Dublê de pai! escrita por AneQueen


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Perdão pelos erros... tô com sono kkkkk bjs inté mais :)



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Pouco depois, o bebê estava alimentado, o jantar, pronto, e Robin, limpo. O clima mudara da conversa sobre o passado para algo mais jovial, como se o cuspe de Sabrina tivesse mudado tudo. Regina encheu um prato com macarrão pelando, cobrindo-o com uma porção generosa de almôndegas. Então se virou para ele.

— Queijo parmesão fresco?

— Está falando minha língua, querida.

— Acho que não preciso perguntar sobre o pão de alho — disse ela, rindo.

— Você não sabia que tem que alimentar os autores? É um jeito de apoiar as artes.

Ela sorriu e adicionou mais uma fatia de pão ao prato dele, entregando-lhe o jantar.

Ao lado da mesa, Sabrina brincava feliz no cercadinho, que também trouxera de casa.

Isso lhe dava tempo para se servir e sentar ao lado oposto de Robin na mesa redonda de vidro.

Assim que o fez, percebeu a estranheza da situação. Não tinha uma refeição com um homem há um ano. Desde Daniel. Falar sobre ele a fez lembrar-se da perda, como se uma onda estivesse esperando um momento como este para varrê-la.

Dissera a si mesma todos esses meses, que haveria tempo para lidar com o buraco em seu coração, em sua vida. Mas, desde que Daniel morrera, havia muitas coisas no caminho para encontrar esse tempo. A gravidez, o trabalho, as contas e agora Sabrina.

Estar aqui com Robin e falar de Daniel forçaram Regina a lidar com a perda. Com a mágoa. Com o fato de que achara que não faria mais isso: sentar-se a uma mesa, como uma família.

Mas eles não eram uma família, eram? Era uma relação profissional. Embora não fosse convencional. Ainda assim, não podia deixar de notar como parecia fácil, especialmente quando riam juntos. Por um instante, podia esquecer por que estava ali.

E podia fantasiar que chegara, em casa depois de um longo dia de trabalho, assim como Robin, para formar essa família perfeita de três. Exatamente como sempre sonhara dar a Sabrina. Exatamente como queria.

— Você não está comendo — disse Robin.

— Desculpe. Eu... Ah... Distraí-me. — Brincou com o garfo. — Talvez essa seja uma boa hora para estabelecermos algumas regras.

— Regras? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Essa não é minha casa? Portanto, minhas regras?

— Se vamos trabalhar juntos, mesmo que por algumas horas, tenho regras também.

Ele se recostou.

— Deixe-me adivinhar. Você é uma daquelas mulheres tipo “use um apoio quando beber algo” e “nada de sapatos na casa”. Você tem um infarto se eu deixar migalhas na mesa. Estou certo?

— Não. Está errado — respondeu ela, rindo.

— Então qual é o seu tipo? — perguntou ele, inclinando-se para frente.

Disse a si mesma que não importava que ele encurtasse a distância entre eles. Seu coração não acelerou nem um pouco. Eram os hormônios. Nada mais.

Porque não tinha um homem em sua vida há mais de um ano. Mesmo que Robin tenha dito que ela poderia escrever um novo capítulo em sua própria vida, não começaria agora. Apesar daqueles olhos azuis e de como as tempestades que se formavam neles á faziam questionar, pela primeira vez, se havia realmente algo faltando em sua vida.

— Sou do tipo que não precisa de mais complicações do que já tenho — disse ela.

— Isso — respondeu ele, encurtando a distância, depois se afastando novamente, colocando uma cerveja entre eles. — É exatamente o tipo de mulher que estou procurando.

— Que bom — disse ela, ainda pensando nele, apesar de tudo o que dissera, ainda pensando em como isso parecia não um encontro, mas...

Normal. Como se estivessem juntos, e tivessem feito isso umas cem vezes antes dessa. E como uma parte dela estava realmente adorando esse sentimento.

— Estou feliz que concordamos.

Nenhum deles disse nada durante algum tempo, o silêncio enfatizado pelos grunhidos felizes de Sabrina e um barulho de brinquedos ocasionais.

— Nenhuma mulher nunca cozinhou para mim antes. Só minha mãe. — Enrolou macarrão no garfo. — Ou eu escolho as mulheres erradas ou nunca conquistei nenhuma com minha personalidade exemplar.

— Podem ser as mulheres — respondeu, com um sorriso.

— Ou não.

— Só não sou um daqueles caras sensíveis. E não gosto de me aproximar.

— Por quê?

— Sou um homem. Não é o bastante?

— Até os homens abrem o coração... — Apanhou um pedaço de pão e encharcou-o no molho antes de mordê-lo. Mesmo que estivessem embarcando em assuntos muito pessoais, Regina decidiu que valia a pena, já que tinha um adulto de verdade com quem conversar. — Se querem ter um relacionamento ou, pelo menos, um que progrida além do jantar.

— Talvez eu não queira.

— Está feliz sozinho? Para sempre?

— Talvez. No futuro próximo, pelo menos.

— Por quê? — O roto falando do esfarrapado. Ela não pensara exatamente a mesma coisa hoje?

Então por que se sentia desapontada? Por que esperava que ele dissesse o contrário?

Precisava controlar seus hormônios.

Ele fez a careta habitual.

— Você parece uma criança perguntando “por que” sem parar.

— É uma questão válida.

— Eu poderia perguntar a mesma coisa facilmente. Há quanto tempo seu marido faleceu?

— Há pouco mais de 15 meses. — Nossa, fazia tanto tempo? De algum modo, parecia mais. Especialmente quando estava sozinha na casa, com Sabrina adormecida, e percebia como sua vida era vazia.

Na pequena folga que tivera hoje, aquela meia hora no parque, fizera duas coisas.

Fizera com que desejasse mais ainda o que não podia ter.

E a fizera imaginar, de algum modo, se era possível conciliar uma vida com tudo o que seu mundo já englobava.

— Então o que você está esperando? — perguntou ele. — Sua filha ir para a faculdade antes de namorar?

— Já disse, mal tenho tempo para lavar roupas, imagine namorar. — Levantou-se e afastou-se da mesa, indo até a pia, e disfarçou as emoções lavando a louça.

Esperava secretamente que Robin a seguisse. Pressionasse-a para mais respostas.

Mas ele não o fez, e o silêncio parecia questioná-la ainda mais. Por que estava esperando? Por que ela estava colocando sua vida, e a de Sabrina, ainda mais na espera?

Tudo o que sempre quis para sua filha era o conto de fadas ideal. Uma pequena casa com uma cerca branca. Talvez um cachorro. E, acima de tudo, uma família tradicional, um marido, um parceiro para ajudá-la a cuidar da filha.

Mas o marido morrera antes que sua filha nascesse, e o lar virara um fardo que mal podia aguentar. E a filha?

A cada dia que passava, Sabrina recebia menos atenção da mãe, e a cada nascer do sol, aquele conto de fadas parecia mais distante. Ao lado de Robin, Regina vislumbrou tudo o que perdera, mas, mais do que isso, vira o futuro, como se Deus tivesse aberto a cortina e dito: Olhe Regina o é o que você pode ter se abrir espaço.

O problema?

Não tinha ideia de como abrir espaço em sua vida ou, mais importante, em seu coração novamente.

Apoiou-se na borda da pia, tentando segurar as lágrimas, forçá-las de volta para dentro, mas elas recusaram-se a voltar dessa vez.

Gotas grandes caíam na água, respingando nas bolhas de sabão, estourando-as. Regina limpou as bochechas com as costas da mão. Estava feliz com sua vida do jeito que era. O restante viria no tempo certo.

Viria.

— Você está bem?

Robin estava atrás dela, com a voz rouca.

— Claro. Só... Ah... Começando a lavar a louça antes que... — Não havia uma boa razão para lavar a louça agora. Não encontrou nenhuma.

— A louça pode esperar. Essa é minha teoria. Especialmente quando há pão de alho para comer.

— Pode comer. Eu pego um depois.

Ele colocou as mãos em seus ombros e virou-a. Tentou não pensar em quão firme, quão dependente aquele toque era, mas era impossível. Tentou não olhar naqueles olhos azuis, porém não resistiu. Tentou não se sentir querida, protegida naquele momento, como se finalmente não estivesse sozinha e pudesse compartilhar todos os medos e fardos, se, ao menos...

Se, ao menos, ousasse.

— Coma seu jantar — disse Robin. Então pausou e fitou-a. — Por que está chorando?

— Por nada.

— Posso não ser o Sr. Sensível, mas até eu sei que as pessoas não choram por nada.

Ela se desvencilhou daquele toque e foi até Sabrina, tirando-a do cercado. Melhor concentrar-se na filha do que acrescentar mais um ingrediente a seu prato pessoal.

— Se não se importa de limpar a sujeira, acho que vou levar Bri para casa agora. Tenho um milhão de coisas para fazer hoje à noite.

— Você não está evitando minha pergunta, está?

Ela parou, virando-se para ele.

— Assim como você evitou a minha. — Então saiu.

Melhor não responder do que confrontar o que não conseguia, e não queria ver.

Principalmente, não sozinha.

— Robin, eu tenho boas e más notícias.

Inclinou-se em sua cadeira preta de couro no escritório, os pés apoiados na mesa de mogno, e suspirou.

— Deixe-me adivinhar, Marco. A ação está ótima. A emoção, uma droga.

Numa mesa lotada de papéis em Nova York, que visitara mais de uma vez no decorrer da carreira, Marco riu. Podia imaginá-lo numa camisa havaiana chamativa, o cavanhaque perfeitamente arrumado, cabelo preto curto espetado e com gel.

Marco era único, mas inteligente e muito bom no que fazia.

— Você leu minha mente.

— Você já disse isso muitas vezes. Poderia escrever suas falas. — Poderia escrever também as críticas que indubitavelmente viriam depois do lançamento do livro. Seriam exatamente como as anteriores. Azedas, difíceis e com uma só estrela.

E não fariam o editor contente. Ou suas vendas aumentarem. Suspirou.

— Provavelmente não preciso dizer o quão importante é esse livro. E como está atrasado também. A produção está me pressionando, Robin. Se você perder esse prazo...

Podia completar essa frase também. Estaria forçando a barra do editor, basicamente acabando com sua própria carreira.

— Me dê... — Queria dizer uma semana, mas sabia que era muito ambicioso, considerando o trabalho que levaria.

— Duas semanas.

Silêncio.

— Duas semanas então. Mas é bom esse livro ser melhor que Michelangelo escrevendo. — Marco desligou, deixando a pressão chiando na linha.

Apanhou as páginas que mandara para Marco por e-mail no outro dia e começou a lê-las. Passados alguns dias, podia ver o que seu editor via. As páginas sobre o herói e a heroína, seu romance, estavam totalmente superficiais.

Apagou tudo. Amanhã começaria novamente.

Mas qual era o problema? Onde acharia um modelo no qual se inspirar para sua história? Além disso, como capturaria aqueles sentimentos no papel?

A campainha tocou e, quando abriu a porta para que Regina Mills entrasse, percebeu que estava ignorando a maneira perfeita de solucionar o problema.

— Quer que eu faça o quê?

— Me ajude a escrever.

— Mas não sou escritora. — Ela apoiou o bebê no outro quadril, com os lábios acariciando a cabeça dele automaticamente. Aquelas feições se suavizaram, os olhos quase se fechando por um segundo. Assistiu-a inalar, capturando o perfume da criança. Podia jurar que seu coração acelerou.

Se fosse o tipo de cara cujo coração acelera perto de mulheres e crianças. Mas não era.

Porque trabalhara duro para se proteger dessas coisas. Auto-preservação. Fechar a veia antes que sangre outra vez. Já conhecia aquela dor e não desejava experimentá-la novamente.

— Por que você iria querer minha ajuda?

— Você entende da única coisa na qual não sou bom.

— A única coisa que eu entendo bem são programas de televisão. E bebês. E nessa área, ainda sou bem nova. — Sorriu para o bebê e beijou-o na bochecha. A criança, contente e alimentada, aconchegou-se no ombro da mãe.

— Você é boa com, bem... — Hesitou, então forçou a palavra. — Amor.

Regina tossiu.

— Você disse amor?

— É uma coisa na qual eu... Bom, meio que falhei. E não consigo passar essas emoções, na verdade, nenhuma emoção, para o papel, nem para salvar minha vida.

— E você acha que eu consigo escrever sobre uma emoção como o amor? Por quê?

— Por que... — Ele aproximou-se como se, pudesse penetrar os mistérios dos sentimentos daqueles olhos ao ver a maneira como ela segurava a filha e passá-los para o computador. — Porque vejo amor toda vez que você olha para sua filha. No jeito como a beija, a segura.

Regina sorriu.

— Bom; Sabrina faz sua parte. Mesmo quando está resmungona, ela faz com que seja muito fácil gostar dela.

— Aí. Bem isso aí — disse ele, diminuindo ainda mais a distância entre eles. — Se você pudesse descrever o que está sentindo, então talvez eu pudesse colocar em meu trabalho. E isso faria meu editor e, eventualmente, meus leitores, felizes.

— Ainda não entendo. Há um bebê em sua história?

Ele riu.

— Não mesmo. Criança nunca aparece em meus livros.

— Por que não?

— Não trabalho bem com elas. No papel ou fora. — Então percebeu como aquilo soou, considerando que era babá temporariamente. — Exceto com sua filha, claro.

— Claro. — Com um sorriso sarcástico, mostrou o quanto o desacreditava. — De qualquer jeito, é uma boa ideia, mas ainda não vejo como posso ajudar. E tenho que ir trabalhar. O que significa que é sua vez de cuidar de Sabrina.

— E se... — Hesitou um segundo, formulando a ideia. — Se você dissesse que está doente por alguns dias e trabalhasse para mim?

— Dizer que estou doente. Trabalhar para você. — Ela repetiu as palavras, automaticamente, sem acreditar. — Como eu poderia arcar com isso?

— Eu te pago.

— Você não pode arcar com isso. E o que exatamente você me pagaria para fazer?

— Me ajudar com o livro, como eu disse antes! Escuta, tenho duas semanas para terminar esse livro. Para transformá-lo em algo incrível. Algo que venda. Meus últimos livros foram... Bom, eles...

— Afundaram. — Ela sorriu, desculpando-se. — Sei usar o Google.

Ela pesquisara sobre ele. Ora, ora. Talvez estivesse mais atraída por ele do que pensara. Ou talvez estivesse interpretando mal uma pesquisa no computador.

— Afundaram é um elogio provavelmente.

— E se eu não ajudar?

— Meu novo livro vai tão mal quanto os outros e, eu perco o contrato, o que significa que terei eventualmente que arranjar um emprego de verdade. E você sabe quão bem me dou com pessoas, particularmente adultos. — Ela sorriu, o que interpretou como um sinal de que a estava convencendo. — Você só é bom de acordo com sua última venda. E não vendo bem há muito tempo. E como...

Ele parou, e Regina se aproximou, equilibrando o bebê.

— Como o quê?

Balançou a cabeça.

— Nada. Só preciso de ajuda. É isso.

Virou-se e começou a dar voltas, acariciando as costas da criança.

— Se eu disser que estou doente, meu chefe vai ter um ataque. Estamos no meio da produção do programa da semana que vem e...

— Ele pode viver sem você?

Ela riu.

— Ele acha que não.

Pensou por um minuto.

— Quanto mais você tem que trabalhar para arrumar esse programa?

— Por mim? Na verdade, eu estou pronta. Tenho todos os convidados prontos. O restante é só detalhe. Certificar-me de que tenham suas garrafas de água importada e jarras de M&M’s verdes apenas, essas coisas.

— Então ele pode viver sem você.

— Talvez possa.

— Agora eu não posso. Então isso decide por nós. — Apesar de as palavras terem saído como uma piada, e essa era a intenção, diminuíra a distância entre eles e, repentinamente, o que quis dizer soou muito mais sério. Como se tivesse parado de falar sobre sua carreira e entrasse num outro assunto, mais profundo: relacionamentos.

O que definitivamente não havia feito. Estava falando sobre livros. Nada mais.

— Acho que posso tirar alguns dias de folga.

— Aceito o que posso ter. — Sorriu. — E se você prometer fazer outro jantar caseiro, nós ficamos quites.

Regina estendeu a mão. Segurou-a, notando os ossos delicados, o jeito como aquela pele parecia seda contra sua mão mais áspera.

— Combinado, Sr. Hood.

Quando encarou aqueles olhos castanhos profundos, algo se revirou no peito dele. E Robin imaginou que tipo de acordo havia feito.


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