Eu o abraçava forte, embolando sua camisa rasgada entre meus dedos, as minhas lágrimas e as dele se misturando em seu rosto.

Até a manhã. Ele só sobreviveria até a manhã.

Depois de tudo o que passamos juntos, de todos os problemas que enfrentamos... Seus pais que não queriam que ele namorasse um menino, sua faculdade ameaçando expulsá-lo por andar de mãos dadas comigo, meu chefe me demitindo porquê me assumi... E mesmo depois de tudo isso continuamos juntos. Mas agora, quando tudo está estável e perfeito, isso acontece.

Ainda lembro do médico, seu jaleco branco refletindo a luz da sala de espera do hospital, o forte cheiro de remédios e de morte impregnado em sua roupa, o rosto marcado pelo sofrimento de várias vidas perdidas... Lembro dele me dizendo que Gustavo só iria sobreviver até a próxima manhã.

Lembro de sentir a dor da perda de alguém que eu amo voltando dez vezes pior. O chão frio do hospital podia ser sentido através do tecido da minha calça, deixando meus joelhos dormentes. O mesmo frio que eu sentia ao ver ele chorando, desolado, gritando de dor na cama do hospital.

Câncer. Metástase na medula e um tumor enorme no pulmão. Por que? Justo conosco? Estava abraçado com ele, na cama do hospital, vendo os segundos passarem lentamente no relógio em cima da pequena televisão do quarto. Sinto ele puxando a manga do meu casaco, me perguntando com um fio de voz e os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.

-Você vai estar comigo quando... -ele interrompeu a fala, tossindo violentamente. Segurei sua mão, dei um beijo em sua testa e disse, com a voz embargada.

-Até a manhã chegar...

Trocamos um último beijo, apenas um leve selar de lábios. Algo tão casto quanto nosso amor, tão puro e verdadeiro quanto tudo o que passamos para chegar até onde chegamos. De repente, foi como se tudo entrasse em colapso de uma vez só:

O relógio apitou uma hora da manhã, e os aparelhos começaram a apitar. Minha garganta se fechou como o inferno ao ver a única pessoa que realmente amei e debater na cama, tentando respirar a todo o custo. Logo uma equipe de médicos entrou na sala, e fiz de tudo para segurar sua mão e ficar com ele. Antes que os médicos pudessem fazer qualquer coisa, um barulho contínuo foi ouvido, e a mão que lutava para segurar na minha se afrouxou lentamente, ficando tão gelada quanto as minhas lágrimas.

Caí no chão, desolado, e vi os médicos tentarem recuperá-lo de todas as maneiras. Mas não tinha mais jeito. Ele tinha se ido, e eu fiquei com ele...

...Até a manhã chegar.