As chamas crepitavam da fogueira feita no chão da clareira. A madeira que a abastecia soltava periódicos estalos que deliciavam os dois campistas mais novos que encaravam as chamas quase hipnotizadamente.
A risada das crianças assando marshmallows misturavam-se aos ocasionais ruídos da mata, o distante barulho das águas do mar batendo contra as pedras, e uma coruja que piava para a lua há alguns metros de distância.
Rachel sorriu ao encarar os gêmeos, Joshua e Lydia. Como o tempo deslizou tão rápido perante seus olhos? Parecia que fora ontem que Sam lhe levara para o hospital para finalmente conhecerem seus filhos e em algumas horas, os dois estariam completando sete anos! E é claro que, para comemorar, nada melhor do que o tradicional acampamento Evans-Berry.
Enquanto esperavam o peixe assar e os doces ficarem prontos, os gêmeos brincavam com seus sabres de luz, ainda em completo êxtase com o último filme da saga que tinham assistido na tarde anterior. Desviou seu olhar para seu maravilhoso marido e sorriu, não podia estar mais feliz e realizada. Esperou que ele saísse de perto da fogueira e se aproximou discretamente abraçando-o por trás e beijando sua bochecha e dando uma leve mordida no pescoço. Sam abriu o tão conhecido sorriso, e se virou passando os braços pela cintura dela e dando um apaixonado beijo em sua esposa. Ficaram diversos minutos aproveitando aquela paz e sossego e só se separaram com os protestos de “eca!” dos filhos.
“Vocês parecem o Han e a Leia, só beijam!” Joshue reclamou batendo com o falso sabre de luz na perna do pai enquanto Lydia concordava ao lado do irmão.
“Ae? Vocês vão ver então o que o Han realmente é capaz.” Sam ameaçou fingindo dar um passo na direção dos gêmeos que saíram correndo, as risadas ressoando pelo ar. A sua frente, Rachel gargalhou do jeito que só ela conseguia fazer, com harmonia e graça, fazendo seu coração bater mais forte. Sua atenção logo estava de volta a ela. “Onde paramos?”
“Bem aqui, Solo.” Ela brincou passando os braços pelo pescoço do loiro e colando seus lábios em um intenso e apaixonado beijo deixando claro suas intenções dela quando as crianças estivessem adormecidas.
i.
Após jantarem o churrasco que Sam cuidadosamente preparara, feito do peixe que ele e as crianças tinham pescado mais cedo e Rachel ter permitido que eles beliscassem os doces, mas sem excesso já que tinham descoberto a pouco tempo que Lydia tinha diabetes, chegou a hora favorita de todos, as canções.
Os quatro sentaram ao redor fogo, os gêmeos entre os dois adultos por questões de segurança e Sam com o violão no colo, de modo que as chamas ficassem de frente aos quatro.
Começaram com a típica canção americana de campistas liderados por Joshua e Lydia, fizeram alguns covers das músicas favoritas dos dois e então Sam tomou a frente cantando uma que seu spotify tinha lhe recomendado dias atrás.

She'll lie and steal and cheat, and beg you from her knees
Make you think she means it this time
She'll tear a hole in you the one you can't repair
But I still love her I don't really care

When we were young oh oh we did enough
When it got cold ooh ooh we bundled up
I can't be told ah ah it can't be done

Logo Rachel acompanhou o marido reconhecendo a música, as crianças apenas batiam as mãos nas pernas ou no banco de maneira que estavam sentados no ritmo da música. Enquanto cantava Sam contemplava a vida que levava, nunca se sentirá tão alegre, completo em sua vida inteira, ali estava sua família, unida e junta, fazendo algo tão simples, mas tão especial para eles.

It's better to feel pain than nothing at all
The opposite of love's indifference
So pay attention now I'm standing
On your porch screamin out
And I won't leave until you come downstairs

So keep your head up keep your love
So keep your head up keep your love
So keep your head up keep your love
So keep your head up keep your love

As chamas pareciam dançar junto com a família que cantava e se divertia e suas vozes faziam harmonia com o ambiente. Não havia lugar melhor do que aquele.
ii.
De dentro da barraca, muito bem escondido para que os gêmeos curiosos não encontrassem, Sam veio com dois cupcakes com desenhos de Star Wars e os personagens favoritos dos gêmeos como vela.
“Parabéns para vocês, nesta data querida...” Rachel começou e Sam continuou entregando cada bolinho para um filho e se posicionando ao lado da esposa. Depois de cantarem algumas outras cantigas, diversas fotos, os gêmeos finalmente puderam assoprar e fazer seus pedidos.
“Agora a gente pode abrir os presentes?” Lydia perguntou impacientemente pela milésima vez.
O casal se encarou e se deram por vencidos, os gêmeos não os deixariam em paz se não entregassem os benditos presentes logo, mesmo que o planejado fosse entregar ao amanhecer e não a meia-noite.
“Mas os dois só vão abrir, já passou da hora de irem para a cama.” Rachel deixou claro sabendo que os dois iriam tentar enrolar para ficarem acordados a noite inteira, Sam pegou dois dos vários presentes do porta-malas da SUV e levou até as crianças.
Os papeis viraram pedaços em instantes, sem direito a defesa. Joshua arregalou os olhos quando viu seu presente e ergueu os para encarar a irmã, igualmente empolgada. Talvez até um pouco mais devido ao grito que escapou de seus volumosos lábios.
Joshua ganhara o lego da Millennium Falcon e uma miniatura do boneco Woody que ele insistia que precisava desde que ganhar o Buzz Lightyear no ano passado, já Lydia ganhou o R2D2 de controle remoto e uma miniatura do Flash, seu herói favorito que agora iria salvar suas barbies em constante perigo.
“Mamãe...” Os gêmeos começaram juntos, mas um olhar da mulher deixou claro que era hora de ir dormir. As bocas abertas e olhos cerrados também não ajudaram no caso, mas os gêmeos insistiam que não estavam com sono.
Depois de postos na barraca que iriam dormir, um capítulo de Star Wars herdeiro do império lido e um beijo de boa noite, pai e mãe estavam finalmente livres para curtir a noite.
Ser pais era algo que nenhum dos dois imaginavam que iam gostar tanto. Viver esses momentos simples e sentir a maior alegria do mundo, viver por eles, até morrer ser necessário, era um sentimento incondicional de fazer o possível e tentar o impossível para que aquelas criaturinhas bagunceiras estivessem felizes e seguras. Nada era mais importante do que eles.
A fogueira começava a se apagar, os marshmallows que sobraram estavam negros e carbonizados e o vento começava a soprar mais forte, mas nada conseguia fazer o casal desgrudar os olhos um do outro.
Sam estendeu a mão para a morena e a puxou para seus braços começando a dançar lentamente, antes que a mulher pudesse comentar a falta de música abriu a boca, cantando suavemente a música que tocava em sua cabeça.

How many roads must a man walk down
Before you can call him a man?
How many seas must a white dove sail
Before she can sleep in the sand?
Yes and how many times must cannonballs fly
Before they're forever banned?

The answer, my friend, is blowin' in the wind
The answer is blowin' in the wind

Apesar de conhecer a música, Rachel estava adorando a serenata e apenas seguia o ritmo que Sam levava, encarando aqueles tão conhecidos olhos verdes, tão plácidos, a boca carnuda, cheia de desejo e a voz serena interpretando Bob Dylan.

Yes and how many years can a mountain exist
Before it's washed to the seas (sea)
Yes and how many years can some people exist
Before they're allowed to be free?
Yes and how many times can a man turn his head
Pretend that he just doesn't see?

Claro que a vida não era sempre um conto de fadas ou completamente perfeita, mas naqueles momentos, juntos á natureza e sobre as estrelas, os dois podiam aproveitar o momento em que tudo parecia um sonho, mas respirarem tranquilos, que aquele sonho não iria se desfazer no dia seguinte.
Não, aquele sonho era eterno, pelo tempo que tivessem vida e tivessem um ao outro.

The answer, my friend, is blowin' in the wind
The answer is blowin' in the wind?