What Remains escrita por Flor do luar


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Acho que devo começar com um grande agradecimento a DoryDory pela primeira recomendação na minha fanfic *-*
Muito obrigada mesmo



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Kentin teve que tirar uma licença para conseguir ir na reunião de pais e filhos, negociou com seu chefe e outro colega, concordaram em trocar os horários, mas agora Kentin teria que trabalhar a noite um dia na semana. Mesmo sendo exaustante, ele aceitou, pois gostava de ser presente na vida escolar da filha, ainda mais por ela ter estado tão deprimida nos últimos meses.

No dia não iria ter aula normal, então não era necessário levar material, mas Louise insistiu em levar um caderno e seu estojo, porque queria pelo menos fazer alguma coisa enquanto seu pai conversava com os professores, prevendo que seria uma conversa longa e chata.

—Sabe, se houver algo, essa é a última chance de contar. —Brincou o homem de cabelos castanhos em um tom de implicância para a filha.

—Não há nada, eu já disse. —Respondeu em um resmungo, fazendo uma careta de falsa decepção. —Se acontecesse, você seria o primeiro a saber, papai. —Completou com um tom de confiança, enquanto apertava a Lili em seus braços.

Kentin podia dizer que ficou emocionado com as palavras da filha, porque sempre lutou para participar ao máximo da vida dela, mesmo com uma rotina tão corrida. Temia ser daqueles pais ausentes que sempre via em filmes e até mesmo no seu trabalho, mas estava feliz que Louise confiasse nele.

Era nesses momentos que Kentin gostaria de ter alguém próximo de verdade, pois não teria problema em pensar onde deixaria a garota caso tivesse que trabalhar a noite. Tudo bem, ele tinha uma parceira de trabalho, mas ela trabalhava tanto ou mais que ele, era muito gentil da parte dela arranjar um tempo para ficar de babá, mas Kentin ficava com receio em pedir sempre.

Quando chegou a escola, viu que as vagas de estacionamento estavam organizadas por nomes, como as vagas dos professores estavam escritos professores e as vagas de pais estavam escritos pais. Conseguiu uma vaga bem perto da entrada da cantina, pois não tinham muitos pais lá ainda. Talvez porque a maioria ainda não se acostumou a acordar tão cedo.

Enquanto caminhava pelos corredores da escola, percebeu um aviso que dizia aos pais identificarem a sala de cada professor e outras ressalvas como não entrar se ela tiver com a porta fechada e não entrar com comida. Como havia poucas pessoas ali, pensou que talvez não iria enfrentar coisas chatas como filas.

—Onde você quer ir primeiro? —Perguntou olhando para a filha.

—Podemos ir ver a professora de francês? Ela elogiou as minhas redações. —Respondeu prontamente segurando na mão do pai e já o puxava para onde seria a sala de francês.

A sala de francês era muito colorida. Com decoração típica para criança, ela tinha o alfabeto inteiro em letras maiúsculas e minúsculas bem coloridas, também tinham vários jogos de quebra-cabeça mais ao fundo da sala, onde ficavam as mochilas das crianças normalmente. Ao lado da porta havia um mural com dicas de leitura, organizados em ordem alfabética com vários livros em cada letra, provavelmente literatura infantil.

As carteiras eram separadas individualmente, as paredes eram brancas, mas tinha um papel de parede que era de um menino pequeno e um balãozinho que tinha as palavras de uma música infantil. Era um ambiente muito agradável para crianças, na verdade.

A professora estava sentada a sua mesa que ficava na frente da sala, era uma senhora que aparentava ter uma certa idade pelos seus cabelos grisalhos com corte de Joãozinho e óculos que tinham um cordão que segurava atrás da orelha.

—Bom dia. —Cumprimentou a mulher se levantando da cadeira para ir até Kentin e apertar a sua mão. —Você é o pai da Louise? Como posso chamá-lo? —Perguntou gentilmente enquanto fechava a porta da sala.

—Sou sim. Me chame de Kentin. —Respondeu o homem rapidamente, sentando-se na cadeira que a professora indicou. Louise foi para a sua carteira que era de costume e abriu o caderno, começando a desenhar

—Sou a Sra. Lorena. —A senhora se apresentou. —Tenho muito o que falar da Louise. —Continuou, procurando entre as folhas de caderno e tirou um que tinha vários adesivos e a letra da sua filha.

Kentin primeiramente pegou o trabalho e começou a ler. Não era nada extraordinário, pois nessa fase eles ensinam das crianças a formar frases completas, mas ficou impressionado que sua filha conseguiu formar frases muito profundas.

—No começo do ano, fiquei um pouco preocupado, pois suas notas começaram menores que a do ano passado. Pensei que ela estivesse tendo problemas para se adaptar, pois a transição da pré-escola para o ensino elementar pode ser muito tumultuosa para a criança. —Começou com um tom sério, sempre mantendo seu foco no Kentin.

—Sim, ela teve alguns problemas, pensei que talvez fosse falta de alguma atividade ou hobby, por isso a coloquei na aula de música.

—Ela contou. —Explicou dando um sorriso e tirou um desenho da sua gaveta, dando-o ao homem. —Semana passada eu pedi que desenhassem o que mais os inspirasse e ela desenhou o senhor e o professor de música.

Quando Kentin bateu os olhos no desenho, sentiu seu coração falar rapidamente ao notar que o professor de música tinha cabelos azuis claros. Não era nada muito detalhado, claro, era um desenho de uma criança de sete anos, mas mesmo assim isso o fez lembrar seu melhor amigo do Ensino Médio. Quais as chances de Alexy ser o professor de música? Não o via há tanto tempo, como ele estava?

—Senhor Kentin? —Kentin agitou a cabeça para fora dos seus devaneios, olhando para a professora a sua frente. —Está tudo bem? —Perguntou calmamente.

—Sim. —Disfarçou o homem com um sorriso.

—Como eu estava dizendo, ela melhorou significantemente nesse mês e ela sempre foi uma excelente aluna. É comportada em sala e parece não haver problemas em fazer amigos.

O policial ouvia tudo com um sorriso, gostando de ouvir tantos elogios para Louise, mas na sua cabeça ainda ficava martelando sobre o desenho que viu. Pode nem ser o Alexy, afinal, crianças tendem a exagerarem em seus desenhos, porém, não conseguia tirar aquela dúvida de sua cabeça.

Quando terminaram a conversa, o homem e sua filha se despediram da senhora, que já havia uma mãe em frente a porta esperando para ser atendida. Estava com todos os trabalhos desde o começo do ano em mãos e tinha que colocar em um lugar todos esses papéis, por isso foram até o armário de Louise.

—Podemos ir ver o seu professor de música agora? —Sugeriu Kentin gentilmente. —Eu gostaria de conhecer pessoalmente aquele que tanto te inspira. —Completou com uma risada, mas na verdade apenas queria tirar aquela dúvida da sua mente.

Claro que Louise aceitou na hora, balançando a cabeça positivamente várias vezes, deixando os papéis de qualquer jeito dentro do armário. Então agarrou a mão de seu pai e saiu arrastando ele pelos corredores da escola novamente, só que dessa vez com o dobro de animação.

—Você vai gostar muito dele! Ele é divertido e gentil, sempre me deixa usar a sala de música durante os intervalos. —Tagarelava a menina sem parar, puxando o Kentin até o segundo andar que era onde ficava a sala de música.

Todavia, quando chegaram lá viram que a porta estava fechada, provavelmente indicando que o professor já estava atendendo outros pais e eles tiveram que ficar na porta, esperando a sua vez. Toda essa espera estava o matando, pois queria tirar logo a certeza de que era ou não o Alexy, na verdade, sabia muito bem por que estava tão ansioso com esse fato.

Lembra-se muito bem no Ensino Médio quando era bem próximo do rapaz de cabelos azuis, gostava muito do jeito que ele era extrovertido e animado, sempre de bom humor contagiante. Foi nessa época também que percebeu que sentia seu coração acelerar e sua mão suar sempre que chegava perto dele. Era bem fácil identificar os sintomas de uma paixão adolescente.

Entretanto, escondia isso de todos, até de si mesmo, porque sempre colocou na sua mente que aquela era uma prática errada. Cresceu achando que homens não amavam outros homens com intenções românticas, seu pai deixava tudo isso bem claro. Amaldiçoava-se muito por ter sido o escolhido a ter esse tipo de sentimento, se perguntava por que logo um rapaz fosse atraí-lo tanto.

Havia o boato de que Alexy também era apaixonado por ele, ouvia isso, mas sempre chegava aos seus ouvidos por más línguas, por isso não colocava muita fé nesse fato. Ficou desesperado na época pelo medo de sua amizade evoluir para algo mais forte, acabou se afastando do jovem e saindo com Lynn. Ela não apagou por completo o sentimento dentro de Kentin, mas ele aprendeu a amá-la muito, tanto que até hoje sente falta do jeito acolhedor da garota.

Quando ouviu o som da porta se abrir, despertou imediatamente e olhou para ela. O homem se despedia de um pai com um aperto de mão e bagunçou os cabelos do filho que estava com ele. Kentin apenas podia ver tudo em choque. Era realmente o Alexy depois de tantos anos.

Pela primeira vez que os olhares se cruzaram, houve um espanto no rosto do jovem de cabelos azuis também. Como se visse um fantasma na sua frente. Kentin tinha certeza que estava boquiaberto, mas não queria se preocupar com isso agora.

—Ken... —Murmurou Alexy em um tom baixo, que foi interrompido por algo que agarrou a sua cintura.

—Eu trouxe meu papai para você conhecer, como eu disse que traria! —Exclamou a garota em um tom animado apertando seus braços ao redor do professor.

—Louise, tenha mais respeito. —Repreendeu Kentin andando até a garota para tirá-la da cintura do professor, mas ele fez um gesto com a mão que era para Kentin parar.

—Está tudo bem. Eu gosto de abraços tão apertados assim pela manhã. —Comentou Alexy em um tom animado passando seus braços ao redor da criança e a abraçando tão apertando que a fez rir e até a ergueu um pouco no ar.

Quando finalmente se soltaram, Louise perguntou se podia usar o teclado e quase voou para dentro da sala quando recebeu uma resposta positiva do mesmo. Quando ficaram sozinhos cara-a-cara nenhum sabia exatamente o que dizer.

—Há quanto tempo. —Kentin foi o primeiro a quebrar o gelo com uma frase bastante clichê, mas foi a única coisa que passou pela sua cabeça.

—Nem me fala. Como cresceu tanto? Eu era maior que você no colégio. —Respondeu Alexy no seu habitual bom humor. —Bom, mas hoje estamos aqui como professor e pai, não? Entre, por favor. —Sugeriu Alexy dando caminho para Kentin entrar na sala.

Quando o fez, fechou a sala de aula para terem mais privacidade e sentou-se a sua mesa, indicando uma cadeira para Kentin se sentar. Aparentava estar calmo, mas Alexy estava se perguntando como poderia o pai de sua aluna ser aquele que amou tanto. Claro que o sentimento após tantos anos parecia ter abrandado, principalmente com as experiência amorosas que teve, mas não podia deixar de se sentir abalado com a descoberta.

Entretanto, sua sorte é que ele era bom em se disfarçar, então não foi difícil abrir o seu melhor sorriso. Repetia a si mesmo o tempo todo que o que importava era manter o profissionalismo, isso não era difícil, não é como se guardasse más recordações do homem.

—Então, eu só tenho coisas boas a dizer sobre a Louise. Além de ser uma menina muito ativa e carinhosa, ela é muito inteligente e aprende rápido. Tanto que ela está mais avançada que outros alunos da sua idade e também está sempre disposta a aprender mais um pouco.

—Ela havia dito que o senhor pediu para os alunos comprarem os instrumentos. —Louise acabou se encolhendo no lugar quando Kentin comentou isso.

Alexy o olhou um pouco confuso e depois começou a rir.

—Não precisa ter formalidades comigo. E eu não iria pedir uma coisa dessas, temos instrumentos o suficiente e a minha porta está sempre aberta. —Explicou o professor gentilmente.

Kentin olhou para a filha com um olhar de reprovação, que se encolheu cada vez mais, voltando a fazer as suas atividades como se nada tivesse acontecido.

Passaram algum tempo a mais conversando, Kentin fazia perguntas e Alexy também, sempre conversando sobre a Louise. Kentin sempre se pegava notando que Alexy não parecia ter sofrido o efeito do tempo, uma vez que estava bem jovial. Seu cabelo estava com uma cor mais viva também e parecia não ter perdido sua personalidade extrovertida, apesar de toda a seriedade de um professor.

Pensou que devia pelo menos resgatar a amizade da juventude, uma vez que tinha poucos amigos, nenhum deles era tão divertido.

Quando terminaram de conversar, Alexy se levantou da cadeira e apertou a mão de Kentin para se despedirem.

—Você gostaria de tomar um café comigo mais tarde? —Convidou um pouco sem jeito, pois não sabia se era muito ético chamar um professor para sair. —Para resgatar os velhos tempos. —Explicou ainda um pouco envergonhado.

Alexy o olhou um pouco incrédulo, sem saber ao certo como reagir. Talvez não faria mal apenas um café, sentia falta da amizade do homem nesses últimos anos apesar de tudo.

—Claro. Mas eu saio às cinco da tarde. —Respondeu com um sorriso.


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Notas finais do capítulo

Hey, guys XD
Espero que o capítulo não tenha sido muito entediante, pois quero deixas as coisas mais tranquilas e normais, como no dia-a-dia. Acabo me empolgando na minha escrita.
Enfim, comentários e críticas são sempre bem-vindas



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