Três anos depois...

Bom, a minha ideia era realmente ótima. A prática dela talvez não fosse tão fácil. Mas eu não desisti.

Está no sangue dos Hoffersons não desisti facilmente. Lutaríamos até o fim em cada uma de nossas batalhas.

E aquela era uma das minhas batalhas. E eu iria lutar.

Soluço e eu continuamos treinando por anos. Mais precisamente dolorosos anos. Lutávamos todos os dias ao entardecer, pois de dia tentávamos fazer nossas tarefas na Ilha.

Nos três anos que se passaram, não conseguimos muito avanço. Na verdade nenhum avanço significativo. O que era realmente desafiador para mim.

Ele sabia a teoria de como segurar uma espada, todos os golpes, defesa, mas na prática... Nada dava certo. E isso deixava a ele e a mim muito frustrados.

Soluço tentava. Eu via. Ele era persistente. Se caía, ele levantava na mesma hora e tentava até o fim. Eu admirava a sua persistência. A sua vontade.

Mas vontade não vencia uma guerra, não empunhava uma espada corretamente, não se defendia.

Dava pena dele. Embora eu não suportasse esse sentimento relacionado a mim. Porém eu tinha, devia cobrar dele o seu melhor.

Naquele dia fomos para o mesmo lugar de sempre. De todos os dias. A clareira no meio da Floresta de Berk.

Ele tentara me ensinar a atirar com arco e flecha. Ele era realmente bom nisso. E era uma troca. Eu tentava lhe ensinar a lutar com uma espada e ele tentava me ensinar a atirar.

Porém eu havia desistido de tentar fazer isso. Derrotada por uma flecha. Eu atirava tão mal quanto Soluço lutava. Mas Soluço não desistira de empunhar uma espada.

A clareira continuava a mesma de anos antes. O mesmo lago, a mesma caverna. Íamos para o centro, lutávamos e o costume era sempre o Soluço perder para mim.

Mas naquele dia Soluço estava realmente distraído. Mais do que o normal. Não sabia o que havia acontecido direito.

Tinha suspeita que o fato de a maioria dos jovens da Vila já tivesse sido designado para as suas tarefas o incomodou. E com a maioria eu excluo o Soluço.

Ele não fora designado a nada. Somente a ser aprendiz de Ferreiro, sendo aluno do Bocão. Sabia que não havia para ele nada heroico nisso.

Mas eu não iria tocar no assunto.

A sua distração era tanta que eu avançava e ele nem tentava aparar os meus golpes. E eu estava ficando realmente irritada com isso.

–Soluço, se concentre! – eu gritei.

Ele por um minuto pareceu tentar lutar. Mas novamente rendeu-se a viagem ao mundo que só ele conhecia. Avancei mais firmemente então. Ele precisava acordar do seu sonho.

E de repente, sem querer, acertei o seu braço direito. A sua espada caiu no chão e vi sangue em seu braço. Ele gemeu de dor e pôs sua mão no ferimento.

– Por Thor, me desculpa Soluço- eu digo com as mãos na boca. – Me desculpa, você está bem? – eu perguntei me aproximando dele preocupada.

–Eu estou bem – ele diz, fazendo um gesto para que eu parasse de me aproximar. – Eu estou bem não se preocupe - sua respiração estava ofegante, e eu via que o seu braço direito sangrava muito.

–Vamos parar, você está machucado. Não tem como você lutar assim Soluço – eu tentei convencê-lo. Mas ele tinha o que nós chamávamos de teimosia crônica.

–Não – ele pega a sua espada do chão, segurando-a com a mão esquerda. – Vamos terminar isso. Se ao menos eu não posso der útil na vila eu irei aprender a lutar.

Eu olho solidária para ele, mas mesmo assim incrédula. Ele estava machucado. Não tinha condições de lutar. Não tinha como ele fazer isso.

Porém, ele empunha a sua espada em sua mão esquerda. E põem-se em posição de ataque. Balanço a cabeça negativamente e avanço cautelosamente.

Eu iria pelo menos cansá-lo e fazê-lo parar com aquela loucura.

Ele acerta a minha espada firmemente. Ele impede que eu faça outro golpe e eu quase me desequilibro e caio no chão. Mantenho-me firme e avanço novamente.

Todos os golpes que eu tentava fazer, ele impedia. Ele conseguia aparar. Ele conseguia avançar e tentar furar a minha guarda. Eu comecei a recuar.

Eu naquele momento tentava realmente me concentrar na luta. Porém apenas um pensamento invadia minha mente: Ele era canhoto! Ele era canhoto.

Os canhotos eram os melhores espadachins do mundo inteiro. E isso era comprovado. E eu mesma estava tendo a prova ali.

Ele conseguia avançar e a adrenalina da luta não lhe deixava sentir dor. Embora o braço direito dele estivesse meio mole e não sendo usado para nada no momento.

Eu lutava sorrindo. Obviamente não iria entregar aquela luta. Afinal eu era uma Hofferson. Mas eu teria uma felicidade enorme se perdesse para ele.

–Vamos lá Soluço! Mostra-me do que os Strondus são realmente capazes – eu disse desafiadoramente.

Ele sorriu. Pela primeira vez ele estava feliz. Pela primeira vez em três anos ele sorria ao lutar.

Aparei um de seus golpes certeiros e abaixei-me para que ele não me acertasse. Avancei em sua direção e ele desviou-se do meu giro.

Mas ele, com um golpe de mestre fez a minha espada parar no chão. Ele apontou a sua espada para o meu pescoço, ofegante. Eu sorri com as mãos levantadas.

–Muito bem Soluço. Muito bem – eu disse.

Ele abaixou a espada e eu o abracei fortemente. Eu me esqueci de seu machucado e quando escutei o seu gemido de dor me afastei.

–Me desculpa. Mas agora vamos lá viking. Vamos cuidar desse seu machucado – eu digo sorridente.

Eu abraço a sua cintura e vejo que ele está um pouco tonto. Ele se apoia em mim e seguimos caminhando de volta à Vila.

– Eu te disse que você seria o melhor viking que o seu pai já viu – eu digo em seu ouvido.

Pela primeira vez eu vi o sorriso mais iluminado do mundo invadir o seu rosto. E uma sensação de dever cumprido invadiu o meu coração.

Eu disse que cumpriria a minha promessa. E finalmente havia cumprido ela.

Talvez Soluço não fosse como os outros vikings naquela época. Na verdade ele nunca seria como eles, no bom sentido.

Mas ele lutava como um. Com toda certeza. Embora ainda não conseguisse segurar armas muito pesadas.

Ele atirava flechas melhor do que qualquer viking, embora não dissesse isso ao seu pai. Não era algo em que nós vikings deveríamos ser bons. Mas agora ele era também um bom espadachim.

Na verdade, talvez ele se torne o melhor espadachim do Arquipélago. Talvez ele se torne um herói. Apenas veja essa história e observe.

É um caminho difícil. Mas Soluço é o melhor viking que eu já vi. Um herói nem sempre percorre o caminho mais fácil para tornar-se enfim brilhante.

Soluço era humilde e paciente. E conseguiria salvar a todos nós nos momentos mais difíceis. O heroísmo está em ajudar os outros. Nos momentos mais difíceis.

Sem dúvida alguma ele era o meu melhor amigo. Em quem em confiaria a minha vida. A quem eu confiaria Berk.

It’s time to begin, isn’t it, I get a little bit

Bigger, but then, I’ll admit

I’m just the same as I was

Now, don’t you understand

That I’m never changing who I am

É a hora de começar, não é? Fico um pouco

Maior, mas depois, admitirei

Sou o mesmo que eu era

Agora, você não entende

Que eu nunca vou mudar quem eu sou?