Corri até o final do barranco dentro da floresta perto da minha casa gritando feito uma louca.

— Você não me pega, não, não me pega! - gritei por cima do ombro rindo histericamente para Aiden que me olhava incrédulo no início do barranco

— Você é uma idiota! Era para você começar a correr no 3! - ele gritou com raiva.

Parei depois de descer tudo e gritei de volta

— Aiden é um bebezão, um bebezão! Deixa de ser criança, para de reclamar e vem logo me pegar! - debochei empinando minha bundinha para ele enquanto dava tapas nela - O bebezão não aguenta isso tudo, não, não aguenta!

Não podia enxegar seu rosto direito por causa da distância, mas sabia que estava vermelho igual a um tomate! Sempre ficava quando eu fazia isso. Comecei a rir com o pensamento

— Idiota! Você vai vê só! - gritou de volta correndo barranco abaixo

Dando gritinhos de medo começei a correr novamente. Pulei raízes de árvores, pisei em folhas secas, quebrei galhos secos e continuei correndo. Arrisquei olhar para trás para vê onde ele estava, quando quase morri de susto ao vê-lo bem atrás de mim quase me segurando. Droga! Ele sempre foi mais rápido mesmo tendo 8 anos como eu, seu corpo e suas pernas, principalmente suas pernas, eram bem maiores que as minhas.

— Quem é o bebezão agora? - implicou agora sem ter gritar - Vou pegar você ratinho

Ele sabia que eu odiava quando ele me chamava assim! Ele criou o apelido só por eu ser muito pequena e magrela igual a um ratinho que ele tinha. Com raiva virei um pouco o rosto para trás, começando a aumentar a velocidade, e gritei irritada - Eu não sou um ratinho!

— Naya, cuidado! - ele gritou apontando para frente

Só tive tempo de olhar para frente e praticamente sair voando depois de tropeçar na imensa raiz que apareceu.

— AAAAAAH! - gritei assutada enquanto voava, o que pareceram anos, em direção ao chão. Quando minha cabeça bateu no chão, a primeira parte do meu corpo que eu tive SORTE de amortecer minha queda, logo depois o resto do meu corpo também bateu e se arrastou mais alguns metros pelo chão, só pra ter certeza que eu me machucaria toda é claro.

— Naya, Naya! Ai meu deus Naya! - gritou Aiden assustado agachando ao meu lado - Naya! Você ta viva Naya? Me responde! - começou a soluçar e a chorar - Naya, Naya, Naya!

— Aaaah - comecei a chorar também - ta doendo muito, ta doendo muito! Aiden me ajuda - implorei paralisada no chão de tanta dor

Limpando as lágrimas do rosto ele perguntou - Onde dói Naya? Me fala

— Todo lugar! - gritei chorando mais ainda - Não consigo me mexer! Eu vou morrer! - gritei mais ainda

— Você não vai morrer! Eu to aqui com você, não ta vendo?! - ele perguntou irritado e tentando parecer forte - Vou cuidar de você, fica calma tudo bem?

— Mas tudo dói! - chorei, mas agora um pouco mais baixo - Dói muito Aiden! Meus braços, pernas e rosto ardem! - expliquei, quando só então percebi algo - E agora eu vou ficar cheia de cicatrizes no corpo e no rosto! Ai minha nossa, eu vou ficar tão feia! Eu era tão linda, e agora nunca vou casar! - comecei a chorar alto novamente

— Para de chorar Naya, você continua linda, e não vai ter cicatrizes em lugar nenhum! - falou ele tentando me consolar

— E se eu ficar? Ninguém vai querer casar comigo! - reclamei tentando me acalmar

— Você não precisa de ninguém, você tem a mim! - gritou ele nervoso, envergonhado e todo vermelho - eu me caso com você!

Olhei para ele, para aquele seu rostinho tão pequeno na época e cheio de sardas na bochechas. - Você casa? - perguntei olhando fundo nos seus olhinhos verdes

— Caso! - respondeu ele sacudindo pra cima e pra baixo sua cabeleira loira cheia de folhas de árvore

— Mesmo que eu fique feia? - perguntei nevosa

— Mesmo que você fique feia! - exclamou ele - porque para mim você sempre será a Naya!

Comecei a chorar novamente - O Aiden está sendo fofo e isso é assustador! - ainda chorando abri um pequeno sorriso para ele - É uma promessa então! Você vai ter que se casar comigo não importa o que! - falei - Agora me ajuda que ainda ta doendo!

— Tudo bem, fica calma - respondeu se pondo de pé - vou chamar nossos pais e-

— Não! Não me deixa aqui sozinha! Está quase ficando escuro, por favor Aiden - implorei para ele do chão ainda com medo de levantar

— Mas como vou pedir ajuda? - ele perguntou indeciso

— Eu não sei! - admiti - Só não me deixa aqui sozinha - pedi com medo

— Tudo bem - bufou sentando de novo ao meu lado - Agora me diz, onde dói?

— Por que? Já disse que dói tudo! - respondi irritada

— Deixa de ser fresca Naya! Você sabe que não dói tudo - respondeu ele irritado

— Agora o Aiden ta sendo mau! Prefiro o Aiden fofo mesmo sendo assustar - chorei para o céu, que agora estava na cor de um laranja com rosa. O sol estava se pondo.

— Vamos logo Naya! Você quer ficar aqui no escuro? - ele perguntou

— Não!

— Então diga onde dói! Deixa de ser medrosa, achei que você fosse mais corajosa! - me provocou

Fechei os olhos por um instante cheia de dor e com medo de me mexer. Quando criei coragem levantei devagar o braço esquerdo e vi que estava cheio de arranhões, meus olhos começaram a ficar embaçados

— Você está indo bem Naya - falou Aiden enquanto limpava minhas lagrimas e tirava o cabelo do meu rosto - Continue
Agora levantei os dois braços, e além de estarem ralados e ardidos, era apenas isso que eu senti deles

— Meus braços apenas ardem - contei mexendo-os pra cima e pra baixo devagar

— Ótimo! E o resto do corpo? E - Aiden se interrompeu olhando para o meu rosto com os olhos arregalados

— O que houve? - perguntei curiosa, e por reflexo coloquei minha mão na testa. " Eu definitivamente não devia ter feito isso" pensei. Senti uma pontada horrível na testa e um líquido escorrer pelo lado esquerdo do meu rosto - Aiden! - gritei chorando

Ele estava ainda com os olhos arregalados olhando pra minha testa quando saiu do seu transe pelo meu grito

— Ei ei, está tudo bem, não toca! - ele respondeu tirando a minha mão do machucado e limpando o sangue na sua blusa. Sangue

— É sangue! - falei nervosa

— Fica calma Naya, já disse! Vai ficar tudo bem, estou aqui com você não estou?! Olha para mim Naya - pediu segurando minha mão

Tirando os olhos da minha mão o olhei e balancei a cabeça em afirmativa

— Ótimo - ele disse soltando minha mão e se levantando - Agora você precisa ser corajosa, você consegue? Quer dizer, não mais que eu claro - e riu implicante tentando me animar

— É claro que eu consigo! Sou muito mais corajosa que você seu bebezão! - falei apontando meu dedo para ele

— Então vamos vê! - respondeu sério

Antes que eu pudesse fazer algo Aiden estava me pegando no colo como uma princesa. Comecei a sentir dor e a ficar envergonhada

— O que você está fazendo?! - perguntei irritada, mas nem sequer tentei sair, a dor no meu corpo me impedia de qualquer coisa.

— Te carregando idiota! Sorte que você é uma ratinha, é tão leve que posso colocá-la no meu ombro - provocou rindo para mim

— Eu não sou uma ratinha! - respondi querendo chorar novamente mas segurei, não queria ele me chamando de medrosa de novo

Caminhamos por pouco tempo, ou melhor, Ainden caminhou por pouco tempo com a lua já acima de nós quando ouvimos os gritos dos nossos pais e luzes de lanternas acertarem a gente.

— Aiden! Naya - começaram a gritar todos os quatros correndo em nossa direção

— Naya minha filha! - minha mãe me pegou do colo de Aiden, com meu pai logo atrás, e com cuidado me abraçou. Comecei a chorar - O que aconteceu com você?

— Aiden meu amor! - chamou sua mãe o pegando também no colo ficando ao lado do seu pai - O que aconteceu? - perguntou a ele. E então, sem aviso prévio, Aiden começou a chorar e soluçar. Eu realmente não esperava por aquilo, mesmo com 8 anos pude perceber que Aiden apesar de estar morrendo de medo me acalmou e me ajudou. Ele era um herói, ou melhor, meu futuro marido era um herói! "Eu tinha dado tanta sorte" pensei, precisava anunciar isso a todos

— Ele me salvou! - eu respondi agora no colo do meu pai apontando para Aiden, que agora mais parecia uma bolinha encolhida sendo passada para o colo de seu pai - Aiden não chorou uma única vez e me ajudou! Ele foi super corajoso - falei sentindo-me orgulhosa por poder dizer isso sobre ele. - Ele é meu herói e meu futuro marido! - gritei, sim, eu gostava de gritar bastante naquela época, tendo então toda a atenção voltada para mim.