A campainha toca incessantemente, me fazendo levantar mal-humorada da cama e ir a passos duros abri a porta. E para minha incrível surpresa, ou não, meu ex-melhor amigo está parado parecendo desolado.

—- Eu não quero mais você aqui! – Disse batendo a porta e sendo impedida por um pé.

—- Eu terminei com ela, eu juro Sofia! – Ele tentava se explicar, enquanto eu continuava a prender o pé dele com a porta.

—- Tenha paciência Rafael! – Exclamei exasperada, não iria aguentar por muito tempo – Você não tem pena de mim não?

—- Por favor, Sofia, eu preciso de você!

E como sou fraca, o deixei entrar, mesmo sabendo que iria me machucar.

—- Argh! Entra garoto! – Abri mais a porta e dei passagem para ele entrar

Eu o segui até a sala, onde nos acomodamos no sofá, para então ele começar a testar o quão forte minha fraqueza é.

—- Sabe Sofia, dessa vez é pra valer, se ela acha que em toda briga eu vou dá o primeiro passo! Dessa vez ela está muito enganada. Cansei de ser o bom namorado, enquanto ela só dá piti e briga por nada.

—- Rafael, nem sei mais o que te aconselhar, sempre digo para não ir atrás dela, isso só te machuca, mas você continua a ir atrás, continua a querer aquela fresca. – Por fora, era assim que eu queria parecer, forte. Mas por dentro tudo que eu queria era acreditar que dessa vez era verdade, que ele tinha acabado tudo.

—- Não precisa falar assim, eu sei que sou um idiota,

—- Não você não é – Digo me aproximando dele – Você só gosta daquela víbora – Digo sem me importa com os insultos, ele sabe que eu odeio ela.

Passo a mão pelo rosto dele que automaticamente deita o rosto na minha mão.

—- Sofia, só você sabe me acalmar – Agora ele se aproximou, roçando o nariz no meu – Só você me aguentar, sempre me deixa voltar, e me ajuda a me recuperar... – Ah! Aqueles olhos azuis.

Eu não aguentei e acabei cedendo ao meu desejo, o beijei como sempre fazia quando ele voltava, depois de uma briga com ela. Acabei deixando ele entrar na minha vida de novo, mesmo sabendo que amanhã ele não vai estar aqui, e eu vou acordar sentido saudades.

~*~

Mais um vez, sentada no parapeito da minha janela, abraçando minhas pernas e intercalando olhares entre a cama e o vazio que a noite me proporciona.

O silencio no quarto se torna meu pior inimigo, deixa espaço para a minha cabeça trabalhar em pensamentos que só me fazem mal. Olhando ele deitado de bruços, coberto apenas pelo lençol, eu lembro dos momentos mais constrangedores da minha vida, ele chamava por ela no nosso momento mais intimo!

É uma tortura, é como viver no inferno, está apaixonada por alguém que você sabe que está apaixonado por outra. E não interessa o quanto eu diga pra mim mesma: “Dessa vez, eu não vou deixar acontecer. Dessa vez, eu não vou perde o controle” Bastou eu olhar naqueles olhos azuis, e o meu coração não conseguiu dizer não!

Enxuguei o rosto molhado, voltei para a cama e tentei dormi, porém, como que ironicamente meu corpo reconhece o dele, só consegui dormi quando os braços dele agarraram minha cintura me puxando para mais próximo do seu corpo.

~*~

Acordei mais cedo e fui preparar um café bem forte, era assim que eu queria me sentir ao ter essa conversa com ele, forte.

Depois de pensar muito, resolvi dá um basta nessa situação, não poderia mais ser a “substituta” para ele, eu não quero mais ter ele pela metade, ter ele apenas quando ela não tivesse!

E assim pensando é que eu escuto ele caminhando até onde eu estava.

—- Bom dia – Ele me cumprimenta, tentando me beijar, eu apenas viro o rosto e levo minha xícara à boca, desviando o olhar. – Alguma coisa errada?

—- Precisamos conversar – Começo.

—- Estou ouvindo – Ele senta de frente pra mim, me observando.

—- Eu não quero mais que você me ligue, e nem volte aqui – Ele arregalou os olhos – Nunca mais! – Completei. Eu tinha que ter coragem.

—- Mas você sabe que eu preciso de você

—- NÃO! VOCÊ NÃO PRECISA DE MIM! – levantei-me e segui rumo à cozinha com ele logo atrás. – Você só quer o que ela não te dá nos dias que VOCÊ quer!

—- Não fala assim, Sofia, você sabe que não é verdade.

—- É claro que é! Sempre a mesma coisa! Vocês acabam você vem me ver! Vocês voltam e eu acabo sofrendo. – Segurei-me na pia, não conseguia olhar para ele.

—- Dessa vez foi pra valer, não vai ter volta!

—- Sempre com a mesma história! Eu cansei – Virei pra ele com os olhos cheios de água – Eu não posso viver com a incerteza de saber que a qualquer momento ela pode te ligar e você vai correndo atrás daquela idiota!

—- Sofia, eu amo você! – Ele tentava se explicar.

—- Você só pode está louco se acha que eu vou aceitar metade do seu amor – Caminhei até ele e segurei o rosto dele – Eu sei que você me ama, mas não se compara com o amor que sente por ela, o que você sente por mim é amizade, e está com medo de perdê-la. Eu te conheço a mais de 15 anos, Rafael. E há um ano temos essa amizade “colorida” e isso não pode me satisfazer mais. – Falei colocando aspas no ar – Mas pra mim chega.

—- Não faz isso comigo – Ele choramingava.

—- Você que fez! Me conhecia, e mesmo assim propôs que tivéssemos esse romance – Soltei o rosto dele e me afastei, não queria mais encarar aqueles olhos azuis. – Eu ainda quero te abraçar, te tocar e quando você olha pra mim com esse olhar – Apontei pra ele – eu não consigo resistir e acontece tudo de novo, e de novo, cada vez que você volta! Então só tem uma solução: você ficar longe de mim!

—- Por favor, isso não – As lágrimas já escorriam pelo rosto dele.

—- Você sabe como é torturante, vê a pessoa que você ama apaixonada por outra? É como viver no inferno! E eu não posso mais me convencer que acabou tudo entre vocês, porque eu perco o controle do meu corpo, da minha mente, quando você volta dizendo isso! Eu estou olhando nos seus olhos tristes agora, e pensando que meu coração não conseguirá te dizer não de novo. Então eu não quero mais você aqui! Te peço um pouco de misericórdia. Se gosta de mim de verdade, faz isso por mim.

—- É isso que você realmente quer? – Ele perguntou, passando a mão no rosto.

—- Sim! Chega desse inferno!

—- Ok! Eu vou, mas não esqueça o meu número. Eu vou sempre está com ele, porque eu sei que essa “Amizade” – Ele fez as aspas com os dedos – Não vai acabar assim. Se esse amor, é apenas amizade então não se esqueça desse seu amigo que te ama.

Ele virou-se e eu o acompanhei até a porta.

—- Adeus Rafael – Eu disse já fechando a porta

—- Até breve Sofia – Ele respondeu, mas a porta já estava fechada.

Escorreguei na porta até me sentar no chão, e chorei até não aguentar mais.

~*~

Dois meses se passaram desde a última vez que vi Rafael. Tentei me ocupar o máximo possível e esquecer nosso último encontro. E nessa tentativa acabei conhecendo o Guto, que me fez esquecer, um pouco, o que eu sentia pele Rafael.

E aqui estamos nós conversando na nossa lanchonete favorita, quando eu vejo passar pela vitrine ninguém menos que ele. Porém, ele também não estava sozinho, ele estava com ELA! E meu sorriso virou uma cara fechada, e os sentimentos que tentei esquecer por tanto tempo acabaram voltando com em um jato. Eu ainda o amava, mas ele amava ela!

“Quando a pessoa que você ama está apaixonada por outra, você não sabe que isso é tortura, é como viver no inferno”