Sabo soltou o terceiro bufo dos últimos cinco minutos.
Quem instituíra que soltar ar pela boca com força ajudava a aliviar o estresse? Porque sinceramente, essa pessoa era uma idiota. Aquilo não ajudava em nada. Muito pelo contrário, parecia piorar a situação, pois a pessoa só ficava mais estressada em perceber que não conseguiria aliviar o estresse com aquele método anti-estresse.
Estresse. Estresse. Estresse.
Se contendo para não urrar e chutar a porta de carvalho da casa que encarava, Sabo soltou o quarto bufo.
E não adiantou de nada. De novo.
Purupurupuru. Purupurupuru. Purupur...
Quinto bufo irritado. Era a terceira vez que o dendenmushi tocava. Ele nem mesmo precisava atender para saber quem era.
Gatcha.
--Moshi Moshi? Sabo-kun?
O loiro nem mesmo se deu ao trabalho de dizer "oi".
--Sim eu estou bem. Não, não vou desistir.
--Mas...
--Não, você não precisa vir.
--Você que não precisa ir!! Não tem que fazer isso e sabe muito bem que...
--Não preciso, mas quero.
--Pelo menos me deixa ir também!! Eu...
--Koala.- Sabo interrompia a amiga do outro lado da linha- Aqui é uma vila dos nobres. Eles têm escravos e os tratam como lixo. Todos eles têm marcas e expressões tristes.
Ele deu um tempo para a linha, muda.
-- Já é difícil pra mim. Acha que você aguentaria, sem acabar causando estardalhaço e estragando as nossas férias?
O caramujo continuava sem dar resposta.
--Melhor você ficar ai com a Dadan. Pode não parecer, mas ela sabe o que faz.
De repente, a expressão fofa do caramujo mudou para uma raivosa.
--EU OUVI ISSO MOLEQUE.
--Então fique feliz, foi a coisa mais próxima de um elogio que eu já te disse.
--É, isso é verdade... Você está aprendendo boas maneiras. Aposto que é coisa sua, né garota?
--Ahn...
--E você sabe limpar uma casa!
--Eu só não gosto de sujeira...
--E foi a única pessoa em quase quarenta anos que me ajudou a fazer o almoço!
--Eu ...eu...
--Eu gostei dessa daqui. Sabo! Traz sua namorada pra cá mais vezes!
--Eu não sou...- a pobre revolucionária não conseguiria terminar nenhuma frase por completo naqule dia.
--...Aliás, você mesmo nem precisa vir. Manda só ela mesmo.
Sabo perdeu a paciência com a mudança facial do animal na palma da mão. As diversas vozes e expressões que não permaneciam por mais que cinco segundos estavam o deixando mais confuso do que estava antes de atender a chamada.
E isso o deixava MAIS estressado ainda.
Com mais um bufo (ele já havia perdido a conta de quantos dera naquela manhã), ele enfiou no bolso o meio de comunicação no meio de uma frase sobre como Koala salvava aquela geração de delinquentes inconsequentes, reduzindo o som a um leve zumbido irritante. Mas pelo menos esse era ignorável.
Um som de algo se quebrando dentro da casa, seguido de um grito irritado, o fez se lembrar de onde estava.
E não era um lugar muito bom.
Mas pelo agora ele tinha juntado coragem para esticar o braço e bater na porta.
Toc, toc, toc.
Sem resposta.
Mais três batidas.
Ele parecia estar sendo ignorado.
Outra tentativa.
Outra falha.
O jeito era apelar pra campainha.
Ding Dong.dong.dong.....--O som de sino ecoara pela rua deserta.
--PORQUE NINGUÉM FOI ATENDER ESSA PORTA?-- Sabo tremeu um pouco ao ouvir aquela voz rouca. Traumas de infância não eram superados tão facilmente.
A porta foi aberta com uma violência desnecessária tão grande que ninguém ficaria surpreso se ela desmontasse nas mãos do dono. Mas o loiro estava concentrado em outra coisa.
O pai envelhecera muito. Já fazia o que? Doze anos? Parecia bem mais para o velho nobre. As rugas despontavam por todo o rosto e os fios brancos apareciam nas raízes do cabelo e do bigode não conseguiam ser escondidos pela tintura.
--O que você quer?- Pelo menos a expressão carrancuda e raivosa continuava a mesma
Sabo simplesmente entrou na casa, sem esperar convite
--Quem é você para ir entrando desse jeito na minha casa? Pode ir saindo agora ralé!
--Olá, papai.
O rosto mais velho se contorceu em uma surpresa enorme.
--SABO??
--Papai,-O irmão mais novo descia as escadas- você não disse que esse nome era tabu aqui em casa?
--Cale a boca Stelly.
--Ora ora,vejam só quem continua aqui! Continua com a mesma cara de enjoado irmãozinho.
--Vo....Você não pode ser ele!--O pai preferia continuar negando- Sabo morreu!
--Se eu estou vivo ou não quem decide não é você. Mas se é mais confortável acreditar que eu não existo mais, vá em frente.
Com o correr de alguns segundos, a expressão de surpresa foi se atenuando, dando lugar a raiva.
-- O que faz aqui? Nós não vamos te aceitar de volta!!
--E eu lá quero voltariam esse inferno? O que você queria? Que eu aparecesse tipo "o filho pródigo a casa retorna"?
--Então o que você quer? Dinheiro? Posse?
Sabo fez um movimento de desdém.
--Por favor, e eu por acaso já me importei com qualquer coisa dessa? Eu só vim avisar que eu vou causar problemas. Assim vocês já sabem que eu estou vivo antes de verem meu cartaz de procurado no jornal.
-- Cartaz de procurado? Que tipo de problemas você...
--São assuntos da armada revolucionária que não te interessam.
--Armada revolucionária! Meu filho na armada revolucionária! Que absurdo! Eu não vou permitir que manche o nome da família...
--O seu sobrenome nunca me importou, não o uso mais desde que fugi de casa. Não se preocupe. Acha mesmo que eu iria querer que meus filhos ou a minha esposa carregassem essa vergonha?
--Idiotice! Você é um fora da lei sem nome! Como pretende se casar? Ou melhor, com quem? Não existe ninguém tão idiota a ponto de se casar com você, quanto mais ter filhos!
Sabo deu um sorrisinho debochado.
--Muito pelo contrário, eu pretendo me casar sim. Até já sei com quem, e provavelmente vou ser muito mais feliz que vocês.
--Absurdo!- Stelly finalmente se pronunciava- Um nobre nunca escolhe com quem se casa! É a família que escolhe!
-- Eu não me importo. Ela é a única pessoa com quem eu aceito me casar. E eu escolhi exatamente porque ela já sofreu tanto nas mãos de pessoas como vocês que é surpreendente ela ainda gostar de mim mesmo sabendo que vocês já foram a minha família!
--Espera, com isso você quer dizer o que? Que ela era uma serva? Escrava? Eu não aceito isso! Eu...
Sabo simplesmente ajeitou a cartola na cabeça, se virando para a saída.
--Sinceramente, não sei como a conversa chegou nesse ponto, mas o que você aceita não importa mais. Eu estou morto. Mortos não tem que obedecer a ninguém.
Dito isso, ele saiu calma e dramaticamente pela porta de carvalho.
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(Um pequeno bônus porque isso não é fic da ChopperChan até que tenha uma zoeirinha)
Saindo da casa, Sabo se esforçou ao máximo para não soltar o berro da comemoração.
Ele conseguira. Enfrentara o pai. E saíra vivo.
Claro, acabara falando demais, mas isso não importava. Embora fosse tudo verdade, ninguém mais ouvira, então não havia problema.
O pai e nem Stelly contariam alguma coisa. Óbvio. Se alguém simplesmente dissesse que o filho morto havia doze anos tinha renascido das cinzas, se tornado revolucionário e ainda por cima pretendia se casar com uma ex-escrava seria motivo mais que suficiente para que não só ele duvidasse da própria sanidade, mas também que a sociedade consideraria seriamente a possibilidade de mandá-lo para um manicômio.
Com uma sensação imensa de alívio, o revolucionário puxou o den-den-mushi do bolso para chamar a parceira para comemorar com um sorvete ou coisa do tipo.
Mas ele não devia estar com os olhos abertos.
Ai caramba.
--Moshi Moshi? Alguém na linha?
--OE, MOLEQUE, QUE HISTÓRIA É ESSA DE SE CASAR EIN? PORQUE EU NÃO FUI AVISADA?
--Dadan????
--E DESDE QUANDO VOCÊ RESOLVEU ISSO? O QUE ACONTECEU COM AQUELA HISTÓRIA DE "FAZER DO MUNDO UM LUGAR PROS MEUS FILHOS"????
-- Você ouviu????
--CLARO!! QUE TIPO DE RETARDADO DEIXA A CHAMADA LIGADA QUANDO NÃO QUER QUE ESCUTEM?? SINCERAMENTE GAROTO, VOCÊ BEM QUE PODIA TER UMA IDEIA MELHORZINHA PRA PEDIDO DE CASAMENTO EIN?
--QUE? Pedido de casamento????-- Putz.
--VAI DIZER QUE NÃO FEZ DE PROPÓSITO?? VOCÊ É UM IDIOTA SABO.
--DADAN!!! CADE A KOALA??? ELA OUVIU TAMBÉM??
--ÓBVIO QUE ELA OUVIU! ESSE DENDEN MUSHI É DELA!!
--E CADE ELA??
--Sei lá! Depois que você falou aquela coisa do "nem sei porque ela gosta de mim já que eu sou um lixo humano" ela ficou vermelha pra caramba e saiu correndo que nem um corisco daqui, dizendo que ia matar alguém.
Ele tinha a sensação horrível de que esse alguém era ele.
Vejamos. Ele tinha dito isso a o que? 90 segundos? Dois minutos? Levando em consideração a distância até ali.... Ele não tinha vantagem nenhuma. Ignorava totalmente o que quer que fosse um corisco, mas se essa coisa corria tão rápido quanto uma Koala com raiva, ele estava ferrado. Mas, se tratando da garota, quando ele não estava?
--SSAAAAAAAABBBBBOOOOOOOO-KKUUUUUNNNN
Não, ele não estava ferrado. Estava morto. Completamente morto.