A neve caía sem parar naquela tarde, deixando o mundo com um aspecto de pureza incrível. Dalila entendia o que aquilo significava. Só podia ser um sinal divino, é claro, de que seu parto correria bem. Por oito meses e meio ela sofreu a angústia de não saber o que lhe aguardava e agora seu pequeno bebê finalmente poderia ser beijado por ela. A senhora de quase cinquenta anos passou uma vida de medo, insegurança e sensação de incapacidade, mas isto logo mudaria… Sim, um filho mudava tudo. Seu marido estava igualmente animado com a expectativa e o motorista do casal ia o mais rápido que a rua coberta de gelo deixava. A gravidez, apesar de o que poderiam supor pela idade da gestante, tinha corrido bem e só o que havia preocupado os médicos fora um leve aumento na pressão da futura mamãe nos últimos meses. Quando chegaram ao hospital ela estava incrivelmente sorridente para alguém com contrações a cada dez minutos. Ela beijou seu marido várias vezes enquanto os enfermeiros arrastavam uma cadeira de rodas na direção da mulher, então entraram juntos na sala de parto pois era chegada a hora.

Foram horas e horas de parto complicado mas deu tudo certo no final. Dalila deu a luz a uma linda e perfeitamente saudável menina e todos os médicos consideraram aquele um feito enorme para a época, afinal era muito comum que mulheres mais velhas morressem no parto. Dalila passou alguns dias em observação e foi enviada para casa com sua pequena menininha ruiva como ela própria. Seu marido deu apenas um telefonema durante todo o tempo em que esteve acompanhando a esposa no hospital, e no dia em que elas saíram de lá ele as foi buscar sorrindo.

Quando chegou em casa trazia consigo apenas a menina recém-nascida. Ele a entregou aos empregados, dizendo não ter tempo para a garota.

E eles chamaram-na Dayla em homenagem a sua mãe, que nunca mais foi encontrada.