Correndo atrás da minha Noz escrita por Miss Addams


Capítulo 1
Minha Noz


Notas iniciais do capítulo

Uma das citações no meio da história é da música, A ti, da banda Motel, que por sinal eu recomendo:
https://www.youtube.com/watch?v=Z9SE-xtJee8

Então, fiquem a vontade, e boa leitura!



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Quando soou a campainha de sua casa ela não imaginava que se depararia com aquele olhar. Sim, porque estranhou quando ao ver pelo olho mágico de sua porta de madeira maciça, feita especialmente por sua encomenda ela ficou surpresa por encontrar aquela cor singular.

Aquela cor de olhos que reconheceria aonde quer que fosse, como quer estivesse, mais o que estava acontecendo? Só poderia estar louca, quando olhou novamente pelo olho mágico o olhar não estava mais lá.

Virou as chaves e finalmente abriu a porta ou tentou por que algo a impedia, quando forçou pela terceira vez conseguiu abrir e se deparou não só com o olhar, mais com o corpo do homem inteiro.

E esparramado na entrada da sua casa, se não estivesse tão surpresa poderia dizer que levou um susto.

:- Poncho? – ela chamou por que ele estava simplesmente de olhos fechados, quando estranhamente há segundos atrás estava com eles abertos e a olhando pela porta.

Ele ainda de olhos fechados e deitado no chão duro, abriu um sorriso com a mão vazia levantou e coçou a barba, abrindo os olhos a mirando.

:- Oi Dulce.

E ela notou algo de diferente a primeiro momento, as veias estavam evidentes, os olhos vermelhos e mais apertadinhos o sorriso era preguiçoso e torto, tinha uma câmera fotográfica profissional pendurada no pescoço e em uma das mãos estava com uma garrafa de tequila, tudo provando que estava completamente bêbado deitado em sua entrada.

Se ela se beliscasse aquele instante acordaria desse sonho maluco?

:- Não vai me convidar para entrar? – ela ficou o olhando e viu como ele falou enrolado quase irritado por ela o ter feito esperar.

:- Levanta daí, Poncho, está frio! – Ela teve noção da realidade quando o viu enrugar a testa e juntar as sobrancelhas.

Sem-mais palavras e com dificuldade ela conseguiu colocá-lo para dentro e deixa-lo no sofá, olhou ao seu redor e viu a bagunça que estava com seu caderno aberto, canetas espalhadas, uma tela exposta com uma pintura incompleta e celular conectado a internet. Mania de querer fazer várias coisas ao mesmo tempo, agora não sabia por onde começar.

Arrumou sua bagunça da maneira que pode e quando acabou e viu que ele estava agora esparramado em seu sofá com os olhos fechados.

:- Poncho?

:- Hum.

:- Você está bem?

:- Fisicamente?

Era mais a pergunta dele do que a falta de uma resposta que a provocou sensações estranhas. Só poderia ser o álcool fazendo efeito ainda em seu sistema sanguíneo, ele estava bêbado e por um momento ela se lembrou da música que tentava compor, logo balançou a cabeça aquele não era o momento.

:- Você está bêbado, como conseguiu chegar até aqui?

:- Táxi. – ele abriu os olhos e ergueu uma sobrancelha tentando ser sabichão.

:- E o que você quer aqui?

:- Você! – falou tão decidido que ela se surpreendeu. – Conversar com você faz tanto tempo que não fazemos isso. Posso?

:- Claro! – respondeu a ele, ainda sentida pela primeira resposta que ele lhe deu.

Ele olhou para ela e começou a rir, ainda mais por ver ela mudar a expressão de seu rosto para confusão. Ele riu por que começou a ficar nervoso, por mais bêbado que estivesse ele estava consciente de algo, estava ali por uma razão. Por ela, mas não sabia como alcançar o que tanto desejava.

:- Acho que alguém bebeu demais ou eu estou com alguma máscara de palhaço e não me lembro. – ela comentou compreensiva, olhando para ele e sentindo vontade de rir também, era contagioso vê-lo sorrir assim.

Ele parou de rir aos poucos nem conseguiu dizer nada sobre o que ela falou, lembrou que tinha um resto de tequila na garrafa companheira e tomou o resto num gole e fez careta depois, agora sim fez ela rir dele.

:- Nem me deu a chance de lhe oferecer limão. – sorriu divertida a ele.

:- Eu prefiro assim pura.

:- Posso saber por qual motivo está bebendo no sofá da minha casa? É para esquecer algo?

:- Não.

:- Então o que?

:- É para lembrar.

Do motivo que eu vim até aqui, ele pensou, mas simplesmente não conseguia falar, ficou empacado ao vê-la, ainda mais com ela achando que ele estava ali bêbado, não que fosse mentira por que o estava, mas ele não teria nenhuma credibilidade.

Ela não entendeu o que ele queria lembrar, mas nem se incomodou de perguntar sabia que ele não falaria nada com nada, por está tonto e tudo estava até divertido.

:- E aí, senhor sobre o que vamos conversar? – ela começou a puxar mesmo uma conversa.

:- Você tem vinho aí?

:- Poncho! Está completamente bêbado e ainda quer mais? Como vai voltar para sua casa depois?

:- Deixa de ser chata você já foi bem melhor que isso, eu não vou fazer nenhuma bobagem, só quero beber um pouco. Assim você me acompanha, além do que posso pegar um táxi.

Ela pensou sobre ser melhor do que isso, realmente, ele tinha razão. Talvez não fosse perigoso dividir com ele em sua casa um pouco de álcool e conversa fora, se lembrou de quando faziam isso antes seja na casa um do outro ou num hotel qualquer.

:- Foi só uma brincadeira minha – ela deu os ombros – não tem problema ficar aqui se quiser é até melhor do que ir lá fora e fazer alguma besteira. Por que quer vinho?

:- Eu preciso lembrar-me da razão pela qual estou aqui. – ela riu do que ele falou, dando corda para a conversa de bêbado dele, ignorando que ele podia está sendo sincero, como muitos bêbados que só falam o que realmente sentem quando estão alcoolizados. Ela mesma era um exemplo ou já o foi um dia.

:- Ok. Fica a vontade então acho que você ainda se lembra de como é a casa. – ela abriu os braços mostrando sua casa, que não mudou tanto assim, estava como sempre. Refletia ela em tudo. – eu vou pegar uma garrafa pra gente.

Tudo o que ela pensava quando estava com a garrafa gelada nas mãos era, calma. Ter calma, não tinha por que ficar nervosa com a situação, era bobagem da parte dela se sentir nervosa assim. Não é por que eles têm um passado que poderia acontecer algo ali. Naquela noite. Agora.

Negando com a cabeça, sem saber o que pensar ou sentir realmente, ela buscou as taças e foi para sala, o que tiver de ser, acontecerá.

Mas, quando chegou na sala teve uma surpresa.

Ele não estava mais deitado em seu sofá, estava de pé tinha afastado alguns moveis do centro e de olhos fechados balançava a cabeça e o corpo numa tonta dança no ritmo da música que ela tinha deixado soar pelo ambiente. Teve vontade de rir, porque aquilo estava se tornando muito engraçado.

:- Poncho, o que está fazendo? – perguntou risonha.

:- Dançando. – não parou o que fazia. – Se eu ficar muito tempo parado, vou hibernar. – agora ele abriu os olhos para ela, que reconheceu o sono chegando, talvez se ela demorasse mais ele dormiria ali em pé.

:- Eu trouxe o vinho, mas se quiser dormir. – ela colocou as taças e a garrafa no chão mesmo.

:- Não. Eu quero ficar aqui com você. – ele sorriu fechado para ela que retribuiu.

:- Sabe que sou curiosa. - ela se sentou no sofá e o olhou de cima a baixo até perguntar o que queria. – Porque você está com uma câmera no pescoço?

Ele parou o que fazia, como se lembrasse do por que sentia um incomodo terrível no pescoço, era pela câmera. Olhou para baixo e demorou a tirar a câmera, os seus sentidos não estava em perfeito juízo.

:- Essa câmera?

Ela apenas confirmou com a cabeça olhando para ele esperando para ver o que faria a seguir.

:- Eu posso confessar que nem lembrava dela aqui. – ele riu agora começando a se sentir meio tonto. Ligou-a e apontando para uma Dulce que segurava o riso pela cena bizarra e tirou uma foto. Quando foi ver estranhou.

Foi nesse instante que ela se levantou e se aproximou dele.

:- A câmera estava de cabeça para baixo. – ela tomou a câmera da mão dele e a virou deixando a foto dela de cabeça para cima, fazendo mais sentido para ele que riu.

:- Acho que eu fui fazer aulas de fotografia antes de ir para um bar ou estava fazendo lá mesmo, agora não me lembro. Devo ter esquecido. – ele deu os ombros.

:- Está fazendo aula de fotografia?

:- Sim, é para uma personagem, vou estar no próximo filme de Chris Hool.

Ela levantou uma sobrancelha sabendo que viria mais um ótimo filme não só para o cinema mexicano, mas por ele participar.

:- Que ótimo. Sei que é sua paixão. – ela se referiu ao cinema e ele sorriu agradecido.

Ela não sabia o que ele faria, mas ainda num reflexo de seu nervosismo quando percebeu que ele se aproximaria dela, o paralisou com uma foto, na verdade um flash. Apontou a câmera para seu rosto e disparou fotos com o flash ligado.

E depois riu divertida quando viu como as fotos saíram.

:- Desculpa-me não resisti. – ela mostrou para ele como ficou a última foto, ele tomou a câmera dela e ainda se olhando mudou para tirar foto e tirou dela também, numa espécie de vingança por não deixa-lo se aproximar. Estava sendo difícil para ele também.

:- Auntch! – ela exclamou coçando os olhos com uma leve ardência. – Eu mereci essa.

:- Exatamente, por isso eu só aceito como desculpas uma dança. – ele tomou ela nos braços, quando ainda estava se recuperando da visão momentaneamente embaçada, ela não viu ele jogar a câmera no sofá que por sorte não caiu no chão.

Não teve tempo para recusar ele já estava em cima dela e totalmente perto, só queria entender o por que dele dançar junto uma música mais animada que estava no seu final, talvez fosse pela bebida serviria de apoio, ela não estava tão interessada em entender algo que estava gostando, mesmo com receio.

Ficaram numa dança improvisada durante alguns minutos sem palavras um ao outro, apenas canto.

Sim, por que à medida que a música tocava vez ou outra ou ele ou ela cantava algum verso sem estarem conscientes disso. Até ela escutar dele algo como, El juego comienza y es el corazón el que tropieza por dejarse amar se deja controlar.

Então ela notou o sinal de alerta que rondava os dois, tudo estava ficando mais claro, as intenções e se lembrou do nervosismo que corria por suas veias, sentiu uma imensa vontade de recuar, abriu os olhos e sendo guiado por ele na dança viu o motivo perfeito.

Ela afastou ele e pegou sua mão.

:- Estamos aqui dançando e nos esquecemos do vinho, vem vamos toma-lo e colocar a conversa que você queria em dia. – sorriu meio sem graça e nervosa pelo caminho que antes eles estavam percorrendo, e ele ainda estava sem entender a mudança dela. – Vem me conta mais sobre esse novo filme. – puxou ele para o sofá. Ela do lado direito e ele do esquerdo um de frente para o outro, sentados lado a lado, em cada ponta do sofá.

Ele começou a contar sobre o filme sabendo que não tinha jeito, enquanto ela abria garrafa e colocava o vinho na taça.

A conversa fluiu mais e mais assuntos surgiam e o vinho cada vez mais acabava, eles estavam mais relaxados e afogados em álcool, ambos tentavam se esquecer de algo e se lembrar ao mesmo tempo, em momentos diferentes na cabeça dos dois se lembraram de algo comum. Aquela acabava sendo a linguagem deles, uma conversa banhada a vinho.

Ele contou o que fez da vida. Ela contou o que fez também. Ele contou o que sabia da vida dela e ela o mesmo, chegou num momento onde ele estava completamente encostado no sofá com uma perna dobrada e apoiada nele enquanto a outra balançava no chão, em plena mania. Ele se lembrou que estava ali por um motivo e tinha que cumpri-lo, mesmo que sentisse um terrível sono causado pelo cansaço e pela bebida.

Ela mesmo se lembrando do seu nervosismo por está próxima a ele e que não adiantou adiar esse momento de estarem próximos na hora da dança, por que o vinho os levaram para o mesmo que caminho que percorriam com a dança. Ela já não se importava mais pensou olhando para ele que falava sobre sua última viagem.

Eles ficaram depois um tempo em silêncio sem-nenhum perceber que o outro estava calado, isso até ela falar e por em palavras uma dúvida que estava em sua cabeça martelando desde que abriu a porta de sua casa para ele entrar.

:- Me conta, o que você veio fazer aqui realmente? – A história de vir conversar não tinha colado com ela.

:- Te pedir em namoro.

Ela beberia o vinho, assim como ele, mas ambos pararam e se olharam atrás do vidro das taças. Ele esperando o que ela falaria a seguir e ela tentando entender a razão dele falar aquelas coisas para ela. Naquele clima, música tranquila baixa, vinho fresco para ambos, eles sentados próximos no mesmo sofá, há momentos atrás ela estava compondo e era sobre ele.

:- O que você faria se seu ex, chegasse no seu apartamento completamente bêbado e ainda falando essas coisas para você? – ela perguntou divertida encarando como uma brincadeira de bêbado, mas tanto ela quanto ele sabiam que era uma pergunta séria.

:- O beijaria. – Ele deu um sorriso para ela fechado, por que ambos sabiam que ele era o tal ex. – Se ele fosse bonito, é claro. – agora sim ambos riram juntos.

:- Você tem alguma espécie de faro, algo assim. – ela se deixou afundar mais no sofá e colocou as pernas no colo dele.

:- Por quê?

:- Sabe quando tem que se aproximar de mim. Quando tudo está balançado, sem equilíbrio, quando estou frágil num momento de impasse para decidir se tomo um ou outro caminho. – Ela olhou como ele pegou o seu pé e começava uma massagem qualquer, tomou mais um pouco do seu vinho. – Você sabia que eu estava morando junto com...

:- Sim. – ele a cortou o poupando de escutar o nome do ex dela.

:- Então como soube que quando chegasse aqui, eu não estaria com ele? O que faria se ele estivesse aqui?

Não viria. Ele pensou, mas tudo era planejado ou quase tudo. Ele sabia que ambos tinham terminado, simplesmente sabia, estava decidido encontrá-la para conversar sobre os dois. Só que nunca tinha coragem para isso até num dia beber tanto que só encontrou a coragem que precisava na bebida. E aquele dia era hoje, estava acontecendo. Agora.

:- Eu não sei. Talvez, você tenha mesmo razão. – continuou entretido nos pés dela, subia às vezes as carícias para a canela e depois voltava. – Eu devo ter um faro, aprendi a te decifrar mesmo que distante, por palavras suas. Sou um esquilo por isso tenho um faro apurado. – ele levantou o olhar para sorrir pela brincadeira que há anos eles faziam. Como se referiam um ao outro.

:- É um faro apurado mesmo. – ela murmurou concordando com ele se lembrando do passado quando ele provava a cada vez que ela estava frágil quando ele sabia que deveria se aproximar ou não.

Ele sabia quando ela tinha terminado com alguém e precisava ficar na sua fossa ou quando estava apaixonada ou não por alguém, sabia exatamente como deveria se comportar, quando se aproximar ou quando se afastar mesmo que seja contra a sua vontade.

Enquanto tomava seu vinho, seu coração não estava preparado para vê-lo assim como aquela noite. O quanto ele estava carinhoso com ela, a forma como a tocava, o vinho que dividiam. Deixava-a cada vez mais no nível dele. Bêbada.

:- Você está solteiro? – ela perguntou por que não sabia como matar sua curiosidade, tinha que começar por algo.

:- Estou sozinho. – Ele apertou com mais força com os polegares na planta do pé dela, entendendo aonde ela queria chegar. E foi sincero, ambos sabiam a diferença entre está solteiro e estar sozinho sabiam ainda melhor o que esses status não tinham peso e nem limites na relação entre os dois.

:- Por que acabou? Vocês eram felizes juntos. – afirmou para depois completar. – Quer dizer aparentavam que eram felizes, tinham construído uma boa relação. – Ela tomou um gole do vinho para tentar conter a garganta seca finalmente expôs sua real curiosidade, por que ele terminou com a namorada de anos.

:- Pois coisas vêm e coisas vão. – ele deixou de mexer nos pés dela para se virar, sem tirar as pernas do seu colo, de frente para ela. – Felicidade vai embora tão rápido que só nos damos conta, quando estamos tristes. – Apoiou o cotovelo no sofá para poder apoiar com a mão sua cabeça para encará-la. – Tudo pode mudar de um minuto a outro, foi o que aconteceu, tudo mudou.

Ela não só apertou os olhos pelo que ele disse por está bêbada já, mas por está desconfiada.

:- Você não fez nenhuma besteira não é Poncho?

:- O que? Eu? Não. – ele abaixou o olhar e sorriu, não era mais o jovem imaturo que jogava tudo para o alto a troco de nada. – Ela se apaixonou por outro.

:- Uhf! – ela soltou fazendo uma careta sentindo por ele, que sentia pesar. Mas, era totalmente ao contrário ele estava bem.

:- É estranho sabe, você passa a vida desejando encontrar uma companheira, alguém para dividir sonhos e uma vida juntos, pode ser que esteja falando de casamento, morar junto, namoro, mas de amor. – Ele encarou ela suspirando. – Você então começa a idealizar essa pessoa, no final das contas nada vai ser como você realmente esperar por que, sempre queremos mais.

:- Quer dizer que esperou demais dela? – Dulce lhe perguntou compartilhando do pensamento dele.

:- Não exatamente, quero dizer que nós dois esperamos muito um do outro e foi algo além do poderíamos cumprir. – ele concluiu o que aconteceu com ele e sua ex. – Eu era bem diferente do que ela idealizava, isso talvez a atraiu. Isso até ela encontrar um cara que eram os dois ao mesmo tempo, ideal e não ideal.

:- Posso te confessar algo também?

:- Diga.

:- Ás vezes pensamos que algo é concreto e que vai ser duradouro, até trabalhamos para que isso seja o que vai acontecer, mas de repente uma bobagem ou algo real passa a ser percebido e muda tudo. Às vezes confundimos o gostar com amar alguém, no final das contas todos nós passamos a vida tentando e descobrindo a diferença tênue entre uma paixão e um amor. – ele não sabia dizer se ela estava dizendo aquilo para ele ou por ela.

:- Isso aconteceu com você?

:- Sim. – ela apertou os lábios antes de continuar. – Eu e ele. Tínhamos uma ótima relação um com o outro, tudo fluía e funcionava bem não tínhamos nenhuma briga destrutiva, nem discussões exaustivas e com isso nosso relacionamento avançou cada vez mais. Até chegar ao ponto de decidimos morarmos juntos. – ela deu o ombro.

:- Qual foi o problema então se vocês funcionavam? – Poncho perguntou realmente curioso.

:- Descobrimos que éramos melhores amigos do que namorados. – ela disse distante. – Quer dizer, quando começamos a morarmos juntos demos conta disso eu só me pergunto por que algo assim não surgiu antes. Precisou a convivência intensa para descobrir algo assim?

Ela estava falando agora da diferença entre o gostar e o amar?

:- Talvez não tenha sido melhor descobrir agora algo assim do que quando vocês se casassem. – ele se remexeu no sofá incomodado só de imaginar ela se casando com outro.

:- Tem razão. Mas, voltar ser solteira com esta idade me deixa tão desanimada.

:- Pare de bobagem, tenho certeza que você tem uma lista de espera grande e só você querer que encontra alguém. – ele falou e era verdade, por isso o medo da concorrência o fazia ficar apreensivo por que apostar em algo que já deu errado?

:- Você mais do que ninguém sabe que não é tão fácil assim, não é qualquer um que chega aqui. – ela sorriu apontando para o próprio coração com o dedo.

:- Você está certa, mas está solteira é diferente de está sozinha. – ele piscou para ela como forma de brincadeira. Ela riu por que na verdade ela estava sozinha, dessa vez não tinha mais ninguém mesmo.

:- Agora eu posso te falar uma grande bobagem, mas eu lembrei de você hoje.

:- Por que é uma bobagem se lembrar de mim? – ela perguntou quase ofendida.

:- Calma deixa eu explicar. – ele riu achando a si próprio bobo. – Eu estava vendo televisão e passou um filme, uma animação com um esquilo. Aquele que sempre está em busca da noz dele, mas sempre acaba a perdendo. Eu me lembrei de você por ver o esquilo encontrar uma outra esquila e os dois disputarem uma noz.

Ambos riram do que ele falou, se imaginando no lugar dos animais. Fazia tanto tempo que essa forma carinhosa e singular não estava tão presente neles, quer dizer chamar ou se referir um ao outro como esquilo trazia consigo uma bagagem muito grande e pesada. Assim como o passado.

Ele vendo que ela estava relaxada e com os olhos pesados abria e fechava os olhos com sono e aquilo era contagioso por que ele começou a fazer o mesmo e pior passou a bocejar. E sonolento ele perguntou a ela.

:- O que você faria se um ex pedisse para voltar?

Ela estranhou a pergunta não esperava uma mudança tão brusca e mais direta de assunto.

:- O acharia maluco. – ela até ficou mais desperta, ao contrário dele que passou a ficar mais sonolento, talvez por ele ter bebida a mais tempo no corpo e agora estava num lugar confortável.

:- E se ele fosse?! – Ele disse de olhos fechados agora encostado com a cabeça no sofá, com uma respiração calma.

Ela sentiu o coração disparar e o sangue ser bombeado para todo o corpo ligeiramente, até o sono que começava a sentir ainda mais pela massagem e carícias dele ir embora, teve um flash do que foi o seu tranquilo dia, este que foi apenas dela. Para as suas atividades e hobbies.

Isso até ele aparecer bêbado em sua porta com sua conversa enrolada por vezes e direta demais por outra, por que tinha que ser assim? Joga-la dessa forma contra a parede e fazer refletir seus sentimentos, suas ações passadas, sobre o que ela sentia agora.

Por que ele tinha que ter um faro tão apurado com relação a ela.

Ela o olhou e viu que sua respiração estava calma ele parecia dormir então com muito cuidado, isso foi assim que ela se aproximou dele, tocando com a mão. Como se fosse uma filhotinha curiosa com algo e tivesse receio de se aproximar, ela subiu a mão de seu peito até sua nuca num gesto de carinho.

De surpresa ele que aparentemente estava dormindo, lhe tomou pela cintura e lhe beijou.

Sem razão ou por todos os motivos do mundo, ela se entregou, o que mais poderia fazer? O que mais poderia negar?

Desceu uma mão para sua barriga e passando embaixo do braço dele que estava ocupado envolvendo-lhe ela o abraçou, chegando com a mão até as costas que estava exposta e seguiu fazendo o seu caminho, assim como ele seguia o beijo. Chegou até a nuca dele e puxou.

Na verdade puxou o ar, por que ali não tinha cabelos grandes mais como ela gostava, foi aí que ele puxando os lábios dela de uma forma diferente parou o beijo.

:- Não tenho mais cabelos grandes, Dulce. – ele disse entre seus lábios. E ela apoiou a mão de antes em sua nuca para abrir os olhos e mira-lo de tão perto.

:- Não sou mais ruiva, Alfonso. – ela falou no mesmo tom e ao mesmo tempo ambos sorriram rápidos, por que se lembraram do que faziam antes e recomeçaram novamente.

Ele não tinha mais cabelos grandes e ela não era mais ruiva, não eram mais aqueles “eus” de antigamente, e se antes não deu certo o que seria agora? Se mudaram?

Ainda aos beijos ele foi se deitando sobe ela para melhor aproveitar daquele momento que a muito não se repetia, não nessas circunstâncias. Imaginar é bem diferente de sentir.

:- Eu gosto de você. – ele disse a primeira frase que veio a cabeça quando passou a beija o pescoço dela.

:- Gostar é diferente de amar. – ela disse numa tentativa de pensar antes de agir. Ele parou o que fazia e olhou para o pescoço dela vendo ela engolir saliva se afastou e a olhou para dizer.

:- Eu não só gosto de você, vai mais além, você sabe disso. – estava sendo sincero.

E ela sabia realmente sabia depois de todos esses anos ainda sentia que era muito além de gostar um do outro, de amar um ao outro. Era a junção dos dois do amar e gostar que os levaram a romper as barreiras do tempo, do esquecimento até agora.

:- Ou é tudo ou é nada conosco. – ela falou esperando para ver o que ele dizia, só precisava de um bom argumento para ela se entregar, já não importava o que ela passaria depois, sobre como ela ficaria depois só precisava de um bom motivo para se entregar a ele. Novamente.

:- Já tivemos dos dois e ambos são insuficientes para nós dois. – ele falou voltando a distribuir beijos no pescoço dela.

:- Então por que continua a me beijar? Por que ainda insiste nisso?

:- Por que eu prefiro arriscar em algo que seja suficiente e alivie isso que carrego durante anos no peito. Eu prefiro arriscar o tudo do que não ter nada por que o nada é pouco demais e a essa altura de tudo o que passamos eu não tenho muito o que perder. Já passei por todos os sofrimentos longe e perto de você.

Ela parou para escutá-lo sabia que em algum momento ele falaria o que realmente queria, de alguma forma sabia que quando olhou pelo espelho mágico da sua porta e o reconheceu, eles teriam essa conversa. Por que assim como ele, ela também tinha um faro apurado quando o assunto eram eles.

:- E se é para sofrer eu prefiro que seja perto de você. Por que eu cansei de acompanhar você a distância, de ir a escondido apoiar o seu trabalho, falar de vez em quando por telefone ou internet. Por que no fundo eu sempre vou ser o esquilo teimoso que quer alcançar sua noz.

Ela já tinha o que queria.

O seu argumento.

Por isso ela dessa vez o beijou sem se importar com mais nada, nem com o depois por que assim como ele ela não se importava com o depois, já sofreu o que tinha que sofrer, já se distanciou o que tinha que se afastar, já amou quem tinha que ser, o tempo passou quantas vezes ele quis e mesmo assim ele não saiu da onde entrou para ficar. No seu coração.

O que viesse dali para frente era lucro.

Ele correspondia cada beijo dela com a mesma vontade de arriscar em algo que já deu certo, já deu errado, que dava os dois ao mesmo tempo. Tinha vontade de explodir aquele momento de alegria por finalmente fazer o que teve vontade e não coragem de fazer durante dias, precisou do álcool para isso.

No final das contas não importava, eles em sua história juntos, tinha o álcool como aliado ou como inimigo para suas atitudes e hoje ele foi o antídoto do que o veneno.

Se lembrou do filme que viu, do esquilo que não importa o que, não importa quem, sempre está perseguindo sua noz. E desde o começo Poncho entendeu e interpretou que aquela mensagem era do que precisava para sair de casa e ir atrás da sua noz também, que a noz era felicidade dele.

Ela estava ali, só precisava ele correr atrás dela.

A próxima vez que a gente se encontrar, vou chorar, vou morrer só para te fazer sorrir, sofrer, sorrir.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Última citação é da música, A próxima vez da banda brasileira, PLAYMOBILLE. Como estava escutando muito ela como trilha para escrever, fica a sugestão:

https://www.youtube.com/watch?v=RqJH3U-JyRM


Obrigada por ter lido. Até a próxima!



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