Cada centímetro de descida percorrido pelo elevador fazia o meu coração bater mais rápido. Diferente dos outros elevadores que eram feitos de vidro esse era completamente feito de aço ou algum metal mais forte.

Shannon havia se despedido quando eu entrei no elevador, assim como as outras assistentes. Uma mochila de lona preta foi dada para cada um dos novos participantes. Alguns rezavam, outros roíam as unhas, como Rich e outros se limitavam a ficar olhando assustados para os lados, como eu.

O elevador parou quando alcançou seu destino, mas diferente do esperado as portas não se abriram.

– O que está acontecendo? – Uma das garotas perguntou.

– Acho que ainda não amanheceu. – Rich disse. – Qual o nível de nervosismo de vocês?

– Acho que quando eu me desencostar daqui eu vou cair e ficar deitado até morrer. – Um dos garotos comentou no fundo. – Não sei como meu irmão morreu, mas acho que foi assim.

– Meu irmão também morreu. – Comentei na tentativa de tentar me acalmar. – Minha irmã voltou para casa completamente mudada. Isso me assusta um pouco.

– Também sou uma terceira filha. – Alisson comentou. – Mas minha irmã morreu no primeiro ano, então meus pais me tiveram e nós não precisamos pagar para eu continuar viva. Minha outra irmã me odeia, meus pais são loucos e me deram o mesmo nome que a falecida tinha.

– Não acho que seja legal chamar sua irmã assim. – Rich comentou.

– Por favor, Richard, não é de hoje que você sabe que eu não sou um doce de garota. –Alisson deu um soco no braço de Rich. – Sou uma Serpente nata, assim como os meus pais. Só tenho que demonstrar potencial perto de algum deles.

– Sei. – Rich revirou os olhos.

– O que foi? Serei a próxima Genocide. – Os olhos de Alisson brilharam. – Vou tirar esse titulo das Raposas.

– Genocide é um título? – Perguntei assustado.

– Eu não sei, mas se não era agora é. – Ela deu de ombros. – Tenho um ano para me tornar a líder das Serpentes, como meu pai foi e minha mãe foi. Isso tem que acontecer rápido, já que temos só doze meses aqui antes de sermos enviados para outro lugar, não acham que a liderança devia permanecer? Qual é? Eu lutei para chegar ao topo e de repente eu estou recebendo ordens de outra pessoa. É horrível.

– Você fala muito para uma Serpente. –Rich rebateu. – Na verdade você não é uma Serpente, muito menos a líder, sabe quantos de nós vão entrar em um Clã? Menos da metade.

– Richard, cale a boca. – Alisson deu um soquinho no braço dele. – Você e o Dorian são os meus melhores amigos, quero ter vocês aqui quando formos para a segunda fase, mas se você não calar a boca agora, isso não vai ser possível.

– Eu nem te conheço. – Comentei.

– Seremos grandes amigos.

– Ou não, serei uma das Raposas, igual minha irmã foi. – Falei tentando não me sentir especial por ser irmão de Kitty que parecia ser uma celebridade ou coisa do tipo. – Mas eu posso tomar a liderança e formaremos uma aliança.

– Não vou te dar o meu lindo olho. – Alisson jogou um cabelo vermelho para o lado. – Por que as pessoas parecem tensas? Eu esperei por isso desde quando eu nasci, eu realmente não sei como eles conseguem ficar assim.

Uma voz eletrônica surgiu no elevador anunciando uma contagem regressiva para a abertura das portas em trinta segundos.

– Se preparem para correr, perdedores. – Alisson disse, ela parecia mesmo muito empolgada com a situação.

Sequei as mãos suadas na calça jeans que foi me dada algumas horas antes, assim como um colete e uma jaqueta camuflada.

– Cinco, quatro. – A voz ecoava dentro da minha mente. – Três, dois, um.

Alisson saiu tão rápido que quase bateu na porta ainda não estava completamente aberta. Quase instantaneamente segui a ruiva em meio aos empurrões. Felizmente ninguém tentou matar ninguém quando saímos do elevador, então acabei reduzindo a velocidade para uma caminhada rápida para admirar a paisagem. Quando foi anunciado que a primeira fase se passaria em uma cidade do Antigo Mundo eles não estavam brincando. Havia prédios quase tão grandes quanto os da nova cidade, assim como casas, lojas e parques abandonados. O teto parecia estar a quase um quilometro da minha cabeça. Várias placas de luz iluminavam não tão bem o lugar. Algumas pessoas caminhavam pela cidade sem nos dar muita importância.

– É bem diferente do que eu imaginava. – Alisson disse com certa decepção na voz.

– Você também imaginava pessoas armadas atirando em qualquer coisa que ousasse se mover, paredes pintadas com sangue e várias coisas pegando fogo? – Rich perguntou.

– Não.

Um grupo passou correndo por nós, dois garotos ajudaram uma garota a subir em um palanque improvisado, por mais que a garota não precisasse de ajuda.

– Atenção! Atenção. – Ela gritou. – Eu sou Cara, Porta-voz dos Falcões, e queria avisar que hoje às 22:00 os líderes dos clãs vão fazer uma seleção no estilo Survivor para selecionar seus novos calouros. Então compareçam à Arena, mas lembrem de que cada um tem apenas uma chance, então se você perder, suas chances de entrar para qualquer um dos clãs se torna quase nula, fazemos isso todos os meses, se você chegou hoje não se desespere, vai ter outras oportunidades. Boa sorte.

Alguns gritos surgiram em meio à multidão, vários deles em protesto e outros em comemoração. Alguém jogou uma pedra na direção da garota que foi rápida e desviou. Os garotos que acompanhavam ela foram para o meio da multidão, logo depois reapareceram carregando outro menino.

– Qual é o seu clã? Ou você é Caminhante? – Cara perguntou.

– Sou Caminhante. – O garoto disse com raiva. – Sou Caminhante porque seu líder me expulsou dos Falcões...

– Não é mais, agora você é um escravo. – Cara interrompeu o menino que ficou abismado com o anúncio. – Ou você prefere perder uma das mãos?

– Serei seu escravo. – O garoto disse em pânico tentando esconder as mãos.

– Espero que você seja um bom escravo, pois essa é minha ultima semana e você sabe que eu escolherei o seu destino. – Cara saltou do palanque e sumiu no meio das pessoas que nem ligaram.

Rich observava tudo com expressão assustada, enquanto Alisson tinha um leve sorriso nos lábios. Aquilo com certeza havia sido estranho e assustador. Estavam todos em paz, então ouve tumulto e depois todos agiram como se nada houvesse acontecido.

– Você não vai participar do Survior, não é? – Perguntei.

– É lógico. – Os olhos dela brilharam. – Não faz nem vinte minutos que estamos aqui e já houve um ato de vandalismo e um garoto quase perdeu a mão. É exatamente como eu imaginei.

– Você é louca. – Rich comentou.

– Não sou não. – Ela continuou caminhando. – Já vi pessoas de vários clãs, exceto Lagartos e Raposas.

– Como você sabe qual o clã das pessoas? – Rich perguntou.

– Elas têm tatuagens, estar em um clã é status social aqui. – Alisson disse como se fosse óbvio. – Rich te conheço desde sempre e você nunca me disse para qual clã quer ir.

– Gostaria de me juntar aos...

Antes que Rich pudesse terminar de falar uma sirene soou.

– Criaturas! Não é uma simulação. – Alguém gritou em um megafone. – Todos para os abrigos, agora, quem estiver na rua e não pertencer aos Clãs será exilado! Não é uma simulação!