A Garota da Casa ao Lado escrita por Morpheus


Capítulo 1
Capítulo Unico - A Garota da Casa Ao Lado




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Todos os domingos sâo entediantes e tristes, principalmente para a garota da casa ao lado. A conheço desde sempre, na verdade, seria mais correto dizer que a vejo desde sempre. Nunca falei muito com ela, creio eu que ela não falasse muito com ninguém.

Em uma terça-feira ensolarada e chata, contaram a ela que sua mãe achava que estava a enlouquecer. Seu pai, separado de sua mãe a mais de dez anos decide meter-se onde não é chamado - não por ela - e obriga-la á terapias. Mas a garota da casa ao lado não gostava de conversar, ela gostava de músicas tristes, gostava de ficar sozinha com seus livros, gostava de dançar quando não tinha ninguém olhando - e dançava muito bem, porém se a perguntassem, negaria - gostava de iogurte congelado e de estrelas, gostava de imaginar como seria sua vida se fosse um pássaro, pudesse voar para longe dos seus problemas e cantar bem alto sem ser perguntada o porque. Gostava de filmes clássicos e ficção cientifica, gostava de sua tia. Apesar da parente ser louca, mas ela gostava de pessoas loucas.

Sua tia... ah sua tia. Ela é aquele tipo de pessoa para quem você pode contar o que quiser, mas precisa lidar com cuidado. É frágil e cortante, como um caco de vidro. Por sorte, a garota da casa ao lado sabia muito bem lidar com esse tipo de pessoa, pessoas que tinham seus altos e baixos, geralmente mais baixos que altos. Pessoas que tinham a sensação de vazio, porém se completavam ao ouvir um simples "eu te amo", frase que a garota fazia questão de dizer a tia antes de dormir, só para faze-la sentir-se amada. E ela era. Mas não percebia isso.

E havia seu amigo, seu unico amigo, tão problematico quanto ela mesma. Com tantos vazios e feridas que parecia o próprio universo, só que sem a beleza. Eram estrelas, brilhantes, porém mortos. Quem a visse diria que era cheia de amigos, mas quem ela considerava seu amigo? Parecia decidida e indiferente, mas se doia a cada critica negativa. Apesar de gostar da verdade. Mesmo que a tal doesse. E ela dói. Ela sempre dói. É sempre mais fácil esconder a dor, mascara-la com piadas e frieza, e era isso que a garota ao lado fazia.

Deitava-se no chão e observava as nuvens, sentia-se injustiçada; porque não podia toca-las?

Lembrou-se de quando era pequena, e de como as coisas eram mais fáceis. Lamentou-se por ter de crescer, desejou ser o Peter Pan. Ele também voava.

Em um dia de aula, olhou o professor, desinteressada da matéria. Fitou as outras pessoas á sua volta, porque tinham de ser tão ignorantes? Então voltou para casa em silencio, observou sua mãe, porque ela não a ouvia? Porque ninguém a ouvia? Porque seu pai não estava ali a defendendo? Porque sua mãe gritava tanto?

Tentou falar com sua mãe, mas esta irritou-se, mandou-lhe calar a boca e foi injusta com seus sentimentos. Porque dizia que a garota precisava se abrir mas não estava disposta a ouvi-la?

Então ela sentou-se em sua cama, e ligou o som alto enquanto as lagrimas quentes rolavam pela sua bochecha. Rebuscou em sua memória momentos que a faziam sorrir, lembrou-se de como sua tia sentia frio em dias até quentes, de como seu amigo buscava algum livro inspirador, e de como ás vezes sua mãe apreciava seu gosto musical. E de como sua avó sempre partia seus bolos de aniversário, e de como seu pai trazia-lhe calças ridiculas, que ela fingia gostar - não da ultima vez - lembrou-se de como sua gata esfregava-se eu seu sapo de pelúcia, e de como o garoto que sentava á sua frente gostava de chorar pela namorada.

Tentou pensar em si mesma, fazer uma auto-analise. Sentiu-se vazia, sem objetivos. O que estava fazendo aqui? No que isso tudo ia dar?

Sentiu-se culpada pela sua decisão.

A garota da casa ao lado nunca foi muito certa, creio eu. Creio que mentia nas terapias, mentia para as pessoas que perguntavam se estava bem, mentia para si mesma ao dizer que não precisava de ninguém.

Um dia, em um domingo, veio-me a notícia. Sentei-me no quintal e contemplei as nuvens.

Para sua tia, ficaram seus casacos prediletos, deixados em cima da cama da mulher. Para sua mãe, ficaram seus CDs favoritos, deixados sobre a estante da sala. Para seu amigo, foram deixados seus livros, todos eles, na porta do apartamento. Para sua avó, foram deixadas cartas e uma vasilha, nelas estava escrito o quanto ela é incrivel, na vasilha continha um pedaço de bolo de milho-verde. Seu sabor preferido. Seu pai encontrou uma calça preta, e flores. Um sapo de pelucia surrado foi deixado jogado em seu quintal. Para os outros, ela deixou apenas saudades.

Enquanto o vento fustigava seus cabelos, ela fechou os olhos e sorriu. Porque naquele momento, a garota da casa ao lado realmente achou, que poderia voar.

E ela voou.


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Notas finais do capítulo

É isso.



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