“Amor, você me dá água na boca.
Vestindo fantasias, tirando a roupa.

O braço de Amal ainda doía um pouco enquanto eles se dirigiam para a casa de TJ. Esta ficava na parte mais afastada de Providence, mais longe dos portos. O bairro era composto basicamente de estudantes de baixa-renda, então o aluguel era razoável e as acomodações decentes o suficiente. Fora a primeira acomodação de TJ, dividindo-o com mais um cara da loja.

Amal, particularmente, adorava a casa. Dois quartos, cozinha, banheiro e uma pequena sala. Suas coisas estavam, como sempre ficavam, no quarto de TJ, na bancada de desenhos. Desenhos de todos os tipos, eles eram. Tatuagens, algumas paisagens, algumas poses. Coisas bonitas.

O sol estava se pondo, ainda no processo lento de se afogar na escuridão. TJ estava murmurando uma música daquele álbum favorito dele, Pet Sounds. Só identificava que música era pelo ritmo, que era o mesmo o álbum inteiro. Sua camiseta havaiana, uma das várias na sua coleção, voava com o vento gostoso em Providence durante o verão.

Amal, sem perceber, passou a mão sobre o curativo no braço.

— ‘Cê sabe que não é pra tirar até as oito da noite, né? — TJ repreendeu, passando a mão por seus dreadlocks inconscientemente. O olhar dos dois se encontrou, com a leveza de um beija-flor.

— Eu sei. Prestei atenção no que você disse. — Amal afundou no assento, mirando os sobrados que passavam rapidamente por sua visão.

Era estranho estar com as poses invertidas, TJ dirigindo e Amal como passageiro. No próprio carro.

— Sem tomar sol, sem loucuras fisioculturísticas. — Ainda não olhara para ele, e isso era frustrante. Os óculos escuros escondiam qualquer expressão.

— Fisioculturistas — corrigiu, sem realmente se importar.

— É, essa merda aí. Sem fazer nada disso.

— Entendido, doutor.

— Nossa, agora gostei. Aliás, cadê o seu iPod, aquele mentiroso? O silêncio ta me sufocando. — Tentou procurar no porta-luvas, mas fechou com um “cleck” doloroso depois de perceber que este estava vazio. Amal, rindo, entregou-lhe o aparelho.

— Já estamos chegando, você sabe.

— Eu sei.

Aquele maldito encontro de olhares, novamente.

“A gente faz amor por telepatia,
no chão, no mar, na Lua, na melodia.

Sabia o que aquilo significava. O sorriso sacana, o dar de ombros displicente. Amal riu pro vento, ouvindo sua voz ficar toda confusa por causa do vento.

Passaram-se dois anos desde aquela loucura. Os pais de Amal tinham se acalmado, ele voltara para a faculdade de medicina, sua irmã estava trabalhando em Berkerley, o passado de TJ ainda estava onde deveria estar: no passado. Tudo corria bem.

Amal, naquelas férias de verão, tinha decidido conseguir uma tatuagem. Estava considerando há algum tempo, e agora ali estavam. Ele com o braço enfaixado para cicatrização e TJ dirigindo o carro.

Estranho, não?

Depois de conseguir colocar o Bluetooth no iPod de Amal com uma só mão enquanto dirigia, TJ colocou a playlist no random e seguiu caminho. Dentro de dois minutos, ele abria a porta da casa que dividia com seu parceiro de trabalho, Nick, e apressava Amal para entrar. Estava ficando frio lá fora.

Os dois rapidamente acenderam as luzes, esperando ver alguém, mas só encontraram um bilhete.

— Nick deixou um bilhete. ‘Tá dizendo que foi comprar pizza — TJ avisou. Logo, ele tirava os óculos e os apoiava no balcão da cozinha. — Sabe o que isso quer dizer?

Amal sabia, tanto que ele se apoiou no balcão também. — Temos a casa só para nós dois?

— Exatamente.

Com um rápido olhar, os dois se inclinaram sobre o balcão, num encontro de lábios e caras comum aos dois. Comum, mas ainda gostoso e especial. Beijavam-se com delicadeza, com alegria, com sorriso em meio aos toques.

O braço de Amal ainda doía quando ele o levantou para envolver o pescoço de TJ, mas a dor se tornava ínfima. Esfregou seu corpo ao dele, agradecendo por ser verão e não estar usando agasalho. Dava para sentir o calor dele, e Amal gostava disso.

TJ o puxou para as escadas que levavam aos quartos, rindo aqui e ali porque Nick poderia voltar a qualquer momento, e ali estavam eles. Enfiou a mão dentro da calça de Amal e passou os dedos somente por cima dos pelos pubianos, já sentindo a reação esperada. Com um olhar, eles subiram.

“Mania de você, de tanto a gente se beijar
De tanto imaginar loucuras.

Nesse momento, entretanto, eles ouviram Nick chegando e resolveram se afastar. Com olhares açucarados, um último selinho foi trocado.

— Ei, ‘cês querem pizza de mussarela ou quatro queijos? Não sei bem que que o Amal pode comer, então trouxe uma de rúcula também. Ei, ‘cês ‘tão aí?

— Já vamos aí, Nick.

— Beleza.

“Nada melhor do que não fazer nada,
Só pra deitar e rolar com você.”