A Revolta Dos Olimpianos escrita por Tsumikisan


Capítulo 1
A Ideia Mais Ridícula Que Ares Já Teve




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O Deus da Guerra certamente não estava feliz. Na verdade, seu humor estava muito longe de feliz. Talvez a raiva já tivesse que ser um sentimento comum a alguém como ele, mas dessa vez ele não tinha nem palavras para expressar o quão nervoso estava. Por isso preferiu começar a jogar uma estimada coleção de pratos em todas as direções, para o horror das ninfas que serviam como suas criadas. Ele poderia fritar alguém com o olhar naquele momento.

— Senhor, acho que madame Afrodite não vai gostar... – Uma das ninfas começou a dizer, mas foi interrompida por um prato vindo em sua direção, transformando-se em uma pequena rosa para se desviar.

— Quem liga para o que Afrodite gosta?! – Ares cuspiu.

— Mas senhor, foi ela quem lhe deu os pratos... – Outra ninfa insistiu e por pouco o segundo prato não acertou seu rosto.

Nenhuma delas sabia o que havia deixado seu senhor tão bravo com o universo e nem por que ele queria descontar nos pratos, mas elas sensatamente decidiram deixa-lo em paz. Demorou pelo menos quinze minutos para que ele parasse, respirando muito rápido e com uma veia de fúria saltando em sua testa. Ele abriu uma das portas com força e entrou em seu escritório. No centro do aposento havia uma mesa com mapas de guerra e todas as paredes estavam ocupadas com televisões que mostravam desde grandes lideres mundiais à jovens com pré disponibilidade para a briga. Tudo estava iluminado com uma luz vermelha, que dava a Ares uma aparência mais assustadora quando este se sentou em uma cadeira giratória, encarando os monitores.

Ele sentiu os pelos da nuca se eriçarem. Uma fumaça rosada entrava pela fresta da porta, formando espirais pelo chão. Ares bufou e virou a cadeira novamente para o monitor no mesmo momento em que uma belíssima mulher colocava a mão delicada em seu ombro. Suas unhas eram de um vermelho intenso, assim como a cor de cabelo que tinha escolhido naquele dia. Afrodite aproximou os lábios incrivelmente carnudos da orelha de Ares e sussurrou, fazendo biquinho:

— Então você não liga para o que eu gosto?

— Você não devia ficar espionando. – Ares rosnou, tentando não dar atenção a Deusa.

— Eu fico preocupada. Queria saber por que meu amorzinho está tão bravo.

O tom de voz dela lhe causava arrepios. Ele girou a cadeira para encarar a amante e por um momento pensou ter perdido a fala. É obvio que Afrodite queria algo dele, ninguém aparecia em seu escritório com aquele tipo de roupa sem querer algo mais.

— Me diga o que esta acontecendo. – Foi mais uma ordem do que um pedido. Ares deu uma risada alta.

— Aqueles três estão acontecendo! – resmungou. – Ficam lá em cima, todos cheios de si, me dizendo o que fazer. Quem eles pensam que são? Quer dizer, quem botou eles no comando? Não me lembro de uma votação, e você?

Afrodite revirou os olhos. Não precisava perguntar de quem eles estavam falando. Já era a quinta vez que Ares reclamava de ordens em menos de um mês. Na verdade, ele sempre reclamou, mas a algum tempo o desgosto estava ficando mais constante. Ela conseguia aplacar a raiva do amante naqueles momentos com alguns simples truques, mas pelo tom de voz dele, aquela não era uma hora boa para tentar acalma-lo.

— Bem, considerando que os três são filhos de Cronos...

— Héstia também é e eu não vejo ela circulando muito pelo Olimpo.

— Ah... – Afrodite disse, desconcertada com aquele argumento. – Bem, foi Zeus que derrotou Cronos da primeira vez e salvou a todos.

— Eu também poderia ter feito isso. – Ares riu, cheio de si. – Mas...

— Você não tinha nascido ainda, infelizmente. – a outra deu um risinho sarcástico que fez com que as sobrancelhas de Ares se unissem quando ele as franziu. – E eu não vejo Héstia reclamando, só você trancado aqui e falando sozinho que nem um velho gagá.

Foi um grande atrevimento, mas Ares ignorou. Ele havia apoiado o queixo na mão direita pensativamente e encarava a Deusa como se não a visse realmente. Afrodite esperou, mas ele não continuou a falar, então ela retomou o rumo da conversa cautelosamente:

— Eles devem saber o que fazem.

— Se soubessem não teríamos tido todos aqueles problemas ano passado! Nunca imaginei que alguém em sã consciência deixaria Gaia acordar...

— E agora você esta querendo causar mais problemas. – Afrodite disse friamente. – Grande resolução.

— Você não esta entendendo! Nós temos sido rebaixados desde sempre! Precisamos acabar com isso. Precisamos... – Mesmo com os óculos escuros era notável que as chamas que Ares tinha no lugar de pupilas estavam agitadas. – Precisamos de uma revolução.

Ele parecia falar sério, pois girou a cadeira de volta para as telas e começou a apertar vários botões. Afrodite o encarava de olhos arregalados. Não esperava que aquilo acabasse daquele jeito. Durante o ultimo mês todas as reclamações do amante haviam sido recebidas como um cachorrinho muito nervosinho fazendo pirraça, sem nenhuma credibilidade. Quando finalmente recuperou a voz, ela disse ironicamente:

— Acho que você precisa de outra pancada nessa sua cabeça dura, por que a ultima que Percy Jackson deu não foi o suficiente.

— Percy Jackson? – Ares riu com gosto. – Percy Jackson nem precisara saber do meu plano. Ele é metido a herói demais. Não, usarei outros semideuses. Alguns que não tiveram a chance de se provar ainda. E acredite, amorzinho, eles também vão querer lutar.

— O que te garante?

— São corajosos, esses garotos. – respondeu a contragosto. – Dariam o sangue por uma aventura. E além disso, eles também sempre são usados pelos três grandes para vencerem suas guerras. Sinto que eles também estão cansados de serem fantoches.

— Nem todos se juntarão a sua causa...

Ares não a ouvia mais. Havia conseguido o que queria. Seu irmão Hermes agora aparecia em uma das telas, com cara de entediado. Ele bocejou preguiçosamente antes de perguntar:

— A que lhe devo a honra, Ares?

— Preciso que contate os outros, maninho. Urgente. Diga a eles...

Afrodite adiantou-se, empurrando Ares, que saiu girando pela sala em sua cadeira. Ela sorriu meigamente para Hermes, que lhe retribuiu um sorriso confuso.

— Oi Hermes! Espere só um minutinho ok? Preciso dar uma palavrinha com Ares.

O amante ainda estava girando em círculos, tamanha a força que ela colocara no braço. A Deusa parou em frente a cadeira e a segurou sem pestanejar. Ares parecia completamente tonto enquanto encarava a fúria nos olhos de Afrodite.

— Escute bem, querido. Conseguimos um ano inteiro em paz. Sem guerras, sem brigas. Você não vai atrapalhar esses garotos, eles estão ótimos sem nossa interferência! Já temos muitos monstros por ai para causar tumulto sem nossa ajuda!

— Você não entende, princesa? – Ares assumira um tom impassível. Passou a mão forte pelo rosto da outra, num gesto de carinho. – Caso eu consiga o que quero, vamos ficar mais fortes do que nunca.

— Por favor, não faça isso. – ela pediu um sussurro meio ronronado. Suas bocas estavam bem próximas. Ares sentiu o cheiro do perfume que ele adorava. – Por mim.

— Não posso amor. Imagine você tão forte que...

Afrodite se distanciou dele, assumindo uma postura defensiva. Ela se dirigiu para a porta com passos pesados e antes de sair, olhou bem para Ares e antes de sair pronunciou num tom que sugeria que se ela pudesse cuspir veneno, ela cuspiria na cara dele:

— O amor já é a força mais poderosa que existe. Muito mais poderosa que essas guerrinhas inúteis. Você agora não acha, mas descobrirá.

Ela desapareceu na conhecida fumaça rosada no momento em que pisara porta a fora. Sendo a Deusa do Amor, ela não gostava de tratar as pessoas daquela forma, principalmente alguém de quem ela gostava, mas às vezes até o amor tinha que ser cruel. Ela avaliou suas opções calmamente e por fim decidiu aonde ir.

A casa de Apolo no Olimpo era amarela e laranja do teto ao chão e haviam longas flâmulas com o Deus em poses diversas estampadas na porta, tudo feito por Annabeth Chase no ano anterior. Afrodite sorriu consigo mesma por que é claro, amor próprio era o principal. Mas achava que deveria pesar menos a mão no caso de Apolo. Ela parou na porta, com as mãos atrás das costas. Segundos depois um jovem atraente apareceu do seu lado, com o braço ao redor dos seus ombros.

— Há tempos alguém tão bela não vem me visitar. – Apolo comentou, sorrindo. Seus dentes eram perfeitamente brancos. – A que devo o prazer, Afrodite?

— Podemos falar em particular? – ela perguntou, olhando ao redor, apreensiva.

O sorriso de Apolo vacilou levemente. Ele a levou para dentro, com o braço ainda em seu ombro. Por dentro o lugar não parecia uma antiga casa grega, mas um lugar bem moderno. O sofá em que Afrodite sentou-se era de couro e tinha uma grande televisão de tela plana em frente a ele. Ela ergueu uma sobrancelha para Apolo, que piscou marotamente.

— Temos que viver com estilo, queridinha. Então, que tal me contar por que essa carinha triste?

Ela suspirou e relatou os acontecimentos. Apolo era um ótimo ouvinte, não a interrompeu nenhuma vez. Quando ela acabou, ele estalou os dedos e duas xícaras com chá apareceram em cima da mesa. Afrodite aceitou uma delas com um sorriso.

— Eu terei que participar, entende? Não é só Ares que anda reclamando. Hefesto também está muito chateado com o que anda acontecendo. E eu tenho que seguir as ordens do meu, por falta de palavra melhor, marido. – ela franziu o cenho.

— Sim, entendo sua situação. – Apolo mordiscava o mindinho. – E concordo, meus filhos e filhas estão muito bem sem mais uma guerra estourando na cabeça deles. Mas o que espera que eu faça?

— Consulte o Oráculo de Delfos. – Afrodite respondeu, hesitando. – Você poderá saber qual será o desfecho e alertar Ares...

— Ah, isso é impossível. Veja bem, o Oráculo só vai te dar certezas. Mas guerras? Guerras são incertas. As mudanças podem ocorrer em segundos. Muito instável, eu diria.

— Então o que nós...

— Te direi o que faremos então. Assim que a carta chegar, se é que Hermes vai entrar no plano de Ares, eu irei falar pessoalmente com Zeus. Ele ainda esta bravo comigo por causa do ano passado, mas isso provavelmente vai recompensar. E lhe direi também sobre sua situação, mas caso aconteça algo, eu me responsabilizo. – O Deus se levantou, alongando-se. Sua barriga definida ficou aparente mesmo com a camisa que usava.

— Prefiro que você finja que a ideia foi toda sua. - Afrodite fez uma careta a menção de contar que ela dedurara Ares. – Assim eu poderei manipular as coisas à surdina.

— Bem a sua cara. – ela não pareceu ofendida com o comentário. – Combinados, então?

— Claro. – A Deusa deu um de seus encantadores sorrisos enquanto se levantava.

Estava preparando-se para ir embora quando Apolo a chamou novamente.

— Ah, eu também irei alertar um semideus. É bom que eles estejam preparados.

— Quem?

— Você verá. – disse com um aceno que obviamente a dispensava.


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