísse o sorriso. Quando ela retribuiu, foi como se um raio de sol tivesse iluminado sua sala.

Atingiu-o em cheio. Forte. Antes que pudesse pensar em como se sentia, aproximou-se, imaginando que devia tomar controle ou ela acabaria precisando de outra caixa de lenços. Tirou a criança dos braços dela, segurando-a cautelosamente, como se fosse um explosivo, evitando contato muito direto.

— Agora vá trabalhar — disse ele, com um tom de voz mais gentil que nunca, surpreendendo até a si próprio. — E apresse-se para voltar. — Apontou para a porta. — Porque não faço hora extra.

Regina devia estar focada no convidado sentado à sua frente. Era um tricampeão de futebol, elogiado pelo mundo todo não por suas habilidades no jogo, mas pelas mulheres e pela aparência rude e bela que o projetara, junto com a bola de futebol, para o mundo das fantasias de todas as meninas com menos de 18 anos do país.

Mas Regina não conseguia se concentrar no jovem atleta. Em vez disso, continuava pensando num certo escritor moreno irascível de olhos azuis. Não conseguia imaginá-lo mimando e acalmando Sabrina como a Sra. Belle fazia, mas não achava que a abandonaria ou algo parecido. Seria eficiente. E por alguma razão, Sabrina parecia gostar dele.

Era fascinante.

Havia algo naqueles olhos.

O azul profundo, talvez. O jeito que se reviravam, como um oceano tempestuoso.

Sabrina certamente não reparou nesses detalhes.

Mas Regina reparou.

Notou-os como não notava um homem há muito tempo.

Não desde Daniel. Fechou os olhos e massageou as têmporas. Prometera seguir em frente, colocar o passado onde deveria estar: no passado. Não se sentir culpada.

Daniel dissera para seguir em frente, viver sua vida.

Achar outro alguém. Um marido para ela. Um pai para Sabrina. Porque ele não estaria lá para fazer esse trabalho.

— Tem certeza de que a luz vai bater em meu lado bom? — perguntou David B. Ele tirou um pente do bolso, aperfeiçoou o cabelo loiro já perfeito e então sorriu. — Porque meus fãs esperam isso, claro.

— Claro. — Vaidade, vosso nome é David B. Fitou seu bloco de anotações para escrever um lembrete sobre o “lado bom” e ruborizou. Em vez de anotações sobre o jogador, seu bloco estava cheio de letras “R” rabiscadas.

Tinha Robin em mente. Isso não era bom. Especialmente porque o homem a incomodava extremamente. Não entendia como alguém podia ser tão ranzinza.

Certamente explicava por que nunca o vira antes. Ele era a definição de “eremita”.

Olhou de relance para a foto de Sabrina em sua mesa. Será que ele estava segurando-a agora? Sua filha estaria rindo? Ou chorando? Ou dormindo tranquilamente? Seu olhar voltou-se para o telefone e teve de segurar a caneta com força para resistir à vontade de ligar para Robin.

— Vocês vão colocar água filtrada em meu camarim, não? E chocolate amargo, recheado de framboesa? Certifique-se de que não seja de morango ou, Deus me livre... — Pressionou a mão na testa. — Nem de coco. Só de framboesa.

Forçou um sorriso paciente.

— Certamente.

Programar água filtrada e chocolates personalizados para grandes astros não era a vida que imaginara quando ficou grávida. Acostumar-se a isso estava sendo muito mais difícil do que esperava. Não esperava, realmente, trabalhar por um ano ou dois depois que Sabrina nascesse. Era para Daniel ser o provedor da família. Assim poderia ficar em casa com Bri, afastar-se da carreira temporariamente e depois voltar ao trabalho.

Então Daniel morreu, e ela fora jogada no papel de provedora, mãe, pai, dona de casa, tudo de uma vez. O plano havia dado terrivelmente errado e, quando estava no escritório, simplesmente não conseguia pensar em Sabrina, porque, quando pensava em tudo o que estava perdendo, ficava maluca.

Mais para frente, só de pensar em não ver os primeiros dentes, passos, palavras...

Esquece. Ou teria de instalar câmeras de vigilância ou encontrar um trabalho que pudesse fazer de casa. A separação a mataria se não fosse assim.

— Meu empresário vai mandar uma lista com minhas outras exigências. — O jogador levantou-se, ajeitou a camisa, alisando-a. — Estou ansioso para aparecer no programa.

Se contasse a ele que apareceria por cinco minutos depois de um ex-presidente, a estrela do futebol certamente explodiria de raiva. Provavelmente faria pirraça, o que levaria um tempo que ela não tinha. Queria sair dali no horário e voltar para Sabrina. Se tivesse sorte, Killian não cancelaria seu jogo de golfe com o diretor do canal, e ela poderia sair mais cedo sem que ninguém notasse.

Então forçou outro sorriso, apertou a mão do jogador e acompanhou-o até a porta.

Assim que ele saiu e as vozes femininas do escritório diminuíram para um volume aceitável, ela apanhou o telefone e ligou para Robin.

Não conseguiu se concentrar no trabalho. Talvez aquelas câmeras de vigilância não fossem tão má ideia.

— Alô? — atendeu ele. Latiu, na realidade.

— É Regina. Regina Mills. Você está cuidando de minha filha, lembra?

— Acha que tenho tantas crianças aqui que estaria confuso sobre qual pertence a quem?

— Você está cuidando dela, não?

— Na verdade, não.

— O quê?

— Calma. Ela está dormindo. Então não preciso ficar vigiando, observando cada respiração.

Queria retrucar que precisava sim, mas sabia que não devia. Nem ela vigiava cada respiração de Sabrina, apesar de que, muitas vezes, quando Sabrina era recém-nascida, especialmente naqueles preciosos últimos dias da licença maternidade, ela notava cada piscadela, cada movimento, querendo memorizar cada segundo. Até agora, sentia-se como se estivesse perdendo milhões de momentos que nunca poderia recuperar. A dor familiar aprofundou-se. As paredes fecharam-se em volta dela. A sala nunca pareceu tão pequena.

— Então, o que ela fez?

— Quer todos os detalhes? Incluindo as pausas para ir ao banheiro? Ou só o geral minuto a minuto?

— Só o geral.

— Ela comeu. Troquei a fralda. Ela dormiu, depois de engatinhar pela casa toda. Você devia ter avisado.

— Avisado?

— É que a criança se mexe. Não sabia que ela era versátil. Parecia perseguir o papa-léguas.

— Perdi a primeira vez que ela engatinhou — disse suavemente. — A Sra. Belle me ligou e descreveu cada secundo. Mas não foi a mesma coisa.

— Ah. — Robin hesitou. — Sinto muito. Bom, ela engatinhou bastante. Sujou os joelhos todos. Acho que devo chamar a faxineira mais vezes.

— E depois?

Ele pensou por um segundo.

— Depois ela dormiu. E eu vim trabalhar. Aí você ligou. Interrompendo meu trabalho. Agora posso voltar...

— Você a fez arrotar? Balançou-a? Certificou-se de que ela esta com a chupeta? E o cobertor especial? Se ela acordar e não tiver essas coisas, vai se chatear. — Enchia-se de preocupação.

Não devia ter deixado Sabrina com Robin. Ele não conhecia sua filha. Não sabia que ela preferia dormir com o cobertor enfiado embaixo do braço, a chupeta perto, mas não na boca, e ter seu brinquedo favorito sempre por perto quando estava no chão.

E se o bebê se chateasse? Sentisse falta da mãe? Havia um milhão de detalhes para observar. Se Robin perdesse um, Sabrina choraria, e a culpa mataria Regina.

Ela devia estar lá.

— Quando foi à última vez que checou? Certificou-se de que ela estava bem?

— Nossa você está tensa. Já estive perto de crianças antes. Ela ficará bem.

Mas ele engasgou ao falar, e a dúvida instaurou-se nela. A Sra.Belle garantiu que Robin tinha muita experiência com crianças.

Então por que parecia tão inseguro, como se duvidasse que soubesse o que fazer se sua técnica de olhar nos olhos do bebê falhasse?

Será que perguntara o bastante? Entrevistara-o direito? Ou sairá muito rápido naquela manhã?

— Tem certeza de que não quer que eu...

— Regina — disse Killian, colocando a cabeça para dentro do escritório. — Reunião em três minutos.

— Robin, eu posso ligar daqui a pouco? — Quando ele concordou, ela desligou e virou-se para seu chefe. — Estarei lá, Killian.


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Notas finais do capítulo

*eremita = solitário, vive sozinho.