The Cursed Blood escrita por Dropcandy


Capítulo 16
Encontro com a Bruxa




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(Ezarel)



Guardei o último relatório de volta na mala enquanto ouvia Mycaela e a tal Amanda discutindo sobre algo que não conseguia entender.

Foi tentador ir até lá interrompê-las e fazer comentários sarcásticos sobre toda aquela choradeira delas, mas de acordo com o que Mycaela sabia eu estava naquilo que chamavam de escola.

–Acha que elas vão mesmo se entender? - Nevra perguntou aparecendo e se jogando no sofá, a cabeça pendendo para trás.

O ignorei; nada daquilo realmente interessava, ele nem sequer deveria ter se intrometido.

–Espero que ao menos tenha descoberto qual das duas é a verdadeira. - murmurei para ele que revirou os olhos.

–As duas. - senti vontade de jogar as cadeiras na cabeça dele com aquela resposta.

–Eleonor só teve UMA filha! - quase gritei.

Nevra deu de ombros, parecendo mais interessado na conversa das meninas no apartamento ao lado.

–Ela pode ter tido outra antes e não levou a público?

–Amanda e Mycaela têm a mesma idade.

–Então ela teve filhos com outro homem?

–Você sabe que os votos não permitem isso.

Ele bufou - Então a única resposta é que as DUAS são a herdeira. Fim de discussão. Arraste as duas para lá, deixe que se virem e a melhor assume o trono; qual o problema em fazer as coisas assim?

Respirei fundo até ser capaz de responder sem soltar nenhuma praga.

–Não, a única resposta é que você deve ter confundido a marca em uma das duas, e que estamos aqui correndo o risco de levar uma humana porque decidiu brincar com a vizinha e agora está inventando uma mentira em que acredita ser verdade para poder levar ela junto de você.

Um silêncio incômodo pairou por um tempo, até que ouvimos as duas saírem portão afora, rindo alto, como se nenhum mundo estivesse correndo o risco de ser destruído.

–Ezarel...

Balancei a cabeça, rindo; quase seis meses ali e nada, tudo o que conseguimos foram dúvidas. Não dava para aceitar que tinha duas herdeiras, significaria que toda a história estava errada.

–Será que consegue entender que isso aqui é, literalmente, a única esperança? - falei entredentes indo até ele - Será que pode levar isso a sério pelo menos?!

–E acha que não estou levando? - Nevra também se pôs de pé - Quer que eu adivinhe qual das duas é a filha de Eleonor sendo que ela nem sequer havia revelado a existência de uma até alguns meses atrás; tenho uma visão boa o suficiente para identificar o símbolo dentro das íris dos olhos daquelas garotas, agora, eu não posso ver a codificação genética delas enquanto você fica ai lendo papéis atrás de papéis como se isso fosse resolver alguma coisa.

Revirei os olhos - Tente você então apagar a existências dos Círculos sem usar o Sangue ou fogo-labradorite.

Foi a vez dele rir em desdém.

–Valkyon é o único que realmente está fazendo alguma coisa em relação isso, elfo, e não você; é ele quem está lá fora procurando Círculo por Círculo sabendo que...

–Não, ele não está procurando nada disso.

Nevra finalmente se calou, e tentei aproveitar aqueles momentos de silêncio com sua expressão confusa antes de finalmente contar:

–Mandei ele ir atrás diretamente da Bruxa, e não dos Círculos dela.

Pensei que Nevra havia virado uma estátua.

–Você enlouqueceu...?

Dei de ombros.

–Apenas decidi cortar o mal pela raíz.

Ele foi de um lado para o outro da sala, procurando as palavras para se expressar.

–Você o convencei a ir direto...

–Valkyon não vai morrer; ele tem que apenas descobrir a localização dela, ele não vai...

E como se adivinhando o resto de minha frase, Valkyon irrompeu pela porta, jogando seu machado de duas lâminas ao lado do sofá e sentando nele, arfando e segurando o peito, um corte fundo manchando suas roupas de um vermelho vivo.

Por um segundo nenhum dos dois conseguiu expressar alguma reação, ficando apenas observando Valkyon e o líquido espesso que escorria devagar por entre seus dedos.

–Poção para cicatrizar... Tem alguma dessa aqui?- perguntou arfando e despertei, engolindo em seco.

Nevra sumiu por um dos cômodos, esperando eu que tivesse ido atrás de algum kit de primeiros-socorros ou qualquer coisa parecida.

Revirei as poucas coisas que consegui trazer, praguejando muito quando percebi que dois ingredientes faltavam. Quase me senti culpado, mas Valkyon aparentava estar tudo tão bem que cheguei a me perguntar se estava realmente ferido.

–O que aconteceu?- perguntei balançando a cabeça e jogando as mãos para o alto, mostrando que não tinha nada.

Nevra voltou com uma caixa branca marcada por uma cruz vermelha no centro e entregou-a para mim.

– Encontrei com uma no meio do caminho. - respondeu como se não fosse nada demais e tirou a camisa ensanguentada, o corte mais fundo do que eu esperava, mas não o suficiente para seu sangue não conseguir cicatrizá-lo.

– não era para atacar, só descobrir onde usava de refúgio para manter os Círculos funcionando- murmurei mal-humorado; não era muito bom com medicamentos humanos.

Valkyon deu de ombros enquanto eu procurava algo para limpar o corte, a irritação aumentando com a confusão que sentia entre aquele monte de frascos com composição de misturas que nunca ouvia falar.

–Não era minha ideia lutar- falou quando Nevra lhe entregou um pano- Mas ela estava junto de Mycaela, quando me aproximei para atrapalhar, ela já estava me interceptando no meio do caminho.

Parei o que estava fazendo sem me importar mais em esquentar a cabeça com aquela caixa. O que uma bruxa iria querer com uma humana como Mycaela?

Nevra me olhava como se comentasse "eu disse". O ignorei para não causar discórdia naquele momento, mas faria questão de importuna-lo depois.

–O que fazia com Mycaela?- perguntei.

Ele passou para pensar alguns instantes.

–Nada. Pareciam ter acabado de se reencontrar.

–Como ela era?

Valkyon riu.

– não tive tempo para reparar nisso; senti a presença, fui até la, e então ela já estava me atacando.

–No meio de todos?- Nevra parecia tão confuso quanto eu.

–Não tinha ninguém na esquina em que eu estava.

Mordi o lábio durante o silêncio que se seguiu, tentando pensar no que fazer agora.

Se a bruxa sabia que estávamos ali, nossos problemas só iriam aumentar.

– Vamos pegar Amanda amanhã e voltar -falei decidido.

–Ele acabou de dizer que tinha uma bruxa com Mycaela, se essa coisa estava atrás dela, algo "especial" a garota tem, não acha?

Sai de perto. Não iria levar Mycaela de jeito nenhum. Aquilo não era problema para uma menina com medo de altura.

– ela estava junto de Amanda, a bruxa poderia estar atrás dela e Mycaela simplesmente no caminho. - argumentei.

Nenhum discordou. Amanda ao menos tinha algumas características físicas do nosso mundo, e aparentemente tinha os pesadelos, assim como a marca. Não iria parar de insistir até concordarem que ela era a herdeira legítima.

Antes que eu pudesse continuar, Mycaela irrompe pela porta chamando por Nevra, paralisando quando viu Valkyon no sofá.

– Hey! Não era pra você...- Amanda começou a falar rindo, atrás de Mycaela e veio até onde ela estava, parecendo mancar, então olhou para dentro. A cor fugiu de seu rosto para logo depois ser substituída por um verde esbranquiçado, cambaleando e indo se escorar numa das cadeiras perto da porta.

Mesmo na situação, peguei-me perguntando se alguma delas ao menos saberia bater ou pedir licença.

– O que aconteceu?!- ela quase gritou indo até Valkyon, Nevra se apressando e pondo-se ao lado do sofá, em frente ao machado jogado no chão, da lâmina escorrendo um fio de um liquido espesso e escuro, um tanto azulado.

Foi a minha vez de perder o sangue do rosto. Ele havia conseguido ferir a bruxa?

Fui para o lado de Nevra, garantindo que Mycaela não visse a arma ali; o problema agora seria se aquele sangue de bruxa pingando do metal escorresse até nossos pés. Ai sim teríamos um problema.

– Eu... Cai?- Valkyon respondeu e a garota o olhou pronta para ter um infarto.

– Caiu?! Meu Deus, Valkyon! Onde você cairia que faria um corte desse jeito e... - sua atenção se voltou para nós - Vocês nem chamaram uma ambulância?!

O alarme dentro de mim soou, principalmente quando ela tirou o celular do bolso e começou a discar algum número que apenas traria atenção indesejada.

Sem nem pensar segurei em seu pulso, arrancando o aparelho de sua mão.

Encarou-me por um tempo assustada.

– Vai infeccionar... - falou olhando para Valkyon, mais preocupada com ele do que com nossa proximidade depois de tanto tempo. E o fato de só eu estar me importando com aquilo me deixou mais mal-humorado.

Mas olhar para sua expressão, realmente se importando com um cara que conheceu uns meses me fez respirar algumas vezes, mantendo a calma para tirá-la dali o mais rápido possível. Só esperava que ela não estranhasse quando percebesse que o ferimento já estava melhorando por si só.

–Valkyon prefere não chamar atenção. - respondi por ele que rapidamente assentiu.

–certo. - ela disse prendendo o cabelo comprido num coque - Amanda, você pode...

Virou-se para a garota na porta, mancando para fora devagar.

–o que houve?

– eu... Tenho pavor de sangue... - Amanda respondeu,o rosto ainda esverdeado, e me perguntei a reação dela no dia seguinte quando acordasse longe daqui.

Mycaela me tirou dos devaneios quando soltou-se de mim e foi até Valkyon, abaixando-se a frente dele e remexendo na caixa de medicamentos.

– tudo bem, pode deitar em casa se quiser- falou e Amanda assentiu, saindo.

–o que aconteceu com a perna dela?- Nevra perguntou tentando o mais discretamente possível tirar aquele machado de vista sem encostar no sangue escuro.

–tropeçou em algum lugar quando saiu pra atender ao telefonema dos pais -Mycaela respondeu tirando frascos específicos e os separando - pode pelo menos me trazer uma bacia com água, faixas e gaze?

Ela mal terminou o pedido e Nevra já estava aproveitando a deixa para correr até a cozinha, carregando o armamento junto sem que a garota se desse conta.

Ela começou a limpar o ferimento, as mãos habilmente passando pelo peito de Valkyon pressionando o pedaço de pano umedecido com um liquido amarelo e de cheiro forte.

– Sabe mesmo o que esta fazendo?- perguntei tentando não mostrar muito interesse.

Ela assentiu depois de um tempo, lavando o pano quando Nevra trouxe o que havia pedido.

– Meus pais queriam que eu fizesse medicina, então me colocaram num técnico de enfermagem ano passado para que eu visse como que era e me interessasse.

Encarei seu rosto sério, a franja caindo na frente nos olhos e mesmo assim ela não interrompia o trabalho.

– E gostou?- Valkyon perguntou a minha frente, atraindo o sorriso dela para si.

– Não muito. Não sou fraca com sangue como Amanda, mas não gosto de ficar vendo pessoas com dor e as vezes nem poder resolver o problema. Tenho um interesse um pouco maior na área da química e coisas assim.

Percebi suas bochechas corarem, estendendo um rolo de pano branco e fino, quase conseguindo me fazer sorrir.

–Uma desastrada que não consegue dar dois passos sem esbarrar nos outros não se daria bem dentro de um laboratorio. - falei e seu rosto voltou-se furioso para mim, e teria começado a discutir se Valkyon não tivesse se remexido com a dor por ela estar usando força demais nele por minha causa.

Voltou-se para ele, me ignorando, o que me ofendeu um pouco.

Nevra abaixou-se do outro lado dela, tirando o cabelo de seu olho e o pondo atrás da orelha. Distanciei-me, tentando focar minha atenção em algum jeito de tirar aquele liquido escuro do chão antes que alguém tocasse nele.

–o-obrigada- ela murmurou para Nevra e pude imagina-la mordendo o lábio inferior, encabulada.

Fuzilei os dois com o olhar, esperando que Nevra me visse e assim eu pudesse gesticular a ele para sairmos dali. E foi o que fez. Ainda tinha um assunto pendente que não envolvia Mycaela. Ou envolvia, se fosse considerar o fato de que Nevra provavelmente iria querer fazer o drama de se despedir dela.

Despedida que passaria a ocorre ainda hoje.


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Notas finais do capítulo

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