Fim de Jogo escrita por Lorde


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Pesquisei bastante sobre várias teorias acerca do mangá, e optei por deixa-las um tanto discretas no decorrer da estória. Coloquei as principais, mas caso não entenda algo, pode perguntar nos comentários que explicarei ^^
Essa foi minha maior história até agora, e portanto, mais propensa a ter erros. Revisei e corrigi, mas se mesmo assim escapou algo, me desculpem.



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Ciel ofegava, caído no chão, sem desviar os olhos de seu empregado á sua frente, ferido e sangrando, manchando o quintal da deturpada e bela mansão Phantomhive. A noite estava em um anil grandioso, decorada por um tapete de estrelas, e ninguém ousaria dizer que aquilo era o ínicio de um final tão trágico.

Snake encarava seu patrão, seu colega 'Smile'. As mémorias da sua antiga família repassavam em sua cabeça, o divertido Joker, a irritada Beast, a enigmática Doll... todos, os nomes cravados que marcaram sua alma, dando lhe um motivo pra encarar a vida... Era tão nostálgico, que ele pode jurar que estava ali, entre as tendas do circo, descansando com seus amigos, ouvindo a alegria ao seu redor e deixando-se contagiar... Porém, apenas o sangue era seu calor agora.

O homem-cobra tinha os olhos verdes manchados de lágrimas, misturadas em um turbilhão de confusão. Nem mesmo quando ouviu os passos de Sebastian atreve-se a desviar o olhar. Ao contrário, limitou-se a traduzir o que Emily falou.

"Todas, não ataquem o mordomo...Disse Emily.''

Snake podia estar perto da morte, e não desperdiçaria a vida de seus amigos. Seria algo inútil e pesaroso. Tentou dizer algo, mas a garganta queimava, o próprio sangue impedia a circulação do ar, o corpo afundando-se cada vez mais nos braços da escuridão que apossava de sua mente.

"Smile...'' Cuspiu sangue '' Por... quê? "

E como últimas palavras, desabou o rosto no chão. Não houve 'disse Goethe, disse Oscar'. Não. Pela primeira vez na vida, ele falou. Porém, destino sádico, sua únicas palavras fora uma pergunta que nunca sera respondida. Talvez, nem o destinatário soubesse a solução.

O Phantomhive estava surpreso. Sabia que esse fatídico dia chegaria, mas nunca esteve realmente preparado. Os detalhes não passaram despercebidos, e numa tentativa de recobrar a postura, levantou-se, trêmulo. A respiração de seu empregado ainda estava presente, junto com o chiado das cobras desesperadas. E sem ordenar nada, decidiu tirar aquela vida com as próprias mãos. Retirou o revólver de seu bolso e mirou. Os olhos esverdeados o encaravam, estranhamente sem raiva. E isso o irritava. Seria tão fácil se o ódio estivesse a dominar. E nesse único momento de hesitação, outros olhos verdes vieram lhe na mente.

Sullivan.

A 'Green Witch', correndo pela floresta, encontrando a morte. E como um vortéx, outras mortes ressurgiram.

Noah's Ark Circus.

"Bocchan''

Aquilo foi o sinal para que despertasse. Encarou seu demônio, e respirou fundo. Talvez demorou segundos, ou até minutos para acalmar-se. E quando o feito, prestes a apertar o gatilho, percebeu que ali já jazia um cadáver, acompanhado de várias companheiras peçonhentas sem escolha.

Trêmulo, apenas ordenou Sebastian a livrar-se do corpo.

–-------

O dia estava radiante, o clima ameno de um fim de tarde, o pôr do sol transportando energia a todos.

Menos aos mortos.

Ciel encarava o corpo de sua empregada. Seu corpo ferido, as cicatrizes expostas, os olhos abertos e frios, sem vida, sem o costumeiro óculos para esconder suas intenções. Suas mãos gélidas ainda seguravam o fuzil, sinal de que morrera lutando, matando, a coisa que mais odiava em vida.

Ajoelhou-se perto de Meyrin. Era mais uma morta, como um mau presságio. Fechou as pálpebras, tampando os olhos castanhos-avermelhados, dando uma impressão de que estava terminado, de paz. Aliás, sabia que era uma ilusão.

Ouviu Finny berrando. Uma tentativa frustada de expelir toda a dor que sentia. Certamente o jardineiro era forte, mas aquilo com certeza era a pior surra que estava recebendo em sua vida. Bard fumava, sentindo toda aquela droga contaminar seu corpo, uma anestesia para a mente.

Um singelo ''Vamos'' foi sussurrado ao vento, não tão alto para impedir o esboço de qualquer emoção, apenas alto o suficiente para todos voltarem a carruagem e partirem.

A palavra todos distanciava-se cada vez mais.

–----

Chovia repentinamente, aguando toda e qualquer planta, molhando o gramado e o cadáver. Os cabelos que um dia foram dourados e graciosos – tão belos que pareciam ser da mitologia - estavam encharcados de lama, arranhões distribuídos por todo o corpo jovem, sem nenhum ferimento horrendo, sem sangue, apenas o que respingava dos lábios sem cor.

Lábios estes que sorriam.

Constratava com tudo. Os olhos fechados, inicialmente com lágrimas, mas com a chuva, não dava mais pra se distinguir. Era horrível ver o pequeno jardineiro altruísta ali, jogado e abandonado pela vida, mas que apesar de várias forças tentarem o destruir, não conseguiram quebrar o que havia de melhor em Finny: sua personalidade.

Seu sorriso bondoso o acompanhara até o momento final.

Mas mesmo assim... Ciel perguntava-se o motivo de tal nome.

Finnian, do antigo conto que adorava: Fenian Cycle. O protagonista que continha os mais belos cabelos dourados que pode imaginar, enxergara essa imagem no novo empregado, o objeto #12. Além disso, ele corria mais rápido que qualquer um, mais forte que muitos.

Então... por que ele não correra da morte?

Contudo, aquela mórbida beleza foi desfazendo-se. O veneno começara a corroer, células, átomos, qualquer coisa que pudesse transmitir vida. E sem esperar o resultado final, Ciel retirou-se.

–------

Sebastian tocou no resto mortal, um dos milhares de pedaços que ali se encontravam. O cheiro era sufocante, cheiro de carne humana fresca, de sangue misturado com pólvora, cheiro de cigarro. Cheiro de seu antigo cozinheiro, de Bard.

Chegava a ser irônico. Quando vivo, ele sempre estava a explodir algo, até chegara a dizer 'Arte é explosão!', e no final, morreu como uma bomba-relógio. Talvez fosse com uma forma distorcida da arte.

Porém, isso não importava mais. Afinal, ele estava morto.

Aquilo foi o cúmulo. Ciel sentiu a tontura chegar, e deixou-se dominar pela fraqueza e solidão, encontrando o cimento empoeirado esmurrar seu rosto cansado.

Não pode-se dizer quão agoniante foi a demora para o mordomo lhe amparar.

–---

Acordou sentindo uma mão em sua testa. Assumiu que estava com febre, pelo calor repentino.

"Está acordado, Bocchan?''

Tentou ao menos sussurrar, mas o cansaço travava todo seu corpo. Pode apenas mover os lábios, sem emitir nenhum som.

"Ver todos aqueles corpos dos empregados deve ter lhe afetado mais do que calculei. Por favor, descanse.''

E a noite foi longa, entupida de pesadelos. No dia seguinte, foi acordado pelo costumeiro mordomo. A casa estava quieta, incômoda. Enquando Sebastian ditava a lista de afazeres, Ciel divagava. Acima de tudo, ele era um Phantomhive, o cão de guarda da Rainha.

E fracassos não eram permitidos.

Sim.

Lembrava-se bem desse dia, desse pensamento. Esse orgulho que sustentou durante sua patética vida manchada por sangue e pecados.

Ele ria. Ria de tudo e todos, ria dos corpos jogados ao seu redor, gargalhava da Rainha, a traira que mandara lhe matar. E funcionou. Seu corpo ainda podia ser curado, porém, sua insanidade se extinguira.

Ciel parou de rir subitamente. Enconstado na raiz da parede - ou do que restara dela - visava o corpo idoso da Rainha. Seu rosto ainda expressava temor e raiva, o que era muito prazeroso, pois sabia que aquela raiva era por ter perdido o jogo da vida. Seu ajudante estava em um estado similar ao dela, porém, seu rosto continuava indiferente.

"Bocchan''

E novamente, despertou de seus pensamentos, como no ínicio da chacina Phantomhive. Ciel sabia que chegara sua vez. Ganhara o jogo e terminara sua vingança, portanto, o contrato.

"Se permite-me dizer, admito que ainda estou surpreso pela descoberta. E pensar que a Rainha fora a culpada pelo incêndio da mansão, assim como ordenara levar-te como sacrifício para a seita... ‘’

‘’Sem falar de Rachel...”

Essa frase surpreendeu o mordomo. Tais ocasiões em que seu mestre citava seus pais eram raríssimas. Porém, no tom de voz que pode perceber, foi tão distante como se Ciel estivesse falando sobre um alguém qualquer, um completo estranho.

Tanaka, o antigo mordomo da família, tentava arrastar-se até seu amado neto. Contudo, o tempo e a idade não estavam a seu favor, esmagando-o com tudo que tinham. O idoso queria simplesmente que tudo acabasse, seria um alívio. Mas antes de partir, sabia, teria que ao menos proteger o último herdeiro, o orgulho da nobreza. Afinal, poderia ser considerado um milagre tal coisa.

Mas milagres não existem.

“Você sabia, não é?...”

Ciel encarava-o sem alguma expressão expecifíca. Talvez pudesser ser identificado tais emoções como raiva, mas qualquer raciocínio estava sendo descartado, comum em tempos desesperadores.

E agora, era apenas mais um na contagem de corpos.

‘’Humanos são interessantes... Conseguem surprender até mesmo eu, uma criatura pecadora vindo do inferno, de acordo com a crença geral desse plano. Seres humanos são mais sádicos que demônios, afinal.”

"Mais sádicos do que demônios e shinigamis.''

Completou Ciel. A ferida em seu peito latejava, piorando sua asma, sufocando-o lentamente. Sentia sua sanidade indo embora, sua vista estava turvando-se mais a cada momento que passava.

"Está na hora, bocchan''

Sebastian ergueu o rosto de seu jovem mestre, observando aqueles pálidos olhos. Esperava por aquilo há muito tempo. E, aquela morte não fora comum, não fora clichê. Não houve uma repassada na vida, como um filme, pois nenhum shinigami ali havia. Apenas teve a dor, a sucção de uma alma pecadora e saborosa, domada pelas trevas. O esvair da vida do Conde Ciel Phantomhive, que mesmo nesta situação, pensou na recente descoberta, e principalmente, em seu falecido irmão gêmeo, cujo rosto estampava suas memórias, permitindo para o garoto, uma pequena lasca de uma nostálgica felicidade. O amado e odiado irmão, sua salvação e ruína, fora sua esperança nos tempos horrendos, e seu desespero por ter conseguido sobreviver nesse mundo caído, em tempos infernais, a morte é convidativa. Nesse momento, Ciel estava vulnerável, com as feridas expostas do coração, feridas que negara e trancara no abismo profundo de sua sanidade por anos. Nesse momento, Ciel era a presa.

Nesse momento, Ciel terminou o jogo.


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Notas finais do capítulo

Ah, algo que pode ter ficado meio confuso para quem está acompanhando o mangá: eu escrevi antes do capítulo mais recente sair, ou seja, não tinha ideia do desenvolvimento de Sullivan e Wolf, apesar de ainda estar misterioso. Mas decidi colocar em que ela morre, já que o capítulo passado foi bem feels ~



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