Oblivion escrita por Raura


Capítulo 1
Until It's Gone


Notas iniciais do capítulo

Abraçando de vez minhas férias, aproveitei para começar essa fic que eu planejava já faz um tempo, mas com os deveres universitários em alta não podia sentar com calma e escrever, anyway, espero que gostem

boa leitura!



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Se tudo o mais perecesse e ele ficasse, eu continuaria, mesmo assim, a existir; e, se tudo o mais ficasse e ele fosse aniquilado, o universo se tornaria para mim uma vastidão desconhecida, a que eu não teria a sensação de pertencer.” – O Morro dos Ventos Uivantes.

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O inverno mal tinha começado, e as temperaturas baixas de Londres já traziam a parte favorita de Molly dessa época do ano: neve. Olhava pela janela os pontinhos brancos caírem do céu, terminou de tomar seu café, deixou a louça na cozinha, foi até o quarto pegar suas coisas para ir trabalhar.

Apertou o cachecol em volta do pescoço e desceu as escadas, claro que adoraria uma cama quentinha e chocolate quente com esse tempo, mas também amava seu trabalho, e quem sabe depois do expediente não fosse à pista patinar no gelo?

Chegou ao hospital alguns minutos atrasada, correu para subir aos degraus e a última coisa que se lembra foi de perder o equilíbrio nos degraus escorregadios e da pancada na cabeça.

— Molly?! – ouviu uma voz chamando, abriu os olhos e deu de cara com um dos médicos que trabalha no mesmo andar que o seu.

— Ethan? – reconheceu quem lhe chamava, percebeu que estava deitada em uma cama de consultório. — O que estou fazendo aqui?

— Você escorregou nos degraus, caiu e bateu a cabeça no corrimão com força suficiente para te fazer perder a consciência. Eu estava virando a esquina quando vi você caindo.

— Eu... – Molly sentou-se na cama, sentiu o local da pancada doer. — Que desastre meu. – pôs os pés para fora da cama na intenção de se levantar.

— Aonde pensa que vai?

— Ora Ethan, aonde mais iria? Tenho trabalho a fazer, os mortos não farão a autópsia em si mesmo. – desceu da cama com um salto.

— Mas você bateu a cabeça com força, devia fazer uns exames para ter certeza de que não é nada.

— Esqueceu-se de que eu também sou médica? Se eu sentir algo, peço uma segunda opinião, que por sinal, se eu precisar tenho muitas a minha disposição.

— Vou confiar em você, não quero ser culpado por negligência.

— Não será. – pegou sua bolsa e foi até a porta. — Obrigada Ethan!

Molly deixou suas coisas no armário e passou na sua sala para pegar as pastas que precisava, primeiro passou no laboratório para pegar os resultados dos testes que tinha feito, Sherlock estava debruçado no microscópio.

— Bom dia Sherlock! – cumprimentou-o, ele apenas acenou com a cabeça sem se dar ao trabalho de respondê-la, pegou os resultados e sentou-se em outra bancada para começar a fazer seu relatório.

Dividir o laboratório com o detetive era o mesmo que não dividi-lo com ninguém, ele quase não falava e fazia pouco barulho, ás vezes ficava olhando o nada fazendo poucos movimentos como se não existisse mais nada ao seu redor, e ás vezes solicitava a ajuda de Molly.

Sua paixão por Sherlock Holmes tinha começado da maneira mais clichê e platônica possível, mas ele tinha sido grosseiro e indelicado vezes o suficiente para ela entender que ele não sentia interesse por ela, e mesmo assim ela acabou amando ele!

Maldita hora que Moriarty ameaçou a vida das pessoas mais próximas a Sherlock e ele teve de fingir sua morte. Quando isso aconteceu, ela tinha sido umas das pessoas que mais ajudou ele com a farsa, e antes dele sumir de Londres para desfazer a teia de Moriarty, ele tinha ficado uns dias no seu apartamento.

Achou que não sentia mais nada, engano seu, ela passou a amá-lo. Fez o que pode para bloquear esse sentimento, assim que ele foi embora seguiu com sua vida, tinha até arrumado um namorado. O relacionamento não deu certo e ela ainda continuava amando Sherlock, depois que John tinha se casado, era mais frequente ele fazer suas experiências no laboratório do hospital, ou ligar pedindo que ela fosse até seu apartamento levar algo que ele precisava.

No final tinham se tornado amigos, passou a não negar o sentimento, simplesmente aceitou que apesar de tudo amava ele.

— Molly – a voz do detetive lhe tirou de seus pensamentos. — Preciso voltar à Baker Street, quando sair o resultado dessas análises, me mande uma mensagem que eu volto aqui para buscá-las.

— Sim.

— Obrigado! – pegou seu casaco e saiu.

Molly terminou de escrever os relatórios e levou-os para arquivá-los. Fez o que Sherlock tinha pedido, mas não o viu quando foi buscar os resultados, estava ocupada supervisionando os estagiários numa autópsia. Naquela semana não voltou a nevar e Molly adiou os planos de ir patinar no gelo por causa da quantidade de trabalho que teve no hospital.

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Desde que caíra nos degraus do St Barts, Molly tomava cuidado para não reviver o incidente, ventava muito quando chegou ao hospital. Sherlock tinha lhe enviado uma mensagem pedindo que ela fosse ao laboratório assim que chegasse, antes de ir até lá, passou na cantina e comprou dois cafés, se ele recusasse, ficariam os dois para si.

— Bom dia Sherlock! Trouxe café – ele balançava um tubo de ensaio quando ela entrou na sala, deixou um copo de café ao lado dele.

— Obrigado.

— Precisa de ajuda com algo?

— Sim, preciso analisar e comparar essas substâncias tóxicas, pretendo terminar até antes do meio dia se possível, posso contar com você? – Sherlock usou seu olhar que não aceitava negativa, se fossem uns dois anos atrás, talvez Molly tivesse até suspirado, mas já tinha passado desse estágio de apaixonada e não daria esse gostinho pra o ego dele.

— Eu vou ajudar, mas tenho que terminar um laudo primeiro.

Estava terminando de escrever o laudo quando Ethan entrou na sala.

— Bom dia, Molly!

— Bom dia, Ethan! O que faz aqui, perdido nessa ala do hospital?

— Vim saber como está sua cabeça.

— Melhor que meu equilíbrio, pode ter certeza. – Ethan começou a rir e Molly o acompanhou, Sherlock olhou-os e não entendeu o motivo dos risos, decidiu ignorá-los, provavelmente Molly tinha escorregado e ele presenciou o acontecido, deduziu.

— Bom... Preciso voltar para meu consultório, acha que vai demorar com isso? – apontou para o papel diante da legista.

— Estou quase terminando.

— Então, depois você podia aparecer na minha ala para tomarmos um café.

— Ah... – olhou para onde Sherlock estava e pegou ele lhe observando, se fosse outra pessoa, teria aceitado só para o detetive experimentar a sensação de ser trocado, mas ela não era assim tão mesquinha. — Eu disse que ajudaria Sherlock com algumas análises.

— Combinamos outra hora então, até depois Molly. – beijou a mão dela de forma teatral e saiu.

Quando voltaram a ficar sozinhos, a legista terminou e assinou o laudo, colocou na pasta, depois levaria ele para arquivar, pegou um par de luvas e foi até a bancada de Sherlock ajuda-lo.

— Pensei que não ia mais me ajudar. – ele comentou enquanto ela colocava um pouco de reagente dentro do tubo de ensaio.

— Eu disse que ajudaria e vou ajudar, como sempre. Não entendi por que achou que eu não ajudaria, sendo que eu disse que o faria.

— Quando você foi convidada, pareceu ponderar por um momento. – explicou.

Claro que ele tinha notado, pensou.

— Acho que está reparando demais Sherlock. Vamos precisar de mais alguns tubos, vou busca-los.

Sherlock acompanhou com o olhar a legista ir até a estante onde ficavam os mais variados tipos de recipientes, ela pegou um suporte e colocou alguns tubos de ensaio, voltava para a bancada onde estavam quando vacilou, os tubos caíram no chão fazendo barulho e antes que conseguisse chegar até Molly, ela tinha desmaiado no chão.

— Molly! – Sherlock arrancou as luvas e correu até a legista.

Rapidamente deu uma avaliada nela, mas aquilo estava além das suas capacidades de dedução, ia chamar um médico quando John abriu a porta.

— Sherlock... – correu na direção dos amigos quando viu o detetive ao lado da legista desacordada. — Pelo amor de Deus Sherlock, o que aconteceu aqui? Além do óbvio.

— Você é o médico aqui John, veja se consegue acordá-la que eu vou buscar alguém.

John fez o que pôde para tentar acordar Molly e não obteve sucesso, menos de cinco minutos depois Sherlock voltava para sala com um médico e um enfermeiro, eles colocaram a legista numa maca e a levaram desacordada.

Levaram Molly para fazer alguns exames, John ficou com o amigo esperando para saberem o que tinha acontecido e se ela tinha finalmente acordado, Sherlock estava inquieto, não gostava de não ter resposta para algo. Era quase uma da tarde quando o médico veio falar com eles.

— O que vocês são da Dra Hooper?

— Amigos, pode nos dizer o que ela tem.

— Bom... – John conhecia aquela hesitação, a notícia não seria das melhores. — Sinto informar, mas ela entrou em coma.

— Isso não faz sentido – o detetive disse com a testa franzida.

— Vocês sabem se ela sofreu algum acidente?

— Um médico chamado Ethan, perguntou hoje cedo como estava a cabeça dela, melhor pedir detalhes para ele. – Sherlock começou a se afastar dos dois.

— Aonde você vai Sherlock?

— Preciso limpar o laboratório. – disse por sobre os ombros.

— Nem me apresentei, sou o Dr John Watson, qualquer mudança no estado de Molly, me avise, por favor.

— Claro, deixe seu telefone com uma das enfermeiras na recepção.

Depois que o médico se retirou, John passou no laboratório para procurar o amigo, mas ele já não estava mais ali.

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No dia seguinte, John aproveitou seu horário de almoço e foi ver o amigo em seu apartamento, abriu a porta e o viu sentado com as pernas cruzadas no chão rodeado de livros.

— O que é isso Sherlock?

— Livros oras.

— Eu sei que são livros, quero saber o assunto deles.

— Sobre o estado de coma.

— E porque não perguntou pra mim? Caso tenha se esquecido, sou formado em medicina.

— Eu não me esqueci. – levantou-se, pegou o casaco e o cachecol pendurados, vestiu-os. — Vou ao hospital, você vem comigo?

— Sim, e antes que eu me esqueça, Lestrade pediu sua opinião para o caso que ele tem em mãos.

— Mais tarde falo com ele, vamos.

Chegaram ao hospital e foram direto ao quarto de Molly. John pediu para ver o prontuário da paciente a uma enfermeira que entrou para trocar o soro, Sherlock sentou-se na poltrona e colocou as mãos sob o queixo como costumava fazer sempre que se punha a pensar em algo.

— Sherlock... Pelo que li no prontuário, o que causou o coma nela foi uma pancada na cabeça que ela levou, por acaso você sabe como isso aconteceu?

— Não tenho certeza John.

— Está tudo como deveria segundo os exames que fizeram, agora é esperar e torcer para que ela saia dessa e acorde. – o detetive apenas acenou positivamente a cabeça, segundo os anos de convivência com o amigo sabia que ele não falaria nada por um bom tempo e tinha de retornar a clínica onde trabalhava. — Bom... Preciso ir, qualquer coisa me mande uma mensagem.

Sherlock ficou o resto do dia ali, quando deu por si já estava escuro, tinha se habituado a presença de Molly em sua vida, olhou novamente ela na cama antes de se levantar para ir embora, aquela não seria a primeira vez que passaria o dia todo no hospital.

Os dias foram passando e Molly continuava naquele estado, Sherlock aparecia todos os dias no hospital e ficava um bom tempo em seu quarto. Ainda ajudava Lestrade com investigações, mas só ia até os locais quando era essencial que visse com os próprios olhos.

Em uma de suas idas para ver a legista, tinha levado o gato dela dentro de uma bolsa pra que ele pudesse ver a dona e quase foi pego por uma das enfermeiras, por sorte conseguiu se esquivar e devolveu o gato dela em segurança ao apartamento.

Alternava os dias para ir checar se estava tudo bem com o bichinho de estimação dela com Mary. Também um dia levou o violino e tocou para Molly, mesmo sem ter certeza que ela realmente ouvia, e uma vez recitou em voz alta as pistas que Lestrade tinha lhe enviado para ver se conseguia conectá-las. Um dia chegando ao quarto encontrou Mary e a pequena Charlotte lá, ao ver o padrinho a menina correu para os braços dele.

— Tio Sherly! – ele pegou a menina de cinco anos no colo.

— Como vai Lottie? Olá Mary.

— Olá Sherlock. – ela reparou que os cabelos dele estavam maiores e alguns de seus cachos pesavam e caiam rebeldemente na testa. — Passamos para dar uma rápida olhada em Molly, íamos depois ao 221B, Charlotte queria te ver.

— Mãe, posso ficar aqui? O tio me leva até em casa depois, né tio?

— Levo sim, pode deixá-la aqui comigo Mary.

— Está bem, preciso voltar para clínica. – beijou a bochecha da filha e de Sherlock. — Se cuidem.

— Tio, me conta de novo a história de quando você e papai estudaram cor de rosa? – a menina pediu. Sentou-se na poltrona ao lado da cama com a afilhada no colo e começou a narrativa, estava na parte em que John e ele perseguiam o táxi quando ela interrompeu. — Tio?

— O que foi?

— Tia Molly vai ficar igual à bela adormecida pra sempre?

— A situação dela é um pouco mais complicada Lottie.

— Não é não, é só você dar um beijo nela que ela acorda.

— Antes fosse tão simples assim.

— Eu sinto falta dela...

— Posso te contar um segredo? – ela balançou os cabelos ondulados cor de mel consentindo. — Eu também.

— Toc toc. – ouviram a voz de Mycroft parado na porta sabe se lá há quanto tempo.

— Perdeu o rumo da doceria irmão?

— Não, estava a sua procura irmãozinho.

— Olá Mike. – Charlotte cumprimentou-o, desceu da poltrona e foi até Mycroft parado na porta apoiado no guarda-chuva, puxou a barra de seu paletó esperando, ele tirou um pirulito colorido do bolso e entregou a menina.

— Olá miniatura de Watson. Sherlock nossos pais ligaram, eles nos querem em casa para o aniversário do pai.

— E você veio aqui só para me dizer isso? Podia ter ligado.

— Não, também senti saudades suas.

— Arrã, se veio para seus sermões poupe saliva. E se me der licença, preciso deixar Charlotte em casa. – disse se levantando da poltrona.

Sherlock pegou a menina pela mão e saíram do hospital. Sentiu um pouco de irritação por Mycroft ter ido até o hospital só para lhe repreender, já conhecia o discurso dele sobre se importar não ser uma vantagem. Mas e se ele quisesse essa desvantagem?

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Fazia pouco mais de três semanas desde o dia que Molly desmaiou no laboratório, Sherlock estava sentado na poltrona com os olhos fechados há tanto tempo que quem não o conhecesse julgaria que ele estava dormindo.

— S-Sherlock?! – a voz da legista o despertou num salto. Ele se levantou e se aproximou da cama. — O que você faz aqui?

— Vou chamar um médico.

Saiu do quarto sentindo alívio, o tom que ela tinha usado para dizer ‘você’ não o agradou, mas o importante no momento era finalmente Molly ter acordado.


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Notas finais do capítulo

E então? Mereço saber o que acharam? :3